Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Esclarecimentos sobre pronunciamento da Senadora Serys Slhessarenko, ontem, sobre manipulação de fatos pela revista Veja.

Autor
Eduardo Siqueira Campos (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Esclarecimentos sobre pronunciamento da Senadora Serys Slhessarenko, ontem, sobre manipulação de fatos pela revista Veja.
Publicação
Publicação no DSF de 01/09/2005 - Página 29550
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • PROTESTO, PRONUNCIAMENTO, SERYS SLHESSARENKO, SENADOR, CRITICA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PUBLICAÇÃO, ERRO, ARTIGO DE IMPRENSA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), COMBATE, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • DEFESA, REPUTAÇÃO, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, HISTORIA, BRASIL, REGISTRO, TRABALHO, ORGÃO DE PUBLICAÇÃO, CORREÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, nobre Senador Flexa Ribeiro, nobres Pares, Srªs e Srs. Senadores, caros telespectadores da TV Senado, especialmente meus queridos telespectadores do meu Estado do Tocantins, ouvintes da Rádio Senado FM e também da Rádio Senado em ondas curtas, que cobre a Amazônia Legal e, portanto, também o Estado que tenho a honra de representar nesta Casa.

Sr. Presidente, se há uma coisa que penso que esta Casa toda pode testemunhar é o comportamento que procurei ter, ao longo de meu mandato, desde o primeiro dia em que aqui cheguei.

Sr. Presidente, na campanha de 2002, ganhamos a eleição no primeiro turno. Ganhamos as duas vagas no Senado Federal, o Governo e as oito vagas de Deputado Federal. Saí, depois de terminada a eleição no Tocantins, para outros Estados, para acompanhar comícios do PSDB, para acompanhar uma campanha em São Paulo com o hoje Prefeito José Serra e orgulho-me muito de ter participado dessa campanha.

A partir do momento em que ascendeu à Presidência da República, em que tomou posse o novo Governo e começamos, portanto, um relacionamento entre esta Casa e o Governo Federal, talvez tenha sido em meu primeiro discurso, Sr. Presidente, em que tive a honra de ser aparteado pelo Senador Pedro Simon, que eu disse que não iria ficar aqui com as cópias dos discursos que o PT fez no passado para cobrar coerência de quem estava no Governo, porque eu entendia bem como é ser Governo e como é ser Oposição. E o Brasil precisava da governabilidade.

Existe um ditado, Sr. Presidente, que diz que existem homens que se dedicam a construir muralhas, castelos, e outros que se dedicam a construir pontes. Sempre tentei me enquadrar e direcionar minha vida para ser um construtor de pontes. Sempre encontrei caminhos de diálogo com outros Partidos. Tenho grandes amizades dentro do Partido dos Trabalhadores, como tenho dentro do PSB, como tenho, posso dizer, em todos os Partidos que integram esta Casa.

Sr. Presidente, tive o cuidado de me dirigir à Senadora Serys Slhessarenko para dizer que viria à tribuna hoje. S. Exª, a quem atribuo a qualidade de Parlamentar das mais equilibradas, das mais queridas desta Casa, fez ontem um pronunciamento muito duro, Senador José Jorge, dizendo que a revista Veja tinha se portado de maneira irresponsável. Esse foi, talvez, o termo mais leve usado pela Senadora.

Quero aqui abrir algumas aspas e, depois, ir à verdade dos fatos apenas para mostrar a S. Exª - e repito que fiz questão de dizer-lhe ontem que viria hoje à tribuna para tratar do assunto - que, em primeiro lugar, a revista Veja não precisa que este Parlamentar venha aqui fazer a sua defesa. A Veja não precisa disso. Mas, tendo sido feito um pronunciamento no plenário desta Casa, é bom que o Plenário desta Casa possa ser esclarecido. Neste caso, estou me despindo da condição de estar no PSDB e de ser membro da Mesa, mas não da condição de ser Senador e de buscar esclarecer os fatos, inclusive graves, imputados à Veja.

Sr. Presidente, a Senadora se referiu ao caso de uma estudante que saiu na capa da revista em um protesto que foi feito pelos estudantes contra a corrupção no Governo. Os estudantes se diziam a favor de Lula, porém contra a corrupção no Governo. Foi essa a interpretação dada pela UNE.

Ocorre que, tendo adquirido uma foto de um profissional, a revista Veja publicou-a com uma legenda, que se referia aos “caras-pintadas”, ao protesto contra o Governo e contra o próprio Presidente Lula, porque, afinal de contas, quem governa é o Presidente Lula. Aí cairíamos em uma questão de interpretação.

Mas vejam o que disse a Senadora Serys:

Vamos à história, na qual a pessoa atingida é uma garota gaúcha, estudante do segundo ano de uma escola técnica de Porto Alegre, chamada Hannah Beineke.

A garota Hannah Beineke, no dia 4 de agosto, animou-se para participar da primeira passeata de sua vida, uma manifestação estudantil que tomou conta das ruas de Porto Alegre e que tinha como palavra de ordem “Com Lula, contra a corrupção”. Entendam bem: com, com Lula, contra a corrupção.

Continua a Senadora:

Hannah com milhares de colegas saíram às ruas em defesa de Lula e em combate contra a corrupção. Mas, quando foi ler a edição do dia 16 de Veja, o que encontrou lá foi a sua foto, publicada naquela edição que tinha na capa o nome do Lula escrito com os tais dos dois eles de Fernando Collor [que foram usados por Veja ao grafar o nome Lula], trazendo debaixo da foto de Hannah Beineke a seguinte legenda: “Os estudantes se rebelam contra a corrupção no Governo, promovem manifestações e pedem a saída do Presidente. Na semana passada, neocaras-pintadas de verde-e-amarelo começaram a se manifestar contra o Governo Lula.”

Reporta a Senadora o que escreveu a revista Veja.

Continua a Senadora Serys Slhessarenko:

Quer dizer, a garota Hannah foi à passeata e gritou: “Com Lula, contra a corrupção”, mas a Veja escutou Hannah gritando contra o Governo Lula.

E, segundo a Senadora, ela gritava apenas contra a corrupção.

Claro que, politizada como é, a garota tratou logo de escrever uma carta para a redação da revista dizendo que a Veja estava manipulando os fatos e cometendo uma violência inaceitável contra ela ao transformá-la em adversária de um Governo que só interessava a ela defender.

Vejam bem, meus caros Pares, que a Senadora afirma que - estou abrindo aspas das notas taquigráficas que pedi à Mesa - “politizada como é, a garota tratou de escrever uma carta para a redação da revista...” Fico feliz com sua presença, nobre Senadora Serys Slhessarenko. Avisei ao Plenário que falaria e estou aqui abrindo aspas para as palavras de V. Exª com relação ao seu pronunciamento de ontem.

Vou repetir:

Claro que, politizada como é, a garota tratou logo de escrever uma carta para a redação da revista dizendo que a Veja estava manipulando os fatos e cometendo uma violência inaceitável contra ela ao transformá-la em adversária de um Governo que só interessava a ela defender.

A revista publicou a carta e, num dos trechos da resposta que deu, disse que iria apurar se houve um erro da agência, tentando transferir a responsabilidade pela mancada ao repórter fotográfico Jefferson Bernardes, da Agência Preview, autor da foto comprada e publicada pela Veja.

Claro que a garota Hannah, que é uma garota politizada, não engoliu as explicações e está acusando a revista de má-fé, pois a mesma manifestação, antes de ser manipulada pela Veja, já havia sido noticiada pelas tevês gaúchas...

Presidente, o que diz a revista Veja e qual é a verdade dos fatos? Em primeiro lugar, Senadora Serys, a garota Hannah em nenhum momento, politizada que é - e tenho certeza de que é, brasileira, no gozo de seus direitos políticos -, jamais escreveu à revista Veja. Então, a afirmação de que ela escreveu à Veja acusando-a de manipulação não é fato, porque a revista jamais recebeu uma carta da garota Hannah.

Mas o que fez a revista Veja, Sr. Presidente?

A revista Veja recebeu uma carta de uma assessora, de uma Vereadora de Porto Alegre, fazendo uma reclamação sobre o fato, e logo entrou em contato com a estudante - portanto, o contrário da acusação que recebeu -, buscando o mais puro esclarecimento dos fatos. Em nenhum momento a revista Veja mandou apurar o que poderia ser um equívoco da redação. De forma alguma. A revista Veja procurou a estudante e lhe deu onze vezes mais espaço do que continha a própria legenda da foto.

Na verdade, o fotógrafo enviou a foto à revista Veja com uma legenda. O protesto era contra a corrupção, não contra o Presidente Lula. Foi a própria revista Veja que se encarregou de ouvir a estudante.

Hannah: Lula está um pouco perdido.

Veja: Por que você foi à manifestação?

Hannah: Para protestar contra a corrupção e mostrar que alguns jovens estão acompanhando o que vem acontecendo.

Veja: Qual a sua opinião sobre o papel de Lula na crise?

Hannah: Por enquanto, acho que ele não está envolvido. Acho que o erro foi confiar nas pessoas erradas. Mas meus pais sempre foram petistas e estamos todos tristes com o PT. Mas ainda acredito em Lula.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - V. Exª terá mais dois minutos.

            O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Veja procurou e publicou, na íntegra, muito mais do que uma carta, mas perguntas e repostas, para não deixar pedra sobre pedra de dúvida sobre o assunto.

Por que vocês estão tristes com o PT? Eles estão se mostrando um Partido igual aos outros. Acho que pensaram que a Presidência era uma coisa; chegaram lá, era completamente diferente, bem mais difícil. Até o próprio Lula, acho que ele está meio perdido.

Senadora Serys Slhessarenko, perdoe-me se V. Exª não concorda com a minha defesa da Veja.

Ao contrário do que disse a Senadora Serys, Veja não publicou carta nenhuma da estudante, porque ela jamais enviou tal carta. Publicou, sim, uma entrevista sua feita por motivação da própria redação. Veja também não publicou nenhuma linha em suas páginas afirmando que iria apurar se houve erro da Agência Preview, que vendeu a foto à revista. Ao contrário, publicou, sim, uma entrevista com a estudante num espaço 11 vezes maior do que a legenda, cuja correção foi questionada - questionada, frisamos, mais uma vez, nunca pela própria estudante, mas, sim, por uma outra leitora, o que até desobrigava a revista. Se a própria estudante não se dirigiu à Veja, Veja estava completamente desobrigada. Mas, tendo recebido de alguém uma queixa, como leitor, Veja foi à estudante e lhe deu todo esse espaço.

Mais do que isso, nobre Senadora, não vou repetir, porque tenho certeza de que V. Exª não pensa isso. V. Exª disse que os donos da Veja, se tivessem o mínimo de espírito público, se retratariam. Disse que Veja estava manipulando e cometendo violência inaceitável. Disse que Veja mandou apurar, para ver se havia erro da agência.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - Nobre Senador Eduardo Siqueira Campos, concederei a V. Exª mais dois minutos improrrogáveis.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Agradeço a V. Exª.

A Senadora referiu-se a “jornalismos da estirpe da Veja”. Abro aspas para as palavras da minha respeitada e admirada Senadora Serys Slhessarenko: “A revista Veja está se sujando, se degradando, mostrando uma compostura que realmente desagrada, e não sabemos muito bem a serviço de quem”.

Sr. Presidente, a revista Veja, desde 1968, quando começou a circular, já foi acusada de tentar derrubar vários Governos. Essa foi uma desculpa da ditadura militar para implantar a censura na própria redação da Veja e em outros veículos da imprensa.

Essa atitude, minha nobre Senadora Serys Slhessarenko, parece aquela indignação contra uma mensagem que acaba fazendo com que o indignado mate o mensageiro em vez de combater a própria mensagem.

Termino, dizendo a V. Exª, Senadora Serys Slhessarenko, que, no dia 20 de agosto de 2003, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu a revista Veja para dar sua primeira entrevista de cinco ou seis páginas. A revista Veja concedeu ao Presidente todo o espaço para expor todos os seus pontos de vista, inclusive sua intimidade no Palácio da Alvorada. Trata-se daquela mesma Veja que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu como órgão de credibilidade para merecer um destaque de oito páginas inteiras, para falar da sua vida, das suas idéias, dos seus projetos e dos seus ideais.

Quero manter, Senadora Serys, a opinião que venho manifestando nesta Casa. Eu, se pensasse que o Presidente da República estivesse mentindo, não tenha dúvida de que seria signatário de um pedido, junto com a sociedade civil, de impeachment ou qualquer coisa parecida. Em nenhum momento vim a esta tribuna, não sou daqueles que se aproveitam da crise para dela tirar proveito político, para transferir isso para o momento eleitoral do Estado.

Senadora Serys, a revista foi atrás dos fatos, deu espaço, deixou claro que não manipulou. Trata-se da mesma revista que deu ao Presidente Lula - aliás, escolhida pelo Presidente Lula - oito páginas para dizer tudo aquilo que pensava assim que foi empossado. Essa revista, hoje, não está servindo mais, segundo as palavras de V. Exª.

Eu queria que V. Exª fizesse uma reflexão. Veja tem dado uma cobertura de mais de 400 páginas desde que começou esta crise. Todos os profissionais que lá estão se sentiram duramente atingidos pela palavras de V. Exª, por uma razão: qualquer um dos nossos profissionais está passível de cometer um erro. A revista...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - Senador, solicito a V. Exª que conclua o seu pronunciamento.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - A revista apurou, deu voz e ouviu quem não procurou a revista. Sinceramente, Senadora, a revista não merece a crítica, de forma alguma, nem o seu diretor fundador, o Civita, que já foi, de uma forma até xenofobista, chamado, por alguns políticos, de estrangeiro que está na imprensa brasileira.

Confesso a V. Exª que já fiquei muito contrariado com algumas reportagens da Veja sobre a minha pessoa. Mas fico com aquela frase: “Voltemo-nos contra a mensagem, mas não contra o mensageiro”. A revista Veja depende única e exclusivamente do leitor para sua sobrevivência.

Quero transcrever, Sr. Presidente, uma decisão do Ministro Celso de Mello, exarada pelo Supremo Tribunal Federal recentemente, com relação a alguém que acionou a revista Veja por abuso de ataques a uma determinada autoridade da República. O referido Ministro deixou clara sua decisão e absolveu a revista de qualquer custo, destacando o relevante papel que a imprensa tem que ter na apuração dos fatos.

Antes de citar a Senadora Serys Slhessarenko, disse a S. Exª que viria à tribuna tratar deste assunto.

Não sei se V. Exª estava no plenário, Senadora Serys, quando eu disse que, com certeza, pela sua forma equilibrada, lhana com os companheiros, correta, estreita, justa, com esses argumentos que são fatos, V. Exª haveria de refletir com relação ao veículo revista Veja, que, efetivamente, com todos os seus profissionais, não mereceu as palavras que, no meu entendimento, V. Exª lhe dirigiu.

Se V. Exª deseja um aparte, bem; senão, o art. 14 lhe assiste.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Decisão histórica”, Carta ao leitor, revista Veja, 31 de agosto de 2005.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/09/2005 - Página 29550