Discurso durante a 139ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a entrevista coletiva concedida ontem pelo Ministro Antônio Palocci.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a entrevista coletiva concedida ontem pelo Ministro Antônio Palocci.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2005 - Página 28583
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), ELOGIO, RECONHECIMENTO, RESPONSABILIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CRISE, POLITICA NACIONAL.
  • EXPECTATIVA, CONTINUAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, ANUNCIO, DEPOIMENTO, ASSESSOR, IMPORTANCIA, ACOMPANHAMENTO, POPULAÇÃO.
  • APREENSÃO, PARALISAÇÃO, OBRA PUBLICA, PAIS, ATRASO, VOTAÇÃO, PROJETO, LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTARIAS (LDO), FALTA, DECISÃO, PAUTA, INTERESSE NACIONAL, RISCOS, PERDA, CONFIANÇA, BRASIL, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é evidente que, antes de abordar qualquer assunto, devemos passar pelo fato que tomou conta do final de semana, que foi a entrevista concedida pelo Ministro Palocci.

Observamos aqui, agora há pouco, o pronunciamento do Líder Ney Suassuna, que se preocupou com o posicionamento da Oposição. É evidente que a Oposição cumpre o seu papel, quando exige esclarecimentos, quando quer a verdade. Mas, neste caso do Ministro Palocci - e o Senador Arthur Virgílio diz com muita propriedade -, o único momento em que o PT se une é quando o assunto é desestabilizar o Ministro Palocci. Tanto isso é verdade que S. Exª foi para a entrevista coletiva, ontem, com várias perguntas incômodas feitas pelos seus próprios correligionários. Uma delas, feita pelo Sr. Berzoini, que até há pouco tempo fez parte da equipe de Governo do Presidente Lula e se queixava do tratamento que o Ministro Palocci dava a sua Pasta, fez com que o Ministro retornasse, depois de encerrada a entrevista, para atender a uma pergunta feita pela jornalista Délis Ortiz.

Acho que, num primeiro momento, alguns aspectos da entrevista do Ministro Palocci nos faz refletir positivamente. Em primeiro lugar, ele ofereceu-se para participar da coletiva, ele foi humilde, ele não transferiu o problema que aflige o seu Partido para outros Partidos, não transferiu a crise nem para as elites, nem para a Direita, nem para a Esquerda. Assumiu como um problema grave enfrentado pelo Partido e pela base do Governo. Nisso ele foi diferente de todos os petistas que até agora, envolvidos na crise, procuraram ou trazer o foco dos fatos para as administrações passadas, ou dividi-las com os demais Partidos. É aquela maneira petista de não querer assumir, de maneira nenhuma, as suas responsabilidades.

Agora, é claro que a entrevista do Ministro Palocci só terá sido de todo positiva se não houver contestação por parte das pessoas envolvidas nesse processo. Temos a perspectiva de, nesta semana, o próprio Sr. Buratti vir ao Senado para prestar depoimento em uma das CPIs. Quando digo uma das CPIs, Sr. Presidente, é que o Governo, a meu ver de maneira errada, resolveu diversificar temas em três CPIs: Bingo, Correios e Mensalão. Não atentou o Governo que serão três focos nos quais fatos desaguarão contra ele. As denúncias que chegam às três CPIs são contra o Governo e contra o PT. É evidente que, quanto maior a exposição dos ex-companheiros de Partido e de administração que provocaram todo esse mar de denúncias, a cada contradição, a cada fato novo, aumenta a via-crúcis do Governo Federal.

Não entendi essa estratégia, mas, como é um Governo composto de gênios, de pessoas que dialogam com o Altíssimo e não com os da Terra, espero que eles tenham razão. Os fatos e o futuro mostrarão isso.

Senador José Sarney, com a sua experiência de vida nesta Casa, V. Exª sabe muito bem que ninguém controla CPI. A CPI é controlada por sua excelência o fato. Os fatos vão, aos poucos, mostrando o caminho a seguir. A rua, como é o caso presente, vem acompanhando, de maneira surpreendente, o dia-a-dia e o desenrolar dessas Comissões - graças à eficiência e à precisão do sistema de comunicação do Congresso Nacional, composto das Rádios Senado e Câmara e das TVs das duas Casas. Esse é um fato, Sr. Presidente. Por onde chegamos e passamos, vemos os reflexos da comunicação direta e imediata em tempo real, que faz com que o cidadão, por mais distante que seja a sua residência, acompanhe de maneira atenta e firme - inclusive emitindo opiniões - os fatos que estão por acontecer.

O lamentável, Srªs e Srs. Senadores, é que, enquanto isso, o País está parado. Estamos vivendo um momento em que a Lei de Diretrizes Orçamentárias ainda não foi votada. Há muitos anos, votávamos essa lei antes do início do recesso do mês de julho. Nós já estamos avançando no mês de agosto, e a LDO ainda não foi apreciada pelo Plenário do Senado Federal. As obras estão paradas, e causa-me mais apreensão aquele famoso acordo firmado entre o Governo Federal e o FMI, que envolve R$2,7 bilhões para obras de infra-estrutura - que estão paralisadas. O Governo tem até 31 de dezembro para cumprir essa meta e poder iniciar a segunda etapa o ano que vem.

Mas não é só a questão do FMI. Várias e várias obras estão paradas, os programas estão atrasados e se fala muito na agenda positiva.

A agenda positiva está sendo tratada apenas em entrevistas, em rádio, em televisão, mas, de maneira concreta, nada acontece. O Senador Sarney acompanhou. Nós temos o gasoduto que liga Fortaleza, Teresina e São Luís, pois depende de decisão administrativa para que as obras sejam iniciadas. A Ferrovia Transnordestina, que é fundamental para a Região Nordeste, precisa ser também iniciada com a maior urgência. Tudo está parado.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é lamentável que estejamos vivendo este momento de paralisia. E, por mais paradoxal que seja, a economia brasileira reage, dá sinais de musculatura, e resiste às tormentas que o Brasil vive no momento.

É preciso que haja, por parte do Governo Federal, a sensibilidade suficiente de não permitir que essa teia que envolve a credibilidade da sua administração faça com que a paralisia administrativa tome conta da Nação. Precisamos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ter maior atenção para com esse fato, porque, senão, daqui a pouco, por paralisia, por estagnação, vamos começar a pagar o preço do descrédito que ainda existe, e que não é pouco, por parte dos investidores estrangeiros, que para cá mandam o seu capital, na certeza de aplicações seguras, com a esperança de obter o resultado positivo para as suas aplicações.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta semana tem início com perspectivas de mais tormentas, porque novos esclarecimentos serão prestados pelos depoentes que já estão convocados. Esperamos que a Nação tenha tranqüilidade suficiente para ouvir e exigir a apuração até o final, custe o que custar, doa em quem doer, mas que não paguemos, por isso, o preço do nosso desenvolvimento. Chegou a hora de o Brasil, Senador Lobão, dar a sua arrancada, e já deu demonstrações de robustez econômica e é preciso para isso que nós, que fazemos parte do Congresso Nacional, contribuamos com o legado de não levarmos o País ao caos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2005 - Página 28583