Discurso durante a 134ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do ex-Governador Miguel Arraes, ocorrido no dia 13 do corrente, em Recife-PE.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do ex-Governador Miguel Arraes, ocorrido no dia 13 do corrente, em Recife-PE.
Publicação
Publicação no DSF de 16/08/2005 - Página 27568
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MIGUEL ARRAES, EX GOVERNADOR, EX-DEPUTADO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, mantinha uma relação de extrema cordialidade com Miguel Arraes, relação que vinha de longe, de antes de 64. Vou contar um episódio que demonstra a sabedoria política de Arraes e, ao mesmo tempo, é uma lição de democracia do Governador Miguel Arraes.

Era Deputado Federal, e Deputado Federal atuante na oposição ao Governo João Goulart, quando, no dia 3 de outubro de 1963, a Petrobras resolveu comemorar na Bahia os seus dez anos de existência. O Governador Miguel Arraes, homenageado da Petrobras, lá esteve.

Era secretário de Miguel Arraes na época Heron Alencar, do Crato, meu amigo fraternal que morou e se formou na Bahia - chegamos a morar juntos. Era de uma família cearense ilustre, um dos jornalistas mais notáveis que a Bahia teve. Por seu intermédio soube que Miguel Arraes queria conversar comigo no Palácio da Aclamação.

Fui ao Palácio da Aclamação, e Miguel Arraes se trancou comigo em uma sala para conversarmos. O objetivo era evitar, de qualquer maneira, o estado de sítio pedido por João Goulart. Muitos não vão acreditar, mas ele se colocou contra o estado de sítio de João Goulart e ainda me disse: “Esse primeiro tempo é para retirar Lacerda da Guanabara; no segundo tempo, como compensação, o Exército vai exigir que me retire de Pernambuco”. Nós nos unimos. O Presidente Sarney deve lembrar-se que o Presidente João Goulart mandou a mensagem de estado de sítio e, por falta de condições no Congresso, teve de retirá-la. E o fez por clamores nossos, e estávamos juntos, Arraes e outros nomes da esquerda lúcida. Daí surgiu nossa amizade.

Diante das notícias de que estavam sofrendo torturas em Fernando de Noronha, o Presidente Castello Branco mandou até lá o General Ernesto Geisel, seu Chefe da Casa Militar, para coibir qualquer coisa nesse sentido. Teve todo êxito, e Arraes foi para o exílio na Argélia, onde trabalhou também em assuntos ligados ao petróleo.

Ao tempo de seu exílio, tive oportunidade de encontrá-lo em Paris. Com a anistia, retornou ao Brasil e foi Governador de Pernambuco mais duas vezes.

Sempre tivemos um ótimo relacionamento e, quando eu estava na Presidência do Congresso, problemas surgiram em relação ao seu Governo, problemas que envolviam a figura de seu neto. Tratei de fazer aquilo que era normal e possível como Presidente do Congresso, e devo dizer que por ele também solicitava com muita insistência o ex-Senador Carlos Wilson. Trabalhamos juntos e nunca ninguém soube de coisa alguma dessa nossa atuação, mas era uma situação desagradável. O Governador Miguel Arraes e seu neto estiveram comigo em meu gabinete e pude, mais uma vez, fazer justiça e ser útil a esse grande brasileiro.

Não vou fazer mais elogios a Arraes, porque a história desse brasileiro notável fala por si, particularmente em função da coerência que tinha com suas idéias. É de se lamentar - perdoem-me, não quero ser inconveniente - que, com toda essa experiência e esse valor, o Presidente Lula nunca o tivesse procurado para conversar e trocar idéias profundas em relação à política nacional e ao Nordeste que ele tanto amava.

As homenagens que foram e estão sendo prestadas por inúmeros brasileiros a Miguel Arraes são inteiramente justas. Ele sofreu no Governo mas, ao mesmo tempo, teve compensações em relação ao seu povo. Até mesmo seus adversários sempre o trataram como a um companheiro, a um amigo, e ele merecia tal tratamento. Daí por que junto as minhas palavras às de tantos outros, principalmente às do Presidente Sarney e Cristovam Buarque, alguns que ouvi. Junto a minha palavra baiana às palavras de homenagem à figura do cearense-pernambucano Miguel Arraes de Alencar.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/08/2005 - Página 27568