Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões acerca da decisão do Sr. Tarso Genro de desistir da candidatura à presidência do Partido dos Trabalhadores, propondo que o Deputado José Dirceu faça o mesmo.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Reflexões acerca da decisão do Sr. Tarso Genro de desistir da candidatura à presidência do Partido dos Trabalhadores, propondo que o Deputado José Dirceu faça o mesmo.
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/2005 - Página 29240
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, PROCESSO, ELEIÇÃO DIRETA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CONCLAMAÇÃO, ASSOCIADO, PARTICIPAÇÃO.
  • ANALISE, POLITICA PARTIDARIA, FRUSTRAÇÃO, MEMBROS, CANCELAMENTO, FILIAÇÃO PARTIDARIA, OPINIÃO, ORADOR, BUSCA, CORREÇÃO, ERRO, DEFESA, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, PROVIDENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • RECOMENDAÇÃO, JOSE DIRCEU, DEPUTADO FEDERAL, SAIDA, CHAPA, CANDIDATURA, COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL, SUGESTÃO, DEBATE, CANDIDATO, PRESIDENTE, INTERINO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente João Batista Motta, Srªs e Srs. Senadores, Senador Garibaldi Alves Filho, quero aqui refletir sobre decisão que para nós, do Partido dos Trabalhadores, é de grande importância: a que tomou nesta tarde o Presidente interino Tarso Genro, ao desistir de ser candidato à Presidência do nosso Partido nas eleições do próximo 18 de setembro.

Que eu saiba, o Partido dos Trabalhadores é o único dos partidos brasileiros que promove a eleição direta de seu Presidente com a participação de todos os seus filiados. Hoje, no Brasil, há aproximadamente 800 mil filiados ao Partido dos Trabalhadores, pessoas que, portanto, têm condições de votar em 18 de setembro. É importante que façam valer o seu direito e que cumpram o seu dever. Trata-se de voto voluntário, não há a obrigação em nossos estatutos de, efetivamente, comparecer, não é por lei, mas é uma responsabilidade e um direito de todos os filiados.

Queria recordar alguns fatos recentes que dizem respeito ao PT. O Campo Majoritário tinha como seu candidato o ex-Presidente José Genoíno, que, há pouco mais de um mês, resolveu deixar de ser o Presidente e também renunciou à candidatura para as eleições de 18 de setembro. Atendendo uma solicitação do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Tarso Genro, que era Ministro da Educação, deixou de ser Ministro para assumir a Presidência do Partido dos Trabalhadores. Isso aconteceu em circunstâncias tão difíceis como as que envolveram a saída de Delúbio Soares como Diretor-Tesoureiro, de Silvio Pereira como Secretário-Geral e de Marcelo Sereno como Secretário de Comunicação. Para assumir esses postos, deixaram suas atribuições no Governo do Presidente Lula e vieram assumir, respectivamente, a Presidência, a Diretoria de Finanças, a Secretaria-Geral e a Secretaria de Comunicação as seguintes autoridades: Tarso Genro; José Pimentel, Deputado Federal; Ricardo Berzoini e o ex-Ministro da Saúde e Deputado Humberto Costa. Essa decisão envolve importância tão grande que foi tomada pelo próprio Presidente Lula, que fundou o Partido dos Trabalhadores e que é Presidente de honra da agremiação que constitui o principal suporte de apoio ao seu Governo.

Surgiram algumas diferenças de opinião entre o Presidente interino Tarso Genro e o Deputado José Dirceu, que, como parte de sua estratégia de defesa junto ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e, eventualmente, perante as Comissões Parlamentares de Inquérito - S. Exª já disse no Conselho de Ética que tem toda a disposição de comparecer às CPIs -, decidiu permanecer na chapa do Campo Majoritário.

Eu vinha recomendando a Tarso Genro que dialogasse com os demais candidatos à Presidência do Partido dos Trabalhadores, como Plínio de Arruda Sampaio, Walter Pomar, Raul Pont, Maria do Rosário e Marcos Socol, enfim, os que estão à frente das diversas chapas, representando as tendências e as organizações do Partido dos Trabalhadores. Ele vinha se empenhando para ter tal diálogo, mas ainda não havia chegado a um entendimento que pudesse conferir um passo significativo, quem sabe, para que o Partido superasse toda a problemática que estamos vivendo hoje.

Gostaria também de fazer uma reflexão sobre o Deputado José Dirceu. Gostaria até de falar pessoalmente com S. Exª - vou procurá-lo, já o fiz durante o dia -, para transmitir-lhe algo que vou tornar público nesta minha fala no Senado Federal.

Sei que o Deputado José Dirceu tem afirmado que algumas coisas precisariam ser resolvidas internamente no Partido dos Trabalhadores, mas há certos aspectos de nossas decisões que, agora, envolvem a transparência de nossos atos e, inclusive, o conhecimento da opinião pública.

Sr. Presidente, trago esta minha reflexão à tribuna do Senado Federal tendo em conta que, por exemplo, da tribuna da Câmara dos Deputados, o Deputado André Costa, do PT do Rio de Janeiro, anunciou hoje que está saindo do Partido dos Trabalhadores em função de seu desencanto com algumas das medidas, estratégias e metas do Governo do Presidente Lula.

Na Fiesp, em São Paulo, o Senador Cristovam Buarque anunciou que muito provavelmente sairá do Partido dos Trabalhadores, por considerar que o Governo do Presidente Lula não atendeu a certas metas ou programas que S. Exª considera importantes, até mais importantes do que a própria questão ética que preocupa a tantos filiados e membros do Partido. Disse S. Exª que falta ao Governo do Presidente Lula realizar algumas metas programáticas que deveriam ser buscadas.

Sinto-me com a responsabilidade - até por ser membro fundador do Partido dos Trabalhadores - de permanecer no PT e de dizer a esses meus companheiros, como tenho dito ao Senador Cristovam Buarque, que considero responsabilidade nossa procurar corrigir os erros cometidos pela nossa organização. Somos uma organização constituída de seres humanos que podem a qualquer momento cometer erros - alguns graves -, e, quando eles são cometidos, temos a responsabilidade de corrigi-los, de superá-los.

Qual é a observação que gostaria de fazer ao Deputado José Dirceu? Nas circunstâncias presentes, tendo em conta, inclusive, a defesa e o empenho de S. Exª perante o Conselho de Ética, as comissões de sindicância, as CPIs e perante o próprio Partido, no sentido de esclarecer inteiramente todos os episódios que hoje são objeto da preocupação de nós, petistas, e da opinião pública, quem sabe possa S. Exª ter a atitude generosa e companheira de dizer que não participará da chapa do Campo Majoritário.

Falo isso como uma das pessoas que estava na chapa do Campo Majoritário, mas fui comunicado pela coordenação que não fazia mais parte em função de ter assinado o requerimento da CPMI. Depois, todo o Partido considerou importante apoiar essa Comissão e todos os treze Senadores, logo após as entrevistas do Deputado Roberto Jefferson, consideraram imprescindível apoiá-la para a apuração dos fatos.

Eu, que não estou na chapa do Campo Majoritário ou em qualquer outra, recomendo ao Deputado José Dirceu abrir mão.

Proponho àqueles que são candidatos à Presidência do PT que dialoguem, nesta semana, com o Presidente interino, Tarso Genro, para que, no próximo sábado, dia 3, na reunião do Diretório Nacional, em Brasília, cheguemos a uma solução que possa ser referendada pelos 800 mil filiados ao Partido dos Trabalhadores que comparecerão às urnas. Portanto, Senador Garibaldi Alves Filho, fica aqui a minha sugestão.

Essa observação poderia ser feita aos meus companheiros do Partido dos Trabalhadores, se fosse hoje a reunião do Diretório Nacional. Trata-se de uma questão que vai além do Partido dos Trabalhadores, pois tornou-se de interesse nacional. Assisti, há pouco, à entrevista do ex-Ministro e Presidente Interino do PT, Tarso Genro, para toda a Nação.

Quero também registrar que o Presidente Lula solicitou hoje ao Ministro Márcio Thomaz Bastos que faça um relatório sobre tudo aquilo que já foi apurado. Creio que é um passo importante, inclusive para que o Presidente se certifique mais de todos os fatos e, quem sabe, possa fazer um pronunciamento à Nação. Sugiro, inclusive, que seja realizado aqui mesmo, em diálogo com o Congresso Nacional. Sua Excelência poderá dar sua contribuição para a verdade que deseja ver apurada, esclarecida. Vindo à tona toda a verdade, daremos um enorme passo para resolver grande parte dos problemas que foram registrados.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/2005 - Página 29240