Discurso durante a 138ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Divulgação, pela imprensa, de revelações do advogado Rogério Buratti, relativamente à recebimento de propina pelo atual Ministro Antonio Palocci, quando na gestão da prefeitura de Ribeirão Preto. Registro de matéria intitulada "As 30 melhores entrevistas da Playboy", que contém entrevista concedida por Lula no Aeroporto de Recife, em julho de 1979.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Divulgação, pela imprensa, de revelações do advogado Rogério Buratti, relativamente à recebimento de propina pelo atual Ministro Antonio Palocci, quando na gestão da prefeitura de Ribeirão Preto. Registro de matéria intitulada "As 30 melhores entrevistas da Playboy", que contém entrevista concedida por Lula no Aeroporto de Recife, em julho de 1979.
Aparteantes
Alvaro Dias, José Jorge, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2005 - Página 28480
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, ANALISE, CRISE, GOVERNO FEDERAL, APRESENTAÇÃO, RELAÇÃO, CONGRESSISTA, POSSIBILIDADE, CASSAÇÃO, CONFLITO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DENUNCIA, DESVIO, RECURSOS, CAMPANHA ELEITORAL, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ANTERIORIDADE, MANDATO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho sido procurado por jornalistas de enorme credibilidade devido ao fato, já noticiado pelas agências on-line, extremamente agravador da crise política por que passa o País. Os boatos são no sentido de que o Sr. Rogério Buratti teria, em seu depoimento, feito acusações de enorme gravidade, quanto ao aspecto ético, ao Ministro da Fazenda, Antônio Palocci, por sinal, técnico competente que se vem havendo com enorme adequação às funções que ora exerce numa área que idealmente deveria passar ao largo dessa crise.

Se porventura confirmados esses boatos ou essas notícias, poderemos dizer que o País estaria entrando na fase mais aguda dessa crise sem precedentes na história republicana, que é aquela que começou com os R$3.000,00 do Sr. Marinho dos Correios e agora já ameaça, a se confirmarem as notícias, a própria estabilidade da equipe econômica do Governo do Presidente Lula.

Aliás, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o equilíbrio, no Brasil, está muito precário. A revista Veja de 17 de agosto mostra dois líderes ameaçados de terem seus mandatos cassados - um do PP, Janene; outro do PL, Mabel - ameaçando contar o que sabem sobre o envolvimento do Presidente Lula no mensalão.

Mais ainda - a revista Veja não foi contestada -: em determinada altura, o Sr. Janene, numa cena que a revista descreve aqui e que a mim se afigurou grotesca, teria subido à mesa e teria dito ao Líder do Governo Arlindo Chinaglia, “avise aquele FDP” - FDP seria o Presidente Lula - “que, se me tirarem a liderança” - não é nem o mandato, é a liderança -, “vou contar tudo o que sei”. Isso vai para os Anais.

André Petry*, também da Veja, diz que o Presidente estaria tomando algumas atitudes de submissão à cúpula da Igreja Católica - refere-se especificamente ao aborto - não por crença do Presidente na indefensabilidade do aborto, mas para buscar o que ele chama de base social para se defender, o que ele chama de conspiração contra ele, quando a conspiração não é, de jeito algum, das oposições ou da sociedade. A conspiração é das pessoas que praticaram corrupção à sombra das suas barbas. Essa é a grande verdade.

Aqui está o Presidente cedendo em pontos importantes para a sociedade, e vamos então dizer que é triste o Governo e triste o País cujo equilíbrio político depende de o Sr. Delúbio não falar, de o Sr. Silvio Pereira silenciar, de o Sr. Dirceu ter paciência e estoicismo e também não falar, de o Sr. Toninho Barcelona ficar quieto, de o Sr. Beltrano de Tal... Trata-se de um pacto de Omertà demasiadamente difícil de se sustentar.

Não li jornais hoje aqui. Cheguei de Recife de manhã cedo. Fui ontem à missa do Governador Miguel Arraes, meu querido e saudoso amigo, e estou com o jornal Folha de Pernambuco, cuja manchete é: “Dirceu: cabe a Lula dizer quem é o traidor”. Está desafiando o Presidente Lula.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permita-me V. Exª um aparte emergencial?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concedo o aparte, com muita honra, líder José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Na realidade, Líder Arthur Virgílio, acabamos de receber uma notícia de que o Sr. Buratti, no seu depoimento aos Procuradores, em Ribeirão Preto, com a tal delação premiada, disse que, já na época em que o Ministro Antonio Palocci era Prefeito, havia um esquema, um acordo, para que as empresas prestadoras de serviço dessem R$50 mil por mês. Disse ainda que esse dinheiro era enviado ao Diretório Nacional do PT e entregue ao Sr. Delúbio Soares. Era um chamado mensalão municipal que financiava não apenas a política local, como a política nacional que o PT executava na época. É uma notícia que ainda não está absolutamente confirmada, mas todos os repórteres a possuem. Gostaria de trazê-la a V. Exª e ao Plenário do Senado e comunicar que vamos requerer, se confirmada essa notícia, a presença do Ministro Antonio Palocci na CPI dos Bingos, para que possamos - ontem, o Dr. Buratti depôs; a partir daí, deve-se explicar, evidentemente -, ouvi-lo sobre essa denúncia que é gravíssima. Já temos um Presidente do Banco Central baleado, se tivermos um Ministro da Fazenda baleado também, para onde vai o nosso País? Era só isso. Desculpe-me por interromper o discurso de V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, nobre Líder José Jorge, eu começava o discurso, aliás, pela preocupação. O equilíbrio é muito precário. Essa é a área que, de preferência, não deveria ser afetada por questionamentos éticos. É a área cerne, chave para se manter o equilíbrio político do Governo que aí está, é o que resta a este Governo. Se se confirmarem essas notícias, que parecem mais do que boatos, vamos presenciar no dia de hoje este Governo ferido de morte.

Já concedo o aparte ao Senador Alvaro Dias.

Como eu ia dizendo, temos um equilíbrio que depende do Seu Buratti, do Seu Barcelona, do Seu Delúbio, do Seu Dirceu, do Seu Waldomiro, do Seu Silvio, dependem de eles não falarem. São tratados a pão-de-ló. Aqui está uma manchete do jornal Folha de Pernambuco absolutamente desafiadora: “Dirceu: ‘Cabe à Lula dizer quem é o traidor’”. Aliás, queria corrigir o Ministro José Dirceu: Lula não disse que havia um traidor, mas, sim, traidores, no plural. Deveria ter dito sim, reclamamos isso na semana passada desta tribuna. Sua Excelência deveria ter revelado o nome deles todos. De acordo com a matéria, Dirceu desafia Lula a dizer quem o traiu. Peço que tudo isso vá para os anais.

No Diário de Pernambuco temos: “Delúbio admite uso de caixa 2 na campanha de Lula”, confirmando a versão do Secretário Executivo do Ministro Ciro Gomes de que o dinheiro, então, era para pagar gasto de campanha do Presidente Lula. É um cerco que se fecha cada vez mais.

Ainda no Diário de Pernambuco: “Governo barra convocação de Meirelles e Okamoto” - sobre o empréstimo feito a Lula, se pagou ou não. É uma confusão tão grande, que só mesmo a CPI para esclarecer isso. E se não tem nada de mais, por que barrar o esclarecimento dos fatos por quem possa esclarecer os fatos?

Jornal do Commercio*, de Pernambuco: “CPI rejeita a convocação de Okamoto e doleiro” - mas reabre o caso Santo André com a convocação do irmão do Celso Daniel, CPI dos Bingos.

Senador Alvaro Dias, já lhe cedo a palavra.

Denunciei uma vez a seguinte triangulação. O Sr. José Dirceu disse: “Estou processando o irmão de Celso Daniel”. Eu, desta tribuna, disse: “Mas, Ministro, não tem nenhuma vantagem nisso. Eu quero saber se o Sr. Gilberto Carvalho está processando o irmão do Sr. Celso Daniel”. O Sr. João Daniel disse que repassava o dinheiro para o Sr.Gilberto Carvalho, que dizia a ele que o repassava para o Sr. José Dirceu. Nunca foi dito que o dinheiro era repassado diretamente a José Dirceu. Assim, fica uma esperteza de quinta classe: José Dirceu processa quem não o acusou, e Gilberto Carvalho, acusado diretamente, não processa ninguém. Não me consta que corra em nenhuma vara criminal deste País algum processo movido pelo Sr. Gilberto Carvalho contra o irmão do Sr. Celso Daniel. Ou seja, é confusão demais, é desagregação demais. Essa notícia envolvendo a credibilidade do Ministro Palocci, esses boatos que viraram notícia, constituem precisamente a dose cavalar que estaria faltando para esta crise assumir ares explosivos e efetivamente desestabilizadores.

Vou aguardar os fatos, antes de fazer pronunciamentos mais conclusivos, mas digo, Senador Alvaro Dias, ao lhe conceder o aparte, que era tudo o que o Brasil não precisava nesta hora. A se confirmarem essas notícias, os acontecimentos podem se precipitar de maneira extremamente desagradável.

Concedo a palavra a V. Exª para o aparte com muita alegria, com muita honra.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Arthur Virgílio, pedi a palavra para contribuir com o detalhamento da informação do Senador José Jorge: o Sr. Buratti revelou que o Ministro da Fazenda recebia R$50 mil por mês da empreiteira Leão Leão quando era prefeito de Ribeirão Preto. Portanto, R$50 mil eram de uma empreiteira, e não de todas as prestadoras de serviço à Prefeitura de Ribeirão Preto. E conta mais: que esse esquema prosseguiu também na gestão do sucessor de Palocci, o Sr. Gilberto Maggioni, e que esse dinheiro era repassado então ao Sr. Delúbio Soares. Isso é muito grave. É evidente que, se o Sr. Buratti está buscando os benefícios da delação premiada, ele só terá esses benefícios se a sua contribuição apresentar resultados objetivos. Portanto, ele deve ter provas. E, se tiver provas, Senador Arthur Virgílio, fica insustentável a posição do Ministro da Fazenda, Palocci. Realmente, estamos diante de um Governo que caminha como pato baleado. Não sabemos mais qual o destino desse Governo. E V. Exª, como nosso Líder, com a competência reconhecida nacionalmente, tem alertado o Presidente Lula há muito tempo. E o Presidente, lamentavelmente, omitiu-se, foi condescendente, foi cúmplice, não impôs autoridade, participou desse projeto. Agora, estamos diante de uma crise sem precedentes, porque se trata de um gigantesco escândalo de corrupção. Teve origem antes do atual Governo, mas sempre com os mesmos artífices. O aprendizado foi anterior, aperfeiçoaram o modelo e o implantaram nacionalmente.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Alvaro Dias. Ás vezes, chego a achar que esse Governo quer desmoralizar Gabriel García Márquez, quer mostrar que toda aquela cor fantástica que García Márquez imprime às suas obras não é nada perto do surrealismo a que chega o Governo Lula. Afinal de contas, veja V. Exª a que estamos relegados.

A coisa que mais se fala hoje é delação premiada. O Sr. Buratti - e dele depende a sorte da República - quer saber se, como delator premiado, ele reduz a sua pena. O seu fulano de tal não pode falar; o seu beltrano de tal não deve falar; o Sr. Delúbio diz que não é delator para entregar ninguém e fica mudo, arriscando-se à ira dos Parlamentares da Comissão Parlamentar de Inquérito do chamado “mensalão”. É um equilíbrio extremamente precário.

Eu estava lendo hoje, Senador Alvaro Dias, o jornalista Ancelmo Góes*. Há duas notas extremamente bonitas: “Perdão, Lula I” e “Perdão, Lula II”. Ou seja, é alguém pedindo perdão a Lula. Quem está pedindo perdão a Lula? Precisamente, Mirian Cordeiro, mãe de sua filha, ela, que se prestou a um serviço sujo na campanha de 1989, quando Lula perdeu de Collor por manipulação dos sentimentos de parte da sociedade por meio de um depoimento muito leviano prestado por ela à imprensa brasileira. A eleição foi decidida no fotochart, foi decidida por muito pouco, muito pouco mesmo. Agora, embora não possa devolver aquele mandato que Lula teria vencido legitimamente em 1989, ela pede perdão e diz que, se pudesse fazer alguma coisa por ele, ela faria. E talvez ela esteja fazendo alguma coisa por ele agora. Ela pede perdão à filha, pede perdão aos outros filhos dela e ao Presidente Lula e, talvez, esteja fazendo um grande serviço a ele, sim, dizendo a ele que ele, que não pediu perdão de verdade na semana passada, e seu partido, que também não pediu perdão sinceramente no início desta semana, poderiam, sim, pedir perdão de verdade para permitir que esclareçamos todas as dúvidas que estão torturando este País de uma vez por todas. Que o exemplo de Mirian Cordeiro sirva agora ao Presidente Lula nessa espiral de emoções que a vida proporciona a cada um de nós.

Sr. Presidente, peço um minutinho para concluir.

Mostrei aqui o Presidente ameaçado por Dirceu veladamente, ameaçado pelo silêncio de Delúbio, ameaçado pelo silêncio de Silvio, ameaçado pelo silêncio de Barcelona, ameaçado pelo silêncio do Real Madri, ameaçado pelo silêncio do Atlético de Bilbao, ameaçado pelo silêncio do Valladolid, ameaçado pelo silêncio de todos. Estamos vendo mais um pacto de Omertà* do que propriamente um governo. Estamos vendo muito mais a figura da delação premiada tomando lugar das discussões políticas com “p” maiúsculo; está se tornando natural para os nossos filhos lerem “fulano de tal pede delação premiada”.

Que governo é este que se sustenta se o Ministério Público não tiver razões para conceder a delação premiada a fulano ou a beltrano? Que governo é este? O que sobrará deste Governo ou da economia deste País se for verdade - e torço para não ser - o que acaba de ser noticiado pelas agências e está na inquietação dos jornalistas deste País a respeito das denúncias do Sr. Buratti contra o Ministro Palocci? Este talvez seja o fato mais grave de todos, porque vai ao cerne do equilíbrio econômico do País.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Arthur Virgílio...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª tem um aparte.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Entendo que o Presidente da República só sofre uma ameaça: a da verdade. É aquela que Cristo dizia: “Em verdade, em verdade eu vos digo...”. É aquilo que aprendi com o povo no meu Piauí. É mais fácil tapar o Sol com a peneira do que esconder a verdade. A fé e a crença dele foram na verdade do Duda “Goebbels” Mendonça. Quis transformar mentiras em verdade, repetindo-as. E a verdade surge. Eu fico com o que aprendi na minha profissão. Levamos a nossa formação profissional para onde vamos. Eu sou cirurgião ginecologista. A honestidade é como a virgindade. Eu nunca vi uma meio-virgem; é virgem ou não é. É honesto ou não é. E este governo é desonesto.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concluo, Sr. Presidente, pedindo também a transcrição nos Anais da Casa da matéria As 30 Melhores Entrevistas de Playboy, que contém entrevista concedida por Lula, no aeroporto de Recife, em julho de 1979.

Eu faço um contraste entre dois Lulas. Um Lula titubeante e indefinido ideologicamente; jamais uma figura que se pudesse dizer claramente que tivesse sido de esquerda em algum momento da sua vida. Um bravo líder sindical, sim. Um Lula confuso ideologicamente, mas cheio de verdade. Esse Lula ascendeu, cresceu. Ele contrasta com o outro Lula, esse de hoje, que foge da verdade, que tem medo de delatores e que para sobreviver depende do silêncio de pessoas que conviveram com ele.

Eu peço a transcrição dessa entrevista porque para mim esse Lula confuso ideologicamente, mas cheio de verdade no coração, deveria também servir de inspiração para o Presidente Lula que abriu mão da verdade, perdeu-se e inicia um irreversível descenso na sua trajetória de vida, na sua biografia e na sua carreira pública.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Revista Veja”;

“Revista Playboy”;

Folha de Pernambuco”;

Diário de Pernambuco”;

Jornal do Commercio”:

O Globo”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2005 - Página 28480