Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre a matéria intitulada "Teoria da conspiração?", de autoria de Paulo Nogueira Batista Jr., publicada no jornal Folha de S. Paulo.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Reflexões sobre a matéria intitulada "Teoria da conspiração?", de autoria de Paulo Nogueira Batista Jr., publicada no jornal Folha de S. Paulo.
Publicação
Publicação no DSF de 26/08/2005 - Página 29033
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, CRISE, NATUREZA POLITICA, GOVERNO FEDERAL, ELOGIO, POLITICA EXTERNA, COMERCIO EXTERIOR, CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, PAIS, COMENTARIO, INEXISTENCIA, INTERESSE, BANCADA, OPOSIÇÃO, IMPEACHMENT, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, TENTATIVA, VITORIA, ELEIÇÃO, REDUÇÃO, CONFIANÇA, OPINIÃO PUBLICA, GOVERNO.
  • NECESSIDADE, REDUÇÃO, TAXAS, JUROS, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), INCENTIVO, CRESCIMENTO, INVESTIMENTO, ECONOMIA, OPORTUNIDADE, EMPREGO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), CONCESSÃO, ENTREVISTA, IMPRENSA, EXPLICAÇÃO PESSOAL, ESCLARECIMENTOS, ACUSAÇÃO, DEFESA, NECESSIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARECIMENTO, CONGRESSO NACIONAL, DIALOGO, CONGRESSISTA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos vivendo um período de reflexões importantes, principalmente por parte daqueles que são nossos amigos, que são amigos do Partido dos Trabalhadores, de pessoas que muito respeitam o Presidente Lula e que já colaboraram com Sua Excelência. Refiro-me ao economista Paulo Nogueira Batista Jr., que, hoje, na Folha de S.Paulo, escreveu uma matéria intitulada “Teoria da conspiração?”.

Diz Paulo Nogueira Batista Jr.:

Não costumo fazer autocitações, mas um leitor me enviou a seguinte passagem, que considerou profética, retirada de artigo publicado nesta coluna, em novembro de 2004, logo depois da derrota eleitoral de Marta Suplicy:

“Ilude-se (...) quem imagina que o atual Presidente da República será apoiado pelos centros nacionais e internacionais de poder em 2006. Lula foi aceito em 2002 porque não havia outro remédio. O próprio candidato da situação, José Serra, não era o nome ideal para assegurar a continuação da agenda econômica e internacional do período FHC. Em 2006, entretanto, as elites dispõem de mais de uma alternativa potencialmente competitiva para enfrentar Lula. E farão tudo para derrotá-lo e eleger algum nome do PSDB. Evidentemente, a operação será ainda maior do que a que destronou Marta em 2004” (“Nobreza natural”, Folha, 11 de novembro de 2004).

Teoria da conspiração? Permita-me, leitor, uma breve e acaciana observação sobre esse assunto. O poder econômico e político nem sempre é exercido de forma transparente. Freqüentemente, é mais eficaz operar de modo opaco. Nesses momentos, sempre que alguém tenta comentar ou desvendar manobras de bastidores, logo aparece uma legião de políticos, economistas e jornalistas, em atitude pseudo-sofisticada, a tentar ridicularizar supostas teorias conspiratórias.

Nunca fui simpatizante do governo Lula. Só consegui elogiar a condução das negociações comerciais externas (Alca, Mercosul - União Européia, acordos Sul-Sul, OMC). A política econômica, continuísta e acovardada, sempre me desagradou.

Sou testemunha de que Paulo Nogueira Batista Jr., muitas vezes, Senador Flexa Ribeiro, enalteceu a política externa, sobretudo as ações do Ministro Celso Amorim e as de todo o Itamaraty.

Prossegue Paulo Nogueira Batista Jr.:

E, no entanto, a bem da justiça, cabem algumas perguntas. O sistema político-eleitoral brasileiro é ou não é intrinsecamente corrupto? Algum governo brasileiro resistiria a uma investigação da envergadura da que está sendo feita no momento? Algum dos principais partidos políticos resistiria a uma investigação como essa?

Obviamente, nada disso desculpa os erros e crimes de integrantes do atual governo, do PT ou de outros partidos da base governista. E volto a escrever algo que já escrevi aqui (para indignação furiosa de vários lulistas): se aparecerem evidências claras e inapeláveis de envolvimento do Presidente Lula com crimes e irregularidades, quem se animará a ser contra o impeachment?

Em toda essa confusão, o grande objetivo dos setores dominantes das elites brasileiras e seus aliados no exterior é preservar a política econômico- financeira, isto é, blindar o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Não por acaso, o presidente da República reitera constantemente que a política econômica será mantida, custe o que custar. Lula quer ser poupado.

CPIs (ainda mais três!) são muito difíceis de controlar. Mas, se os donos do poder puderem, tentarão levar Lula, desgastado e enfraquecido, até o fim do seu mandato. Afinal, por que derrubariam um governo que é, agora mais do que nunca, basicamente inofensivo e não ameaça os seus interesses fundamentais? O impeachment não lhes interessa. Tanto mais que o vice-presidente da República, como se sabe, é um crítico vigoroso da atual política econômica.

A crise política já produziu os efeitos que eles poderiam desejar. A cada dia que passa, diminuem as chances de Lula se reeleger. Se ainda conseguir, chegará ao segundo mandato enquadrado e domesticado.

Mesmo assim, não tenha dúvida, leitor: tudo se fará para favorecer a eleição de um tucano confiável, claramente comprometido com a preservação da agenda econômica e capaz de executá-la com mais autenticidade e possivelmente mais competência.

Teoria da conspiração?”

Sr. Presidente, Senador Flexa Ribeiro, trago esse artigo à baila por considerar Paulo Nogueira Batista Jr. um dos mais sérios e capazes economistas brasileiros. Muitas vezes, as preocupações dele são no sentido de que pudéssemos caminhar na direção, por exemplo, da redução gradual das taxas juros. Demoram o Copom e o Banco Central a caminhar nessa direção. Parece que sempre estão vendo algo que estivesse ameaçando a estabilidade de preços. O Copom deveria perceber que, se houvesse uma diminuição gradual nas taxas de juros, provavelmente haveria um estímulo maior aos investimentos, um aumento na capacidade produtiva e um aumento na produção de bens e serviços consistente com o aumento das oportunidades de emprego e que, sobretudo, haveria a compatibilidade dos objetivos de estabilidade de preços com crescimento maior da economia e do nível de emprego, obviamente com mais eficácia na distribuição da renda e da riqueza, buscando a erradicação da miséria, da pobreza absoluta e da fome.

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - Senador Eduardo Suplicy, V. Exª terá mais dois minutos para terminar o seu pronunciamento.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - É importante registrar também que quando o Ministro Palocci resolveu tomar uma atitude diferente de muitos que estavam no Governo e no PT - abriu-se inteiramente para dialogar com a imprensa, no último domingo -, S. Exª deu um passo muito positivo, e nisso foi apoiado pelo Presidente Lula.

É possível que haja necessidade de o Ministro Antonio Palocci voltar a prestar esclarecimentos, com a mesma desenvoltura que o fez no domingo último, em função do depoimento que hoje está prestando Rogério Buratti. Mas o que fica muito claro é que o exemplo de Antonio Palocci pode ser seguido por outras pessoas no Governo, em especial, Senador Flexa Ribeiro, pelo próprio Presidente da República. Aquela atitude de explicar, de responder a quaisquer perguntas, às inúmeras questões apresentadas, é que impressionou muito positivamente.

Estou no aguardo, inclusive, da resposta do Presidente Lula à sugestão que fiz. Quem sabe pode Sua Excelência tomar a iniciativa inédita de comparecer...

(Interrupção de som.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... ao plenário do Congresso Nacional para dialogar com Senadores e Deputados e permitir aos Líderes, por exemplo, a formulação de questões e observações, a fim de que responda da forma mais aberta e franca possível.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/08/2005 - Página 29033