Discurso durante a 138ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a crise institucional no Estado de Rondônia.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE RONDONIA (RO), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Considerações sobre a crise institucional no Estado de Rondônia.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2005 - Página 28468
Assunto
Outros > ESTADO DE RONDONIA (RO), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • ANALISE, CRISE, NATUREZA POLITICA, ESTADO DE RONDONIA (RO), EFEITO, DENUNCIA, VINCULAÇÃO, IMPRENSA, CORRUPÇÃO, MEMBROS, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, GOVERNO ESTADUAL.
  • REGISTRO, DECISÃO, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, ESTADO DE RONDONIA (RO), SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ), ABERTURA, PROCESSO JUDICIAL, DEPUTADO ESTADUAL, GOVERNADOR.
  • CRITICA, AUTORITARISMO, DESEQUILIBRIO, ATUAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DE RONDONIA (RO), PERSEGUIÇÃO, NATUREZA POLITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONGRESSISTA, ORADOR, IRREGULARIDADE, ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL, ESPECIFICAÇÃO, DESVIO, RECURSOS, EDUCAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, INTERVENÇÃO, DOMINIO.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vivemos hoje uma crise muito grande em nível nacional.

Infelizmente, o meu Estado de Rondônia, não está diferente. Vive uma crise profunda, uma crise institucional. As manchetes de jornais nacionais e até do Fantástico, da imprensa escrita, da imprensa falada do Estado e de todo o Brasil noticiaram matérias ruins, episódios tristes com relação ao meu Estado de Rondônia. A Assembléia Legislativa, ontem mesmo, abriu processo contra sete Deputados Estaduais, a exemplo do Congresso Nacional, em especial na Câmara dos Deputados, que também está processando Deputados Federais. O STJ, na última quarta-feira, dia 17, também acatou por unanimidade pedido do Ministério Público para processar o Governador do meu Estado. Isso é lamentável!

Eu, como ex-Governador do meu Estado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fiquei durante esses dois anos e meio do meu mandato sem fazer uma crítica sequer ao Governador do meu Estado até por respeito, porque já fui Governador assim como o Senador Mão Santa foi do seu Estado; como também Álvaro Dias, Pedro Simon, Cristovam Buarque, Garibaldi Alves que aqui se encontram. Todos que estão aqui, coincidentemente, já foram Governadores em seus Estados, mas é muito difícil um administrador romper um mandato - seja ele Presidente da República, Governador de Estado ou mesmo Prefeito, como fui Prefeito por dois mandatos - sem críticas, passar o seu mandato sem que um Partido político, sem que um Parlamentar ou até mesmo uma pessoa do povo faça críticas ao seu governo. E parece que o Governador do meu Estado não aceita críticas.

Fizemos silêncio durante dois anos e meio mesmo sabendo que muitas coisas erradas já aconteceram e continuam acontecendo lá em Rondônia, administrado por um Governador antidemocrático, que não respeita as idéias, que não sabe fazer política no campo das idéias, que persegue aqueles que falam ou que criticam o seu Governo; e assim foi quando ele era Prefeito. Mas agora ele empreendeu uma caça às bruxas, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e está vendo fantasmas por todos os lados, achando que o acatamento do STJ, por unanimidade, tem dedo de alguém. A última a ser perseguida foi a vice-Governadora, uma senhora distinta, a Srª Odaísa Fernandes, do PSDB, que foi Secretária do meu Governo. Pois bem, hoje, diz o Governador que os Ministros do STJ - nomeados à época do Governo Fernando Henrique Cardoso, que é do Partido da vice-Governadora - votaram contra ele nesse processo por influência da vice-Governadora, do PSDB, dos Senadores e dos Deputados Federais do PSDB, que influenciaram os ministros. Da mesma forma, os ministros que assumiram na época do Presidente José Sarney, por influência dos Senadores ou Deputados do PMDB. Puxa vida! Será que todos os Ministros do STJ foram influenciados a votar contra o Governador do meu Estado? Isso é um verdadeiro absurdo! Mas é isto o que está acontecendo hoje no meu Estado: o Governo lá não aceita nenhuma derrota.

            Estou fazendo este pronunciamento até um tanto constrangido porque não é o meu estilo, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, atacar, criticar. Mas nós temos apanhado. Há muito tempo que o Governador do meu Estado adquiriu - não sei de que forma, já deve estar sendo investigado - um jornal diário, a Folha de Rondônia. E esse jornal tem batido, sistematicamente, na Bancada Federal, tem batido sistematicamente na minha pessoa; não só o jornal como o Governador, que eu respeitei durante dois anos e meio sem fazer uma crítica, sem fazer uma acusação. E aonde vá pelo Estado, em reuniões, em solenidades, tem batido neste Senador, em outros Senadores, em Deputados Federais, em toda a Bancada Federal, e tem até agredido a honra de nossa família. Peço ao Governador do meu Estado que respeite a minha família porque sempre respeitei a sua, e admiro muito seu pai, sua mãe, seu irmão, suas irmãs.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esse Governador está desequilibrado. Ele deve colocar os pés no chão, a cabeça no lugar e parar de agredir as pessoas. Além disso, ele tem usado um helicóptero pago com dinheiro da educação, com dinheiro do Fundef - fato que está sendo investigado pela Polícia Federal - para se deslocar por todo o Estado e até para jogar partida de futebol. Na maioria das vezes, para atos totalmente alheios à educação. E foram pagos quase R$2 milhões com recursos do Fundef, que deveriam estar sendo usados para educação, para pagamento de professores, para resolver o problema das escolas. No entanto, esse dinheiro foi usado para o Governador viajar para todo o Estado e até para jogar futebol em finais de semana.

Ele tem lançado programas no Estado com recursos federais que a Bancada tem conseguido, com recursos da Cide, que votamos neste Senado, alocando parte dos recursos da Cide, que eram do Governo Federal, e em que os Estados não tinham participação. Hoje o Governador lança programas de obras de asfaltamento de rodovias com recursos da Cide, mas bate duro no Governo Federal, bate sistematicamente no Presidente da República, no Presidente Lula, bate na Bancada Federal que o tem ajudado durante todo esse tempo. Isso, Sr. Presidente, se chama mau caratismo. O Governador é mau caráter. O Governador não tem honra porque não tem sabido respeitar o Presidente da República, que o tem ajudado. Não tem sabido respeitar a Bancada Federal que o tem ajudado também. Grande parte dos programas lançados no Estado foram empreendidos com recursos federais. Ele não tem tido a hombridade de agradecer à Bancada Federal, de agradecer ao Presidente da República por esses recursos.

Lamento, Sr. Presidente, que, neste momento, tenha que fazer este pronunciamento. É o primeiro em dois anos e meio. Espero que o Governador e sua assessoria tenham juízo, que parem de bater na Bancada Federal, que parem de bater no Presidente da República porque queremos o bem do nosso Estado. Nós não temos feito outra coisa neste Senado, no Congresso, assim como todos os meus pares, a não ser trabalhar em defesa do Estado de Rondônia. Porém, não vamos aceitar mais esse tipo de baixaria por parte do Governo Estadual.

São essas as minhas palavras, Sr. Presidente, lamentando muito precisar dizer isso. O Senador Mão Santa, que preside esta sessão, sempre se refere às passagens da Bíblia. Jesus Cristo ensinou que, ao apanhar de um lado do rosto, deve-se dar o outro lado para ser batido, mas um dia, revoltado, Ele chicoteou os vendilhões do templo, colocando todo mundo para correr. Tudo tem limite. A paciência do ser humano, assim como a de Cristo, tem limite. Cheguei ao meu limite. Confesso que, neste momento, a minha paciência está esgotada quanto a esses atos do Governador do meu Estado.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2005 - Página 28468