Discurso durante a 138ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem a maçonaria brasileira pela passagem do Dia do Maçom.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a maçonaria brasileira pela passagem do Dia do Maçom.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2005 - Página 28431
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, MAÇONARIA, COMENTARIO, ATUAÇÃO, ENTIDADE, AMBITO, CIDADANIA, RELAÇÕES INTERNACIONAIS, EDUCAÇÃO, ASSISTENCIA ESPIRITUAL, ANALISE, EXPECTATIVA, FUTURO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, MANIFESTO, CONFEDERAÇÃO, MAÇONARIA, BRASIL, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, HISTORIA, ATUAÇÃO, ENTIDADE.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Alvaro Dias.

Sr. Presidente, Srs. Senadores que me antecederam na tribuna, quero cumprimentar meus caros irmãos maçons, nas pessoas dos queridos irmãos Laelson Rodrigues, Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil; Sérgio Muniz, da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, que representa as grandes lojas do Brasil; e Antônio do Carmo Ferreira, da Comab - Confederação Maçônica do Brasil. Quero também cumprimentar todos os grão-mestres de diversos Estados que estão aqui presentes, tanto das grandes lojas quanto do Grande Oriente do Brasil quanto das Grandes Orientes independentes.

Quero também mandar uma mensagem especial, um abraço especial aos Presidentes de Tribunais de Justiça dos Grandes Orientes estaduais, que estão reunidos em Brasília desde ontem, numa tarefa importante para a Maçonaria. E peço permissão para, em nome do meu filho, que está ali na tribuna de honra, que é Presidente do Tribunal de Justiça Maçônico lá do Grande Oriente de Roraima, cumprimentar todos os Presidentes aqui presentes.

Quero também cumprimentar, mandar um abraço fraterno a todas as cunhadas, na pessoa da minha esposa, que também se encontra ali, ao lado do meu filho, e a todas filhas e filhos de maçons, na pessoa da minha filha Geanne, que também se encontra presente.

Quero também fazer aqui um registro especial da presença do meu grande amigo, Dr. Franklin Rodrigues da Costa, que não é da Maçonaria, mas é da antiga e mística Ordem Rosa Cruz - ele é o mestre da loja de Brasília -, que é uma instituição que, como a nossa, é iniciática, é filosófica, e, portanto, procura o aperfeiçoamento dos espíritos. Quero, portanto, através dele, cumprimentar todos os rosas-cruzes do Brasil inteiro.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, meus irmãos, quero dizer que é com muita alegria que vejo, hoje, pelo quinto ano consecutivo, reunir-se esta Casa para prestar homenagem à Maçonaria brasileira, pelo transcurso do dia do Maçom, que será comemorado amanhã, dia 20 de agosto.

Integrante que sou, com muito orgulho, dessa antiga Ordem, quero mandar um abraço especial para todas as Ordens do Brasil, cumprimentando e homenageando a minha Loja mãe, a Loja 20 de Agosto que, por feliz coincidência, tem esse título 20 de agosto, do Oriente de Boa Vista, no Estado de Roraima.

Tenho, por isso mesmo, o orgulho de ser maçon, de ser filho de maçon, de ser pai de maçon e de ter ainda um genro que está aqui presente e que é maçon. Portanto, a minha família tem a minha convicção de que a Maçonaria é um caminho importante para o aperfeiçoamento do ser humano em todos seus aspectos.

Por isso mesmo, tenho apresentado todos os anos requerimentos, com o apoio de inúmeros colegas Senadores, para que o Senado se integre às comemorações que marcam a passagem desta data tão importante para nós, que é o Dia do Maçon.

Afinal, nesta sessão, temos um momento propicio para cultuarmos as muitas glórias do nosso passado; para relembrarmos os ilustríssimos irmãos que deram inauditas contribuições à causa da liberdade, da igualdade e da fraternidade; para celebrarmos a memória dos homens livres, de conduta ilibada, que pugnaram pelo progresso material e espiritual da Nação e da humanidade.

Mas é também o 20 de agosto, queridos irmãos, ocasião apropriada para lançarmos nossos olhos em direção ao futuro dessa instituição multissecular; para tentarmos antever qual poderá ser o papel da Maçonaria no Século XXI; para planejarmos a trajetória de nossa irmandade daqui para frente, de modo que a Maçonaria possa inclusive resgatar a importância que teve, no passado, nos eventos históricos de maior magnitude.

Ao longo dos séculos, a missão da Maçonaria tem sido de colaborar para o progresso moral, intelectual, cientifico e tecnológico da humanidade. Sucessivas gerações de maçons travaram, com muita galhardia, o bom combate em defesa dos direitos humanos, da libertação os povos, contra a opressão e a tirania, em prol das artes e das ciências. Toda essa luta, evidentemente, não está esgotada. Ela se projeta no século que se está iniciando agora.

O que muda, contudo é a feição dessa luta na medida mesma em que muda a feição da opressão e da tirania. Novos tempos trazem novos desafios, e a Maçonaria precisa evoluir para estar a sua altura, à altura desses desafios do Século XXI.

Uma das características marcantes do mundo contemporâneo é o avassalador poder que detêm as grandes corporações internacionais, poder que consegue se sobrepor, inclusive, ao poder dos próprios Estados nacionais. As restrições ao campo de ação dos governos são, fatalmente, acompanhadas pela perda de influência dos cidadãos nos destinos das nações. Assim, um dos grandes desafios da sociedade do Século XXI é o de encontrar formas de amplificar a influência dos cidadãos nos destinos das nações - para além da norma “uma pessoa, um voto” - e de projetar essa influência no nível das relações internacionais.

Essa tem sido, precisamente, a lógica que inspira a atuação e o fortalecimento de organizações de âmbito supranacional dedicadas a determinados interesses dos mais variados tipos, desde a defesa dos direitos humanos até a preservação do meio ambiente. Essas organizações conseguem movimentar-se na arena internacional em pé de igualdade com as grandes corporações e, mesmo, com os Estados nacionais. A legitimidade das suas posições advém não só do número de membros que lhes dão corpo, mas também da universalidade dos valores que defendem.

Essa pode ser, também, a lógica de atuação da Maçonaria naquele que é o mundo, que nós convencionamos chamar de não maçônico. Ela deverá atuar de uma forma evidente na defesa dos valores universais que professa. Esse deve ser, para além da dimensão iniciática, um importante papel da Maçonaria no Século XXI. Assim, nossa irmandade estará dando sua relevante contribuição para repor o equilíbrio em termos da influência dos cidadãos nos destinos das nações e projetar essa influência no nível das relações internacionais. Nesse aspecto, a Maçonaria tem uma grande oportunidade de afirmação no mundo inteiro: pela universalidade dos valores que professa; por envolver cidadãos de todas as origens, crenças e formações; e pela sua presença em quase todas as nações do mundo.

Penso, inclusive, que, embora a ação no que se convencionou chamar “mundo profano” deva estar dissociada da vertente iniciática, ela deve ser bem visível. A forma que melhor se presta a esse tipo de atuação é de um banco de idéias. Como sabemos, o seu papel é o de fazer recomendações a um governo, permitindo-lhe tomar decisões esclarecidas, um banco de idéias debruçando-se sobre uma área específica qualquer - telecomunicações, direitos humanos, transportes, políticas públicas - mas não faz lobby. A autoridade na área que se especializa, assegurada pela colaboração dos indivíduos mais esclarecidos na área, é suficiente para tornar claro a um governo que as suas recomendações devem ser consideradas.

Quero aqui fazer um afastamento da parte que escrevi para dizer que esse chamamento é justamente para percebermos que temos perdido espaço, na influência nos destinos e decisões da Nação, para outras entidades que têm muito menos representatividade na sociedade, muito menos capilaridade na sociedade que nós, que sempre tivemos essa atuação forte.

Ao final de meu pronunciamento, vou ler uma declaração das Grandes Lojas, da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil. O Grande Oriente tem feito sucessivas manifestações, às vezes até em conjunto com as Grandes Lojas, e essas recomendações não saem das gavetas dos dirigentes da Nação.

Essa me parece ser uma das formas mais interessantes e estruturadas que a atuação da Maçonaria pode tomar: estudar questões de interesse nacional, na perspectiva da defesa dos interesses dos cidadãos, integrar o conhecimento e apresentar recomendações.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meus caros irmãos, outras características marcantes de nosso tempo são a exacerbação dos fanatismos e da intolerância religiosa; a explosão populacional nos países mais miseráveis e o inferno demográfico nas nações industrializadas; a epidemia de Aids, ainda totalmente fora de controle na África e na Ásia; a degradação do meio ambiente e a má gestão dos recursos naturais.

Se procurarmos as principais causas comuns a todos esses males, duas haverão de sobressair: a ignorância e a indigência de valores espirituais. Parece claro, portanto, que uma preocupação central da Maçonaria no século XXI deverá ser a educação para os valores culturais e espirituais, contribuindo com as famílias e com as escolas. Esse será, por certo, um campo de batalha privilegiado para os lutadores maçônicos da atualidade, um campo de batalha no qual as armas serão o conhecimento, o coração e o espírito.

Já se tornou chavão dizer que estamos vivendo na sociedade da informação. De fato, o volume de informação que as novas tecnologias tornam disponível é assombroso. No entanto, exatamente pelo seu volume avassalador, torna-se cada vez mais difícil para o homem moderno assimilar e interpretar o vasto cabedal de informação que lhe é oferecido. Assim, o próprio entendimento do mundo e de sua evolução torna-se mais inacessível. Cresce, nesse contexto, o poder dos meios de comunicação de influenciar as mentalidades. Cada vez mais, a opinião pública é levada a acreditar naquilo que lhe é apresentado, não dispondo de meios para discernir o que é real do que é “fabricado”.

Para que cada ser humano consiga edificar o seu templo e burilar a pedra bruta, ele precisa de um espaço propício para a reflexão, para o diálogo filosófico. Num momento histórico profundamente marcado pelo individualismo, pelo consumismo, pelo hedonismo, pela indiferença em relação aos semelhantes, cresce a sede dos homens de bem por um ambiente de paz, de compreensão, de comunhão fraterna com todos aqueles que têm as mesmas aspirações.

Por isso, a Maçonaria terá de crescer, de aumentar os seus efetivos, acolhendo todos aqueles que estejam sintonizados com os seus princípios da tolerância, da filantropia, da justiça e da busca da verdade. No seio da família maçônica, entre irmãos, o homem moderno pode encontrar o espaço para exercer a liberdade de pensamento, para libertar-se da dependência dos meios de comunicação, para exercer a sua influência cidadã nos destinos da sua nação. E, para o crescimento da nossa irmandade, um passo preliminar é o crescimento das organizações paramaçônicas para jovens de ambos os sexos, o que servirá para uma futura seleção de verdadeiros maçons e contribuirá para um aumento mais qualitativo e célere.

Importa também para essa expansão que a Maçonaria se dê mais a conhecer, que seja mais pró-ativa, que esteja mais próxima da sociedade. Cada país e a humanidade só têm a ganhar com isso, pois tenho certeza de que o aumento do número de maçons conduzirá, inevitavelmente, ao aumento do número de bons cidadãos e, por via de conseqüência, a uma melhoria da sociedade mundial.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, meus irmãos, como que a inspirar os trabalhos que se desenvolvem neste recinto, temos aqui o busto de um dos mais insignes brasileiros que já abrilhantaram esta Casa, o preclaro e inesquecível Senador Rui Barbosa, que está logo ali abaixo do crucifixo, que foi um exemplo de maçom para todos nós.

Ninguém melhor do que o irmão Rui Barbosa para nos trazer à memória as glórias passadas da maçonaria, seu compromisso multissecular com os ideais da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Que os incontáveis exemplos de maçons que obraram antes de nós possam nos infundir o ânimo necessário para o enfrentamento dos desafios que o nosso século nos está apresentando.

Neste momento de perplexidade por que passa o País, diante de tantos escândalos, é necessário que a maçonaria se posicione e aja de modo a fazer com que se evidenciem os requisitos básicos para alguém se tornar maçom: ser livre e de bons costumes. Quem consegue se libertar da ignorância, da opressão, e dos radicalismos, conseqüentemente pratica os bons costumes e abomina todo tipo de corrupção, cavando, portanto, masmorras aos vícios e elevando templos às virtudes.

É bom lembrar também o nosso irmão Rui Barbosa quando disse:

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto.

Então, nós temos, neste momento, que nos levantar, cada qual como pode, para fazer com que não cheguemos a esse ponto para o qual, àquela época, Rui advertia, porque se banaliza tanto a corrupção, igualam-se todos por baixo que, se nós ficarmos calados, estaremos colaborando para que esse estado de coisas se perpetue e o Brasil continue sendo o País que, permanentemente e espasmodicamente, está envolvido em escândalos de corrupção.

            Tragamos sempre conosco nossos malhetes e nossos cinzéis, nossos esquadros e nossos compassos. Usemo-los com maestria para edificar nossos templos interiores, desbastar e burilar a pedra bruta que há em cada um de nós, mas também fazendo uma interface profunda com a sociedade e comunicando-nos melhor com ela; fazendo valer os nossos pensamentos por intermédio do convencimento. Esse é o grande desafio.

            Antes de encerrar, Sr. Presidente, passo a ler aqui um manifesto da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, assinado por todos os Grãos-Mestres das grandes Lojas, nos seguintes termos:

A Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, constituída por vinte e sete grandes Lojas Maçônicas do Brasil, reunida no período de 12 a 16 de julho de 2005, na cidade de Vitória, Espírito Santo, por ocasião da sua 34ª Assembléia Geral, proclama:

I - O repúdio à corrupção que hoje corrói as instituições que alicerçam o estado democrático de Direito, pondo em risco a própria governabilidade, exigindo ampla e rigorosa apuração dos fatos, com punição exemplar dos responsáveis;

II - Que essa falta de ética e moralidade no trato da coisa pública tem propiciado diversas tentativas de desnacionalização da Amazônia, com ameaça à soberania nacional, pelo que propõe, a criação de uma empresa pública, de capital exclusivamente nacional, a Minerobrás, instituindo o monopólio do Estado brasileiro para exploração das riquezas minerais da Amazônia;

III - Se necessário, reaparelhamento das Forças Armadas, capacitando-as adequadamente, para que se cumpra o ditame constitucional de preservação da soberania nacional, com o controle rigoroso de nossas fronteiras;

IV - Que não aceita a forma como está sendo feita a reforma agrária, com incentivo a movimentos de índole antidemocrática que pregam a violência, desobediência civil e o desrespeito ao legítimo direito da propriedade, pugnando por que seja realizada, visando à melhoria da qualidade de vida dos menos afortunados, sem fins eleitoreiros, objetivando unicamente justa e equânime divisão e exploração das terras comprovadamente improdutivas.

V - Finalmente, que se sente na obrigação de alertar as autoridades do setor no sentido de que nas questões relativas à transposição das águas do rio São Francisco se observem rigorosamente as normas técnicas, quer no que diz respeito às obras de construção, quer no tocante às conseqüências que dele poderão advir, como impactos ambientais negativos e revitalização permanente do rio, visando sempre preservar de forma eqüitativa os interesses das coletividades por elas abrangidas.

Seguem-se as assinaturas dos vinte e sete Grão-Mestres. Justamente é o que tenho dito, em sucessivos manifestos como este. Também já li o Grande Oriente do Brasil, das três potências, vamos dizer, que estão aqui hoje representadas. Mas eles morrem nos Anais deste Senado. Temos que mudar essa realidade porque já se disse que, quando se quer esconder uma coisa bem escondida, pedimos para transcrever nos Anais ou do Senado ou da Câmara. Mas ainda sou um homem de fé e acredito que é justamente pela persistência e pela insistência que conseguimos mudar no passado e que conseguiremos melhorar e mudar no presente e no futuro.

Sr. Presidente, requeiro a inclusão da transcrição do Manifesto da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil e dos artigos publicados na revista Nossa História, que trata do poder secreto da Maçonaria. E esse poder é tão secreto que está numa publicação não maçônica. É muito importante que a população do País procure, realmente, entender a Maçonaria, mas somos nós que temos o dever de nos fazer mais bem-entendido. Se assim o fizéssemos, o Brasil, com certeza, estaria melhor.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI.

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            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é com grande alegria que vejo, pelo quinto ano consecutivo, reunir-se esta casa para prestar homenagem à maçonaria brasileira pelo transcurso do dia do maçom, comemorado amanhã, dia 20 de agosto.

            Integrante que sou, com muito orgulho, dessa antiga ordem, tenho sempre apresentado requerimentos para que o senado se integre às comemorações que marcam a passagem da data. Afinal, trata-se de momento propício para cultuarmos as muitas glórias do nosso passado; para relembrarmos Os ilustríssimos irmãos que deram inauditas contribuições à causa da liberdade, da igualdade e da fraternidade; para celebrarmos a memória dos homens livres, de conduta ilibada, que pugnaram pelo progresso material e espiritual da nação e da humanidade.

            Mas é também o 20 de agosto, Srªs e Srs. Senadores, queridos irmãos, ocasião apropriada para lançarmos nossos olhos em direção ao futuro dessa instituição multissecular; para tentarmos antever qual poderá ser o papel da maçonaria no Século XXI; para planejarmos a trajetória de nossa irmandade daqui para frente, de modo que a maçonaria possa, inclusive, resgatar a importância que teve, no passado, nos eventos históricos de maior magnitude.

            Ao longo dos séculos, a missão da maçonaria tem sido a de colaborar para o progresso moral, intelectual, científico e filosófico da humanidade. Sucessivas gerações de maçons travaram, com muita galhardia, o bom combate em defesa dos direitos humanos, da libertação dos povos, contra a opressão e a tirania, em prol das artes e das ciências. toda essa luta, evidentemente, não está esgotada. Ela se projeta no século que se está iniciando.

            O que muda, contudo, é a feição dessa luta, na medida mesma em que muda a feição da opressão e da tirania. novos tempos trazem novos desafios, e a maçonaria precisa evoluir para estar à sua altura.

            Uma das características marcantes do mundo contemporâneo é o avassalador poder que detém as grandes corporações, poder que consegue se sobrepor, inclusive, ao poder dos próprios estados nacionais. as restrições ao campo de ação dos governos são, fatalmente, acompanhadas pela perda de influência dos cidadãos nos destinos das nações. Assim, um dos grandes desafios da sociedade do Século XXI é o de encontrar formas de amplificar a influência dos cidadãos nos destinos das nações - para além da norma “uma pessoa, um voto” - e de projetar essa influência no nível das relações internacionais.

            Essa tem sido, precisamente, a lógica que inspira a atuação e o fortalecimento de organizações de âmbito supranacional dedicadas a determinados interesses fundadores, dos mais variados tipos, desde a defesa dos direitos humanos até a preservação do meio ambiente. Essas organizações conseguem movimentar-se na arena internacional em pé de igualdade com as grandes corporações e, mesmo, com os estados nacionais. A legitimidade das suas posições advém não só do número de membros que lhes dão corpo, mas, também, da universalidade dos valores que defendem.

            Essa pode, também, ser a lógica da atuação da maçonaria naquele que é o mundo não maçônico. Ela deverá atuar, de uma forma evidente, na defesa dos valores universais que professa. Esse deve ser, para além da dimensão iniciática, um importante papel da maçonaria no Século XXI. Assim, nossa irmandade estará dando sua relevante contribuição para repor o equilíbrio em termos da influência dos cidadãos nos destinos das nações e de projetar essa influência no nível das relações internacionais. Nesse aspecto, a maçonaria tem uma grande oportunidade de afirmação no mundo: pela universalidade dos valores que professa; por envolver cidadãos de todas as origens, crenças e formações; e pela sua presença em quase todas as nações do mundo.

            Penso, inclusive, que, embora a ação que se convencionou chamar “mundo profano” deva estar dissociada da vertente iniciática, ela deve ser bem visível. a forma que melhor se presta a esse tipo de atuação é a de um banco de idéias. como sabemos, o seu papel é o de fazer recomendações a um governo, permitindo-lhe tomar decisões esclarecidas. Um banco de idéias debruça-se sobre uma área específica qualquer - telecomunicações, direitos humanos, transportes - mas não faz lobby. a autoridade na área em que se especializa, assegurada pela colaboração dos indivíduos mais esclarecidos na área, é suficiente para tornar claro a um governo que as suas recomendações devem ser consideradas.

            Essa me parece ser uma das formas mais interessantes e estruturadas que a atuação da maçonaria pode tomar. Estudar questões de interesse nacional na perspectiva da defesa dos interesses dos cidadãos, integrar conhecimento e apresentar recomendações.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, outras características marcantes de nosso tempo são a exacerbação dos fanatismos e da intolerância religiosa, a explosão populacional nos países mais miseráveis e o inferno demográfico nas nações industrializadas, a epidemia de aids ainda totalmente fora de controle na África e na Ásia, a degradação do meio ambiente, a má gestão dos recursos naturais.

            Se procurarmos as principais causas comuns a todos esses males, duas haverão de se sobressair: a ignorância e a indigência de valores espirituais. Parece claro, portanto, que uma preocupação central da maçonaria no Século XXI deverá ser a educação para os valores culturais e espirituais, contribuindo com as famílias e com as escolas. Esse será, por certo, um campo de batalha privilegiado para os lutadores maçônicos da atualidade. Um Campo De Batalha No Qual As Armas Serão O Conhecimento, O Coração, O Espírito.

            Já se tornou chavão dizer que estamos vivendo na sociedade da informação. de fato, o volume de informação que as novas tecnologias tornam disponível é assombroso. no entanto, exatamente pelo seu volume avassalador, torna-se cada vez mais difícil, para o homem moderno, assimilar e interpretar o vasto cabedal de informação que lhe é oferecido. Assim, o próprio entendimento do mundo e de sua evolução torna-se mais inacessível. Cresce, nesse contexto, o poder dos meios de comunicação de influenciar as mentalidades. Cada vez mais, a opinião pública é levada a acreditar naquilo que lhe é apresentado, não dispondo de meios para discernir o que é real do que é “fabricado”.

            Para que cada ser humano consiga edificar o seu templo e burilar a pedra bruta, ele precisa de um espaço propício para a reflexão, para o diálogo filosófico. Num momento histórico profundamente marcado pelo individualismo, pelo consumismo, pelo hedonismo, pela indiferença em relação aos semelhantes, cresce a sede dos homens de bem por um ambiente de paz, de compreensão, de comunhão fraterna com todos aqueles que têm as mesmas aspirações.

            Por isso, a maçonaria terá de crescer, de aumentar os seus efetivos, acolhendo todos aqueles que estejam sintonizados com os seus princípios da tolerância, da filantropia, da justiça e da busca da verdade. No seio da família maçônica, entre irmãos, o homem moderno pode encontrar o espaço para exercer a liberdade de pensamento, para libertar-se da dependência dos meios de comunicação, para exercer sua influência cidadã nos destinos da sua nação. E, para o crescimento da nossa irmandade, um passo preliminar é o crescimento das organizações paramaçônicas para jovens de ambos os sexos, o que servirá para uma futura seleção de verdadeiros maçons e contribuirá para um aumento mais qualitativo e célere.

            Importa, também, para essa expansão, que a maçonaria se dê mais a conhecer, que seja mais pró-ativa, que esteja mais próxima da sociedade. Cada país e a humanidade só têm a ganhar com isso, pois tenho certeza de que o aumento do número de maçons conduzirá, inevitavelmente, ao aumento do número de bons cidadãos e, por via de conseqüência, a uma melhoria da sociedade mundial.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como que a inspirar os trabalhos que se desenvolvem neste recinto, temos aqui o busto de um dos mais insignes brasileiros que já abrilhantaram esta casa, o preclaro e inesquecível Senador Rui Barbosa, também ele um maçom.

            Ninguém melhor do que o irmão Rui para nos trazer à memória as glórias passadas da maçonaria, seu compromisso multissecular com os ideais da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Que os incontáveis exemplos de maçons que obraram antes de nós possam nos infundir o ânimo necessário para o enfrentamento dos desafios que o século xxi nos está apresentando.

            Neste momento de perplexidade porque passa o país, é necessário que a maçonaria se posicione, e aja de modo a fazer com que se evidenciem os requisitos básicos para alguém se tornar maçom: ser livre e de bons costumes. Quem consegue se libertar da ignorância, da opressão, da intolerância, dos radicalismos, conseqüentemente pratica os bons costumes e abomina todo tipo de corrupção, cavando masmorras aos vícios e elevando templos às virtudes.

            É bom lembrar também o nosso irmão Rui Barbosa quando disse: “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. (Senado Federal, rj. Obras completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)

            Tragamos sempre conosco nossos malhetes e nossos cinzéis, nossos esquadros e nossos compassos. Usemo-los com maestria para edificar nossos templos interiores e para desbastar e burilar a pedra bruta que há em cada um de nós.

            Essa é a mensagem que gostaria de deixar a cada um dos presentes no transcurso deste 20 de agosto, dia do maçom, amanhã, homenageando toda a maçonaria brasileira.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado!

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Manifesto da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil”;

“Artigos publicados na revista Nossa História”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2005 - Página 28431