Discurso durante a 136ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a declarações do Presidente Lula, hoje da Bahia. Sugestão da necessidade da vinda do Presidente Lula ao Congresso Nacional para esclarecimentos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários a declarações do Presidente Lula, hoje da Bahia. Sugestão da necessidade da vinda do Presidente Lula ao Congresso Nacional para esclarecimentos.
Aparteantes
José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 18/08/2005 - Página 28047
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, VINCULAÇÃO, CORRUPÇÃO, ANUNCIO, COLABORAÇÃO, INVESTIGAÇÃO.
  • SUGESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VISITA, CONGRESSO NACIONAL, OBJETIVO, ESCLARECIMENTOS, CRISE, POLITICA NACIONAL, DIALOGO, CONGRESSISTA, SEMELHANÇA, PARLAMENTARISMO.
  • COMENTARIO, CRISE, GOVERNO, HISTORIA, BRASIL, MUNDO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente Lula, ainda há pouco, em Vitória da Conquista, na Bahia, falou de sua determinação em contribuir para que haja a apuração completa dos fatos. O Presidente Lula, portanto, ressalta que quer contribuir para que toda a verdade venha à tona e explicitou que, de maneira alguma, deseja que haja qualquer empecilho e que o Governo não irá obstar que a apuração seja feita da forma a mais completa.

O Presidente Lula ressalta que está de consciência limpa, ainda que haja o desejo de segmentos políticos de tentar implicar o Palácio do Planalto na apuração ou nos episódios que preocupam a toda Nação e a nós próprios, a nós do Partido dos Trabalhadores.

Foi justamente pensando que seja importante ao próprio Presidente Lula que contribua para o desvendar desses episódios que sugeri a ele que faça uma visita inédita, por sua característica, ao Congresso Nacional, e que aqui possa abrir a oportunidade de um diálogo entre os Deputados e os Senadores. Poderiam alguns avaliar: mas será que o Presidente iria se sujeitar a vir ao Congresso Nacional, numa forma que mais caracteriza o parlamentarismo, quando o Chefe de Estado dialoga com os representantes do povo?

Eu soube que o Governador Jorge Viana e representantes do Partido dos Trabalhadores ali do Acre sugeriram que o Presidente tenha um diálogo com o Conselho da República e os ex-presidentes José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco, para pensarem como é que vai haver a governabilidade depois de todos esses episódios. Mas eu considero que o Presidente poderá dar um passo importante no esclarecimento de todos esses episódios, se tiver esse diálogo com os representantes do povo. E pensei assim a partir da reação do Congresso Nacional e da opinião pública à fala do Presidente, ainda na última sexta-feira, quando ele mostrou toda a sua indignação, pediu desculpas, disse ter-se sentido traído e que quer a apuração completa dos fatos.

Ainda ontem, o ex-presidente José Sarney rememorou aqui os momentos de crise que envolveram os chefes da Nação Brasileira em décadas recentes. E aqui quero fazer também uma recordação desses episódios, mas lembrando também de crises que ocorreram com chefes de estado de outras nações.

As que ocorreram no Brasil, das mais sérias, foram, por exemplo, quando Getúlio Vargas, em 1954, passou a ser objeto de uma campanha, liderada pelo então Deputado Carlos Lacerda, da UDN, que falava do “mar de lama” que havia no Palácio do Governo. Houve o atentado contra Carlos Lacerda, na Rua Tonelero, onde foi morto o Major Vaz. Carlos Lacerda foi atingido na perna, ficou ferido, mas permaneceu vivo. E, como se soube depois, por uma das pessoas responsáveis pela segurança do Presidente Vargas, independentemente de qualquer orientação do Presidente, que jamais faria aquilo. Mas, diante da pressão tão forte da opinião pública e da própria imprensa sobre tudo o que estava acontecendo, então o Presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1954, dá um tiro em si próprio. No dia seguinte, o que se viu foi o povo nas ruas, comovido, homenageando seu Presidente.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com muita honra, Senador José Jorge, mas acredito que terá mais elementos se puder aguardar eu avançar neste raciocínio.

Queria lembrar também que Juscelino Kubitschek foi objeto de campanhas de oposição muito fortes, inclusive sofreu uma tentativa de golpe militar, mas que logo foi desmontada. Inclusive, foi muito generoso com as pessoas que tentaram fazer aquilo e os anistiou, concluindo seu mandato de uma maneira muito positiva, constituindo-se num dos mais brilhantes Presidentes da História do Brasil e querido pelo povo.

Tivemos, então, a eleição de Jânio Quadros. Surpreendentemente, sete meses após o início de seu mandato, sem que houvesse uma situação tão grave quanto aquela que ocorreu com Getúlio Vargas, sentindo-se sem o apoio necessário no Congresso Nacional, denunciando as “forças terríveis e ocultas” que queriam até convocar sua esposa, D. Eloá, ao Congresso Nacional, renuncia. Esse foi um outro episódio muito particular.

Tivemos depois, com o seu vice-Presidente, João Goulart, que assume a Presidência, uma situação extremamente crítica, que desemboca em 31 de março com o golpe de Estado e 21 anos de ditadura militar. Ora, algo que, de maneira alguma, gostaríamos que acontecesse.

Felizmente, Senador Jefferson Péres, nós estamos vendo as instituições brasileiras funcionando, o Congresso Nacional funcionando com normalidade, a constituição de CPIs que estão examinando os fatos, apurando-os, e isso sem qualquer tipo de ameaça de golpes que não sejam os procedimentos...

(Interrupção do som.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...que estão previstos na Constituição.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC. Fazendo soar a campainha) - Senador Eduardo Suplicy, tem V. Exª mais um minuto.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, gostaria de salientar que o importante é que possamos contribuir, e o Presidente e o Partido dos Trabalhadores - eu falo aqui para os meus colegas, aqueles que inclusive estiveram envolvidos em alguns desses episódios como o Sr. Sílvio Pereira, o Delúbio Soares, o Marcelo Sereno e José Dirceu -, todos tenham a disposição, como que um compromisso de honra, de contribuir para que a verdade venha inteiramente à tona.

Delúbio Soares voltará amanhã ao Congresso e à CPI, e eu espero que tenha uma atitude diferente daquela do seu primeiro depoimento, dizendo as coisas tais como elas aconteceram. E avalio, Sr. Presidente, que é fundamental que o Presidente possa dar também a sua contribuição porque hoje o Presidente da República, depois de dois ou três meses da apuração dos fatos, já sabe muito mais do que antes.

Concedo, rapidamente, o aparte ao nobre Senador José Jorge, conforme prometi.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - Senador Eduardo Suplicy...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - É para concluir, Sr. Presidente. Após ouvir o aparte do Senador José Jorge, concluirei.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Agradeço, nobre Senador Eduardo Suplicy. É muito bom que V. Exª historie todas essas crises. Mas, na verdade, esta crise de agora é diferente das anteriores. Não há nenhum membro da oposição que seja figura relevante desta crise. A crise é própria e interna do Governo e do PT e, infelizmente, tanto o Governo quanto o PT reagem de forma equivocada. A cada dia que o PT divulga uma nota, eu me decepciono mais. Ontem mesmo, tentou-se abrir uma sindicância contra as pessoas envolvidas e o Presidente Tarso Genro perdeu a votação por 9 a 6. E assim por diante. Então, penso que é necessário que o Governo e o PT reajam de forma correta, voltando àquela época da defesa da ética, que sempre foi a mais importante bandeira do PT e do Presidente Lula. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Leonel Pavan. PSDB - SC) - Senador Eduardo Suplicy, a Presidência lhe concede mais dois minutos para que possa concluir, tempo disponível para expor os seus pensamentos.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, vou aqui dizer o quão importante é a disposição de dizer a verdade. Quando Richard Nixon negou-se a admitir que na Casa Branca havia uma conspiração para se espionar o edifício Watergate, tornou-se quase que inevitável o seu impedimento e ele precisou renunciar, exatamente porque havia faltado com a verdade em relação ao povo. Bill Clinton, depois de reeleito, namorou a Monica Lewinsky e surgiu um noticiário muito forte na imprensa que poderia envolvê-lo e desmoralizá-lo. Primeiro ele negou, mas, depois, dialogando com sua esposa, Hillary Clinton, com seus familiares, com seus amigos e com sua consciência, confirmou o fato. Resolveu dizer as coisas tais como tinham ocorrido e pediu desculpas a sua esposa, a sua família, ao povo norte-americano. Isso fez com que o Congresso revertesse o processo e ele pôde concluir seu mandato.

(Interrupção do som.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Continuarei falando deste assunto nos próximos dias.

Sr. Presidente, quero dizer aqui que nada será tão importante do que a própria contribuição do Presidente Lula para o desvendar completo de todos esses fatos. E foi por essa razão que sugeri que Sua Excelência viesse aqui dialogar conosco, Senadores e Deputados, numa atitude inédita e espontânea que o Presidente poderá ter em breve.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/08/2005 - Página 28047