Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao pronunciamento do Presidente da República.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Críticas ao pronunciamento do Presidente da República.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2005 - Página 27392
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • AVALIAÇÃO, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMONSTRAÇÃO, PARALISAÇÃO, ADIAMENTO, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRITICA, AUSENCIA, RECONHECIMENTO, QUADRILHA, ATUAÇÃO, GOVERNO.
  • GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, num pronunciamento programado para às 9 horas e, portanto, efetuado com mais de três horas de atraso, Sua Excelência o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deveria ter falado de improviso, desta vez, sim, de improviso e de coração, falou maquiado, gravado, preparado, “marqueteado”, de modo lamentável, diminuindo o tom de sinceridade e espontaneidade que deveria estar contido na fala presidencial.

Eu esperava um Lula altivo, corajoso e não o encontrei. Ao contrário, percebi um Presidente medroso, “acoelhado”, que não conseguiu sequer olhar para dentro dos olhos dos telespectadores, não conseguiu olhar para dentro dos olhos da Nação. A única vez em que tentou fazer isso, tirou o olhar do chão e fixou por meio segundo nos olhos do telespectador e, em seguida, o levou ou o elevou - não posso dizer, talvez o tenha rebaixado para cima - , porque não foi corajoso, “rebaixou-o” para o teto.

Eu esperava um Presidente que tivesse falado às 9 horas e que não deixasse grassar, como grassou hoje na Casa, entre funcionários, entre jornalistas, entre Parlamentares, a idéia de que ele estava adiando, porque paralisado pelas denúncias da revista Época, a partir da entrevista do Sr. Valdemar Costa Neto de mais corrupção neste Governo, de mais vinculação espúria com o Sr. Marcos Valério, de mais caixa dois, de mais dinheiro irregular e, portanto, subtraído do Governo brasileiro, com o Valdemar da Costa Neto dizendo que o Presidente Lula tinha, sim, conhecimento da operação, como conhecimento da operação teria tido também o próprio Vice-Presidente José Alencar.

Eu esperava um Lula que, dessa vez, não fosse Duda. Duda é que, ontem, foi Lula. Duda, ontem, foi sincero, abriu todo o jogo, até se prejudicando. Eu esperava que, hoje, Lula fosse Lula e Lula, mais uma vez, foi Duda, infelizmente. Eu esperava um Presidente que, com muita clareza, aceitasse a realidade que já está jurisprudenciada no coração do País, de que uma quadrilha tem funcionado no seu Partido contra a maioria esmagadora de petistas honrados. Uma quadrilha tem funcionado no seu Governo contra as pessoas honradas que possam caber no seu Governo. Uma quadrilha tem funcionado em Partidos aliados seus contra a maioria honrada de pessoas integrantes dos Partidos aliados do Presidente da República. Ele teria hoje que ter denunciado a quadrilha, dando nome aos bois, para se distanciar dela, Presidente Cristovam Buarque.

O Presidente fez uma prestação de contas falsa, que não cabia. Tudo que eu temia ele repetiu; a lengalenga da Polícia Federal, que fez não sei quantas ações e nunca agiu tanto contra a corrupção quanto no seu Governo.

O Presidente chegou a fazer uma ameaça clara, ao dizer: “Vamos continuar assim”. Eu tremi nas bases, arrepiei-me. Vamos continuar assim, Presidente, com esse quadro de roubalheira desenfreada, com esse quadro de impunidade desenfreada, com esse quadro desenfreado de tentativa de se impedir as investigações?! Essa que é a verdade. Muita espuma nas CPIs, luta para aprovar os requerimentos nevrálgicos e, quando se aprovam os requerimentos nevrálgicos, outra luta para se marcarem as audiências, que têm que esclarecer e dar foco às investigações e às denúncias de corrupção.

Falou na reforma política como se ela fosse resposta para um quadro que tem que passar por polícia também. Não é só reforma política, substituindo a necessidade da passagem pela polícia, de quem falcatruou bens da Nação e do povo brasileiro.

O Presidente se diz traído. Traído por quem, Presidente? Traído por quem? Por quais companheiros seus? Por que sonegou à Nação o nome dos traidores? Por que se mantém, portanto, misturado com eles, já que não os denuncia? Por que não disse os nomes dos traidores no Governo, fora do Governo, nos Partidos aliados, no seu Partido, para, de uma vez por todas, distanciar-se dessa quadrilha e aproximar-se do coração da Nação brasileira, readquirindo a condição de dialogar, de maneira altiva, com uma Oposição que, cada vez menos, acredita na sua palavra ou faz fé no que Vossa Excelência declara?

Mais uma vez, o Presidente encenou a farsa do “não sei de nada. Estou indignado”! E isso chega a ser insultuoso à Nação; indignado tanto ou mais que os brasileiros, não é verdade, Presidente? Isso é desfaçatez de Vossa Excelência! Se Vossa Excelência estivesse indignado mesmo, citaria os nomes dos indigitados que teriam causado a desgraça do seu Governo. Indignados estão os brasileiros contribuintes, que vêem o dinheiro dos seus impostos não virar escola, mas peteca nas mãos dos Marcos Valérios, dos Dudas Mendonças e de outros. Essa é a verdade.

O Presidente, em determinado momento, pede desculpas à Nação. Isso fazia parte do script. Não valeria a peça, não valeria a encenação se ele não pedisse desculpas à Nação. Mas desculpas por que, Sr. Presidente? Se Vossa Excelência não sabia de nada; se Vossa Excelência tem combatido a corrupção, Presidente; se Vossa Excelência não tem dado trégua a corruptos, se Vossa Excelência está indignado, desculpas, por quê, Presidente? Será que Vossa Excelência deve mesmo desculpas à Nação? Ou será que o senhor está pedindo desculpas à Nação de maneira indevida? Ou, se o senhor está pedindo desculpas à Nação, o senhor o teria feito de maneira incompleta, porque com falta de coragem de dizer as razões verdadeiras de a Nação merecer desculpas de Vossa Excelência.

O pronunciamento de Vossa Excelência foi pífio, Presidente. Aguardamos até esta hora, em vigília cívica, e lhe confesso, do fundo do coração, sem nenhum vontade de que Vossa Excelência tivesse sido pífio como foi. Eu queria que Vossa Excelência tivesse sido convincente, como não conseguiu ser; eu preferiria que Vossa Excelência tivesse sido sincero, como optou por não ser; eu gostaria de que Vossa Excelência tivesse sido definitivo e arrasador a favor da verdade, como Vossa Excelência foi dúbio e cúmplice da mentira, que tem sido a grande mola destruidora do seu Governo.

A crise se agrava, Sr. Presidente. Se fosse o PT na Oposição, a palavra de ordem seria impeachment, e estariam os passeateiros criando varizes nas pernas ao exercitarem o seu jeito trêfego de ser. Como não somos assim, não tratamos como uma ida a uma sorveteria algo grave como um impeachment, até porque, de Itamar para cá, incluindo dois anos e meio do seu Governo, Presidente Lula, há cerca de 12 anos - não, chegamos a treze anos - de Governos supostamente normais. Eu preferiria que Vossa Excelência passasse a faixa para o seu sucessor na Praça dos Três Poderes, em frente ao povo.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ouço V. Exª com muita alegria.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Somos um País cristão. O Senador Cristovam Buarque me lembra a palavra “réquiem”, termo da liturgia da Igreja Católica. Prece aos mortos, missa dos mortos. É essa a síntese que quero fazer do seu pronunciamento: está morrendo o PT, está morrendo o Governo. É um réquiem.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Desconfio, Senador Mão Santa, de uma grande conta no exterior, que aparecerá se contratarmos uma empresa tipo Kroll. Uma grande conta, tipo aquelas de igreja clandestina, tipo conta de corruptos jurados. Tenho a impressão de que isso esclarece mais do que o que foi dito ontem pelo Sr. Duda Mendonça.

Se fôssemos o PT, a palavra de ordem seria impeachment. Como não somos, a palavra de ordem é - embora não deixemos de cogitar até essa hipótese - analisarmos profundamente todas as implicações jurídicas, políticas, econômicas e sociais inerentes a esse caso grave, para, ao fim e ao cabo, tomarmos uma atitude que seja das Oposições mais do que do PSDB; da Nação mais do que das Oposições; tanto da sociedade quanto deste País, que tanto amamos, chamado Brasil.

Vejo a crise por um ângulo que não é o do Presidente da República. O Presidente da República pensa - e seus áulicos devem pensar a mesma coisa, se é que pensam alguma coisa - que tudo está bem. Eu vejo a crise com olhos duros. Esta crise, Senador José Agripino, é felizmente menos grave do que a crise de 64, que redundou na instalação de uma ditadura, que durou 21 anos neste País; esta crise é muito grave do ponto de vista ético, é mil vezes mais graves, até porque não havia crise ética real no Governo Getúlio Vargas, aquele que suicidou em 54; a crise é mais grave, talvez, do que aquela que redundou - era outra sociedade; esta de agora é mais avançada, mais consolidada nos seus efeitos democráticos - nos problemas ocorridos em 54.

Esta crise é mais grave do que a de 61, aquela que terminou com a posse do Presidente João Goulart, por intermédio da emenda parlamentarista, que satisfez os militares, Tancredo Neves assumindo o primeiro Ministério do País. Esta crise é menos grave ainda do que aquele episódio lamentável que ocorreu em 68, que redundou no AI-5, responsável por tantas torturas, tantas mortes, tantos assassinatos. Esta crise é muitíssimo mais grave do que aquela que ceifou o mandato do ex-Presidente Fernando Collor de Mello, que caiu porque tinha menos Base do que Lula; caiu porque o seu Partido era menor que o de Lula; caiu porque tinha menos história do que Lula, porque tinha menos apelo popular real do que Lula. Mas esta crise, seguramente, está entre as mais graves que o País viveu ao longo da sua história republicana.

Portanto, Sr. Presidente, Senador Mão Santa; Senador Luiz Otávio, Senador José Agripino, Senador Cristovam Buarque, não estou aqui, de nenhuma forma, alegre ou regozijado com o rumo que as coisas tomam no País. Não me surpreende o despreparo do Presidente; surpreende-me a falta de coragem de Sua Excelência para superar as desvantagens que o seu despreparo acarreta para o País. Não me surpreende o rumo negativo que o País vai tomando, até porque nenhuma resposta é dada para uma crise que parece não ter fim.

Pensei que o problema do Okamotto fosse o último, aí vem o do Duda; pensei que o do Duda ia durar pelo menos uma semana, Senador José Agripino. Não durou 12 horas, porque, depois, veio o do Valdemar Costa Neto. Não sei quando será o próximo e não sei até quando o País tolerará a véspera da próxima crise e, depois, a do dia seguinte, o day after da última crise.

Não sei quando esse manancial de ações, que destrói a credibilidade deste Governo, passará, parará de povoar as páginas dos jornais e das revistas deste País. Não sei quando. E, enquanto isso não acontecer, não haverá sequer a consolidação do que seria essa grande massa falida moral. Não sabemos.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Encerro, Sr. Presidente, dizendo a V. Exª que foi profundamente decepcionante para mim o Presidente Lula ter perdido o pênalti político da Copa do Mundo política da sua vida. Perdeu o pênalti político em um jogo decisivo da Copa do Mundo política da sua vida, e isso é imperdoável, do ponto de vista dessa torcida de 53 milhões de brasileiros que confiaram nele, dessa torcida de 33 milhões de brasileiros que votaram contra ele, dessa torcida de 180 milhões de brasileiros que não querem o quanto pior melhor, que desejam um País capaz de oferecer respostas inteligentes, justas e éticas para as crises que nos assolam.

O Brasil hoje fica mais inquieto do que ontem, meu prezado Presidente Roberto Freire. O Brasil fica mais inquieto hoje do que ontem. O Brasil mergulha mais nas trevas do que ontem...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O Brasil se adensa no fosso da dúvida, da inquietação mais hoje do que ontem e espero que mais hoje do que amanhã. Torço, sinceramente, este é o pensamento de meu Partido, que as dúvidas sejam maiores hoje do que amanhã. Mas o Presidente não contribuiu, e a parte essencial para impedir que essa crise se alastre de maneira ainda mais devastadora, essa parte cabe ao Presidente da República, que, por quaisquer razões que não consigo compreender, não consegue assumir sua posição de liderança, Deputado Nelson Proença, não consegue assumir sua posição de comando, não consegue assumir a posição daquele que consiga dar um rumo ao País. É um Presidente que está como um pato manco da história política americana, um lame duck.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Teria que ter como ambição maior e única terminar este Governo, livrando o País dos corruptos que o assolam e procurando montar um projeto de agenda mínima que significasse a economia não perder a janela de oportunidades que está aberta a sua frente pela conjuntura internacional.

Portanto, Sr. Presidente, registro aqui minha decepção e lhe digo que a Oposição, a partir deste momento, redobrará a luta e a vigilância para que o País não sofra mais pela inércia, pela passividade e até pela hiperatividade quando se trata de erro e de delitos que seu Governo tem praticado contra os destinos de nossa gente.

Muito obrigado, Sr. Presidente. Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2005 - Página 27392