Discurso durante a 142ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações sobre as declarações do Ministro Palocci em entrevista neste último domingo.

Autor
Cristovam Buarque (PT - Partido dos Trabalhadores/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre as declarações do Ministro Palocci em entrevista neste último domingo.
Publicação
Publicação no DSF de 25/08/2005 - Página 28971
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, ANTONIO PALOCCI, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), RESPOSTA, ACUSAÇÃO, CORRUPÇÃO, ANALISE, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, MOTIVO, ESTABILIDADE, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, ANALISE, FALTA, PROGRAMA DE GOVERNO, INTEGRAÇÃO, ESTABILIDADE, ECONOMIA, JUSTIÇA SOCIAL, CONCLAMAÇÃO, MOBILIZAÇÃO, BUSCA, MODERNIZAÇÃO, ORDEM ECONOMICA E SOCIAL.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de certa maneira, continuando o discurso da Senadora Serys, quero lembrar que o Brasil inteiro viu - e até com alívio - a confiança que passou o Ministro Palocci.

Não há dúvida de que parte dessa tranqüilidade, Sr. Presidente, veio da maneira franca, rápida e convincente como agiu. Porém, não tenho dúvida de que a grande credibilidade que adquiriu e passou não foi coisa dele, mas da política econômica que vem executando. O político que está em um processo governamental realizando aquilo que a opinião pública, que o povo espera tem, de certa forma, uma blindagem natural.

Se o nosso Governo estivesse hoje transformando a sociedade, levando adiante todas as mudanças que prometemos na campanha, não tenho dúvida de que essas críticas, essas denúncias recentes ou não tocariam ou tocariam muito levemente o próprio Presidente da República. É a falta de uma nitidez de programa, de clareza de transformações da sociedade que fragilizam qualquer presidente às denúncias que ocorrem ao redor dele.

Eu me preocupo que, hoje, essa fragilidade não seja fruto apenas do Governo, mas da falta de uma perspectiva clara das forças progressistas brasileiras, daquilo que chamamos de Esquerdas brasileiras. Nós não oferecemos à opinião pública um projeto claro que, ao mesmo tempo, mantivesse a continuidade da realidade econômica e mudasse a realidade social. Nós não oferecemos um projeto claro que dissesse: mantemos a estabilidade e trazemos a justiça.

Diferentemente daquilo que acontece na poesia, Senador Marco Maciel, na política, justiça rima com estabilidade; e temos esquecido isso. Uma parte da Esquerda perdeu o compromisso com a estabilidade financeira e econômica e a outra perdeu o compromisso com a justiça e com as transformações sociais. Estou convencido - e é com tristeza, Sr. Presidente - de que dificilmente qualquer Partido, incluindo o Partido dos Trabalhadores, qualquer um deles ou nenhum deles, vai conseguir casar a rima entre justiça e estabilidade. Por isso, só um grande movimento nacional, um movimento republicano, um movimento pela mudança nacional na estrutura social antiquada, injusta, combinando com a modernização das estruturas econômicas que garantam a estabilidade, só esse grande movimento é que vai conseguir trazer de volta a esperança, vai conseguir despertar o encanto, outra vez, na opinião pública e nos eleitores brasileiros.

Estou otimista, apesar de tudo isso, que essa crise vá permitir às Esquerdas pensar outra vez, refletir, fazer auto-crítica e descobrir que justiça rima com estabilidade se tivermos compromisso com o povo brasileiro e responsabilidade com a economia brasileira.

E lamento que o Presidente do Partido dos Trabalhadores, o Presidente Tarso Genro, tenha feito uma declaração contra a política econômica. Críticas à política social só fazem enriquecer o processo. Críticas contra a política econômica só fazem enfraquecer a estabilidade. Ainda é tempo de garantirmos a estabilidade e começarmos a trazer justiça. Talvez essa crise nos ajude a despertar e sermos capazes de defender, com coragem, a política econômica do Presidente Lula e, ao mesmo tempo, também com coragem, insistirmos na necessidade de mudanças nas políticas sociais.

Era isso o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente, e agradeço a sua autorização para falar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/08/2005 - Página 28971