Discurso durante a 140ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apresentação dos Temas da Agenda 21 Infantil pelas crianças e da proposta da Conferência Criança Brasil no Milênio

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Apresentação dos Temas da Agenda 21 Infantil pelas crianças e da proposta da Conferência Criança Brasil no Milênio
Publicação
Publicação no DSF de 24/08/2005 - Página 28705
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ORADOR, DEFESA, NEGRO, PESSOA DEFICIENTE, IDOSO.
  • DEPOIMENTO, CRIANÇA, RESPOSTA, QUESTIONAMENTO, ORADOR, ANALISE, DISCRIMINAÇÃO, GRUPO ETNICO, SEXO, IDADE, REGIÃO, CLASSE SOCIAL.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Sem revisão do orador.) - Exmº Senador Renan Calheiros, Senador Paulo Octávio, que teve essa brilhante iniciativa, meus amigos e minhas amigas, eu estava ali, sentado, e conversava com o Ian - Ian, levante-se! Perguntei a ele: “Ian, quem é aquela linda menina sentada à mesa, à minha esquerda - ela piscou para mim agora. O nome dela é Samita.

Essa linda menina chama-se Samita. Ela é da Escola Classe 316 Norte.

Você, Samita, lembra um pouco a minha infância; você lembra um pouco a minha vida.

E, aqui, com os teus coleguinhas, a pergunta que faço é inspirada na nossa própria história - creio que sou o único Senador negro no momento no Congresso. Observei que um dos temas trazidos por vocês refere-se aos preconceitos.

Sou o autor, com muito orgulho, graças ao apoio dos Senadores, do Estatuto do Idoso; do Estatuto da Pessoa com Deficiência, que está em debate no Congresso; e do Estatuto da Igualdade Racial. Como norte da minha vida, baseio-me naquele que considero o maior Líder vivo da humanidade: Nelson Mandela, que ficou 27 anos no cárcere e libertou a África do Sul; acabou com o apartheid, acabou com a discriminação.

Por isso, quero perguntar como vocês vêem a questão da discriminação, que infelizmente existe no Brasil e no mundo; que permite que se qualifique uma pessoa pela cor da pele, pelo sexo, pela idade, pela origem ou pela procedência.

Pauto a minha atuação aqui, no Congresso, principalmente no combate a todo tipo de discriminação. Por isso, a pergunta que lhes faço é a seguinte: como é que vocês, crianças, vêem essa luta contra a discriminação? Enfim, que possamos, como disse Martin Luther King, habitar em um mundo onde ninguém seja discriminado.

Está feita a pergunta.

Paola Silva Damasceno - Senador Paulo Paim, V. Exª me permite um aparte?

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Pois não.

Paola Silva Damasceno - Obrigada.

Em primeiro lugar, meu nome é Paola e estou representando a Escola Classe 304 Norte. Sou ex-aluna de lá.

Na minha opinião, acho que devemos tratar as pessoas igualmente, independentemente da sua raça, independentemente da sua condição financeira, independentemente de onde ela estuda, de quem ela é. Devemos tratar todo mundo igual, porque - não sei se todo mundo aqui é católico - todos são iguais aos olhos de Deus. Então, devemos pensar assim também.

Eu não sou diferente da Gisele, que é minha amiga; eu não sou diferente de ninguém aqui. Só sou eu. E não gostaria se alguém me tratasse mal por qualquer motivo e acho que eu não deveria fazer isso também com ninguém.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito bem. (Palmas.)

Gabriel Bayomi - Posso fazer um aparte?

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Com satisfação enorme.

Gabriel Bayomi - Na minha opinião, todos deveriam ter exatamente os mesmos direitos e não ser determinado pela cor, pela raça, pela religião, por tudo. Todos deveriam ter os mesmos direitos.

Existem casos, por exemplo, de pessoas que recebem salários diferentes porque são diferentes umas das outras. Isso não existe, porque todos deveriam ser da mesma classe, do mesmo jeito, porque isso é desigualdade e faz com que o mundo não seja justo.

Aos olhos de Deus, somos todos iguais.

Obrigado.(Palmas.)

Luís Felipe - Senador, posso fazer um aparte, para complementar?

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Pois não. Fico aqui sob a orientação do nosso Presidente, mas é com muita satisfação que ouço os apartes.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Para que possamos contribuir com o aparte e, sobretudo, para que fique tudo registrado nos Anais do Senado, seria muito importante que vocês, ao pedirem um aparte, ao participarem do debate, dissessem o seu nome e a escola onde estudam.

Gabriel Bayomi - Sou Gabriel Bayomi, do Colégio Marista João Paulo II.

Luís Felipe - Sr. Senador, só complementando, foi comprovado cientificamente que não existe raças diferentes, mas, sim, etnias. Então, não é correto afirmar que você é diferente dela por causa de cor, de sexo, de religião, de nada.

Meu nome é Luís Felipe. Sou do Colégio Marista de Goiânia

Bruno Vasconcelos - Meu nome é Bruno, estudo na Escola das Nações, na 6ª série “A”.

Acho que isso não existe, porque todos somos humanos. Só por causa de cor e de classe social, você não será um alienígena, só porque é diferente de mim. Todos somos iguais, todos merecemos os mesmos direitos, merecemos ser tratados do mesmo jeito. A desigualdade social não importa, afinal, aos olhos de Deus, todos somos irmãos. Ninguém é diferente um do outro.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito bem! (Palmas.)

Marina Queiroz Topanotti - Meu nome é Marina. Eu sou do Sesi Escola de Cuiabá.

Eu queria dizer que, se alguém é diferente das pessoas, nem por isso elas deveriam discriminá-la. Deus criou todo mundo igual. Se Ele quisesse criar alguém para ser destratado, faria todos diferentes, mas somos iguais, com dois braços e duas pernas. Apesar de existirem pessoas com problemas, deveríamos tratar todas mesmo jeito, porque é uma falta de respeito muito grande não tratar uma pessoa do jeito que ela merece. Eu não ia gostar de ser destratada. Então, acho que cada um deve tratar do jeito que gostaria de ser tratado. É isso. (Palmas.)

Gisele Spíndola Marques - Meu nome é Gisele, estou representando a Escola da 304 Norte, mas eu estudo na da 104.

Eu queria falar mais uma coisa sobre discriminação: ela acontece também com crianças e com outras pessoas.

Estarmos todos no plenário, juntos, para dar idéias é uma ótima coisa, porque isso acaba não incentivando a discriminação. Só é discriminado quem não corre atrás de não ser discriminado. Quando não corre atrás, você realmente é discriminado por classe social, por cor, por idade ou por qualquer coisa. Até as mulheres, geralmente, são discriminadas. Hoje em dia, a igualdade entre as mulheres e os homens está maior, mas, se a gente não tivesse corrido atrás, nada disso teria acontecido em relação às mulheres terem aumentado a igualdade com os homens.

Então, se isso está acontecendo, deveríamos correr atrás mais do que já estamos fazendo, para ajudar. (Palmas.)

Heitor Vinícius Guedes Brandão - Senador Paulo Paim, posso ter um aparte?

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Pois não.

Heitor Vinícius Guedes Brandão - Para dar meu comunicado, vou tomar como exemplo o Pé Grande. Já ouviu falar?

Houve boatos, numa montanha, em algum lugar bem longínquo, sobre o Pé Grande. Em vez de o homem simplesmente procurar descobrir como ajudá-lo, quem era, ele o temeu. Tudo o que o homem não conhece, o ser humano, em sua integridade, ele teme. A gente devia se conscientizar e, ao invés de temer, procurar ajudar, procurar saber e não ter preconceito - como diz a palavra, ter um conceito pré-formulado antes de conhecer. Antes de conhecê-la, não defina a ética da pessoa, o que faz e o que é, como muitos fazem.

Sou o Heitor, vim do Colégio Marista e já representei a 304 Norte.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito bem.

Matheus Franklin Milken - Meu nome é Matheus e estudo na 304 Norte. Quero falar sobre a discriminação.

Eu já fui discriminado também. Quando eu era menorzinho, eu tirava caca do nariz, aí todo mundo dizia: “Ai, que nojo, que nojo!”

Tem um menino na minha sala da Escola Classe e da Escola Parque por quem eu tinha preconceito, só que agora eu aprendi que eu não devo ter mais, porque eu sou uma pessoa educada. Antes, eu não ajudava; agora, eu ajudo. Ele não sabia quanto era um mais um, aí eu falei para ele contar nos meus dedos. Ele contou e eu ajudei. (Palmas.)

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito bem.

Bruna - Boa tarde, Senador. Eu sou a Bruna, de Nerópolis.

Quero falar de um assunto que não foi abordado até agora, um assunto recente, que é a fome. Todos falaram da violência, do abuso sexual, do desmatamento, do preconceito, mas não falaram da fome.

Um Senador falou do filme “Dois Filhos de Francisco”. Eu comecei a chorar lembrando da menina dizendo para a mãe que estava com fome. Eu tenho um irmão pequeno, mas já penso que se o meu filho falar que está sentindo fome, vai ser a maior dor em mim, porque eu poderei sentir fome, mas ele não.

Quanto ao preconceito, vemos crianças na rua, a maior parte negras, como quando chegamos aqui, e pensamos que elas não têm abrigo, não têm o que comer. Como Caetano Veloso também disse, Brasília é como um cartão postal do Brasil, por ser a Capital. Quando cheguei aqui, vi uma criança pedindo esmola na porta de um restaurante, povoado por pessoas tão importantes, e estranhei, fiquei super-insatisfeita com o que vi.

Eu queria comentar com vocês esse assunto que é a fome. (Palmas.)

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito bem. Isso não deixa de ser uma discriminação, você está certa.

Vamos ouvir a última pergunta e encerro.

Yasmin Terra Ferreira - Senador, quero falar sobre a discriminação dos idosos.

Os idosos estão precisando de um hospital apenas para eles. Eles morrem nas filas, ficam doentes, alguns remédios são muito caros.

Eu queria pedir que abrissem um hospital que desse remédio de graça para os idosos. (Palmas.)

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito bem.

Lian - Senador, na minha opinião, a discriminação até hoje existe.

Existe uma lei para combater a discriminação, só que, para mim, ela não está sendo cumprida. A discriminação é inafiançável, mas muita gente paga para sair.

Eu pergunto: por que tem gente que paga e consegue sair, mesmo com a lei?

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Deixe-me responder rapidamente.

Há uma lei, de minha autoria, aprovada semana passada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, cujo Relator foi o Senador Rodolpho Tourinho, que, uma vez aprovada também na Câmara dos Deputados, estabelecerá que quem cometer qualquer crime de discriminação não poderá mais pagar, ficando na cadeia. (Palmas.)

Ana Luisa Rocha Delfino - Senador, quero fazer uma pergunta.

Por exemplo, se tem um homem e uma mulher que trabalham na mesma área, a mulher pode fazer o mesmo esforço mas ganha menos. O que vocês podem fazer para diminuir isso, para não acontecer mais a discriminação entre homem e mulher?

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Você tem toda razão. Infelizmente, é uma realidade em nosso País a discriminação contra a mulher em relação ao homem.

Há diversos projetos, nesta Casa, que entendo que, se aprovados, vão contribuir muito. Na Câmara dos Deputados, está em debate o Estatuto da Mulher, que contempla exatamente políticas contra as discriminações.

Vou terminar, pessoal, porque há outros Senadores que virão também à tribuna, dizendo a todos vocês: como é bom, como é bom estar nesta sessão. Como é bom estar aqui com vocês.

Iniciei falando de Nelson Mandela e termino com uma frase dele, que diz: Como é bonito, como é gostoso ensinar uma criança a amar! Como é violento, como é grave, como deixa a gente revoltado ensinar alguém a odiar uma criança pela cor da pele, pela idade, por sexo ou por religião”.

Quero dizer para vocês as últimas palavras. Todas vocês, crianças que estão aqui, ao chegarem em casa hoje, olhem para seu pai, para sua mãe, para seu avô e, se puderem, só lhes digam isto: “Meu velho, minha velha, eu te amo”. E dêem um grande beijo neles. É só isso. Obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/08/2005 - Página 28705