Pronunciamento de César Borges em 30/08/2005
Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Justificação de requerimento que apresentou na última semana, solicitando a realização pelo TCU, de auditoria na Controladoria-Geral da União.
- Autor
- César Borges (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
- Nome completo: César Augusto Rabello Borges
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Justificação de requerimento que apresentou na última semana, solicitando a realização pelo TCU, de auditoria na Controladoria-Geral da União.
- Aparteantes
- Eduardo Suplicy.
- Publicação
- Publicação no DSF de 31/08/2005 - Página 29293
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- CRITICA, ALTERAÇÃO, FUNÇÃO, CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO (CGU), FISCALIZAÇÃO, APLICAÇÃO DE RECURSOS, PREFEITURA MUNICIPAL, NEGLIGENCIA, CONTROLE INTERNO, COMBATE, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO FEDERAL, REPUDIO, PRERROGATIVA DE FUNÇÃO, TITULAR, MINISTRO, JUSTIFICAÇÃO, APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, SOLICITAÇÃO, AUDITORIA, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), DESVIO, COMPETENCIA.
O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na quinta-feira passada, apresentamos um requerimento ao Senado, que foi aprovado na mesma data, solicitando que o Tribunal de Contas da União realizasse uma auditoria na Controladoria-Geral da União. Explico o porquê do nosso requerimento, cuja justificativa seguia junto com ele.
Consideramos a realização dessa auditoria de fundamental importância para encontrarmos a resposta para uma pergunta que não quer calar, Sr. Presidente: por que a Controladoria-Geral da União, criada exatamente para investigar e combater a corrupção dentro do Governo Federal, não tem cumprido com a sua função?
O Presidente Fernando Henrique criou a Controladoria-Geral da União para fazer investigação interna, a fim de impedir, inclusive, que houvesse atos de corrupção, a partir de um acompanhamento permanente da administração direta, da indireta, das estatais, do Governo Federal. A Controladoria estava pronta para receber denúncias, que poderiam ser feitas por qualquer Parlamentar, por qualquer cidadão brasileiro. Essa foi a função.
Ora, essa função foi modificada no atual Governo. Modificada para quê? Para melhorar essa função, que é importantíssima, que poderá inclusive prevenir ações danosas ao Erário federal? Não, ela foi ampliada para que a Controladoria-Geral da União, antes denominada Corregedoria - porque era uma efetiva Corregedoria dentro do Governo Federal, para o controle interno dele -, pudesse atuar também controlando as verbas que o Governo Federal destinava às prefeituras municipais.
Pois bem. E aí se deteve o trabalho único e exclusivo da agora Controladoria-Geral da União, cujo titular foi intitulado ministro. A Controladoria, antes Corregedoria, não precisa ter status de ministério, mas o Presidente Lula, quando alargou o número de ministérios para trinta e cinco, resolveu criar mais um, porque o Sr. Waldir Pires só aceitava essa situação. E ele foi para a tal Controladoria-Geral da União, mas não para auditar, não para fazer a correção interna do Governo Federal, como ocorria no início, quando a Corregedoria-Geral da União foi criada, no Governo passado. A Controladoria-Geral da União passou a fazer isso nas prefeituras municipais. E realizava um sorteio, que raramente pegava o PT, porque, das 5.500 prefeituras, só havia 200 do PT - agora só há 400. Então, era algo para pegar prefeituras dos outros Partidos - PMDB, PSDB, PFL, PDT e assim por diante -, menos do PT.
Durante este Governo, não vimos uma só ação da Controladoria-Geral da União para apurar os diversos escândalos que são do conhecimento da Nação brasileira. Talvez, se a Controladoria tivesse feito seu papel, não estivesse o Presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores passando por tantos constrangimentos, diante de tantos escândalos não esclarecidos para todo o Brasil.
Vou citar alguns. Onde estava a Controladoria enquanto Waldomiro Diniz e Rogério Buratti disputavam a propina da GTech? Por que não estava acompanhando a renovação de contratos na Caixa Econômica Federal? Onde estava a Controladoria nas denúncias envolvendo o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que inclusive está sendo processado pelo Supremo Tribunal Federal, que abriu investigação? Nunca se ouviu um pio, uma palavra da Controladoria-Geral da União. Só se ouviu quando ela agiu contra as prefeituras municipais em todo o País. Onde estava a Controladoria quando ocorreram as fraudes do programa Bolsa-Família, de que toda a Nação tomou conhecimento? Onde estava a Controladoria quando houve o favorecimento de empreiteiras no Ministério dos Transportes, no DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), que foi escandalizado, inclusive, por ex-gestores daquele órgão. Também não se ouviu uma palavra sequer, nem uma abertura de sindicância por parte da Controladoria se fez.
Onde estava a Controladoria no caso tão conhecido das organizações não-governamentais, como a Ágora, que foi denunciada a todo o País?
Onde estava a Controladoria na “máfia dos vampiros”, que aconteceu no Ministério da Saúde, com pessoas que eram da estrita confiança do ex-Ministro Humberto Costa, que precisou demiti-las, mas que foram trazidas por ele?
Onde estava a Controladoria na famosa “máfia dos Correios”, como agora nós sabemos? Agora, a Controladoria diz que fez lá as suas investigações, uma auditoria, e chega a desvios de milhões, R$56 milhões. Ou a Controladoria não faz nada, ou, quando faz, sempre chega atrasada; anda lentamente e chega quando o escândalo já é do conhecimento nacional.
Onde estava a Controladoria no escândalo do “mensalão” e de todas essas ramificações, com a utilização do “valerioduto”, inclusive com a utilização da Secretaria de Comunicação para direcionar contratos às empresas do Sr. Marcos Valério, contratos esses que eram, inclusive, superfaturados?
Quando aprovamos esse requerimento aqui, Sr. Presidente, o Sr. Waldomiro Diniz declarou à imprensa a sua indignação com a nossa solicitação, no cumprimento do nosso papel democrático de parlamentar. Mas ele não deu essas explicações sobre onde estava a Controladoria, que deveria estar cumprindo o seu dever. Ele não disse nada, preferiu atacar o Senador César Borges, preferiu tachar o meu ato de pequeno, que eu não conseguia ver o grande trabalho de combate à corrupção deste Governo.
Onde está este trabalho? O que se vê pelo País inteiro é a corrupção nos órgãos federais, que foram tomados de assalto pelo Partido dos Trabalhadores, que imagina que o Governo Federal, porque foi ganha a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pertence ao Partido dos Trabalhadores. Nunca se viu simbiose tão grande entre um partido e um governo.
Então, o Sr. Waldir Pires, em lugar de dizer o que a Controladoria-Geral da União fez ou está fazendo e o que deve fazer, preferiu atacar o Senador, é mais cômodo para ele. E atacou de forma inclusive desleal, porque mentiu de forma deslavada. Disse que eu propus ao Plenário do Senado uma legislação, a modificação constitucional, para permitir que políticos corruptos não fossem inelegíveis enquanto não fosse transitado em julgado. Isso é loucura! Só na cabeça do Sr. Waldir Pires. Nós propusemos, sim, a modificação da legislação eleitoral, que prevê que o político que tenha alguma acusação sobre vício eleitoral seja afastado na primeira instância de pleno. Aí, ele vai recorrer, e logo em seguida ele volta, porque um juiz que tenha qualquer divergência ou interpretação equivocada faz o afastamento daquele que foi eleito com a maioria dos votos. Basta que se arrumem duas ou três testemunhas e que se diga que houve um crime eleitoral, como a compra de votos, e ocorre o afastamento.
Então, o que nós pretendíamos, Sr. Presidente, era exatamente que houvesse, como há, o mesmo direito aplicável a qualquer cidadão brasileiro: que ele só fosse afastado após recorrer aos Tribunais Superiores. Então, isso hoje traz um desassossego às administrações públicas estaduais.
Portanto, Sr. Presidente, mais uma vez, a Controladoria não funciona, e o Sr. Waldir Pires está muito mal colocado. O que este País, na verdade, precisava é que acabasse essa Controladoria, que não resolve absolutamente nada, e que este Governo estivesse impregnado daquilo que ele prometeu a toda a Nação brasileira: caráter, moralidade, ética para assumir o Governo Federal, fato esse que, infelizmente, a Nação brasileira não tem assistido.
Portanto, Sr. Presidente, o Senado Federal aprovou, e aprovou muito bem - não vi aqui ninguém do Partido dos Trabalhadores, da Base do Governo, ser contra nosso requerimento para que seja aberta uma investigação pelo Tribunal de Contas da União e seja feita uma auditoria à Controladoria-Geral da União, para que ela possa dizer a que veio, porque ela está em pleno desvio de função. E é isto que queremos que toda a Nação conheça: que o Sr. Waldir Pires e a Controladoria-Geral da União não vêm cumprindo seu papel, porque, se estivessem, muito do que tem acontecido e trazido inquietação à Nação brasileira já teria sido dado conhecimento pelo que seria o resultado do trabalho dessa Controladoria.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite um breve aparte, Sr. Presidente?
O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos. PSDB - TO) - A Mesa já havia prorrogado por três vezes, para não causar prejuízo. Está V. Exª inscrito, Senador Eduardo Suplicy, e, de fato, a Presidência prorrogou por três vezes.
O SR. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Serei brevíssimo, se V. Exª permitir. Primeiro, para informar que consideramos mais do que legítimo que o Senador César Borges, da Oposição, possa fazer um requerimento sobre as atividades da Controladoria-Geral da União como de qualquer Ministério. Então, não poderíamos aqui ser contrários a isso. Sabe V. Exª que eu tenho pelo Ministro Waldir Pires o maior respeito. Respeito as críticas que formula...
(Interrupção do som.)
O SR. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Houve inúmeras iniciativas de S. Exª que tiveram resultados importantes, mas V. Exª pede uma ação mais efetiva. E é interessante...
O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Pode V. Exª citar alguma ação dele que redundou em algo efetivo?
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - São do conhecimento público dezenas de operações que...
O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Não resultou absolutamente em nada, sequer encaminhou ao Tribunal de Contas da União, o que seria sua obrigação.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Por exemplo, foram efetuadas inclusive prisões no Estado de Alagoas relativamente a prefeitos que haviam desviado recursos para outras finalidades, e, em muitos Estados, foram realizadas detenções de operações que decorreram da coordenação de investigação tanto da Controladoria-Geral da União quanto da Polícia Federal. Infelizmente, como eu prometi ser muito...
(Interrupção do som.)
O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Encerrando, Sr. Presidente. As ações que o Senador Eduardo Suplicy disse que são de autoria do Sr. Waldir Pires, são, na verdade, da Polícia Federal e que ele está tomando a si. Agora, o único setor que ele destinou a sua ação, Sr. Presidente, foi olhar para os municípios porque não tinha nenhum município do PT envolvido, porque só tem duzentas prefeituras - é uma questão estatística. E ele não fez nenhuma denúncia em relação a sua ação precípua, que é olhar internamente e fiscalizar o Governo Federal a que ele pertence. Então, ele estava coadunando com todos esses escândalos que estavam aí. Chego a desconfiar de que ele tinha conhecimento de muitos deles e não quis revelar para proteger o Governo.
Muito obrigado, Sr. Presidente.