Discurso durante a 139ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o aparecimento das personalidades de sucesso instantâneo criadas pelas CPI's.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONGRESSO NACIONAL.:
  • Preocupação com o aparecimento das personalidades de sucesso instantâneo criadas pelas CPI's.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2005 - Página 28574
Assunto
Outros > CONGRESSO NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, CRISE, POLITICA NACIONAL, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, PROMOÇÃO, PUBLICIDADE, MEMBROS, DIVULGAÇÃO, TELEVISÃO, SENADO.
  • REGISTRO, RECUPERAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PROVIDENCIA, BENEFICIO, CRESCIMENTO ECONOMICO, DEFESA, INVESTIMENTO, TURISMO, TRANSPORTE, REGIÃO NORDESTE, COMBATE, DESIGUALDADE REGIONAL.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente!

Inicialmente, agradeço ao meu amigo Senador Garibaldi Alves pela gentileza de ter-me permitido usar da palavra. E, com isso, deixo de usar da palavra pela liderança, o que detesto porque não considero justo. Considero o fato de Senadores líderes usarem da palavra para proferir discurso uma forma de passar a frente dos outros companheiros. Então sempre evito falar como líder.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil, ultimamente, tem vivido dias complicados, e o Congresso não está fora dessas complicações. Tivemos aqui uma verdadeira enxurrada de CPIs: CPI da Terra, que, agora, está com menos Ibope e, por isso, saiu do ar praticamente; a CPI dos Correios, do Mensalão, dos Bingos, da Migração... E essas CPIs, Sr. Presidente, criaram personalidades de sucesso instantâneo, pessoas que se tornaram, cada vez mais, concorrentes. Outro dia, presenciei uma discussão tremenda entre dois companheiros do mesmo partido. Quase houve uma briga entre eles porque um tinha chegado às sete horas da manhã para se inscrever na lista e o outro, que chegou no mesmo horário, queria ter a primazia na inscrição. A discussão terminou com eles dizem “me respeite, fulano”, “me respeite, beltrano”. Eu fiquei olhando e pensando: “Meu Deus, o que minutos na TV não faz à personalidade das pessoas”.

Todo o País passou a presenciar, a ouvir mais destampatórios, mais informações, mais escândalos. A TV Senado subiu como um foguete não só na sua audiência, mas também como fornecedor de cópia do seu programa para as outras TVs, como se via pelo logotipo da TV Senado.

Essas personalidades instantâneas passaram a fazer parte até dos vários sites: site gay, site isso, site aquilo. Houve até concurso para ver quem aparecia mais, quem estava mais bem colocado. Tudo isso aumentou enormemente a disputa pela ocupação dos microfones. Lamentavelmente, em algumas faltaram professores de português e também de logopedia porque o tom da voz era o índice da maior ou menor masculinidade, da maior eficácia da oratória ou não. Era, enfim, um destampatório geral.

Comecei a me preocupar porque eu acreditava que isso duraria para sempre, jogando por terra todo o trabalho do Senado, da Câmara, que precisam votar, precisam decidir sobre assuntos importantes. Mas, graças a Deus, isso não aconteceu. Continuamos votando, continuamos, no Senado principalmente, cumprindo o nosso dever.

Graças a Deus, o índice de audiência da TV Senado está diminuindo. Graças a Deus também, o público, pela superexposição, está ficando saturado de CPIs. No último final de semana, por onde passei, a colocação era diferenciada: “Basta de tanta CPI! Basta de tanta denúncia!” Quer dizer, o próprio público está cansado de tanta denúncia, de tanta briga e quer que os culpados sejam punidos. Isso não é novidade. O meu Partido, PMDB, desde o primeiro momento, exige a apuração de tudo e a punição dos culpados. E as pessoas deixaram de perder dias, tardes, manhãs em frente à televisão para ouvir a CPI e as suas denúncias.

O Governo, graças a Deus, também concatenou melhor os fatos, saiu da tontura em que estava e começou a se mover, inaugurando obras, cobrando programas, divulgando objetivos. Reputo esses fatos principalmente à entrada da Ministra Dilma e do Ministro Jacques Wagner, que estão freqüentando as duas Casas. Na próxima quarta-feira, por exemplo, haverá um almoço com todos os Senadores do PMDB, na Liderança do Partido, para conversar com todos os Parlamentares à procura de soluções.

Sr. Presidente, com toda certeza, isso está tendo resultado, graças a Deus, porque é um crime largar essa onda econômica em que nós vínhamos surfando, para trabalharmos contra nós mesmos. Parece até que estamos torcendo pelos nossos concorrentes e querendo que o Brasil dê errado por causa da eleição do próximo ano. Graças a Deus, isso começa a diminuir, a preocupação com a onda excessiva de denuncismo está sendo substituída pela preocupação com a perda do time da economia. Portanto, nós, Parlamentares, precisamos enfatizar, ajudar para que essa onda econômica em que estamos indo tão bem leve o Brasil a índices melhores de produtividade, de investimento.

Muitos dizem que isso não tem importância, mas é claro que tem. O economista Kalecki diz que as pessoas investem quando têm muita renda acumulada, quando têm perspectiva de lucro ou confiança de que o cenário é promissor e que provavelmente o lucro virá. Ora, num país em que parece que se está desagregando a máquina política, quem, mesmo tendo recursos, iria investir? Isso, mais cedo ou mais tarde, se contaminaria ou se contaminará - se esta tendência que vi nesse final de semana não se concretizar - contaminando a área econômica.

Ouvi com alegria a explicação do Ministro Palocci numa entrevista nos moldes das entrevistas norte-americanas e européias, em que se dá a palavra a cada repórter. Foi um bom exemplo. Tomara que outros Ministros façam o mesmo. Gostei das respostas. S. Exª buscou responder ao que lhe foi perguntado. É óbvio que a Oposição vai dizer que não foi o bastante - está no legítimo papel dela. E quisera eu que todos tivessem feito o mesmo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Com toda certeza, Senador Heráclito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Caro Senador Ney Suassuna, parabenizo V. Exª pela primeira etapa do seu pronunciamento. Perfeito. Não concordo em querer interpretar aqui o sentimento da Oposição. Se V. Exª continuar usando o seu equilíbrio, vai observar que quem não gostou do sucesso do Ministro Palocci foram seus companheiros de Partido. Se V. Exª observar no plenário - V. Exª é homem atento -, verá que quem vem acusando, quem vem colocando o Ministro Palocci na berlinda não é a Oposição. Aliás, a Oposição brasileira de hoje é diferente daquela que nós vivemos num passado recente, quando V. Exª foi Ministro do Governo Fernando Henrique, por exemplo, e sabe o que sofremos por parte do PT. Então V. Exª não tem o direito, como Líder da Base do Governo, de acusar o comportamento da Oposição. A Oposição tem o direito, sim, de opinar se gostou ou se não gostou e o tem feito com muita cautela. Aliás, as palavras de equilíbrio, as palavras equilibradas ditas após o pronunciamento do Ministro Palocci foram muito mais da Oposição do que do Governo. Faço apenas este reparo pela admiração que tenho a V. Exª. Sei que se empolgou um pouco, mas creio que não tem o direito de interpretar o sentimento da Oposição nesta Casa. Muito obrigado.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Obrigado pelo seu aparte, nobre Senador Heráclito Fortes.

Estou falando com os dados que tenho em mão. Li o blog do Prefeito do Rio, em que S. Exª disse que não foi suficiente. Creio que S. Exª está em seu papel natural, normal, de oposição. Não estou interpretando. Ao contrário, estou dizendo que a Oposição tem que fazer carga. É natural que faça carga, caso contrário não será Oposição.

(Interrupção do som.)

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Assisti hoje a um pronunciamento que dizia não ser suficiente. Então, não estou fazendo interpretação, tampouco especulando. Estou dizendo que esse é o papel da Oposição em qualquer país. A Oposição não deve elogiar, deve buscar as vulnerabilidades e cobrar o que falta. Está em seu legítimo papel. Não é interpretação, mas a definição do próprio papel da Oposição. É o que entendo. É necessário, é preciso que assim seja.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - O Senador Arthur Virgílio disse, com muita propriedade, que a única vez em que o Governo, em que o PT se uniu foi para combater o Ministro Palocci. Não quero que se coloque a conta dos desacertos do Ministro Palocci, dos problemas que o Ministro Palocci está enfrentando, na conta da Oposição. Aliás, a Oposição brasileira é frustrada porque não conseguiu criar nenhuma crise para o Governo que V. Exª defende. O próprio Governo cria todas. Pergunto ao Senador Alvaro Dias, que chegou ao plenário: quem indicou Buratti? Fomos nós da Oposição? Quem indicou Waldomiro? Fomos nós da Oposição? Quem indicou José Dirceu? Fomos nós da Oposição? E por aí adiante. Então, se há uma Oposição virgem em fazer mal ao Governo é a Oposição brasileira neste momento.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - V. Exª também não ouviu o discurso do nobre Senador José Jorge, que está no seu direito como Oposição. Mas acho que é natural, é normal.

Dando continuidade ao meu discurso, Sr. Presidente, acredito ser esta a hora de aproveitarmos a onda benéfica e salutar da nossa economia e continuar tentando fazer com que esses números sejam mais permanentes. Dentro desse aspecto, lembro que precisamos investir mais em turismo no Nordeste, que precisamos concluir a BR-101, que precisamos concluir a BR-230, que precisamos fazer a Transnordestina. Enfim, precisamos buscar vencer o gap, vencer a diferença que existe entre a minha região e o Sul maravilha, a região de V. Exª e o Sul maravilha, a região Norte e o Sul maravilha porque esses índices vão, com toda a certeza, pesar muito mais, empurrando ainda mais a economia para a frente, o Brasil será mais igualitário, e nós teremos mais oportunidades industriais, comerciais e de toda monta.

Percebo, com alegria, o sentimento de saturação por parte da população, que pensa que basta de denuncismo e que os culpados precisam ser punidos com a maior rapidez possível, mas ninguém mais está perdendo o dia todo em frente à televisão para assistir às CPIs. Chegou ao ponto de saturação...

(Interrupção do som.)

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Vou concluir, Sr. Presidente. As estrelas instantâneas das CPIs começam, até nos sites, a ser analisadas com crivo mais sério e, com toda a certeza, mais rigoroso.

Era isso o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2005 - Página 28574