Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários ao pronunciamento do Presidente da República.

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários ao pronunciamento do Presidente da República.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2005 - Página 27394
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • AVALIAÇÃO, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OMISSÃO, RECONHECIMENTO, TRAIÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), SUSPEIÇÃO, ORADOR, CONHECIMENTO, CORRUPÇÃO, PERDA, CONFIANÇA, POPULAÇÃO.
  • AUSENCIA, ORADOR, PEDIDO, IMPEACHMENT, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANALISE, POSSIBILIDADE.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente. Srªs e Srs. Senadores, são13h23min, como anunciamos, estamos aqui de vigília, e ficamos, Senador Luiz Otávio, para fazer a nossa apreciação sobre o pronunciamento de Sua Excelência, o Presidente Lula.

Sr. Presidente, eu gostaria de estar me dirigindo a V. Exª para reconhecer que tinha visto na tela da televisão um estadista à altura dos 52 milhões de votos que recebeu. Esperava ver esse estadista reconhecendo que o seu esquema falhou, que ele falhou, mas que, com a responsabilidade de quem ganhou uma eleição com 52 milhões de votos e com a história que tem, iria tomar as providências que o cargo lhe impunha; que iria, como ele mesmo disse, rasgar na própria carne e, para que não ficasse pedra sobre pedra, agir para que restasse um Brasil limpo. Eu esperei ver um estadista, Senador Cristovam, um estadista de olhar firme e de pronunciamento substantivo. Honestamente, eu esperava isso, porque a crise não interessa a nenhum de nós. O País é onde vivem os meus filhos, o meu neto, a minha família. Eu quero que este País, como Sua Excelência falou, vá para a frente. Mas eu não vi o estadista que eu queria ver. O seu olhar não era firme, de quem estava convencido do que estava falando. Ele não transmitia sinceridade, pois ora olhava para baixo, ora olhava para o teto. Para a frente, não olhava nunca. Inseguro, texto lido, previamente estudado, que não teve um condimento que reputo fundamental: o da coragem de enfrentar os fatos.

Senador Arthur Virgílio, vou direto ao ponto. V. Exª é um homem de coragem cívica e até pessoal. Eu o conheço. Eu tenho certeza de que - pelos episódios que já vi nesses anos de convivência que temos, já vi V. Exª reagir às dificuldades - não há nada melhor do que você, encostado no canto da parede, se deseja convencer, usar a verdade, ser sincero, franco, topar parada, dê no que der.

Senador Cristovam, Senador Mão Santa, Senador Luiz Otávio, se o Presidente da República tivesse ido à televisão e tivesse dito - não ficado na superficialidade de que as investigações iam ser feitas pela Polícia Federal, pelas instituições, que iriam fundo nisso -, olhando para o olhinho eletrônico da câmera, em vez de dizer “fui traído”, Senador Arthur Virgílio: “Deputado José Dirceu, Delúbio Soares, Sílvio Pereira, José Genoino, companheiros de trinta anos, com quem eu convivi durante tanto tempo, vocês me traíram”. E me traíram como? Genoino renunciou ao mandato de Presidente do PT pilhado no malfeito, no aval que ele negou no primeiro momento aos empréstimos de Marcos Valério; Sílvio Pereira foi pilhado na Land Rover; Delúbio Soares, que fez o que fez, é o grande trapalhão do PT; José Dirceu é o comandante. São todas culpas formadas.

Senador Arthur Virgílio, eu não queria que ele tivesse olhado na câmera e tivesse dito: “João Paulo, Professor Luizinho, Deputado Pedro Rocha...” Eu não queria que ele tivesse se referido a essas pessoas que não estão ainda julgadas, estão apenas acusadas, vão ao Conselho de Ética; mas a esses outros, cujas evidências são luminares, luminares. Ele tinha que ter feito isso...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - ...para lavar a alma da Pátria, para recuperar a credibilidade do seu Governo.

Senador Arthur Virgílio, eu tenho a percepção de quem estava assistindo ao pronunciamento do Presidente. Sabe o que as pessoas devem ter imaginado do lado de lá das câmeras: ele não está citando os nomes, porque ele tem medo de que as pessoas amanhã declarem: “Presidente, você está me acusando, você me entregou, você sabia de tudo que eu estava fazendo! Presidente, não me entregue, porque você é um de nós!”

Foi isso, Senador Arthur Virgílio, que ele passou para sociedade. Foi um pronunciamento que não foi de um estadista nem foi sincero, nem foi franco; foi uma peça de uma farsa, na minha percepção popular.

Senador Cristovam, o Presidente perdeu a última grande oportunidade. Última! Não creio que haja outra, porque a perda de credibilidade do Presidente, do Governo e da palavra dele é um copo que está enchendo. É este copo d’água que está enchendo. Ele perdeu a oportunidade de fechar a torneira que estava enchendo o copo e que vai completar a perda total de credibilidade no seu Governo e na sua palavra. Ele perdeu hoje, porque ficou no autismo e na insinceridade. A crise passa ao largo dele, não é com ele, é com aqueles que ele quer ver julgados, de forma insincera. Resta-nos continuar na nossa luta de fiscalizar, cobrar e denunciar.

Sr. Presidente, alguns me perguntaram há pouco se eu havia sugerido o impeachment do Presidente. Não, de forma alguma! De jeito nenhum!

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador José Agripino, interrompo V. Exª, para prorrogar a sessão por mais 30 minutos, a fim de que V. Exª conclua seu discurso e de que ouçamos o Senador Cristovam Buarque.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Não falei hora nenhuma em impeachment. Não, impeachment é uma coisa que só poderá ser pedida na hora em que as evidências jurídicas forem completas; na hora em que as provas forem incontestes; na hora em que a coleção de evidências levar para a opinião pública a indignação completa, geral e irrestrita. Só se poderá falar em impeachment depois de vencidas essas duas pré-condições, que, na minha opinião, ainda não estão cumpridas.

Eu não cometeria a irresponsabilidade de falar em impeachment ou de sugeri-lo, que é atitude de partido político. Agora, que as evidências estão ficando cada dia mais claras, que a coleção de elementos jurídicos está ficando cada vez mais evidente não tenho dúvida; que estamos chegando perto do fim não tenho dúvida, Senador Mão Santa. E, para terminar, quero dizer a V. Exª que o Presidente Lula é um homem que, operário, chegou à Presidência da República, com uma história bonita, legitimada pelos fatos que ainda estão acontecendo, pois não se legitima só pelo passado. Na história do Brasil, dois homens com vinculações trabalhistas fortes existiram: um é o Presidente Lula, o outro foi o Presidente Getúlio Vargas, que se viu envolvido por um mar de lama - o termo vem dessa época -, produzido pelas pessoas mais próximas dele, Gregório Fortunato etc. E ele teve dignidade: sem precisar entregar ninguém, entregou a própria vida.

Não estou querendo, por hipótese alguma, a rendição de Getúlio Vargas com Lula. O que estava querendo é que ele, prometendo o que prometeu e cumprindo o que prometeu, rasgando a própria carne, não deixando pedra sobre pedra, entregasse, com franqueza e sinceridade, os culpados, para que a Justiça tomasse conta deles, colocasse-os onde deveriam estar e desse satisfação à opinião pública do Brasil.

É isso que estamos fazendo, nesta manhã de hoje, sexta-feira, 12 de agosto de 2005.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2005 - Página 27394