O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, “Morre o homem. Fica o mito”. Essa foi a manchete do Diário de Pernambuco de ontem.

Apesar de ter estado em lados opostos nos embates políticos em Pernambuco, não posso deixar de reconhecer os méritos do homem público e agora mito: Miguel Arraes de Alencar.

Os pernambucanos unanimemente reverenciam a memória do grande brasileiro que dedicou toda a sua vida ao País e, especialmente, ao meu Estado, Pernambuco.

Foram 88 anos bem vividos. Durante os mais de 60 anos de vida pública, ele foi correto em sua maneira de fazer política. Podíamos discordar dele politicamente, mas ele foi sempre merecedor de nosso respeito e consideração.

Foi um adversário correto e ético.

Segundo declarou o Governador Jarbas Vasconcelos:

Arraes deixou sua marca política na história de Pernambuco e do Brasil. No exercício de funções públicas, protagonizou avanços significativos para o nosso Estado. Seu desaparecimento é uma grande perda para a política nacional.

Advogado e economista, Arraes foi eleito duas vezes deputado estadual e teve três mandatos de deputado federal. Foi prefeito de Recife no período de 1959 a 1962. Exerceu o governo de Pernambuco por três mandatos, transformando-se no político que por mais vezes governou o meu Estado natal.

Concedo um aparte a V. Exª, Senador Alvaro Dias.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador José Jorge, aproveito o discurso de V. Ex ª, que conhece mais de perto a trajetória de Miguel Arraes já que vive em seu Estado, para também manifestar nosso profundo pesar por seu falecimento. Entre as virtudes de Miguel Arraes estavam a coerência, a pertinácia, a determinação, a coragem, enfim, há uma seleção de adjetivos que qualificariam muito bem o Sr. Miguel Arraes e sua trajetória ímpar na política brasileira. Lembro-me que, quando jovem, militando na política estudantil, Miguel Arraes era uma espécie de ícone da política para os jovens com vocação pública; era sempre uma referência para todos nós à época de universidade. Quando Governador, tive oportunidade de visitá-lo para trocar idéias e ouvi-lo, buscando a sua orientação relativamente ao processo sucessório - estava em marcha o processo eleitoral nos idos de 1989. Lembro-me bem de algo que ele disse, até de forma bem humorada, referindo-se à prisão política, ao tempo em que esteve nos cárceres de Fernando de Noronha: “Olha, eu acho que foi muito bom aquele ano de prisão. Eu aprendi muito, estudei muito, refleti muito, amadureci as minhas convicções. Seria muito bom que todo político pudesse ficar um ano preso para estudar, para aprender, para refletir”. Enfim, lembrei-me exatamente dessa passagem, dos poucos contatos que tive com Miguel Arraes, para mostrar o seu perfil de homem determinado, disposto a tudo, a correr todos os riscos, mesmo que o risco fosse o cárcere em função da perseguição política, mas sempre mantendo a sua linha de conduta, sua postura implacável, sobretudo em relação aos seus ideais de transformação e à busca incessante da democracia social. Nossa solidariedade a todo o Estado de Pernambuco em especial.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Agradeço a V. Exª, Senador Alvaro Dias.

Era isso mesmo: o ex-Governador e ex-Deputado Miguel Arraes era sempre muito bem humorado. Apesar de ter um jeito aparentemente duro, sempre tratava todas as questões com muito bom humor. Quando perdeu as eleições para o Governo do Estado para Jarbas, foi a um programa popular de rádio, e o locutor insistia que ele desse as razões pelas quais tinha perdido as eleições - se tinha sido porque a campanha eleitoral de seu adversário havia sido mais bem feita, se tinha sido pelo fato ”a”, “b” ou “c”. Ele disse: “Não, eu perdi apenas porque o meu adversário teve mais votos do que eu”. Essa foi a resposta que ele deu para a rádio, e sempre as suas respostas eram simples e bem humoradas.

O Governador Miguel Arraes era o atual presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro, o PSB, como, aliás, o Senador Valadares acabou de citar.

Miguel Arraes é a última voz a calar-se de uma geração de grandes líderes que atuaram na política brasileira nos últimos 50 anos, como Mário Covas, Leonel Brizola, Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, só para exemplificar alguns. Cada um a sua maneira e defendendo os posicionamentos políticos que abraçaram, tinham por objetivo servir à Nação e ao povo brasileiro.

Arraes ombreou-se com pernambucanos ilustres, como Joaquim Nabuco, Josué de Castro, Agamenon Magalhães e João Cleofas, que muito engrandeceram a política partidária do nosso Estado.

Ficou exilado na Argélia durante o período do regime militar, mas nunca perdeu seus vínculos com o País e, especialmente, com o povo de Pernambuco. Oriundo do sertão nordestino, já que nasceu em Araripe, no Ceará, conheceu como poucos as necessidades do sofrido povo nordestino.

O que a todos consterna, porém, é que, como um dos interlocutores preferenciais do Presidente Lula, Arraes teria importante participação nesta grave crise que enfrentamos. Com seus conselhos e ponderações, poderia ajudar o Presidente a redirecionar seu governo para os grandes objetivos almejados por toda a sociedade brasileira.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Sr. Presidente, gostaria também de transmitir os meus pêsames a toda a família do ex-Governador Miguel Arraes, à sua esposa, D. Magdalena, a seus filhos - todos estavam em Recife ontem - e também a seu neto, o Deputado Eduardo Campos, que representa a continuidade política do Governador Miguel Arraes.

Sr. Presidente, era isso o que tinha a dizer.

Muito obrigado a V. Exª.