Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à Revista Veja devido às matérias que vem publicando durante a crise política do país.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Críticas à Revista Veja devido às matérias que vem publicando durante a crise política do país.
Publicação
Publicação no DSF de 31/08/2005 - Página 29285
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • CONTINUAÇÃO, DISCURSO, CRITICA, ATUAÇÃO, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), FALTA, ETICA, EXPLORAÇÃO, CRISE, POLITICA NACIONAL, DETALHAMENTO, ARTIGO DE IMPRENSA, MA-FE, ALTERAÇÃO, FATO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, PREJUIZO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, na semana passada fiz uma fala com relação a algumas posturas da revista Veja.

Hoje, volto ao assunto porque, quando tratei do tema, o tempo foi bastante exíguo e só iniciei o meu discurso, que vou continuar hoje.

Estes tempos de crise têm propiciado a ampliação do interesse dos cidadãos brasileiros sobre as práticas e os costumes da política. Neste sentido, a atual crise nos presta uma contribuição, porque é um momento de aprendizado para o povo brasileiro, em geral, para a nação petista, em particular, e para tantos quantos lutam pela retidão na coisa pública.

Só que alguns, na afoiteza de se valer da crise para tentar desacreditar o Governo Lula, só conseguem demonstrar o quanto são oportunistas.

Refiro-me, diretamente, à revista Veja, publicação da Editora Abril, que, semana após semana, vem-se desacreditando aos olhos de tantos quantos têm o mínimo de compostura neste País.

Se existe uma crise que precisa ser esclarecida, ela precisa ser esclarecida com responsabilidade. São muitos os jornalistas e os veículos que atuam nessa linha. Está aí a nossa TV Senado que não me deixa mentir, realizando a cobertura das CPIs de forma exemplar. Mas a prática cotidiana da Veja só nos dá demonstração de leviandade, de um jornalismo comprometido com interesses sórdidos.

Já tive oportunidade de comentar o episódio Veja-Buratti-Palocci, em que as pretensas denúncias alinhavadas contra o Ministro da Fazenda desmancharam-se no ar mal a revista chegou nas bancas e tão logo o Ministro Palocci recebeu a imprensa, para a histórica coletiva no domingo, dia 14 de agosto.

Hoje, apelando para a paciência dos Srs. Senadores e das Srªs Senadoras, eu gostaria de comentar mais um malfeito da Veja. Para tanto, vou citar aqui uma história retratada, com riqueza de detalhes, no Observatório da Imprensa e mais diretamente no blog do jornalista Alceu Nader - um jornalista que já foi repórter da Veja, que já foi editor assistente da Veja, que já foi correspondente da Veja em Buenos Aires e que nos conta uma história chocante, que mostra como o oportunismo mais barato tomou conta da redação da revista Veja.

Os donos da Editora Abril, se tiverem o mínimo de espírito público, haverão de tomar sérias providências para que a Veja passe por uma mudança de rumo, porque histórias como essa que vou lhes contar só confirmam aquela frase que repeti aqui, na semana passada, de autoria do jornalista Luis Weiss, segundo a qual a Veja pratica hoje um jornalismo de esgoto.

Vamos à história, na qual a pessoa atingida é uma garota gaúcha, estudante do segundo ano de uma escola técnica de Porto Alegre, chamada Hannah Beineke.

A garota Hannah Beineke, no dia 4 de agosto, animou-se para participar da primeira passeata de sua vida, uma manifestação estudantil que tomou conta das ruas de Porto Alegre e que tinha como palavra de ordem “Com Lula, contra a corrupção”. Entendam bem: com, com Lula, contra a corrupção.

Hannah com milhares de colegas saíram às ruas em defesa de Lula e em combate contra a corrupção. Mas, quando foi ler a edição do dia 16 de Veja, o que encontrou lá foi a sua foto, publicada naquela edição que tinha na capa o nome do Lula escrito com os tais dos dois eles de Fernando Collor, trazendo debaixo da foto de Hannah Beineke a seguinte legenda: “Os estudantes se rebelam contra a corrupção no Governo, promovem manifestações e pedem a saída do Presidente. Na semana passada, neocaras-pintadas de verde-e-amarelo começaram a se manifestar contra o Governo Lula.”

Quer dizer, a garota Hannah foi à passeata e gritou: “Com Lula, contra a corrupção”, mas a Veja escutou Hannah gritando contra o Governo Lula.

Claro que, politizada como é, a garota tratou logo de escrever uma carta para redação da revista dizendo que a Veja estava manipulando os fatos e cometendo uma violência inaceitável contra ela ao transformá-la em adversária de um Governo que só interessava a ela defender.

A revista publicou a carta e, num dos trechos da resposta que deu, disse que iria apurar se houve um erro da agência, tentando transferir a responsabilidade pela mancada ao repórter fotográfico Jefferson Bernardes, da Agência Preview, autor da foto comprada e publicada pela Veja.

Claro que a garota Hannah, que é uma garota politizada, não engoliu as explicações e está acusando a revista de má-fé, pois a mesma manifestação, antes de ser manipulada pela Veja, já havia sido noticiada pelas tevês gaúchas e pelos maiores jornais do Rio Grande do Sul - Zero Hora e Correio do Povo - e pela Folha de S.Paulo, que mostraram a realidade dos fatos: milhares de jovens como Hannah foram às ruas defender o Governo Lula e não tentar derrubá-lo.

O que se percebe, então, Sr. Presidente, é que a Veja trabalha despudoradamente no sentido de passar para os brasileiros uma imagem de Lula idêntica à de Collor. E não apenas isso: a Veja não vacila em tentar manipular o movimento social, distorcendo os fatos o ponto de usar a imagem de Hannah Beineke exatamente no sentido oposto ao da manifestação expressa pela jovem. Tudo isso ficou mais evidente quando, nessa sexta-feira, o mesmo blog de Alceu Neder publicou um esclarecimento assinado pelo fotógrafo Jefferson Bernardes, da agência Preview, responsável pela foto publicada na Veja. São palavras de Jefferson Bernardes:

Fotos Caras-Pintadas.

Caro Nader, sou autor da foto de Hannah Beineke publicada na Veja. Aproveito este espaço para esclarecer que não foi mancada minha, pois a foto levava a legenda correta, descrevendo o ato como aconteceu. Já citado aqui que outros veículos cobriram a manifestação, a Folha de S.Paulo também publicou uma de minhas imagens para ilustrar sua matéria naquele dia e não fez a mesma comparação.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que a Veja está fazendo, na cobertura desta crise, é um escândalo, é um acinte, é um crime. Está distorcendo os fatos, tentando forjar um clima de golpe contra o Presidente Lula, contra o Governo do PT.

Todos sabemos que houve dirigentes do PT que cometeram erros. Não estamos titubeando. Temos exigido - pessoalmente, já ocupei esta tribuna inúmeras vezes - realmente a punição rigorosa de todos aqueles que cometeram erros dentro do meu Partido, fora do Partido, em qualquer situação. Nesta crise, queremos uma punição rigorosa e, dentro do nosso Partido, mais rigorosa ainda. Já deixei aqui esses motivos justificados.

Independentemente disso, não podemos compactuar com um jornalismo da estirpe da Veja. Que essa revista faça um jornalismo semelhante ao de outros órgãos de comunicação de grande, média ou pequena envergadura, como os jornais regionais, mas com decência. Que a imprensa seja investigativa, sim, que vá às últimas conseqüências, investigue, apure e contribua grandemente para o avanço do processo democrático neste País, mas que não deturpe os fatos, como vem fazendo a revista Veja.

Não temos titubeado em defender punição imediata e rigorosa para culpados como Delúbio Soares, Silvio Pereira e outros dirigentes do campo majoritário do meu Partido, que passa atualmente por um processo de reciclagem que culminará, no dia 18 de setembro, na eleição direta de uma nova direção partidária. Participo da chapa que pretende eleger a companheira Maria do Rosário, que faz parte do Movimento PT, Presidente Nacional do nosso Partido, embora não faça parte desse movimento. Sei que esta é uma conjuntura muito grave e muito dura para todos nós do PT, mas não podemos nos calar diante dessas manipulações da Veja.

A revista Veja está se sujando, se degradando. Temos de perguntar que moral tem essa revista para cobrar ética de quem quer que seja? Queremos cobrar ética e moralidade, sim, de todos os políticos, dos partidos políticos, mas também da imprensa. Parte dela, entre elas a revista Veja, mostra uma compostura realmente degradada não sabemos muito bem a serviço de quem - para mim, isso não está muito claro; com certeza, não é a serviço da sociedade brasileira ou da democracia de nosso País. Não tenho dúvida disso.

Temos que levantar a cabeça e questionar, sim. Não podemos continuar participando de um processo em que parece que todos nós estamos...

(Interrupção do som.)

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Nós, Parlamentares, especialmente, estamos aqui graças à determinação, cada um de nós, e à vontade do nosso povo, do nosso Estado. Estou aqui graças ao povo do meu Estado de Mato Grosso, um Estado grandioso, sobre o qual sempre que estou na tribuna não posso deixar de falar. Trata-se de um Estado grande, gigante, de um Estado economicamente viável, que precisa de uma força na área estrutural. Mas é um Estado que produz matéria-prima para exportação em grande quantidade - soja, carne, algodão. Trabalha atualmente, hoje, com retorno, com a construção de usinas de álcool, com a questão do biodiesel. Enfim, trata-se de um Estado extremamente promissor. Cada um de nós no Senado viemos representar o nosso Estado. Temos o compromisso com o bem maior do povo brasileiro, que é o avanço do processo democrático.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Temos que ter a coragem, temos que acabar com essa história de ter medo da imprensa. A imprensa séria, responsável não nos ameaça, e daquela que não é séria e nem responsável, eu não tenho medo. Temos que realmente nos posicionar. Aquilo que é certo, temos que apoiar e estar junto com a imprensa. Mas, aquilo que está errado, temos que ter a coragem de realmente olhar de frente e nos posicionarmos. Chega de ficarmos dizendo “sim, senhor” para determinados órgãos, às vezes muito por aquela história: “Estou com medo, porque, se bater em mim, realmente vai ficar difícil”.

Não tenho medo, não. Nós todos temos que enfrentar. A imprensa corajosa e séria, estamos com ela. A imprensa irresponsável, estamos contra.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/08/2005 - Página 29285