Discurso durante a 134ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do ex-Governador Miguel Arraes, ocorrido no dia 13 do corrente, em Recife-PE.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do ex-Governador Miguel Arraes, ocorrido no dia 13 do corrente, em Recife-PE.
Publicação
Publicação no DSF de 16/08/2005 - Página 27563
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MIGUEL ARRAES, EX GOVERNADOR, EX-DEPUTADO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), ELOGIO, VIDA PUBLICA, LUTA, DEMOCRACIA, BRASIL, APOIO, ORGANIZAÇÃO DE LIBERTAÇÃO DA PALESTINA (OLP).

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero também, em nome do povo goiano, que tenho a honra de representar nesta Casa, prestar aqui as minhas homenagens póstumas ao grande brasileiro Miguel Arraes e, naturalmente, apresentar à sua família e a todo o povo de Pernambuco, por meio dos ilustres Senadores José Jorge, Sérgio Guerra e Marco Maciel, as condolências do povo goiano a todo o povo pernambucano.

Sem dúvida nenhuma, o Brasil perdeu um dos nomes mais influentes na política nacional dos últimos 50 anos. Vítima de infecção pulmonar, o Deputado Federal Miguel Arraes, Presidente Nacional do PSB, faleceu no sábado, aos 88 anos de idade. Com a morte de Arraes, o Brasil não perde apenas um ícone político, mas uma referência ética muito importante, nesses tempos de crise moral por que passa a classe política brasileira.

A presença de Arraes no Congresso Nacional, neste momento, seria um ponto de apoio essencial, um instrumento confiável de ponderação, uma inteligência acima de qualquer suspeita para as medidas de julgamentos que, certamente, terão que ser feitas. A sua morte abre uma lacuna difícil de preencher.

O exemplo de Miguel Arraes deve ser mirado agora e no futuro. Seu legado de honestidade deve servir de modelo para as transformações e reformas que o Brasil necessariamente tem que fazer na política de agora em diante.

O Congresso Nacional, em particular, e a classe política como um todo precisam vestir-se da coragem que Arraes demonstrou em toda a sua vida pública, seja na defesa intransigente dos pobres, seja na luta contra a ditadura militar, para fazer as mudanças políticas que a sociedade exige.

O Deputado Miguel Arraes foi, sem dúvida, um político vencedor. Depois de ser Deputado Estadual três vezes, chegou à prefeitura de Recife aos 43 anos. Três anos depois, venceu as eleições para o Governo de Pernambuco. No Governo, adotou medidas de impacto nos campos da educação e da reforma agrária.

Sua veia popular de Esquerda fez com que fosse cassado e preso em 1964, quando se recusou a renunciar ao mandato que lhe foi conferido pelo povo. Ficou preso um ano e acabou exilado na Argélia. Voltou ao Brasil com a Lei da Anistia, em 1979. Em 1986, 23 anos após ter sido cassado, Arraes voltou ao Palácio das Princesas como Governador pelo PMDB, o meu Partido - feito que repetiu em 1994.

Miguel Arraes faz parte de uma geração de políticos fundamentais para o processo de democratização do País. Uma geração da qual fazia parte também o ex-Governador Leonel Brizola, que também faleceu há pouco tempo. Tanto Arraes quanto Brizola, por serem Líderes influentes e de posições firmes, às vezes geravam divergências. Pode-se até criticar determinados pontos de vista, tanto de um como de outro, mas não se pode questionar o legado de coerência, coragem e honestidade que ambos nos deixam, justamente três qualidades que têm faltado a setores da classe política brasileira e por cuja ausência ela padece.

Arraes deixa um importante herdeiro político em Pernambuco - aliás, deixa muitos herdeiros, mas este é o principal deles -, o Deputado e ex-Ministro da Ciência e Tecnologia Eduardo Campos, além de diversos seguidores nos Estados. Em Goiás, eu gostaria de destacar os Líderes do PSB, como o Deputado Federal Barbosa Neto; o Prefeito de Anápolis, Pedro Sahium; e o líder sindical Jeovalter Correa. Homens idealistas, defensores da construção de uma nova ordem política em Goiás e no Brasil.

Políticos como Eduardo Campos, Barbosa Neto, Pedro Sahium e Jeovalter Correa certamente hoje se sentem órfãos. A ausência do Líder lhes fará falta, mas, como Arraes, precisam ter coragem e seguir adiante, nos passos marcados pela ética e pela coerência, em busca de um País melhor e mais justo.

Em nome do povo goiano, repito, presto esta justa homenagem a Miguel Arraes, um dos mais influentes políticos do País e um exemplo a ser seguido. Vai Arraes, mas que fique o seu exemplo tão apropriado neste momento de mudanças que o Brasil precisa operar, especialmente em suas regras políticas.

Quero também prestar uma homenagem aos três Senadores que aqui brilham defendendo o PSB: Senador Antonio Carlos Valadares, Senador João Capiberibe e Senador Nezinho Alencar, naturalmente da escola de Arraes, são Senadores que honram e dignificam este Parlamento.

Sr. Presidente, eu gostaria de fazer apenas mais um comentário: a minha última estada com o Líder Miguel Arraes foi em uma reunião em que discutíamos a Organização para a Libertação da Palestina. Arraes era um defensor intransigente da criação do Estado da Palestina. E, antes de ele adoecer, estivemos juntos numa reunião com vários representantes da OLP, discutindo, antes inclusive da morte de Arafat, os destinos do povo palestino.

Por tudo isso, Arraes demonstrava sua sensibilidade e a visão de um mundo realmente justo, humano e democrático.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/08/2005 - Página 27563