Fala da Presidência durante a 141ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento do escritor Érico Veríssimo.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento do escritor Érico Veríssimo.
Publicação
Publicação no DSF de 25/08/2005 - Página 28894
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, ERICO VERISSIMO, ESCRITOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, LITERATURA BRASILEIRA, DIVULGAÇÃO, MEMORIA NACIONAL.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.

Declaro aberta a sessão especial do Senado Federal que, em atendimento ao requerimento do nobre Senador Pedro Simon e de outros Srs. Senadores, destina-se a comemorar o centenário de nascimento do escritor Erico Verissimo, nos termos do Requerimento nº 513, de 2005.

Convido para compor a Mesa dos nossos trabalhos, em primeiro lugar, o Exmº Sr. Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. (Pausa.)

Convido para compor a Mesa o Exmº Sr. Ministro do Tribunal de Contas da União, Marcos Vinicios Vilaça, membro da Academia Brasileira de Letras. (Pausa.)

Convido para compor a Mesa o Exmº Sr. Vice-Governador do Rio Grande do Sul, Antônio Hohlfeldt. (Pausa.)

Convido, para compor a Mesa, o escritor Luis Fernando Veríssimo, filho do homenageado, escritor Erico Verissimo. (Pausa.)

Convido, para compor a Mesa, o Dr. Evandro Kruel, Presidente da Fundação Erico Verissimo. (Pausa.)

Exmºs Srªs e Srs. Embaixadores; Exmº Sr. Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Nelson Jobim; Exmº Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; Exmºs Srªs e Srs. Senadores; Exmºs Srªs e Srs. Deputados; Exmº Ministro do Tribunal de Contas e Presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Villaça; minhas senhoras e meus senhores, nós, brasileiros, vivemos nestes dias a angústia de uma crise política de dimensões cada vez mais graves. Mas, se a indignação e a perplexidade parecem inevitáveis neste momento, estou certo de que, mais uma vez, saberemos contornar essa crise, punindo com rigor os eventuais culpados e tirando lições valiosas para a condução de nossa democracia e de nosso País.

Essa força de nosso povo, essa grandeza diante de crises e adversidades estão registradas ao longo da História, desde os tempos do Brasil Colônia. São ações na defesa de nossa terra contra os invasores, no desbravamento do interior, na luta pela independência, pela abolição da escravatura e pela proclamação da República, na resistência à ditadura, na luta pela redemocratização do País. E estão registradas não apenas em documentos oficiais e na memória viva que guardamos de nossos heróis, muitos deles anônimos, mas também nas páginas de nossa melhor literatura.

Este é, portanto, um momento particularmente importante para registrarmos o Centenário do grande Escritor Erico Verissimo e para relembrarmos a força, a coragem e a determinação dos personagens do romancista gaúcho.

A parte mais conhecida da obra de Erico Verissimo - especialmente em razão das adaptações para a televisão - é marcada pela afirmação da gente do Rio Grande como habitante do extremo sul do Brasil. Na luta pela manutenção das linhas fronteiriças e no desafio de vencer as intempéries - especialmente o frio do vento minuano -, foi buscar o escritor a fonte de histórias e sagas que, além de dramas e paixões universais, falam da conquista do território gaúcho e da sua afirmação como parte da Nação brasileira.

Vazada na linguagem singular de um rio-grandense, a trilogia O Tempo e o Vento vem sendo admirada por várias gerações e se inscreve entre as grandes páginas da literatura nacional. Como não se encher de orgulho e de emoção diante da bravura de personagens como Capitão Rodrigo e Ana Terra? Eles e muitos outros são modelos de heróis que compõem o imaginário dos brasileiros e nos fazem ter orgulho de nosso povo, de nossa terra, estimulam-nos a seguir em frente na defesa de nossos ideais e na afirmação de nossa nacionalidade.

Outras obras de Verissimo também nos legaram o mesmo sentido de evolução e combatividade. Vou citar dois exemplos.

Partindo do apelido que tinha em família, escreveu o livro infantil As Aventuras de Tibicuera, um fabuloso relato da trajetória de um índio desde a chegada dos portugueses até o século XX. Imortal, Tibicuera atravessa o tempo e presencia fatos que nós só podemos apreciar pela leitura da História, como a cena do Padre Anchieta escrevendo seus poemas nas areias do litoral paulista. O livro termina com a frase “Tibicuera é você”, o recado do escritor a cada criança que leria sua obra: “Somos o resultado de nossa História e dela devemos nos nutrir como cidadãos do presente”.

O outro exemplo é sobejamente conhecido. Trata-se de Incidente em Antares.

Utilizando-se do estratagema de uma cidade fictícia, Antares, Erico nos presenteia com o próprio enredo da estruturação política do País, marcada pelo autoritarismo golpista e outras mazelas, como a corrupção e os equívocos nos embates entre a direita e a esquerda.

Do legado político de Erico Verissimo, ainda precisa ser mencionada a sua própria postura pessoal, sempre avessa à ditadura e ao fascismo, o que acabou conduzindo-o a um exílio informal nos Estados Unidos, onde lecionou em universidades importantes.

Autor de textos encantadores, criador de personagens densos e significativos para a nossa cultura, desenhista de modelos de nacionalidade brasileira sem nacionalismos, cultor da cultura regional sem o apego ao regionalismo...

Senhoras e senhores, a contribuição de Erico Verissimo ao Brasil é tão grande, que precisaríamos de muito mais homenagens e estudos acadêmicos para lhe fazer justiça. Mas o romancista ainda legou ao País essa figura ímpar de escritor e cidadão que é Luis Fernando Veríssimo, dono de uma prosa rica em estilo e conteúdo, que une o comportamental, o intelectual e o político, quase sempre por meio do humor e da ironia.

Erico Verissimo deixou a marca dos que constroem e legam como herança um império de valor moral e cultural digno de grandes nomes da nossa História.

E é, então, que volto ao início do meu discurso, lembrando o quanto temos, neste momento, de resgatar nossa bravura e nossa autoconfiança, o quanto temos de acreditar e lutar para contornar esta e outras crises e construir, enfim, um Brasil digno e justo, para que nós, mortais, leguemos às próximas gerações o valor imortal da bravura e da participação política como ingredientes indispensáveis à cidadania.

Era isso o que eu tinha a dizer, neste momento, em nome do Senado Federal.

Tenho a honra de conceder a palavra, em primeiro lugar, ao nobre Senador Pedro Simon, autor do requerimento e da homenagem.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/08/2005 - Página 28894