Discurso durante a 144ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaca equívocos cometidos pelo Presidente Lula, ao comparar-se com os ex-Presidentes Getúlio Vargas, Jânio Quadros, João Goulart e Juscelino Kubitschek. (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Destaca equívocos cometidos pelo Presidente Lula, ao comparar-se com os ex-Presidentes Getúlio Vargas, Jânio Quadros, João Goulart e Juscelino Kubitschek. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 27/08/2005 - Página 29144
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • REITERAÇÃO, CRITICA, DISCURSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCONHECIMENTO, HISTORIA, BRASIL, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGLIGENCIA, ESCLARECIMENTOS, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, ASSESSOR, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), GRAVIDADE, DENUNCIA, PAGAMENTO, PROPINA, PREFEITURA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DOAÇÃO, JOGO DE AZAR, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PRESIDENTE DA REPUBLICA, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, MINISTRO.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pela Liderança do PSDB. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para que não prevaleçam equívocos históricos, uma péssima lição, sobretudo aos estudiosos, vamos nos reportar, mais uma vez, ao discurso do Presidente Lula no dia de ontem.

Na tentativa de se comparar com personagens da história política brasileira, o Presidente Lula cometeu um equívoco que, claro, é fruto da sua falta de intimidade com o tema.

Esse trecho do discurso mais do que desconhecimento histórico é uma tentativa de se apresentar como uma vítima de pretensos e até fantasiosos complôs, golpismos e forças ocultas, de que, acredita Lula, teriam sido alvos os ex-Presidentes que mencionou em sua fala de ontem.

Ao se referir a João Goulart, Lula disse que ele “foi obrigado a renunciar”. Equívoco do Presidente - e já o apontamos aqui. Jango foi deposto pelo golpe militar em 1964. Jamais renunciou ao cargo. O seu cargo foi declarado vago no dia 1º de abril de 1964, antes mesmo que ele seguisse para o exílio.

Antes, Lula havia se referido a Getúlio Vargas, cujo suicídio completou 51 anos na quarta-feira. Deixou de lembrar que a crise que levou Vargas a se matar não foi invenção dos seus adversários, mas fabricada pelo próprio governo e seus acólitos. Na verdade se rememorou a morte de Getúlio.

Em relação a Juscelino Kubitschek, a quem Lula disse ter sido chamado de ladrão por toda a imprensa, é bom destacar: o único jornal diário que o chamou de ladrão foi o semanário Maquis, criado pelo então Deputado Amaral Netto e, eventualmente, a Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda. Não toda a imprensa brasileira, como referiu o Presidente Lula.

Quando se referiu a Jânio Quadros, Lula usou a expressão “inimigo oculto” e “forças ocultas” para justificar a renúncia. Na verdade, no texto-renúncia, Jânio escreveu.: “Sinto-me (...) esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim (...)”

Faltou-se referir ao Presidente Collor, que foi impedido pelo Congresso Nacional. Naturalmente, o Presidente Lula demonstra que a palavra impeachment o incomoda e muito.

O problema, alguém deveria dizer ao Presidente, não é semântico nem histórico. O problema é contemporâneo, é de agora.

A situação é mesmo inusitada. Lula não é fustigado apenas pelas oposições, como pretende impor como verdade. Ele é fustigado, sim, pelas oposições, a quem cabe investigar e fiscalizar o Governo, denunciando os seus erros, mas o é também pelo seu próprio Partido. Veja-se, por exemplo, que nem mesmo no plenário do Senado Federal o Presidente é defendido pelos petistas de forma rotineira. O Senador Paulo Paim, hoje, foi uma exceção à regra: é um petista solitário, no plenário do Senado, na manhã de sexta-feira, ensaiando uma defesa até constrangida do Presidente da República e do seu Governo.

Na verdade, a regra é fugir do debate quando se trata de discutir, sobretudo, a instalação desse esquema de corrupção implantado no País.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, houve um depoimento importante na CPMI dos Bingos. O Sr. Rogério Buratti confirmou as denúncias feitas ao Ministério Público em São Paulo. São denúncias gravíssimas, que dizem respeito não apenas ao pagamento de propinas às Prefeituras, mas também às doações da área de jogos, em São Paulo e no Rio de Janeiro, para a campanha do Presidente da República. O Sr. Buratti foi enfático: as doações das casas de bingo de São Paulo, da ordem de R$1 milhão, foram destinadas diretamente à campanha do Presidente Lula.

Relativamente às conexões de Buratti com o Ministro Palocci, há evidências indesmentíveis. Os indícios são comprometedores e, a meu ver, é hora de se convocar o Ministro Palocci para um depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. É hora de o Ministro eliminar dúvidas e acabar com suspeitas, porque o responsável pela gestão econômica não pode permanecer no Governo sob suspeitas. Não há como se admitir que aquele que segura a chave do cofre da Nação nas mãos permaneça no exercício da função sob gravíssimas suspeitas como as que pesam contra ele, assacadas por um amigo de tantos anos.

Ficou evidente também, Sr. Presidente, faço questão de registrar, que houve, sim, um entendimento, por interposta pessoa, entre o Ministro Palocci e o Sr. Buratti nos últimos dias. Há informações seguras de que o Sr. Juscelino, chefe de gabinete do Ministro Palocci, esteve em Ribeirão Preto, no último sábado, com advogados, mantendo entendimentos que precederam a entrevista coletiva do Ministro Palocci no domingo. Nesta terça-feira há também informações seguras de que o Sr. Juscelino Dourado esteve em São Paulo, reunindo-se e entendendo-se com o Sr. Rogério Buratti a respeito do seu depoimento, que seria na quarta mas foi transferido, exatamente em função desse entendimento, para quinta-feira.

Houve, portanto, preservação parcial da imagem do Ministro no depoimento de ontem, razão direta, certamente, do suposto entendimento havido nos últimos dias.

No entanto, se Buratti não avançou, também não recuou. Manteve-se irredutível, reafirmando as denúncias feitas ao Ministério Público de São Paulo, as quais são suficientes, sim, para a convocação do Ministro Palocci, a fim de que possa trazer esclarecimentos.

É bom destacar: quem exige investigação cabal, definitiva, esclarecimento eficiente não quer, de forma alguma, comprometer a economia, ao contrário. Repito que investigar e denunciar corrupção não compromete a economia. O que a compromete, verdadeiramente, é a corrupção. E o Ministro Palocci já se dispôs a comparecer para prestar esclarecimentos definitivos.

Certamente, a presença dele será esclarecedora, sim, eliminará dúvidas e o preservará, se realmente imune a todas essas denúncias, para continuar no exercício da função


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/08/2005 - Página 29144