Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Concordância com o discurso da Senadora Heloísa Helena, aditando que, em conversas com o povo, tem recebido manifestações no mesmo sentido. Comentários à matéria publicada no jornal O Estado de S.Paulo, do último domingo, com o título "PPP demora para sair do papel".

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.:
  • Concordância com o discurso da Senadora Heloísa Helena, aditando que, em conversas com o povo, tem recebido manifestações no mesmo sentido. Comentários à matéria publicada no jornal O Estado de S.Paulo, do último domingo, com o título "PPP demora para sair do papel".
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/2005 - Página 29234
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.
Indexação
  • COMENTARIO, VIAGEM, ORADOR, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), CONHECIMENTO, FRUSTRAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, RISCOS, NEGOCIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, ACORDO, IMPUNIDADE.
  • REGISTRO, ATUAÇÃO, BANCADA, GOVERNO, OBSTACULO, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), ESPECIFICAÇÃO, CONVOCAÇÃO, DEPOIMENTO, PRESIDENTE, BANCO ESTRANGEIRO, COMPROMISSO, ORADOR, ISENÇÃO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, GOVERNO FEDERAL, DEMORA, IMPLEMENTAÇÃO, PROGRAMA, PARCERIA, SETOR PUBLICO, SETOR PRIVADO, ATRASO, BUROCRACIA, REGULAMENTAÇÃO, PREJUIZO, POLITICA DE DESENVOLVIMENTO, ESPECIFICAÇÃO, RODOVIA, ESTADO DO PIAUI (PI), LIGAÇÃO, PORTO, ESTADO DO CEARA (CE), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), REPUDIO, AUSENCIA, PROJETO, APLICAÇÃO DE RECURSOS, GOVERNO BRASILEIRO, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), NECESSIDADE, APROVAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, REMANEJAMENTO, ORÇAMENTO, CONCLAMAÇÃO, ATENÇÃO, CONGRESSISTA.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, antes de entrar no assunto que me traz aqui, quero dizer que concordo com o pronunciamento feito pela Senadora Heloísa Helena.

Neste fim de semana, visitei duas regiões completamente distintas no Brasil. Na sexta-feira, em missão desta Casa, estive em Florianópolis, participando, como Relator, da discussão sobre a convenção-quadro que define e discute a questão do plantio de tabaco no Brasil. E, no sábado, participei, em caráter pessoal, de um leilão de caprinos e ovinos na cidade de Gravatá, no interior de Pernambuco. E, nas duas cidades, havia um sentimento generalizado - e aqui, Senador Efraim Morais, abro um parêntese para parabenizar a sempre crescente audiência da nossa TV Senado - de que estamos aqui articulando, urdindo um “acordão” para livrar cabeças ou para deixar essa apuração por menos. Esse sentimento me assustou porque, Senadora Heloísa Helena, várias e várias pessoas me abordaram, mostrando uma frustração antecipada do que estaria por acontecer nesta Casa. Tive, em todas as ocasiões, a oportunidade de desfazer esse sentimento, dando ênfase de que é impraticável que isso ocorra, porque a sociedade brasileira não aceitaria fatos dessa natureza.

É verdade que o Governo tem pressionado de maneira insistente para que a CPI não convoque, Senadora Heloísa Helena, algumas pessoas, e tem conseguido, porque tem maioria, algumas manobras que não engrandecem a Comissão. Por exemplo, colocar o Sr. Gushiken para depor no dia 6 de setembro, véspera de um feriado. É uma tentativa de se evitar, primeiro, que o depoimento aconteça pela falta de número; segundo, que seja um depoimento em que esteja a Comissão repleta de seus participantes, para que possam de maneira tranqüila e segura pedir os esclarecimentos necessários para que se apurem esses fatos. Há também a pressão que o Governo vem fazendo para que não se cumpra a convocação na Comissão do Presidente do Citibank Brasil. É outro absurdo. Ele precisa ser ouvido, sim. Aliás, o PT perderia toda sua autoridade ao se configurar de maneira clara esse trabalho, porque, ao longo dos anos em que foi oposição, quem mais acusava esse banco americano era o PT, pelo fato de ser o maior credor brasileiro, de ser um banco que estrangulava a nossa economia, as nossas finanças, e que trabalhávamos para aquele conglomerado financeiro americano.

De forma que penso que nos agacharemos a partir do momento em que haja uma concordância de quem quer que seja na CPI para evitar essa convocação. Aliás, concordo com V. Exª: o nosso problema não é quantidade de convocados, o nosso problema é exatamente chegarmos aos fatos. Se temos de convocar pessoas com participação importante nesses episódios, por que não convocá-las? O que desgasta uma CPI não é a convocação de pessoas, mas a embromação, a perda de tempo, são as questões de ordem propositais exatamente para procrastinar o trabalho. Quem vive o dia-a-dia da CPI sabe muito bem distinguir quando uma questão de ordem tem o objetivo de esclarecer fatos ou colocar ordem nos trabalhos e quando ela tem o sentido de procrastinar.

Daí por que penso que temos que ter cuidado com relação a esse sentimento de frustração que vem tomando conta da sociedade brasileira e não concordar, por nenhuma hipótese e em nenhuma circunstância, que tal fato possa vir a acontecer.

Mas o que realmente me trouxe a esta tribuna foi a matéria de O Estado de S.Paulo de domingo, que diz: “PPP demora para sair do papel”. Nós estamos quase no terceiro ano do Governo do Presidente Lula, que tinha como carro-chefe exatamente alavancar o progresso brasileiro com a participação da iniciativa privada, e esse fato, Sr. Presidente, alardeado, prometido, cantado em prosa e verso, continua parado na burocracia. O fundo garantidor não foi definido ainda. Os investidores internacionais começam a perder a credibilidade na intenção real do Governo de dar prosseguimento a esse investimento.

Portanto, penso que é chegado o momento de Sua Excelência, o Presidente da República, usar sua autoridade para alertar contra a burocracia que cerca a sua equipe e fazer com que essas obras deslanchem. Há recursos das PPPs destinados para várias partes do Brasil, e já existe, mais ou menos, a formatação de financiamento de investimentos em vários desses projetos. É preciso apenas uma decisão de Governo, para que a largada seja dada.

Para dar apenas um exemplo, há o início da construção da ferrovia Transnordestina, que vai ligar o Piauí, partindo de Eliseu Martins, ao porto de Pecém, no Ceará, e ao porto de Suape, em Pernambuco, fazendo com que o escoamento da soja e dos grãos do Estado do Piauí seja fácil, barateando o custo e agilizando essas remessas.

Em meu Estado, teremos a oportunidade de beneficiar a produção de níquel, de Capitão Gervásio Oliveira; de mármore, da região de São Raimundo Nonato; e de outros produtos que compõem a nossa riqueza, de forma que é preciso que essas PPPs sejam iniciadas rapidamente.

Por fim, o jornal cita a questão da PPI, acordo internacional feito entre o Governo brasileiro e o FMI. No primeiro ano, o ano em que estamos, 2005, seriam destinados R$2,9 bilhões. Mas de algumas das estradas, das obras escolhidas sequer existe projeto. O Governo decidiu a toque de caixa, sem consultar os órgãos técnicos - a decisão partiu do Gabinete Civil - e destinou recursos que não podem sequer ser aplicados. Será lastimável, uma pena para o País a perda de dinheiro para recuperação de estradas, que é o segundo ponto estranho na destinação desse projeto. Noventa por cento são para recuperar estrada, a famosa operação tapa-buraco. De acordo com o projeto, verifica-se claramente que houve uma intervenção prestigiada do empreiteiro em detrimento da necessidade do Brasil. Se se for ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ao Ministério dos Transportes, ao Ministério do Turismo, que são importantes vetores do processo de desenvolvimento do Brasil, verificar-se-á que eles não foram consultados.

O projeto da eclusa de Tucuruí, por cuja aprovação a Bancada do Pará lutou tão bravamente no Senado, também não está concluído.

Neste ano, só espero que a burocracia brasileira não se junte às empreiteiras e, para cumprir as metas, não deixe para definições de última hora um volume de obras que não cumprirá o interesse do desenvolvimento do Brasil. É muito estranho e esquisito: estamos entrando no mês de setembro, e as substituições ainda não foram feitas.

Srªs e Srs. Senadores, faço um alerta sobre a possibilidade de mandarem, por meio de mecanismos, sem aprovação do Congresso, essas modificações. Elas têm de passar pela Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização e por votação no Congresso Nacional. A Lei Orçamentária, depois da Constituição brasileira, é a mais importante que temos. Não podemos permitir que modificações sejam feitas por intermédio de decreto, desrespeitando-se o que há de mais importante nas decisões das duas Casas do Congresso.

É muito esquisito que, a esta altura do ano, não tenha havido, ainda, por parte do Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão nenhum projeto de remanejamento desses recursos.

Quero fazer um alerta para as Bancadas que tiveram, na primeira etapa desse projeto, recursos destinados a seus Estados: primeiro, para que não permitam a perda de recursos e o seu remanejamento para outros Estados; segundo, para que olhem atentamente se esses recursos, principalmente no que diz respeito a estradas, são realmente prioridade para o escoamento da produção, para o fomento do turismo, em cada um dos Estados da Federação.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eram esses os dois assuntos que, nesta segunda-feira, gostaria de trazer à tribuna do Senado. Tenho certeza, Senadora Heloísa Helena, de que haveremos de nos esforçar - juntamente com alguns que fazem parte da Base do Governo, mas que não concordam com essas manobras que estão sendo feitas -, para que realizemos na CPI um trabalho isento, que não seja - como vem sendo ou como estamos tentando evitar que seja - de patrulhamento partidário, mas sim um trabalho para defender os interesses do Brasil. E defender os interesses do Brasil neste momento é, mais do que nunca, esclarecer realmente os envolvidos nas corrupções de que o País todo tomou conhecimento e com as quais está estarrecido. É preciso determinação de todos nós para apurar os fatos, punir os culpados e tirar dos inocentes essa mancha que carregam momentaneamente, no correr das investigações.

O trabalho da CPMI é esse, duro. Mas, para que a Nação compreenda sua dureza, é preciso ser justo; não se pode cometer injustiça, nem deixar impunes os culpados.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/2005 - Página 29234