Discurso durante a 141ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento do escritor Érico Veríssimo.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento do escritor Érico Veríssimo.
Publicação
Publicação no DSF de 25/08/2005 - Página 28903
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, ERICO VERISSIMO, ESCRITOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ELOGIO, OBRA LITERARIA, REGISTRO, BIOGRAFIA.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, autoridades da Mesa, Luis Fernando - permita-me chamá-lo assim -, senhores e senhoras presentes, Srs. Parlamentares, estou emocionada! Deveria estar na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, da qual sou titular - estão me chamando -, mas disse que não sairia daqui sem falar, porque trata-se de homenagear o centenário de Erico Verissimo, essa personalidade nacional, essa personalidade internacional, essa personalidade gaúcha e essa personalidade de Cruz Alta, da nossa Cruz Alta, Luis Fernando. Lá eu nasci e cresci e, depois, fui embora para Mato Grosso, Estado que represento como Senadora.

Realmente eu não poderia deixar de me pronunciar nesta sessão de homenagem a Erico, nosso poeta maior, até porque brincam conosco, Luis Fernando, dizendo que Cruz Alta só tem um Senador a cada cem anos. No século passado, foi Pinheiro Machado e, agora, eu. Eu digo que agora é mais importante porque é uma mulher, e nós somos tão poucas junto ao poder maior.

Senhoras e senhores, este ano, especialmente e com muita justiça, comemora-se o centenário do nascimento do poeta maior Erico Verissimo. Erico Lopes Verissimo nasceu em Cruz Alta (RS), no dia 17 de dezembro de 1905, filho de Sebastião Verissimo da Fonseca e Abegahy Lopes Verissimo, a Vó Bega, como nós todos chamávamos.

Começo meu pronunciamento contando um pouco da história deste que é o orgulho maior do nosso Rio Grande do Sul - mas que também o é de toda a nação brasileira, não tenho dúvida alguma - para dizer mais orgulhosa ainda “somos conterrâneos” e, por incrível que possa parecer, também sobreviventes salvos por médicos de Porto Alegre. Eu, assim como Erico Verissimo, tive uma infância difícil, acometida que fui por uma enfermidade que quase me tirou a vida, mas também, como Erico, tive a felicidade de ter uma família que não mediu esforços para, além de me ajudar na luta pela vida, ensinar-me mais ainda - ensinou-me que o povo daquela pequenina região não se entrega nunca e muito mais: o povo nascido em Cruz Alta sabe fazer da vida uma grande poesia.

As homenagens começaram lá no Uruguai, onde o Centro Cultural Erico Verissimo montou, no edifício do Mercosul, em Montevidéu, uma exposição que integra as comemorações do centenário de nascimento do escritor Erico Verissimo “Por Amor à Vida” e que se estendeu até o último dia 12 de agosto. O nosso Presidente Renan Calheiros, com muita propriedade e justiça, determinou que a mesma exposição acontecesse no Salão Negro do Congresso Nacional, dando oportunidade aos brasileiros que por aqui passam de compreender e conhecer a bonita história desse escritor brasileiro. Parabéns, Sr. Presidente!

Fui para Mato Grosso, o que também muito me orgulha. Fui em busca de novos sonhos, de novos desafios. Estou hoje aqui como Senadora, tendo a oportunidade de homenagear o escritor Erico Verissimo, que me encanta e me incentiva a acreditar que a vida vale a pena, exatamente e justamente “Por Amor à Vida” - minha e de todos os seres humanos deste planeta.

A interessante biografia de Erico Verissimo é quase uma extensão de suas obras. Já foi dito aqui, mas quero repetir, que ele trabalhava como farmacêutico, mas não conseguiu dar continuidade aos negócios por inúmeros motivos, mas os que mais chamam a atenção são: recusava-se a vender certos remédios e passava o tempo todo lendo Ibsen e escrevendo, como forma de externar sua paixão pela linda garota de olhos azuis que morava em frente à sua farmácia, Mafalda, que se tornou sua esposa.

Em 1909, com menos de quatro anos, vítima de meningite, agravada por uma broncopneumonia, quase veio a falecer. Salva-se graças à interferência do Dr. Olinto de Oliveira, renomado pediatra, que veio de Porto Alegre especialmente para cuidar do seu problema. Salve-se esse pediatra!

Inicia seus estudos em 1912, freqüentando, simultaneamente, o Colégio Elementar Venâncio Aires, daquela cidade - exatamente o mesmo colégio que freqüentei -, e a Aula Mista Particular, da professora Margarida Pardelhas - também freqüentada por mim. Em Cruz Alta, ainda hoje, existem essas escolas, com esses mesmos nomes. Estudei nas mesmas escolas em que Erico estudou.

Nas horas vagas, vai ao cinema Biógrafo Ideal ou vê passar o tempo na Farmácia Brasileira, de seu pai.

Aos 13 anos, lê autores nacionais, como Coelho Neto, Aluísio Azevedo e muitos outros. Dedica-se também a autores estrangeiros, lendo Tolstoi, Eça de Queirós, Émile Zola, Dostoievski e outros.

Para ser rápida, estou saltando alguns trechos. Por isso, solicito ao Sr. Presidente que meu pronunciamento seja transcrito, na íntegra, nos Anais do Senado.

Para ajudar no orçamento doméstico, torna-se balconista, Luis Fernando, no armazém do tio Americano Lopes, que eu também chamava de tio.

Erico Verissimo nunca se deu por satisfeito, pois deixou além da sua extensa obra literária um presente para além de sua vida terrena. Como numa extensão mediúnica de sua obra, nasceu Luis Fernando Verissimo, seu filho, que todos temos a satisfação de ler e reler sempre. Inclusive, no momento em que chegou às livrarias o seu último livro, eu o comprei. E já o li, e muita gente o está lendo. É um sucesso total! Acompanhamos permanentemente a sua obra.

Erico falece subitamente no dia 28 de novembro de 1975, deixando inacabada a segunda parte do segundo volume de suas memórias, além de esboços de um romance que se chamaria A Hora do Sétimo Anjo.

Carlos Drummond de Andrade faz homenagem ao amigo, publicando o seguinte poema:

A falta de Erico Verissimo

Falta alguma coisa no Brasil

depois da noite de sexta-feira.

Falta aquele homem no escritório

a tirar da máquina elétrica

o destino dos seres,

a explicação antiga da terra.

Falta uma tristeza de menino bom

caminhando entre adultos

na esperança da justiça

que tarda - como tarda!

a clarear o mundo.

Falta um boné, aquele jeito manso,

aquela ternura contida, óleo

a derramar-se lentamente.

Falta o casal passeando no trigal.

Falta um solo de clarineta.

Sr. Presidente, deixo registrado, rapidamente, o que eu chamaria de uma recomendação. O meu discurso é imenso, mas já está terminando. É bom, no meu querido Rio Grande do Sul, onde nasci, que se procure a professora Maria da Glória Bordini, doutora em Letras, que coordena o Acervo Literário Erico Verissimo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e que tem muitas histórias para contar sobre Erico Verissimo.

Ficam aqui nossas homenagens, principalmente, à família de Erico Verissimo, a tantos quanto tiveram o privilégio de conviver com ele e ao nosso querido povo de Cruz Alta, que festeja sua passagem luminosa por este mundo.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DA SRª SENADORA SERYS SLHESSARENKO.

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            a srª serys slhessarenko (Bloco/pt - mt. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este ano especialmente e com muita justiça comemora-se o Centenário do Nascimento do poeta maior Erico Verissimo. Erico Lopes Verissimo que nasceu em Cruz Alta (RS) no dia 17 de dezembro de 1905, filho de Sebastião Verissimo da Fonseca e Abegahy Lopes Verissimo.

            Começo meu pronunciamento contando um pouco da historia deste que é o orgulho maior do nosso Rio Grande do Sul mas que também o é de toda nação brasileira, não tenho dúvida alguma, para dizer mais orgulhosa ainda - “somos conterrâneos” e por incrível que possa parecer, também sobreviventes salvos por médicos de Porto Alegre. Eu, assim como Erico Verissimo, tive uma infância difícil acometida que fui por uma enfermidade que quase me tirou a vida, mas também como Érico, tive a felicidade de ter uma família que não mediu esforços para, alem de me ajudar na luta pela vida, ensinou-me mais ainda - ensinou-me que o povo daquela pequenina região não se entrega nunca e muito mais - “o povo nascido em Cruz Alta” sabe fazer da vida uma grande poesia.

As homenagens começaram lá no Uruguai onde o Centro Cultural Erico Verissimo (CCCEV) montou no edifício do Mercosul, em Montevidéu, uma exposição que integra as comemorações do Centenário de nascimento do escritor Erico Verissimo “Por amor à vida” e que se estendeu até o ultimo dia 12 de agosto, e que o Presidente Renan Calheiros com muita propriedade e justiça determinou que a mesma exposição aconteça aqui no Salão Negro do Congresso Nacional dando oportunidade aos brasileiros que por aqui passam compreendam e conheçam a bonita historia desse escritor brasileiro.

Fui para Mato Grosso, o que também muito me orgulha. Fui em busca de novos sonhos, de novos desafios. Estou hoje aqui como Senadora, tendo a oportunidade de homenagear o escritor Erico Verissimo, que me encanta e me incentiva a acreditar que a vida vale a pena, exatamente e justamente “Por amor à vida” - minha e todos os seres humanos deste planeta. 

A interessante biografia de Erico Verissimo é quase uma extensão de suas obras, trabalhava como farmacêutico, mas não conseguiu dar continuidade aos negócios por inúmeros motivos mas os que mais chamam a atenção são: Recusava-se a vender certos remédios e passava o tempo todo lendo Ibsen e escrevendo, como forma de externar sua paixão pela linda garota de olhos azuis que morava em frente à sua farmácia, Mafalda, que tornou-se sua esposa.

Em 1909, com menos de 4 anos, vítima de meningite, agravada por uma broncopneumonia, quase vem a falecer. Salva-se graças à interferência do Dr. Olinto de Oliveira, renomado pediatra, que veio de Porto Alegre especialmente para cuidar de seu problema.

            Inicia seus estudos em 1912, freqüentando, simultaneamente, o Colégio Elementar Venâncio Aires, daquela cidade, e a Aula Mista Particular, da professora Margarida Pardelhas. Nas horas vagas vai ao cinema Biógrafo Ideal ou vê passar o tempo na Farmácia Brasileira, de seu pai.

            Aos 13 anos, lê autores nacionais -- Coelho Neto, Aluísio Azevedo, Joaquim Manoel de Macedo, Afrânio Peixoto e Afonso Arinos. Com tempo livre, tendo em vista o recesso escolar devido à gripe espanhola, dedica-se, também, aos autores estrangeiros, lendo Walter Scott, Tolstoi, Eça de Queirós, Émile Zola e Dostoievski.

Em 1920, vai estudar, em regime de internato, no Colégio Cruzeiro do Sul, de orientação protestante, localizado no bairro de Teresópolis, em Porto Alegre. Tem bom desempenho nas aulas de literatura, inglês, francês e no estudo da Bíblia.

Seus pais separam-se em dezembro de 1922. Vão -- sua mãe, o irmão e a filha adotiva do casal, Maria, morar na casa da avó materna. Para ajudar no orçamento doméstico, torna-se balconista no armazém do tio Americano Lopes. Os tempos difíceis não o separam dos livros: lê Euclides da Cunha, faz traduções de trechos de escritores ingleses e franceses e começa a escrever, escondido, seus primeiros textos. Vai trabalhar no Banco Nacional do Comércio.

Continua devorando livros. Em 1923. Lê Monteiro Lobato, Oswald e Mário de Andrade. Incentivado pelo tio materno João Raymundo, dedica-se à leitura das obras de Stuart Mill, Nietzsche, Omar Khayam, Ibsen, Verhaeren e Rabindranath Tagore.

No ano seguinte, a família da mãe muda-se para Porto Alegre, a fim de que seu irmão, Ênio, faça o ginásio no Colégio Cruzeiro do Sul. Infelizmente a mudança não dá certo. O autor, que havia conseguido um lugar na matriz do Banco do Comércio, tem problemas de saúde e perde o emprego. Após tratar-se, emprega-se numa seguradora mas, por problemas de relacionamento com seus superiores, passa por maus momentos. Morando num pequeno quarto de uma casa de cômodos e diante de tantos insucessos, a família resolve voltar a Cruz Alta.

Erico volta a trabalhar no Banco do Comércio, como chefe da Carteira de Descontos, em 1925. Toma gosto pela música lírica, que passa a ouvir na casa de seus tios Catarino e Maria Augusta. Seus primos, Adriana e Rafael, filhos do casal, seriam os primeiros a ler seus escritos.

Erico Verissimo não se deu por satisfeito, pois deixou além da sua extensa obra literária um presente para além de sua vida terrena. Como se numa extensão mediúnica de sua obra, nasceu Luis Fernando Verissimo, seu filho, que todos temos a satisfação de ler e reler.

O escritor falece subitamente no dia 28 de novembro de 1975, deixando inacabada a segunda parte do segundo volume de suas memórias, além de esboços de um romance que se chamaria A hora do sétimo anjo.

            Carlos Drummond de Andrade faz homenagem ao amigo fazendo publicar o seguinte poema:

“A falta de Erico Verissimo”

Falta alguma coisa no Brasil depois da noite de sexta-feira.

Falta aquele homem no escritório a tirar da máquina elétrica o destino dos seres, a explicação antiga da terra.

Falta uma tristeza de menino bom caminhando entre adultos na esperança da justiça que tarda - como tarda! a clarear o mundo.

Falta um boné, aquele jeito manso, aquela ternura contida, óleo a derramar-se lentamente.

Falta o casal passeando no trigal.

Falta um solo de clarineta.

            Um dos grandes representantes da geração modernista, tinha um forte sentimento antifascista, assinou um manifesto em 1935 contra o fascismo, o que o colocou às vezes na situação de comunista, vale lembrar, Sr. Presidente, que o sentimento anticomunista estava crescendo no ocidente, e esta situação gerava a perseguição e morte de inúmeros militantes dos partidos comunistas. Por isso com a instituição do Estado Novo de Getúlio Vargas, com traços fascistas. Aceitou em 1943 um cargo como professor universitário nos EUA, sendo que ele nem sequer completara oficialmente o segundo grau, e foi ensinar na Universidade de Berkley, na Califórnia.

            Erico foi um cidadão que defendeu muito fortemente os ideais democráticos. Suas posições políticas corajosas, contra qualquer tipo de ameaça à liberdade estão refletidas ao longo de toda a sua obra. Um exemplo de crença nos valores de uma sociedade livre e democrática.

            Inúmeros escritores que estrearam nos anos 30 vieram de fora do eixo cultural São Paulo e Rio de Janeiro. Nordeste, Minas Gerais e Rio Grande do Sul propiciaram novos movimentos que geraram alguns dos mais estimados autores nacionais. Nessa época, ao lado de Jorge Amado, foi Erico Verissimo quem melhor conseguiu equacionar a relação entre uma literatura de alta qualidade e rara popularidade, levando sua obra a ser uma das mais traduzidas e filmadas em todo o mundo.

            O Tempo e o Vento (1951), uma recriação da genealogia e da história do Rio Grande do Sul, considerada a obra-prima do escritor, foi elogiada, inclusive, por Gabriel García Márquez, que disse ter sido esse um dos livros que influenciaram Cem Anos de Solidão.

            Um escritor nacionalista, que tinha grande amor por seu Rio Grande do Sul, ambientando suas histórias em terras gaúchas, com muita simplicidade, expressividade, paixão e poesia. Foi capaz de cativar tanto o leitor mais modesto, quanto o mais culto, sempre se preocupando em dar um caráter universal às histórias. Empregando com muita economia os regionalismos lingüísticos de seu estado, o escritor assume um comportamento diferente daquele dos regionalistas do Nordeste. Dessa forma, seu regionalismo estará antes nos assuntos que na linguagem. E é esta característica que torna a obra deste grande autor sempre contemporânea e atual.

            Em sua obra Incidente em Antares (1971) ele explora o absurdo e o fantástico, tendo como pano de fundo a história mais recente do país. Após descrever a origem de Antares (o próprio Brasil), ocorre o incidente: na imaginária cidade, em dezembro de 1963, faz-se uma greve de coveiros; em represália, os cadáveres insepultos resolvem ressuscitar e denunciar a corrupção que se alastrava entre os moradores da cidade. É uma espécie de fábula da situação que vivia o país, uma sátira antiburguesa, misturando o ficcional absurdo com figuras reais de nossa política.

            É muito importante destacar uma peculiaridade da intelectualidade de nosso país, que tem uma tradição de negligenciar autores que se tornem populares, isto ocorreu também com este grande escritor, que por ter sido um autor tão popular, com um público fiel que colocou seus livros várias vezes nas listas dos mais vendidos.

            Por essa razão, seus textos foram equivocadamente afastados dos currículos escolares e, no meio acadêmico, por muito tempo, são raros os estudos a respeito de seu rico legado literário. Felizmente, fez-se esta correção e as nossas crianças e adolescentes já estão tendo a oportunidade de iniciarem sua viagem pelo fantástico mundo dos livros através, também, deste grande autor.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/08/2005 - Página 28903