Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de nota do ex-ministro Eduardo Caldas Pereira, em resposta ao pedido de desculpas a ele dirigido pelo Deputado José Dirceu, cuja íntegra solicita seja publicada. Corrupção no governo Lula e a gravidade do atual cenário nacional. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Leitura de nota do ex-ministro Eduardo Caldas Pereira, em resposta ao pedido de desculpas a ele dirigido pelo Deputado José Dirceu, cuja íntegra solicita seja publicada. Corrupção no governo Lula e a gravidade do atual cenário nacional. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2005 - Página 26755
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, NOTA OFICIAL, EX MINISTRO DE ESTADO, SECRETARIA-GERAL DA PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CRITICA, CONDUTA, JOSE DIRCEU, DEPUTADO FEDERAL, DEMORA, RETRATAÇÃO, PREJULGADO, RECONHECIMENTO, ERRO, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADVERSARIO, POLITICA, POSTERIORIDADE, COMPROVAÇÃO, INOCENCIA.
  • CRITICA, INEFICACIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REPUDIO, EXCESSO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • ANALISE, CRISE, NATUREZA POLITICA, GOVERNO FEDERAL, APREENSÃO, EFEITO, ECONOMIA NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 05/08/2005


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de mais nada, leio aqui nota distribuída à imprensa brasileira pelo ex-Ministro Eduardo Jorge Caldas Pereira a respeito do pedido de desculpas a ele dirigido pelo Sr. José Dirceu, durante o seu último depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Segundo disse o Sr. José Dirceu, arrependeu-se de ter difamado ou prejulgado o Ministro Eduardo Jorge Caldas Pereira.

A incisiva nota do ex-Ministro-Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República no período do Presidente Fernando Henrique Cardoso tem o seguinte teor:

O reconhecimento do Sr. José Dirceu de que errou e me prejulgou chega de forma e em circunstância impróprias.

Na verdade, desde o início José Dirceu, Lula e os demais detratores sabiam que eu era inocente mas mentiram seguindo apenas suas conveniências político-eleitorais.

Vieram as provas de minha inocência e não apenas não se retrataram mas prosseguiram com sua campanha, esta sim, de linchamento público.

Agora, que indícios se avolumam contra eles, o ex-chefe da Casa Civil ostenta o “arrependimento” [o Sr. Eduardo Jorge coloca aspas na palavra arrependimento, acreditando que é um falso arrependimento] de ter me acusado com calúnias deixando a impressão de que busca proteger-se de suas culpas atrás da minha inocência.

O Presidente Lula, que em suas parlapatices investe contra pré-julgamentos e culpa a imprensa, perguntou certa vez: “quem tirará da cruz aquele que lá foi posto injustamente?”

Triste país aquele cuja palavra e conduta do Presidente não podem ser levadas a sério. Lula me acusou de forma mentirosa, de corrupção, mas não foi lá, como cobra aos outros nos palanques, assumir a responsabilidade de ‘tirar da cruz” quem ele mesmo pôs.

            E prossegue o ex-Ministro Eduardo Jorge:

Sabia e sabe que mentiu mas jamais se retratou. Agora, pigmeu da ética, usa o falso discurso de que sempre esperou provas antes de condenar seus adversários políticos.

Aí prossegue no seu último parágrafo o ex-ministro Eduardo Jorge:

Mente e nos enoja mais uma vez. É o mais hipócrita de todos e o que mais precisa levar intensivas lições de honestidade, responsabilidade e ética, coisas que desde sua infância sua mãe [...] tentou incutir-lhe, sem sucesso.

Isso vai para os Anais, Sr. Presidente.

Eu estou vendo a crise avultar em tamanho, estou vendo um Governo incapaz de gerenciá-la ou de demonstrar caráter para a ela responder com fatos regeneradores.

O Presidente Lula ontem apareceu vestido com um chapéu de vaqueiro, de cangaceiro, sei lá o quê, e dizendo impropérios, tolices. Nenhum brasileiro de bom senso - e eu diria até que não precisa ter muito bom senso - discorda da idéia de que este, talvez, seja o Presidente que mais tolices por minuto profere ao longo do seu período de governo. Tolices, tolices e mais tolices. Vulgariza o exercício do mandato presidencial, aniquila a liturgia do cargo, não respeita a solenidade e a majestade do cargo de Presidente da República; fala todas as vezes para aumentar a crise, porque não revela a capacidade e o preparo para diminuí-la, até porque foge das soluções verdadeiras, que são a punição dos culpados desse escandaloso caso de corrupção, dividido em mil subcasos, do Governo dele.

Chego a dizer, Sr. Presidente, que me espanta ter iniciado no Governo em 1º de janeiro de 2003 e, dois anos e meio depois, estar esse mesmo Governo paralisado e paralisando o País com explosões de crises éticas e de corrupção em praticamente todos os escaninhos do seu Governo; um atrás do outro, cada escaninho revela casos e casos de novos episódios de corrupção. Onde quer que se aperte, qualquer tecido deste Governo, sai algo purulento. Essa é a verdade.

Eu pergunto: se fosse um governo de 12, 8, 7 ou 6 anos, daria para compreender com muita dificuldade e sem menos asco. Mas é um governo de dois anos e meio, e o primeiro caso grave explodiu, publicado pela revista Época: o caso Waldomiro Diniz. De lá para cá, não pararam as denúncias e os escândalos. Até que, de repente, tudo de uma vez explodiu. Tudo de uma vez irrompeu, como se tivesse havido uma ação concertada para, no poder, fazerem isso.

Eu não confundo este Governo com a maioria esmagadora dos militantes, que são honrados, do Partido dos Trabalhadores; nem considero que a maioria dos Parlamentares do Partido dos Trabalhadores não seja, ela própria, honrada também. Considero, sim, que uma minoria sem honra qualquer, esta foi capaz, de maneira articulada, porém insustentável, de entrar em todos os recantos do Governo atrás de oportunidades para se cevarem da coisa pública.

No começo, militante de esquerda que fui ao longo de minha vida, tentei arranjar desculpas do tipo: Puxa, eles estão roubando, é verdade, mas, no fundo, estão pensando que, com isso, vão obter as reformas de que o Brasil precisa. Eles estão querendo, no fundo, imaginar que a partir daí vai nascer um mundo melhor.

Hoje, verifico que roubo é roubo. Não existe roubo de esquerda, roubo socialista, roubo idealista, roubo progressista. Roubo é roubo. Roubo significa: roubou aqui, criança na rua acolá; roubou aqui, prostituição infantil acolá; roubou aqui, desemprego acolá. Essa é que é a verdade.

Estou chegando à conclusão de que não dá nem para tentar mascarar com qualquer poesia algo que para mim é uma ação de rapina mesmo aos cofres públicos - rapina pura, simples e organizada.

Hoje, corre um boato terrível, envolvendo mais uma ligação do Sr. Marcos Valério com o oficial. Consultei a repartição competente e não me referirei a ele antes de ter a confirmação, mas são indícios claros de que esse Governo não tem caminho neste País, indícios nítidos e claros.

Agora mesmo, na chamada Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos, que era para ter sido instalada logo após os eventos Waldomiro Diniz/José Dirceu, essa CPMI que cretinamente tentaram inventar que seria também CPI da compra de votos para reeleição do Presidente Fernando Henrique, sabendo eles que essa era uma tentativa de intimidação, porque não tem ninguém interessado em discutir mesmo mais do que compra de votos ocorridas por esse mensalão e comprovadas pelas ações públicas e notórias do Sr. Marco Valério, que virou um certo embaixador plenipotenciário desse Governo junto a empresas e ao Governo de Portugal. Está aí a imprensa brasileira registrando esse fato, está aí o Ministro António Mexia, de Portugal, registrando e confirmando esse fato também; está aí mais um profecia do Sr. Roberto Jefferson se confirmando, neste indigitado país que é o Brasil.

Mas, essa CPMI, que estava sendo tratada como de segunda categoria, ou seja, dizia-se que se iria tratar de caso que já passou ou que já estava sendo analisado pelo Ministério Público, que já estava sendo analisado há muito tempo pela Polícia Federal, que de lá não sairiam muitos coelhos se aquilo ali fosse um mato.

Hoje, o representante da GTech foi lá e começou a dar nomes, tanto para o Sr. Fulano, tanto para o Sr. Beltrano, envolvendo o Sr. Rogério Buratti. Isso é muito grave e as explicações têm de ser dadas claramente. Aconselho o Ministro Antônio Palocci a não perder tempo para dar explicações muito claras e evitar transtornos para a sua credibilidade como gestor da economia brasileira. Lá chega o representante da GTech e fala coisas surpreendentes.

Hoje, eu estou sentindo dificuldades em ser parlamentar de oposição, é difícil. Antigamente, eu recortava um malfeito ou outro de manhã, vinha para cá, e o dia estava ganho. Hoje, faço o quê? Eu trago o jornal todo? Todos os jornais? Pega-se qualquer jornal brasileiro e vê-se que 60% do primeiro caderno de qualquer jornal brasileiro se refere à corrupção deste Governo.

Se eu fosse jornalista, eu iria priorizar o quê? No episódio de Santo André, já vimos um diálogo do Sr. Gilberto Carvalho tratando com o Sr. Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, como se fossem iguais. O Sr. Sérgio Sombra dizia da prisão: “Olha, não posso ficar aqui não. Dá um jeito aí para me tirar daqui. Não estão acreditando na minha versão da porta” - que a porta se abriu enfim. E o secretário particular do Presidente da República responde: “Fica calmo, Sérgio. Eu vou dar um jeito. Olha, Sérgio, não é bem assim”. Há a intimidade entre eles e há a gravidade do caso.

As televisões deram a esse fato a importância que ele mereceria se o Brasil fosse normal? Não deram. Saiu numa das emissoras brasileiras exaustivamente, saiu num cantinho de página. Qualquer desses escândalos, Sr. Presidente, seria bastante para tumultuar a vida de um governo equilibrado. Todos juntos tumultuam mesmo é a vida de uma nação que está desequilibrada pela ação desequilibrada de um governo anormal e corrupto. Essa é que é a verdade. Qualquer das denúncias de per se deveria ser tomada na conta da mais alta gravidade. Todas juntas estão causando uma verdadeira sensação de mesmice. Parece até que, quando isso acabar - e essa tormenta vai acabar de um jeito ou de outro -, as pessoas, Senador Mão Santa, vão dizer assim: “Puxa, mas o que houve? O Brasil está anormal? Não tem mais denúncia de corrupção? Acabou? Estão tratando agora de quê? De política internacional? Estão tratando agora de discutir reformas estruturais da economia?”

O brasileiro está ficando acostumado à idéia de que a televisão registra corrupção, o tempo inteiro dos jornais televisivos, e que jornal é feito para denunciar corrupção também. E é. Anormal é ter corrupção nesse nível, endêmico e epidêmico, o que está ocorrendo no governo do Presidente Lula.

Quando eu ouvi o Sr. Roberto Jefferson dizer que, nesse episódio da PT... Não era do PT, era da PT, a Portugal Telecom. Não podemos confundir “a”, com “o”. Era uma história de emissários do PTB e do PT indo até a PT. Temos de saber aplicar bem o artigo definido. “O” menino, “a” menina; “o” homem, “a” mulher; “o” leão, “a” leoa; “o” elefante, “a” aliá; “o” PT, “a” PT. Mas “a” PT não é feminino de “o” PT. Não. Foi parceria, talvez. O PT não é casado com a PT. Estou dizendo isso, porque o elefante é casado com a aliá, mas o PT não é casado com a PT. Nós temos de separar isso com muita correção, porque estão mexendo no nosso conhecimento da língua portuguesa. Então, a PT é a Portugal Telecom e o PT é o Partido dos Trabalhadores.

No dia 24 do mês não-sei-qual, segundo o Sr. Roberto Jefferson - isso já foi confirmado -, saíram daqui emissários do PTB e do PT para conversar com a PT. Muito bem. O Sr. Marcos Valério chega lá e diz: “Eu sou representante do Presidente Lula, falo em nome do Governo, sou uma espécie de diplomata” - só faltou ele dizer isso -, “sou uma espécie de embaixador do país junto a esse Ministro, embaixador informal”. E quem pediu, também, pelo encontro dele com o Ministro António Mexia? O Sr. Horta, diretor ou presidente da PT, da Portugal Telecom. É um pouco demais.

Conhece-se o modo como o Sr. Roberto Jefferson opera as suas denúncias: a conta-gotas e com precisão. Os fatos, desmentidos, depois vão sendo confirmados por outros dados e informações que S. Exª, o Deputado Jefferson, tem. Em relação ao governo com o qual rompeu, parece que ele faz um exercício de sadismo. Ele se porta como se fosse uma aranha e o governo todo uma mosca que caiu na teia. Perceba, Sr. Presidente, que a aranha não vai logo em cima da mosquinha. A aranha fica olhando. Se não estiver com fome, não vai; ela fica só olhando. A mosca se debate, se debate até ficar imóvel na teia. Quando, e se, a aranha quiser, ela vai lá e engole a pobre mosquinha. E olhem que o Sr. Roberto Jefferson está sendo acusado de muitas coisas graves: Correios, IRB e outros que tais. Não dá para esquecer isso em nenhum momento. Não dá para esquecer. Não estou com nenhum projeto aqui para fazer uma estátua para ele. Podem procurar nos Anais da Casa e verão que não há nenhum projeto meu propondo uma estátua para o Sr. Roberto Jefferson, não há mesmo. Ouço tudo o que dizem e tudo o que ele tem dito tem se confirmado.

E mais ainda: os malfeitos de que ele é acusado se passaram em que governo? Do Marechal Deodoro da Fonseca? Essa história de Correios, de IRB e de não-sei-o-quê aconteceram no governo do Marechal Floriano Peixoto? Rodrigues Alves? Delfim Moreira? Fernando Henrique Cardoso? Juscelino Kubitscheck de Oliveira? João Belchior Marques Goulart? Jânio da Silva Quadros? Marechal Arthur da Costa e Silva? General Emílio Garrastazu Médici? Não, tudo se passou no passou no governo do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva.

E o Ministro José Dirceu atribui ao Sr. Roberto Jefferson o cometimento de vários atos denunciados. Faz isso como se ele não fosse o capitão do time, como se não fosse o tal primeiro-ministro informal de um governo que tinha um presidente de brincadeira e tinha, ao mesmo tempo, um presidente formal, que era ele; como se o desgoverno não tivesse a ver com ele, como se ele não fosse responsável pelo desgoverno, como se ele não tivesse a cara do desgoverno. Aliás, ouvíamos muito aquela história: “Eu sou profissional”. E vimos todo o profissionalismo dele se esboroar como um castelo de cartas, porque não conseguiram dar rumo ao País nem sequer rumo ético, básico, mínimo para o País.

Sr. Presidente, estou estarrecido. Outro dia, tive uma certa ilusão. Eu disse: “Amainou, vai acabar; agora acaba esse bando de denúncias, isso aí já é grave demais. Isso aí, depois, vai se consolidar num todo muito grande e virão os processos”. Essa gente já tem problemas para este governo e teria para mais alguns anos. Deram outro dia uma folga de 24 horas, depois novas denúncias e mais outras denúncias e mais novas denúncias e mais outras denúncias, a ponto de eu ter que concluir tentando fazer algum humor.

É como aquela história do bar - já disse isso várias vezes, não é inédito. No bar, quando as pessoas estão exagerando na bebida e não querem sair dali, dizem: “Vamos tomar a saideira!” Não é a saideira. “Vamos tomar a pré-saideira, a saideira”, depois, “agora, sim” - levantam -, “vamos tomar a expulsadeira”. Depois da expulsadeira, tem mais umas vinte expulsadeiras, e vão ficando. É o quadro que associo a esses casos de corrupção que estão acontecendo aí, a busca desesperada por companhia.

“Ah, mas sempre foi assim! Marcos Valério operou assim em Minas, sempre foi assim”. Nunca foi assim. Em um país que sempre teve a corrupção como um dos seus fatos, nunca foi tão assim. O Sr. Fernando Collor é juizado de pequenas causas se comparado ao que está acontecendo, Sr. Presidente. Daqui a pouco ele vai requerer pagar uma multa de trânsito.Vão tirar 15 pontos da carteira de motorista, equivalente a um avanço de sinal, e ele acaba sendo beatificado, porque o estão superando em reais, em dólares, ele está sendo superando em eventos, em ousadias, em organização. Estão superando em tudo aquele momento que todos diziam que teria sido o fundo do poço da desagregação ética neste País.

No mais, imaginar que um país como o Brasil, terceiro-mundista, um país com atrasos estruturais, teria algum governo que não apontasse desvios éticos ou que não pudesse ter desvios éticos seus apontados seria idealizar demais. O governante mais honesto sabe que, em algum momento, num país parecido com o Brasil, alguém está fazendo alguma coisa errada no governo dele. É diferente de ele permitir, é diferente de ser sistêmico, é diferente de ter um projeto.

Repito - e também não é inédito - que outra coisa me chamou muito a atenção. O Ministro da Saúde que foi demitido entra e, tempos depois, acontece esse escândalo dos vampiros. Como eles são apressados, tentaram dizer que era uma coisa do Governo passado, depois viram que era tudo vampiro novo. Havia lá um “esqueminha” de superfaturamento de remédios, enfim, essa tal corrupção estrutural que vemos em um País como o Brasil. E aí calaram a boca, ficaram quietinhos porque perceberam que o que era pequenininho e não era percebido pelos Ministros de antes passou a ser grande e oficial, porque passou a ser ajudado pela nova gestão.

Houve um deles, um dos principais assessores do antigo Ministro que entrou, e é só pegarmos os jornais da época, Senador Mão Santa, e 15 dias depois da sua nomeação ele estava dentro da tal máfia. E aqui a coisa cresceu. Aí eu falei: Meus Deus, isso não é um corrupto, isso é um perdigueiro, porque ninguém escamoteia coisa alguma do olfato de um perdigueiro. Esse homem entrou e, ao invés de se preocupar com os doentes de Aids, ao invés de se preocupar com os doentes da miséria brasileira, ele imediatamente detectou que lá havia algo de bom para os seus maus instintos. É só pegarmos a cronologia da época. Eu me esqueço da figura, não me cobrem de memória, porque não dá para eu lembrar nome de corrupto agora. Estão fazendo aquele teste comigo de “O Céu é o Limite”, então eu tenho que saber tudo da vida de fulano de tal. Eu não tenho cabeça de computador para ficar dando nome de todos esses corruptos que estão sendo alinhados todos os dias nos jornais.

Mas o fato, Sr. Presidente, é que aqui está a carta do ex-Ministro Eduardo Jorge que peço seja incluída nos Anais da Casa. Aliás, nem precisava de tudo isso. Dou como lido um pronunciamento em que repito com outras palavras e em outra direção basicamente isso que tem sido a minha pregação e lhe digo, Sr. Presidente - ao concluir, peço a V. Exª um pouco mais de tolerância -, que o que me preocupa, mais até do que a crise, é não termos o tamanho da crise delimitado. Não o temos. Não sei até onde vai essa crise, então, como enfrentá-la? O Presidente não quer assumir responsabilidades, acredita que jogando a culpa nas elites ele se repurifica, acredita que se tomar o seu banho no rio Jordão vai voltar purificado. Não vai. O Presidente, sem dúvida alguma, precisa mudar o seu perfil e parar de boicotar as investigações pela via das falsas conspirações que denuncia. Por outro lado, nós todos e cada um de nós temos a obrigação de imaginar que uma hora - isso é desejável - a crise acabe. Agora, quando, Sr. Presidente? Quando?

Para a crise evoluir, não depende nem da evolução das investigações nas CPIs, não depende da ação de nenhum oposicionista. Faço aqui um desafio: se todos nós da Oposição nos retirarmos por três meses desta Casa, a crise não pára porque não foi inventada por nós. A crise não pára, a crise não se detém, a crise ganhou uma velocidade própria e essa velocidade é de bola de neve, ela é avassaladora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.

Portanto, revelo a minha preocupação e...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ao concluir, Sr. Presidente, digo do desejo que tenho de ver o Brasil encontrar o seu caminho. Eu gostaria de usar essas formas. Eu não vou usar chapéu de vaqueiro, não vou me fantasiar de roqueiro. Nada disso. Eu não sou roqueiro nem vaqueiro. Não vou. Meu traje é esse aqui: paletó e gravata. Quando não estou trabalhando uso o traje comum, o das pessoas normais. Não creio que isso resolva crise nenhuma. É uma brincadeira para com um povo que não merece qualquer tipo de brincadeira de mau gosto. Quero saber até que ponto teremos um desgoverno ao sabor da crise. Até que ponto fingirão não vê-la, até que ponto ficarão instalados em uma cratera lunar, viverão como um marciano, como um venusiano, sem prestar atenção no fato de que começa a haver pessimismo, sim, na economia produtiva brasileira.

Os mercados financeiros ainda estão otimistas porque não viram os sinais mais graves acontecerem. A outra economia, a das indústrias, a dos serviços, já está profundamente preocupada e pessimista.

O quadro, portanto, Sr. Presidente, é grave...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ... para cento e oitenta milhões de brasileiros. Há um crendo que está tudo muito bem: aquele que diz que teremos que engoli-lo mais uma vez. É o Presidente assumindo um papel de sub-Zagalo. Zagalo, ao menos, deu títulos ao Brasil, títulos do qual nos orgulhamos. Somos pentacampeões mundiais. Não queremos um campeonato de corrupção, de alienação política, por parte do primeiro mandatário da Nação, Sr. Presidente.

Era o que eu tinha a dizer.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO.

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não é nem um pouco correta nem decente a insistência do Governo Lula em jogar sobre os meios de comunicação a culpa por muito do que aí está, enlameando a Nação.

Isso não bom. É uma fala que cheira a controle da imprensa. E bem que o Governo Lula andou tentando criar mecanismos de controle, de dirigirmos ou de censura, como o famigerado e falecido Conselho Nacional de Jornalistas.

Imagino que sem a imprensa dificilmente a Nação ficaria sabendo que a sede do Governo estava virando um QG da corrupção.

E aí, tolhido naquela ditatorial invenção do tal Conselho, vem o Presidente e diz: a imprensa só publica as coisas ruins. Sem perceber que seu Governo, esse da República Petista, é a matriz das coisas ruins.

De destemperos em destemperos, ontem a Nação viu-se obrigada a escutar aquele espalhafatoso vão ter que me engolir.

É o caso de perguntar:

Engolição é coisa ruim?

Essa engolição aí é mais do que ruim. É péssima.

Essa coisa ruim ou péssima está na primeira página dos jornais desta manhã.

É outro caso de perguntar:

Quem foi que inventou isso? Foi seu Cabral no dia 21 de abril, dois meses antes do Carnaval? Ou foi o detentor do mais alto cargo da República?

Como diz hoje na Folha o jornalista Clóvis Rossi, o risco para Lula não é o de engolir ou ser engolido, mas o de ser folclorizado.

Mais aspas para Clóvis Rossi:

Lula faz muita agitação, fala muito (e diz muito pouco, quase nada), anda de um lado para o outro (ou voa daqui para lá e de lá para cá), mas não mostra pulso para enfrentar o problema (a crise).

Seus discursos são erráticos, repetitivos, carregados de auto-elogios, de bravatas, de um messianismo sem Messias, portanto oco.

Quem sabe o Presidente não está querendo se transformar no chamado Santo do Pau Oco?

Para quem anda dizendo que de nada sabia, de mensalão ou acerca de outros que tais, nem a santidade salva o Presidente.

Revelou-se ontem e está no noticiário de hoje que a entrevista do Presidente Lula a um desses programas de auditório de tv, do tipo bufo e até truão, foi, como aquela do sofá nos jardins de um palácio em Paris, pura montagem e encenação patrocinada pelo Palácio do Planalto.

Diz o começo da notícia:

            “O ex-líder do PMDB na Câmara José Borba (PR) pode acabar renunciando ao mandato para não revelar para quem foram os recursos. Boa parte dos R$ 2,1 milhões teria como verdadeiro destinatário o apresentador Carlos Roberto Massa, o Ratinho, seu compadre. O repasse seria para bancar espaço cedido pelo apresentador ao presidente Lula na "entrevista-churrasco" transmitida pelo Programa do Ratinho veiculado pelo SBT em 30 de abril de 2004.”

Naquele abril, resolvi não levar a sério a encenação histricomorfa de um canal de televisão. Montado como, nele mencionaram meu nome, mas achei que, em respeito ao povo brasileiro, não deveria analisar nada que cheirasse a mau gosto.

Depois, houve um repeteco, já aí numa poltrona colocada no gramado de um palácio de Paris, com o Presidente falando a uma apresentadora de quem ninguém jamais ouvira falar. Coisas dudeanas.

Por isso, Sr. Presidente, para que passem a constar dos Anais do Senado essas ameaças de dirigismo ou de censura à imprensa, estou anexando a este pronunciamento o artigo do jornalista Clóvis Rossi, bem a propósito, e a notícia do jornal O Estado de S.Paulo, a propósito do programa mencionado.

Além disso, Sr. Presidente, será muito bom que o historiador do amanhã disponha de sólidos elementos para avaliar a triste história da República Petista.

A notícia, publicada hoje por todos os jornais e no Estadão, sobre os vetos da Justiça à prestação de contas da campanha da ex-prefeita Marta Suplicy, é mais um dado para a avaliação do historiador.

Era o que eu tinha a dizer.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Crise, humor e grandeza”;

“Entrevista a Ratinho teria custado R$2,1 mi”;

“Marta tem contas eleitorais reprovadas pela Justiça de SP”; e

“Arrependimento tardio”.


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\MONTAGEM\20050805ND.doc 10:39



Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2005 - Página 26755