Discurso durante a 137ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a atuação do Partido dos Trabalhadores ante as denúncias de corrupção e a necessidade de explicações a serem dadas pelo Presidente Lula. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Considerações sobre a atuação do Partido dos Trabalhadores ante as denúncias de corrupção e a necessidade de explicações a serem dadas pelo Presidente Lula. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 19/08/2005 - Página 28362
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMPARAÇÃO, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, GRUPO, FUTEBOL, OBEDIENCIA, COMANDO, TECNICO ESPORTIVO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONCLUSÃO, IMPOSSIBILIDADE, GOVERNANTE, DESCONHECIMENTO, IRREGULARIDADE, CONDUTA, ASSESSORIA.
  • COMENTARIO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DISTANCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EXPECTATIVA, OCORRENCIA, DIVISÃO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, GRUPO, ATIVIDADE, AUSENCIA, ETICA, MEMBROS, IDONEIDADE, ATUAÇÃO.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, domingo passado foi dia de jogo de futebol na Granja do Torto. Parecia que estava tudo às mil maravilhas no País, Senadora Íris de Araújo. O Presidente, de camiseta, de calção, de joelheira, todo apetrechado, postava-se no gol, Senador Mozarildo Cavalcanti, aguardando as bolas que vinham, na posição de goleiro. Levou uns frangos. Foi o que a tevê mostrou. Faz parte. Eu digo isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para recuperar um pouco desses dois anos e meio de governo até chegarmos aos fatos de hoje.

Sua Excelência o Presidente da República gosta muito de fazer metáforas e de construir representações à imagem e semelhança de jogo de futebol. Ele se arvora a condição de técnico, que é. Técnico que escala o time, como escalou; que designa o capitão do time, como designou. E até identificou um consultor técnico, o seu Zagalo. O time é o seu grupo de Ministros, de auxiliares, os petistas, o Estado aparelhado, o modelo PT de governar. O capitão do time, com a faixa preta no braço para todo o Brasil conhecer e aplaudir ou vaiar, era o ex-Ministro José Dirceu. Ninguém tenha dúvida sobre isso. O consultor técnico, Senador Mozarildo, Senador Teotônio Vilela, muitas vezes foi até confundido com Ministro. V. Exª se lembra bem de que Duda Mendonça, num dado momento, de tanto aparecer no Palácio do Planalto e se confundir com as funções da Secom, foi tido como um Ministro sem Pasta, um Ministro pro forma. Lembra?

O time estava jogando, orquestrado pelo Presidente da República, o grande técnico. Recebia o tempo todo instruções do técnico, que trabalhava sempre em sintonia com o capitão do time, assessorado nos momentos de dificuldade pelo consultor técnico Duda Mendonça. O capitão do time era José Dirceu. De repente, não mais que de repente, o time começa a trocar os pés pelas mãos.

É preciso que se registre que esse time sempre jogou sob a regência do técnico, do Presidente. Nunca ouvi falar, nunca, que técnico de futebol não soubesse o que estava fazendo com seus jogadores. Não conheço, não faço a menor idéia. Era um time, como o Presidente dizia, orquestrado por ele, que era o técnico; tinha um capitão com uma tarja preta no braço, que era José Dirceu, e um assessor técnico, havido pelo Brasil inteiro como respeitado, o publicitário Duda Mendonça. Não se pode admitir que o técnico não soubesse o que o time estava fazendo. Até porque as ordens eram dele. Em qualquer time de futebol, as ordens são do técnico. É quem muda a estratégia, quem muda a forma de jogar, quem passa do ataque para a defesa, da defesa para o ataque, quem sabe a hora de fazer o gol, é ele quem sabe tudo.

De repente, na hora em que o time é pilhado no malfeito, na hora em que as caneladas explícitas acontecem, em que a Nação o flagra, a começar do Sr. Maurício Marinho, ele entra em conflito com seu time, como se pudesse. E de repente, não mais que de repente, ele começa a se distanciar de seu time, como que se afastando de seu Governo e de seu Partido, Sr. Presidente. É aí que quero fazer algumas considerações: ele está claramente procurando se distanciar de seu PT, de seu Partido, querendo fazer uma diferença de seu Partido, que tem um novo Presidente, um novo candidato a Presidente, que pede desculpas ao País. O PT pede desculpas ao País, mas não abre processo sobre nenhum dos denunciados.

Vejam que jogo de faz-de-conta: o Presidente começa se afastar do seu Partido, como se fosse possível o País entender Lula se afastar do PT; e o PT, por sua vez, pede desculpas ao País, depois de Lula pedir aquelas desculpas insinceras. O PT pede desculpas, como se o País fosse aceitar as desculpas desse Partido, que não abriu processo contra nenhum dos denunciados. Mais uma vez, desculpas da boca para fora.

E começa a se distanciar do próprio Governo. Que Governo? Defenestra o técnico José Dirceu, se aparta de Duda Mendonça...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Vou terminar, Sr. Presidente.

Na hora em que se aparta do capitão do time, José Dirceu - estou vendo e quero fazer o registro -, a agência France Press, agora à tarde, Senadora Iris de Araújo, registra uma declaração do Deputado José Dirceu: “Lula é quem tem que dizer quem o traiu”. Porque Lula, no pronunciamento que fez, disse que estava traído, que havia traidores.

Eu sempre disse, Senador Mão Santa, que a verdade ia aparecer - e vai aparecer, se Deus quiser - na disputa que se vai estabelecer ou que está estabelecida entre o PT bom e o PT ruim, “entre credor e devedor”. Pois José Dirceu desafiou o Presidente da República, o técnico defenestrado desafiou o Presidente. E com a palavra o Presidente.

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Repito o que José Dirceu disse: “Lula é quem tem que dizer quem o traiu”. E com a palavra o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Não sei se terei tempo, mas ouvirei V. Exª com o maior prazer. Permita-me apenas concluir.

Duda Mendonça foi defenestrado das condições de marqueteiro do Palácio do Planalto - não tem mais contrato nenhum -, mas veio à Comissão Parlamentar de Inquérito, fez declarações, e eu vou dar uma ajuda. Aliás, dei uma ajuda: fui ontem à Procuradoria Geral da República e pedi ao Procurador que ajuíze uma ação de investigação judicial eleitoral em função das declarações de Duda Mendonça e arvorado no pensamento que tenho, amparado no art. 21 da Lei Eleitoral, que diz que o único responsável pelas prestações de conta de campanha é quem a assina - ou o próprio ou quem ele mandou. E o próprio é o candidato.

Não adianta Lula...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Não adianta Sua Excelência, o Presidente Lula, pensar que, pelo fato de ser Presidente, está acima do bem e do mal e que não deve explicações. Deve, sim. As contas que ele apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral estão confrontadas pelas declarações de Duda Mendonça.

E vai estabelecer-se agora um outro conflito de opiniões e posições. Uma é de José Dirceu, que declarou - vou repetir - à agência France Press: “Lula é quem tem que dizer quem o traiu”. Com a palavra o Presidente. E agora, na ação judicial eleitoral que propus e que espero que o TSE julgue, vai estabelecer-se o confronto para saber quem tem razão. Duda Mendonça disse que foi contratado por R$25 milhões; recebeu R$14 milhões no Brasil - parte legal e parte ilegal - e os restantes R$11 milhões inteiramente ilegais no exterior. Resta saber se essas contas estão registradas na prestação de contas do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Com a palavra o Presidente.

Eu sempre disse...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Vou terminar, Sr. Presidente.

Eu sempre disse que esses assuntos serão esclarecidos com o passar do tempo - e acredito que estarei certo -, na medida em que as pessoas do PT bom se contraponham às pessoas do PT ruim e na medida em que os credores se contraponham aos devedores. Está posto o diálogo, e o Brasil espera: José Dirceu versus Lula; Duda Mendonça versus Lula.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/08/2005 - Página 28362