Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao discurso recente do Presidente Lula, inclusive sobre as referências ao Presidente Juscelino Kubistchek. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários ao discurso recente do Presidente Lula, inclusive sobre as referências ao Presidente Juscelino Kubistchek. (como Líder)
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 01/09/2005 - Página 29562
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PERIODO, GOVERNO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMONSTRAÇÃO, DESCONHECIMENTO, HISTORIA, BRASIL.
  • REPUDIO, CONDUTA, PROCURADOR, REALIZAÇÃO, ACORDO, FAVORECIMENTO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, GOVERNO, SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INDICAÇÃO, RESPONSAVEL, TRAIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assisti ontem pelas televisões ao discurso do Presidente Lula, esse em que ele se compara - e tem feito isso reiteradas vezes - com o Presidente Juscelino Kubitschek. Mas ali eu percebi o que salta aos olhos de qualquer um: a ignorância sobre o processo histórico brasileiro. Disse Sua Excelência que Juscelino foi alvo de uma tentativa de assassinato. Isso não se deu. Ao mesmo tempo, ele revela - isto é freudiano - um certo pavor da situação vivenciada por Getúlio Vargas - ele não tem a grandeza de Vargas; à situação vivenciada por João Goulart - ele diz que João Goulart renunciou, mas foi deposto; à situação vivenciada por Jânio Quadros e às tais “forças ocultas” que o teriam expelido do Palácio do Planalto. Isso é freudiano.

O Presidente só não se compara com Collor; ele só evitou a comparação com Fernando Collor de Mello. E sabemos todos que aqueles eventos em torno do Presidente Collor eram menores, sob quaisquer ângulos de análise, do que esses que estamos vivendo sob a chamada era Lula. Collor não tinha partido, não tinha inserção social real, não tinha a oposição democrática e paciente que fazemos ao Presidente Lula. Afinal de contas, quem se opunha a ele era sobretudo o PT.

O Presidente Lula a mim me chamou a atenção quando, resvalando para a mais crassa leviandade, recorrendo à memória - a dele falhara - do Governador Aécio Neves, diz assim: “Outros foram difamados, outros foram atacados”, e pergunta para o Aécio: “Aécio, como é o nome daquele Deputado que foi tão difamado?” “Alcenir Guerra” - o Aécio soprou para ele de maneira bem sutil. E o Presidente Lula diz: “É, o Alceni.” Aí, a televisão corta, eu não sei o que mais foi dito. Ora, foi o PT quem difamou Alceni Guerra, foi o Presidente Lula quem difamou Alceni Guerra.

Ele se queixa do que seria falta de solidariedade do Presidente Fernando Henrique em relação a ele: “Fernando não está sendo solidário. Eu fui solidário a ele”. Quando foi solidário? Pregou o golpe na porta do Palácio, sem razão objetiva para fazê-lo. Pregou o impeachment aqui dentro do Palácio do Congresso, sem ter razão objetiva para fazê-lo. O tempo inteiro boicotando reformas essenciais para o País; o tempo inteiro boicotando a votação de medidas que poderiam ter feito do Brasil um país muito mais resistente a crises do que hoje ele já está.

O Presidente Lula foi profundamente leviano naquele momento, esquecendo-se de que o “denuncismo” é uma invenção do PT. Invenção do PT e de alguns procuradores - eu não culpo o Ministério Público como um todo, respeito muito a instituição Ministério Público - como aquele ex-Luís Francisco, aquele sumido Luís Francisco, ex-Luís Francisco. O que não é mais, não é. Ex! Não serve hoje para se dizer que ele é trêfego, nem para dizer que não é, porque simplesmente já não existe. Era um conluio entre o PT e esses procuradores. O procurador queria investigar a vida de determinada pessoa, pedia a alguém do PT para fazer um discurso qualquer. Ele fazia o discurso sem nenhum documento, sem nenhuma base para acusar quem quer que fosse. E aí, em seguida, vinha o inquérito civil público. Era uma dobradinha entre a irresponsabilidade e o açodamento, entre a vontade irresponsável de chegar ao poder e, ao mesmo tempo, a ânsia persecutória de alguns poucos procuradores.

Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª tem razão. No caso, então, desse Procurador Luís Francisco, ele era inscrito no PT e fazia essas denúncias levianas, com o aplauso de toda a Bancada do PT nesta Casa. Hoje, como V. Exª diz com muita razão, ele é um ex, porque nem os petistas querem mais essa figura execrável.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Corre de medo. Ele não pode ver o Ministro Eduardo Jorge que ele dobra a esquina. Se ele estiver num cinema, e o Eduardo Jorge entrar, ele sai. Essa é que é a verdade. Ouve tudo o que nós dizemos aqui e finge que não está ouvindo. E eu sei que ele está ouvindo, ele não pode deixar de ter a TV Senado na casa dele.

Mas, enfim, Sr. Presidente, eu concluo dizendo - tenho dois minutos: o que o Presidente não diz e não faz é o seguinte: ele não diz qual é a traição que sofreu, até porque não sofreu traição alguma. Ele sabia do que se passava no País. Ele não diz quem são os traidores, porque aí nós caímos, Senador Almeida Lima, na figura jurídica das culpas concorrentes. É a lei da Omertà vigorando. Não pode acusar fulano porque senão fulano abre a boca, e esta é a República do medo, é a República do rabo preso, é a República do silêncio. Essa é que é a verdade.

O Presidente, então, fala vagamente em traição, vagamente em traidores, mas não está com autoridade moral para dar nome aos traidores e dar nome à traição. Não pode! Está de mãos e pés atados. Então, tem que divagar sobre uma história que ele não leu, sobre fatos políticos que não conhece e com a leviandade de dizer que Alceni foi vítima de achincalhe público, sem se lembrar de que achincalhe público foi feito levianamente por este Partido que tem sido um desastre na administração do País, que é o Partido dos Trabalhadores.

Então, Presidente Lula, incompetência é um defeito. Juntar incompetência com leviandade fica muito grave. A leviandade, sozinha, já é grave. Incompetência e leviandade e mais esse mar de corrupção, aí é intolerável. Este País está tendo com Vossa Excelência uma paciência enorme, uma paciência que Vossa Excelência não teria com ninguém. Estamos tendo uma paciência enorme.

Vossa Excelência, se pudesse ouvir um conselho, a advertência de um adversário leal, eu lhe diria: Presidente, feche essa matraca. Pare de falar tolices todos os dias. Pare de discursar de improviso a qualquer momento. Vossa Excelência não é preparado para exercer esse cargo no qual foi investido pelo voto bem-intencionado de 53 milhões de brasileiros. Vossa Excelência, todos os dias, cria a clara sensação, primeiro, de que não é preparado; segundo, de que não quer enfrentar a verdade; e, terceiro, de que diz qualquer coisa para se desobrigar do que imagina que é a sua missão. Vossa Excelência não devia se comparar com nenhum outro Presidente. Talvez com Collor, pela situação de corrupção a sua volta. Com o Juscelino, não, de jeito algum. Nem com João Goulart nem com Jânio Quadros nem com qualquer presidente.

Vossa Excelência, Sr. Presidente, tem o dever de dizer à Nação com clareza as duas únicas coisas que ela quer saber: qual foi a traição que Vossa Excelência sofreu e quem são os traidores. Dê nome aos bois! Diga de uma vez por todas que foi o José Dirceu que o traiu, e eu volto a acreditar em Vossa Excelência. Diga que foi Delúbio. Diga que foi Sílvio. Diga qual foi a traição. Diga quais são os corruptos do seu Partido, do qual a maioria é honrada, e diga quais são os corruptos do seu Governo. Acredito que a maioria é honrada também, mas diga, Presidente. Fora isso, Vossa Excelência passa medo e, ao passar medo, fala sobre história. E falando sobre história, passa um medo misturado com a ignorância. Isso tudo compõe um quadro muito deficiente em relação ao que se pode esperar do primeiro mandatário de um país de democracia sólida, com 180 milhões de habitantes, uma grande democracia, uma democracia grande, portanto,...

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - … como é a brasileira.

Concluirei, Sr. Presidente.

Todos estamos vivendo uma passagem muito longa. O pato manco, lame duck, ele o é por dois meses. Fernando Henrique ficou manco quando Lula venceu a eleição; ele já quase não era mais presidente. O presidente já era Lula, que também não era completamente. Clinton ficou manco quando Bush ganhou as eleições. Clinton já não era mais presidente completo; Bush ainda não era presidente total. Um país agüenta isso por dois meses. O que está acontecendo com o seu governo, Presidente Lula, é que Vossa Excelência se tornou um pato manco com 19 meses pela frente e agora faltam 15 para completar o seu governo. É preciso muita responsabilidade. Pare de falar tolice e mande para cá uma pauta de projetos decente para votarmos, senão essa economia nossa vai sofrer percalços gravíssimos até Vossa Excelência entregar o poder ao seu sucessor. É isso que espero. Comparações com Juscelino Vossa Excelência não deve fazer mais. Procure comparar-se consigo mesmo, Sr. Presidente. Procure dizer assim: Eu até hoje fui muito ruim para este País; eu fui bom antes, como oposição talvez, embora exagerado, embora ditatorial, mas tenho sido muito ruim como governante deste País. Procure comparar-se consigo mesmo. Procure ser um bom governante daqui para frente. Procure tentar ser alguém que responda à expectativa das pessoas, que estão completamente decepcionadas e desarvoradas com o quadro de insegurança que Vossa Excelência construiu neste País. Juscelino era a segurança, era o otimismo. O senhor é o baixo-astral e a incompetência.

Sr. Presidente, quem mais ressalta a diferença entre Juscelino estadista e o homem público canhestro que o Presidente Lula tem-se revelado é o próprio Lula, com essa tentativa de se alçar a um certo Olimpo, ele, que está vivendo hoje o inferno de um governo desgovernado.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/09/2005 - Página 29562