Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lançamento, na Câmara dos Deputados, do livro de autoria do Dr. Paulo Affonso Martins de Oliveira, contando depoimento prestado ao jornalista Tarcísio Holanda, intitulado "O Congresso em meio século".

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Lançamento, na Câmara dos Deputados, do livro de autoria do Dr. Paulo Affonso Martins de Oliveira, contando depoimento prestado ao jornalista Tarcísio Holanda, intitulado "O Congresso em meio século".
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/2005 - Página 29244
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, LANÇAMENTO, LIVRO, AUTORIA, EX SERVIDOR, SECRETARIO GERAL, MESA DIRETORA, CAMARA DOS DEPUTADOS, EX MINISTRO, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), ADVOGADO, DEPOIMENTO, HISTORIA, CONGRESSO NACIONAL, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, MEMORIA NACIONAL.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador João Batista Motta; Srªs e Srs. Senadores, foi lançado, em cerimônia realizada no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, na quarta-feira da semana passada, o livro O Congresso em meio século (Editora Plenarium), contendo o depoimento prestado pelo Dr. Paulo Affonso Martins de Oliveira ao jornalista Tarcísio Holanda, um dos decanos da imprensa brasileira.

Sr. Presidente, trata-se de excelente contribuição à memória nacional, especialmente da vida parlamentar da última metade do século passado, pois sabemos que a memória tem sede na alma, como disse, certa feita, Santo Agostinho e, na medida em que preservamos a nossa memória, estamos enriquecendo a história brasileira.

O Dr. Paulo Affonso faleceu em meados deste ano e foi durante 42 anos funcionário da Câmara dos Deputados, dos quais 23 no exercício da privilegiada e estratégica função de Secretário-Geral da Mesa. Exerceu, posteriormente, as funções de Ministro do Tribunal de Contas da União e, após a sua aposentadoria, desempenhou atividades advocatícias em Brasília, em escritório integrado pelos também ex-Ministros Walter Costa Porto (TSE) e José Carlos da Fonseca (TST), este, por sinal, Deputado em várias legislaturas e conterrâneo de V. Exª, Sr Presidente.

O SR. PRESIDENTE (João Batista Motta. PMDB - SE) - Nobre Senador Marco Maciel, estou interrompendo neste momento o seu pronunciamento para prorrogar a sessão por mais seis minutos, para que V. Exª possa concluir o seu discurso.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE) - Agradeço, Sr. Presidente, o gesto de V. Exª.

É de se notar que Paulo Affonso secretariou nada menos que 13 Presidentes da Câmara dos Deputados. De Bilac Pinto, em 1965, a Ulysses Guimarães, em 1989, a mim inclusive, uma vez que tive a honra de dirigir a Câmara dos Deputados no período de 1977-1979. Participou da tramitação de três Constituições e de suas respectivas emendas (1946, da Constituição de 1967 com a Emenda de 1969 e, finalmente, da Constituição de 1988) e foi personalidade ativa, conquanto muitas vezes não visível, de graves crises institucionais, como a renúncia de Jânio Quadros e a deposição de João Goulart, até a reaquisição integral do Estado de Direito, por meio da Carta de 1988, produto de pacto político que tornou possível a eleição da chapa Tancredo Neves - José Sarney e prescreveu a convocação da Constituinte.

Durante muito tempo, confessa o autor, tergiversou em tornar públicos fatos e conversações de que tomara conhecimento em razão do ofício, mas rendeu-se, afinal, às instâncias de amigos, especialmente do arguto e competente Tarcísio Holanda, já referido, e dos igualmente jornalistas Rubem Azevedo Lima, escritor e historiador, e Clóvis Sena, poeta e cinéfilo.

O Dr. Paulo Affonso revela fatos e tece valiosos comentários a respeito de tudo quanto assistira e participara. Disse ele:

Muitas vezes, indagava-me se teria o direito de revelar fatos de que tomei conhecimento e dos quais participei em razão de ofício, de um lado, e de outro, graças à honrosa confiança que em mim depositaram aqueles com os quais tive o privilégio de trabalhar. Não se trata, portanto, de livro de memórias, mas do testemunho de alguém que viveu intensamente período político de grande relevância para a compreensão da história política contemporânea.

A maioria dos políticos, Sr. Presidente, mormente aqueles que exerceram mandato de Deputado Federal ou Senador, tiveram a oportunidade de dele haurir lições de vida pública, ouvir sua interpretação dos textos constitucionais e do Regimento da Câmara dos Deputados e do Congresso Nacional. Ademais, mercê de seus recursos mnemônicos, oferecia sugestões de como superar crises e impasses, alguns de natureza institucional, com base nos exemplos do passado. O seu testemunho era valioso por ser uma pessoa de elevado conceito, reputação inatacável e excelente formação intelectual. Enfim, um cidadão republicano com notável “instinto de nacionalidade”, a que se referia Machado de Assis, assíduo freqüentador das sessões do Senado no tempo do Segundo Reinado.

Faço este registro, Sr. Presidente, assinalando o fato de o Dr. Paulo Affonso não haver disputado eleições ou sequer se filiado a partido político. Isso, contudo, não nos deve deixar de salientar a sua intuição política e a consciência da importância das instituições representativas, a ponto de lapidarmente afirmar: “Congresso e democracia não vivem um sem o outro”.

Concluo, Sr. Presidente, lembrando a devoção cívica que ele possuía pelo Congresso Nacional, no qual conviveu a maior parte do tempo de sua vida. Ele a expressa, entre outros trechos do livro, ao transcrever excerto de conferência do sempre lembrado João Mangabeira:

Não se deve maldizer o Poder Legislativo, tão exposto a censuras injustas e calúnias imerecidas. Ele é o mais popular dos poderes; é o único que representa o povo em todas as suas correntes de opinião, em todos os seus aspectos de vida. O Poder Legislativo deve ser amado pelo que faz e, sobretudo, pelo mal que evita ser feito.

Desejo, pois, Sr. Presidente, com este pronunciamento, igualmente homenagear todos aqueles que, nesta Casa e na Câmara dos Deputados, exercitaram ou exercitam, de forma competente e proba, o relevante ofício de Secretário-Geral das Mesas, função imprescindível ao andamento das atividades legislativas.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/2005 - Página 29244