O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, durante esses dois anos e meio de mandato como Senador da República, pautei minha atuação na defesa dos interesses maiores do meu Estado de Rondônia e de sua população, além, é claro, das funções inerentes ao cargo que ora ocupo.

Evitei, Sr. Presidente, por todo esse tempo, exatamente por ter sido Governador e por não ser aliado do atual Governador, trazer a esta Casa brigas particulares, próprias de quem se opõe na política, o que pouco importa à Nação e à população brasileira. Isso sempre com a intenção de preservar não só a boa imagem do Senado Federal como a do meu Estado, que já sofre com as notícias negativas que, eventualmente, partem de lá para cá. O meu comportamento, inclusive como Presidente Regional do meu Partido, o PMDB, tem sido evitar confronto político, antecipando o processo sucessório.

Em todas as oportunidades nas quais fui procurado pelo Governador ou por colaboradores para defender ações federais e investimentos em Rondônia, desconsiderei nossas diferenças ideológicas e me coloquei inteiramente na defesa dos interesses maiores do meu querido Estado de Rondônia. Nunca neguei a nenhuma Liderança política de Rondônia, independentemente de ideologia partidária, o apoio às reivindicações rondonienses. As Srªs e os Srs. Senadores são testemunhas da minha postura e conduta ao tratar dessas questões locais.

Os pronunciamentos aqui feitos, nesses dois anos e meio de mandato, quase todos foram sobre temas de interesse da coletividade rondoniense, como a importância da construção das hidrelétricas do rio Madeira, Girau e Santo Antônio; o gasoduto Urucum-Porto Velho, a recuperação e restauração das BRs federais em Rondônia, a defesa da agricultura e da pecuária, as questões ambientais e tantas outras afetas à nossa região.

Não fiz um discurso nem sequer para criticar o destemperado governador, mesmo sendo instigado por ele em diversas oportunidades; nem no calor das eleições municipais do ano passado, quando ajudamos a eleger a maioria dos prefeitos, tanto do PMDB quanto dos Partidos aliados. Os poucos aliados do Governador tiveram êxito eleitoral porque estavam coligados com outros Partidos, inclusive com o PMDB.

Desde a semana passada, após a votação da admissibilidade das denúncias pelo STJ por crimes diversos praticados pelo Sr. Governador Ivo Narciso Cassol, quando àquele tribunal decidiu admitir contra ele todas as denúncias feitas pelo Ministério Público Federal, mas mantendo-o no cargo durante as investigações, o mesmo vem tentando nos igualar às suas condutas, desqualificar nosso trabalho, tecendo uma série de aleivosias a nosso respeito.

Não bastassem as mentiras e injúrias que vem patrocinando contra a nossa pessoa e a minha família (todos sabem que a minha esposa é Deputada Federal por três mandatos consecutivos), o Governador começou a implantar um clima de terror por onde passa, fazendo acusações e ameaças contra seus adversários, a jornalistas que não se curvam à censura oficial e também às pessoas ligadas à Oposição, especialmente ao PMDB e à nossa pessoa.

O Governador é uma pessoa destemperada. Parte dos seus colaboradores adotam o mesmo estilo do chefe. Isso nos preocupa, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, porque, enquanto o destempero do Governador estava circunscrito apenas às aleivosias e às calúnias, ainda suportávamos, por entender que Rondônia é muito maior que um governante despreparado. Mas, infelizmente, por conhecê-lo e saber que é capaz de utilizar métodos nada civilizados contra quem não se intimida com suas ameaças, uso este expediente para comunicar ao Senado Federal que, a partir de hoje, temo pela minha segurança pessoal e pela segurança daqueles que não se curvam à sua vontade, tanto física quanto moral, pois, segundo notícias de lá, já começaram as ameaças veladas contra a nossa integridade.

Além de nós e alguns jornalistas, o Sr. Governador, em seu habitual destempero, também mira a sua Vice-Governadora, a ex-Deputada Estadual e Federal, Odaísa Fernandes, uma das expoentes do PSDB de Rondônia.

Nunca nos acovardamos com as provocações de Ivo Narciso Cassol. Aliás, nunca tivemos temor de enfrentá-lo. No entanto, o enfrentamento tem que ser o das idéias, dos debates e dos programas, um enfrentamento político, porque é no confronto das posições que deve ser pautada a nossa atividade pública.

Todavia, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Ivo Narciso Cassol faz política com métodos primitivos, com intimidação moral e física. Quando não conduzia as estruturas de Governo, inclusive a de segurança, suas intimidações não provocavam temor em nossos embates políticos. Agora é diferente, pois suas ameaças podem sair do embuste e se concretizar, visto que a brutalidade é a forma como tenta impor sua autoridade sobre os demais poderes e seus adversários. Pensa que pode confundir a opinião pública ao tentar colocar nesse patamar seus adversários e até mesmo as instituições públicas.

Meu temor não é o de quem se acovarda, mas o de quem teme as práticas primitivas dos covardes. É por isso que resolvi fazer este pronunciamento, antes que o pior aconteça. Acredito, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que com esta atitude posso abortar alguma ação violenta, mas alerto também, caros Senadores, para outras formas de linchamento que podem ser utilizadas contra nós. Aliás, isso já foi colocado em andamento por intermédio do jornal Folha de Rondônia, um folhetim arrendado de forma nebulosa pelo marqueteiro do Sr. Governador - a exemplo da série de empresas laranjas, objeto da denúncia do Ministério Público Federal acatada pelo STJ -, utilizado como veículo de difusão de impropérios e mentiras contra o PMDB, especialmente a minha pessoa.

Como assegurei no início...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - V. Exª terá mais dois minutos.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) - Como assegurei no início deste pronunciamento, evitei o que pude, mas infelizmente sou compelido a trazer a esta Casa um problema de ordem menor, infinitamente menor que os interesses de meu Estado e da população que tanto defendo no Congresso Nacional.

            O momento pelo qual passa Rondônia é da maior gravidade e exige ações políticas imediatas para conter o clima de terror implementado por Ivo Narciso Cassol. Ele sabe que o PMDB está unido e vai enfrentá-lo nas urnas, nos debates, nos logradouros públicos, porém apenas no campo político, no embate das idéias. E vamos vencê-lo. Em nosso Partido, nomes é que não faltam para a disputa, em especial o Senador Amir Lando, a Prefeita reeleita de Cacoal, Sueli Aragão, e o Prefeito de Cacoal, Melki Donadon.

Informei ao meu Partido que desta vez não quero ser candidato a Governador, apesar de o meu nome aparecer muito bem colocado em todas as pesquisas de opinião pública feitas recentemente. E não sou candidato a Governador, Sr. Presidente, somente porque isso não é da minha vontade, nem de minha família, e por entender que, nas hostes do PMDB, existem pessoas tão ou até mais qualificadas do que eu para a referida disputa. Não estou fugindo do embate político; pelo contrário, estarei coordenando a campanha do PMDB, somando com nossa população para derrotar o despreparado Ivo Cassol.

            Sua assessoria acredita que o candidato do PMDB sou eu. Esse é o real motivo do seu destempero e isso nos preocupa pelas razões que expomos à Nação.

(Interrupção do som.)

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) - Ainda tinha um aparte da Senadora Iris de Araújo. Se o senhor pudesse me dar mais dois minutos, eu poderia dar um aparte a S. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - Estão concedidos a V. Exª, para ouvirmos o aparte da Senadora Íris.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) - Muito obrigado.

Isso nos preocupa pelas razões que expomos à Nação: trata-se de um homem que detém em seu poder instrumentos poderosos de Estado e pode vir a utilizá-los de forma mais violenta, contra as pessoas que ousam contrapô-lo.

Continuarei atuando aqui, da mesma forma como sempre me comportei: sereno, tranqüilo e defendendo os pleitos que interessam ao Estado de Rondônia e a nossa população, inclusive aqueles a mim encaminhados pelo próprio Governo do Estado. Mas não vou mais evitar o confronto das idéias, dos debates e do contraditório. Caso contrário, minha presença nesta Casa não se justificará.

Lamento profundamente, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ser obrigado a tratar de temas eminentemente menores, num momento de tanta crise que assola a Nação, mas os fatos ocorridos por si só justificam este meu discurso de alerta e preocupação.

Concedo um aparte, com muito prazer, à nobre Senadora Iris de Araújo.

A Srª Iris de Araújo (PMDB - GO) - Nobre Senador, eu gostaria de solidarizar-me com V. Exª, porque essa angústia que demonstra a respeito do que acontece no seu Estado eu já ouvi em um pronunciamento anterior. Compartilho-a, pois, da mesma forma, sinto-me muitas vezes impedida ou de certa forma intimidada de colocar algumas questões que dizem respeito aos nossos respectivos Estados. Como V. Exª acabou de dizer, são questões menores num clima de questões maiores, por assim dizer. No entanto, nobre Senador, não podemos nos omitir, até por questões de conotação do espaço que ocupamos no Senado, pois elas dizem respeito à opinião pública, que deve ser esclarecida. Aproveitando o momento, eu gostaria de falar da minha preocupação com a notícia de que o Presidente da Iquego e ex-Prefeito de Goiânia foi preso numa operação da Polícia Federal, acusado de envolvimento com uma quadrilha que fraudava licitações. A atitude do Governador Marconi Perillo foi determinar o imediato afastamento dessa pessoa. Espero que isso seja para valer e que a imprensa noticie o fato, porque essa questão, que abrange todo o País, diz respeito a um comportamento rotineiro no Brasil, Senadores Sibá Machado e Valdir Raupp, e que, durante muito tempo, esteve, de uma forma ou de outra, camuflado pelo poder econômico de Governos estaduais. V. Exª age muito bem quando faz essa denúncia e aproveito a oportunidade para fazer essa minha colocação quanto a um acontecimento do meu Estado. Era o que tinha a dizer a V. Exª. Muito obrigada pela sua compreensão.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) - Muito obrigado, Sr. Presidente, pela generosidade.

Obrigado, Senadora Iris de Araújo, pelo aparte, que incorporo ao meu pronunciamento.

Espero, sinceramente, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não mais voltar à tribuna do Senado Federal para me defender dessas acusações levianas e infundadas, além das agressões que tenho sofrido por parte do Governador do meu Estado.

Muito obrigado.