O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paulo Paim, Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado. Senador Alvaro Dias, foi contundente o pronunciamento de V. Exª. Eu só queria dizer que entendo a confissão como a rainha de todas as provas. Se Buratti está confessando a parceria de ministros do Governo Lula com esta corrupção em busca da delação premiada, a gravidade aumenta. Entendo, Senador Paulo Paim, que administrar é fácil. Deus me permitiu ser prefeito da minha cidade, Senadora Heloísa Helena, e quando saí da prefeitura fui para o meu consultório de médico e para a sala de cirurgia, templo de trabalho, onde essas mãos, guiadas por Deus, tentavam salvar um aqui e outro acolá, trocando o instrumento bisturi pelo instrumento caneta para poder fazer mais bem à gente do Piauí. Aprendi que é fácil, basta buscar ser justo. Senador Paim, é isto: ser justo. A justiça é o pão que mais a humanidade quer.

Cristo, quando andou no mundo, Senadora Heloísa Helena, nas montanhas, não havia televisão, rádio, som, mas bradou: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. É isto que se está precisando no Brasil: justiça! Ainda mais aqui, que a Justiça defende o seu salário, que era de R$18 mil e tanto, passou para R$21 mil, para R$24mil e chegou a R$27 mil, que já estão garantidos.

E o pobre do salário mínimo? No mundo organizado, civilizado, a diferença é dez vezes entre o menor e o maior. Senadora Heloísa Helena, um homem da Justiça não nasceu com cem estômagos e o trabalhador com um; não foi assim. É dez vezes a diferença. Ouvi o Suplicy dizer que, na Alemanha, a diferença era de sete vezes entre o maior e o menor; aqui são quase cem vezes. O Presidente sancionou o aumento.

Mas venho falar de outro assunto. Primeiro, aprendi, Senadora Heloísa Helena, que a gratidão é a mãe de todas as virtudes. Aprendi no colo de minha mãe, terceira franciscana. Quero agradecer a audiência que tivemos com a Ministra Marina Silva, que até se parece com a Senadora Heloísa Helena. Eu disse: “Ministra, vim aqui pedir. Jamais vou falar mal da senhora na tribuna, porque a Heloísa Helena não deixa. Entrei de leve outro dia, e ela veio de forma pesada, mas estava com a verdade e a razão. Quero dizer que saio desta audiência, Ministra, e quem vai defendê-la não é mais a Senadora Heloísa Helena, não; sou eu”.

Fui para isto: denunciar. Mas o Governo é grande, é complicado. Senadora Heloísa Helena, Sófocles disse: “Muitas são as maravilhas da natureza, mas a maior delas é o ser humano”, ou seja, homem e mulher, quando se unem por amor para perpetuar a espécie. Essa é a mais importante. Sei que há rios, aves, mangue, flora, vegetação, mas temos que entender a filosofia.

Solicitamos, então, uma audiência. O Senador Sibá Machado foi muito prestativo, como sempre, e fomos juntos o Senador Alberto Silva, o Senador Garibaldi Alves Filho, o Senador Reginaldo Duarte, o Senador João Batista Motta e eu, para defender uma riqueza que apareceu. As coisas não aparecem assim.

Há mais de 20 anos, palidamente, começou a prosperar uma das riquezas: cultivo de camarão. Camarão é ouro. V. Exª pode chegar em qualquer restaurante, Senadora Heloísa Helena - deixo para comer lá no meu Piauí, pois ganho de presente -, que camarão é sempre o prato mais caro, lagosta e camarão.

Quando eu governava o Piauí, comecei a estudar as riquezas e esse litoral, e os meus estudos mostraram que o maior produtor de camarão do mundo é o Equador, cuja capital é Quito. Mas não é Quito o maior produtor, é uma cidade no litoral, Manta - Quito não é litoral -, próxima a Guayaquil. Manta é a maior produtora de camarão criado pelo homem. Trata-se da carcinicultura, não do camarão pescado, mas criado.

De repente, Senadora Heloísa Helena, houve uma peste, uma epidemia, e o camarão ficou amarelo, anêmico. Assim como a “vaca louca” na Inglaterra, houve uma patologia nos camarões, e houve queda na produção. Eu governava o Piauí, e aquilo me chamou a atenção. Fui a Manta e trouxe muitos biólogos e muitos técnicos, porque houve uma queda na produção e na procura. Levei-os para o Delta, para o Piauí. Outros Governadores do Nordeste, como o Sr. Garibaldi Alves Filho e Tasso Jereissati, incentivaram-me. Se consultarmos a Geografia, veremos que as condições do litoral do Equador, de Manta, são as mesmas do Nordeste. É como se estivéssemos no Nordeste - o sol, a salinidade, a luz, o vento.

Foi uma maravilha, Senador Paulo Paim. Temos um litoral bem pequeno, 66 quilômetros - o menor do Brasil -, mas é como perfume francês: é pequeno, mas muito importante. Há também o Delta. De chofre, a carcinicultura passou a ser uma riqueza igual para o Piauí à cera de carnaúba, secular, que apresentava a maior exportação. No meu governo, Senador Garibaldi, chegamos a produzir no Piauí mais de 1.200 toneladas. Isso, em dinheiro, em exportação, porque ele é ouro, foi equiparado à riqueza da carnaúba. Mas caiu, caiu para 500 e pouco. Trata-se de falta de sensibilidade política de muitos técnicos do Ibama, que dificultam para os empresários.

A tecnologia fez, Senador Alvaro Dias, com que os técnicos, lá do Equador, debelassem a epidemia, a patologia. E aqueles técnicos que trouxemos para o Nordeste começaram a voltar, e o Equador voltou à riqueza. O Piauí, que teve 19,6% da carnicicultura do Brasil, baixou para 2,4%. De 1.200 e tantas toneladas, baixamos para 500 toneladas, porque técnicos não sabem que a sensibilidade política tem que andar junto com a responsabilidade administrativa. Eles desprezam o mais importante da natureza, o ser humano, que se emprega e se enriquece.

Fomos buscar e acreditamos que a Ministra, que tem sensibilidade - é uma mulher religiosa, de fé -, possa atender ao Nordeste, ao Piauí. Apesar de o Estado do Rio Grande do Norte ter muitas riquezas - o petróleo, a bacia leiteira, o gado, o sal -, o camarão é hoje uma importante riqueza do Nordeste. É isto que queremos da Ministra: que ela chame para si, acompanhe e encontre um meio termo para que haja e continue a produção e a riqueza da carcinicultura. Fomos acompanhados pelo Senador Alberto Silva, que nos ajudava com a sua inteligência privilegiada e a sua experiência; pelo Garilbadi Alves, cujo Estado se expandiu muito, de tal maneira que o Presidente da carcinicultura brasileira é do seu Estado, Itamar. Associados aos interesses do Ceará, do Espírito Santo e do Piauí, queremos encontrar apoio para aqueles empresários que se dedicaram e que investiram na carcinicultura.

Concedo o aparte ao Senador Garibaldi Alves, que, desde o início, transformou a carcinicultura do Nordeste e do Rio Grande do Norte numa riqueza palpável.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Mão Santa, acredito que aquela audiência poderá determinar um novo rumo para a carcinicultura, já que a Ministra Marina Silva revelou sensibilidade para com o nosso pleito. Acreditamos que a atividade da carcinicultura não se constitua um problema para o desenvolvimento sustentável. Creio que a carcinicultura pode perfeitamente prosperar sem trazer para o meio ambiente os problemas que, muitas vezes, os ambientalistas lhe atribuem. Percebi, durante a audiência, como V. Exª mostrou-se obstinado no sentido de defender essa oportunidade para a economia do Piauí. Hoje, o Rio Grande do Norte é o maior produtor e exportador de camarão do País, e isso se deu graças a uma atividade exercida por pequenos criadores. Noventa e cinco por cento dos produtores de camarão no Rio Grande de Norte são pequenos criadores, e são eles que estão fazendo com que o camarão represente algo de muito significativo para as nossas exportações. Por isso, assim como V. Exª, pedi a sensibilidade da Ministra. Sei que no Piauí - cada caso é um caso, as características são diferentes - existem cinco grandes empresas que se constituem no sustentáculo da atividade do camarão. Nós precisamos tanto das grandes empresas como dos pequenos criadores. Agora, com a má vontade que às vezes existe por parte do Ibama e por parte de determinados técnicos do Governo, nós estamos encontrando grandes dificuldades. Mas nós vamos superar isso, Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradecemos a participação e ressaltamos a luta do Senador Garibaldi Alves Filho, que fez do Rio Grande do Norte um dos Estados com melhor qualidade de vida hoje no Brasil.

Mas o Piauí não pode, jamais - terra querida, filha do sol do Equador -, deixar diminuir de 1260 toneladas para 500; de 19,6%, que fomos na carcinicultura, para menos de 3%. O destino do Piauí é avançar através do trabalho. Esperamos, estamos confiantes - Marina Silva realmente parece irmã da Heloísa Helena, são duas grandes mulheres. Apenas como mais sofrido e velho, Senador Paulo Paim, acho que o PT precisa entender que são necessárias duas pernas na caminhada deste Brasil: sensibilidade política e responsabilidade...

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, mais um minuto para V. Exª concluir.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não só sensibilidade política: é preciso ter responsabilidade administrativa. Foi isso que fez o PT capenga.

Cremos que a Ministra, que é uma mulher de fé, uma mulher evangélica, vai saber resolver o problema e propiciar ao Piauí aquilo que está na lei de Deus: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. O povo do Piauí só quer ter o direito de trabalhar.