Discurso durante a 152ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre pesquisa do Ibope apontando que, em cada cem brasileiros, apenas oito por cento acreditam nos políticos brasileiros.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Reflexão sobre pesquisa do Ibope apontando que, em cada cem brasileiros, apenas oito por cento acreditam nos políticos brasileiros.
Publicação
Publicação no DSF de 06/09/2005 - Página 30147
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, ANALISE, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, PERDA, CONFIANÇA, CLASSE POLITICA.
  • DEFESA, RESPEITO, MULHER, CRITICA, ATUAÇÃO, CONJUGE, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • LEITURA, PRONUNCIAMENTO, JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO, EX MINISTRO DE ESTADO, ABERTURA, DEBATE, REFORMULAÇÃO, ESTADO, DEFESA, MELHORIA, POLITICA NACIONAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias, que preside esta sessão, no dia 5 de setembro, do Senado Federal.

Creio, Senador Arthur Virgílio, que nos Anais da história do Senado poucas vezes consta uma vigilância no dia 5 de setembro, antevéspera da comemoração do Dia da Independência. Isso mostra a responsabilidade do Senado.

Após esta capa vermelha, estão condensadas todas as reportagens políticas das principais revistas do Brasil, como Carta Capital, IstoÉ Dinheiro, IstoÉ, Época e Veja, cedidas aos Parlamentares.

É uma vergonha, Senador Cristovam Buarque! Nunca a frase de Boris Casoy foi tão justa. É só vergonha, malandragem, corrupção. Ficamos constrangidos. Eu não iria cansá-lo, Senador Cristovam. Eu iria buscar somente a Carta Capital, que traz, em sua capa, a matéria “No fundo do poço. Exclusivo. Pesquisa Ibope diz que 90% dos eleitores não confiam nos políticos”. Senador Alvaro Dias, de 100 brasileiros, somente 8 confiam nos políticos, porque 2 não opinam.

Professor Cristovam Buarque, veja a que o PT nos levou: de cada 100 brasileiros apenas 8 acreditam em políticos.

Senador Alvaro Dias, ainda bem que V. Exª preside esta sessão, porque V. Exª é acreditado por esses 8%. O País vê a sua luta, viu o seu Governo, honrado, no Estado do Paraná.

Eu, Senador Arthur Virgílio, até que estou à vontade, primeiro, porque o País é testemunha de que poucos começaram a contestar este mar de corrupção no País - e eu era um desses. Para abrir uma sessão, há que se ter quatro Senadores presentes. Lembro-me de que estavam no plenário o Arthur Virgílio, bravo índio louro do Amazonas; Antero Paes; Efraim Morais e eu, que ficava presidindo porque tenho mais idade que eles. V. Exª, Senador Alvaro Dias, tinha tirado licença. A Heloísa Helena era do PT, e quiseram levá-la à inquisição. Apagamos a fogueira e salvamos a Senadora.

Atentai bem, Senador Arthur Virgílio: só 8% dos brasileiros acreditam nos políticos! Também essa pesquisa informa que a categoria em que mais se acredita é a dos médicos - graças, talvez, a Juscelino, que deu exemplo de médico, participando na coisa pública; na Igreja Católica, 71%; nas Forças Armadas; nos jornais, 63%; nos engenheiros; na televisão; no rádio, 56%; nas Igrejas Evangélicas, 53%; nos sindicatos de trabalhadores, 51%; nos advogados. O Poder Judiciário também está fraco.

Há que se fazer uma reflexão. Rui Barbosa, que tão bem representou a Justiça, disse que o caminho da salvação é a lei.

Foram citados os publicitários; os empresários; a Polícia; o Senado Federal; a Câmara dos Deputados; os Partidos políticos; e os políticos, somente 8%.

Para onde nos levou, Senador Cristovam Buarque, o seu PT? Oito por cento! V. Exª é professor, único profissional que a sociedade, que o mundo chama de mestre, igual a Cristo. O Senador Pedro Simon é o primeiro político em que esses 8% acreditam. De cada 100 brasileiros, somente 8% acreditam nos políticos.

Atentai bem, Senador Pedro Simon: V. Exª hoje é uma ave rara. Tantos anos de vôo político, e a credibilidade, a vergonha e o exemplo aumentam. Mas está aqui. Essa é a realidade.

Além de tudo o que nos entristece e envergonha, há uma matéria que me preocupa muito: Marisa Letícia. A figura da mulher merece muito mais respeito do que a do homem. Quis Deus adentrar aqui o cristão Pedro Simon.

Senador Pedro Simon, entendo que o maior drama da humanidade foi a crucificação de Cristo. Atentai bem! Todos os homens falharam: Anás, Caifás, José, seu pai, Pedro, os apóstolos, enfim, todos os homens. A mulher de Pilatos - a Adalgisinha dele - disse: “Pilatos, o homem era bom. Eu o observei pregar”. Verônica venceu os militares. Homens que havia lá na hora eram dois ladrões. Mulheres, eram três Marias. Então, a mulher é isso! E sei que Dª Marisa é. Mas nos constrange, a nós que amamos a mulher, a mãe - a minha era terceira franciscana -, a mulher esposa mesmo. Tenho quatro filhos, e Deus me proporcionou três mulheres. Constrange-me a humilhação, a gozação da Primeira Dama. Não desejamos isso, Presidente Lula. Não desejamos, Senador Pedro Simon.

Presidente Lula, temos que ser humildes, mesmo. Humildes. Tento ensinar, mas é difícil Lula aprender. Como me tornei cirurgião? Estudei teoria, mas certas coisas não há livro que explique. Ninguém aprende a andar em livro, ninguém aprende a andar de bicicleta ou a nadar em livro. O mesmo no que diz respeito à cirurgia: ficamos ao lado de um cirurgião observando, observando, observando; depois, ajudamos; quando vemos, estamos operando.

Marisa Letícia, não custa nada V. Sª convidar, por exemplo... Tivemos extraordinárias primeiras-damas. Dona Ruth Cardoso foi nota dez. Está certo que era de outro partido. Mas temos D. Marly Sarney, que votou no “Lulinha Paz e Amor”. E o Senador José Sarney usou toda a sua inteligência, fez malabarismos pela governabilidade. Ele me acalmava era muito aqui, hoje é porque está cansado. Então, D. Marisa Letícia, convide D. Marly Sarney, exemplo, símbolo e orgulho - obteve privilégios talvez educacionais, e, como primeira-dama de Estado, foi impecável -, para que não ocorram mais esses fatos, essas reportagens que nos constrangem. Queremos é ver a mulher enaltecida, principalmente a primeira-dama.

E a História mesmo, Lula, temos que estudar. Não adianta falar, falar, falar. Não dá tempo. Temos que tirar umas horinhas para aprender, para estudar. Júlio César, o romano, que todo mundo lê e estuda, fez uma meditação a esse respeito e disse que não basta a mulher de César ser honesta, ela tem que parecer honesta.

Agora, esta reportagem ridiculariza! Está aqui na revista IstoÉ Dinheiro: “Os presentes da Dona Marisa”. Senador Pedro Simon, sei o que é isso. Senador Cristovam Buarque, V. Exª é professor, mas não foi “prefeitinho”; foi um extraordinário Governador e um extraordinário Ministro.

Senador Pedro Simon, eu me lembro de que, quando governava o Piauí, nos primeiros dias, uma de minhas filhas se casou com um empresário, e recebi um carro de um grande empresário. Senador Pedro Simon, eu disse: “Olha, não vou poder aceitar o presente de aniversário”. Porque, pela minha formação, sou filho de mãe da Ordem Terceira Franciscana, e só recebo, Senador Arthur Virgílio, um presente que eu tenha a possibilidade de dar: se ganho um livro, recebo, porque posso dar outro; se recebo um uísque, dou nem que seja um rum. E vamos vivendo. Mas um carro não vou poder dar. Tais fatos nos entristecem e são graves. A família tem que ser salvaguardada.

Mas nem tudo está perdido, Senador Alvaro Dias. E por que sou orgulhoso de ser do Piauí, Senador Pedro Simon? O Amazonas é grandioso em terra; ganha, Senador Arthur Virgílio, em área geográfica. Mas, em matéria de virtude, Senador Alvaro Dias, tenho a convicção de que o meu Piauí ganha medalha de ouro. Não sei se a medalha de prata fica com os gaúchos lá das Farroupilhas!

E observem a salvação diante da desonra. Todas as páginas são vergonhosas. Não vou falar, repetindo o Senador Alvaro Dias, que inventou o “bandejão” - não é mais o “mensalão”; existe agora o “bandejão” na Câmara dos Deputados -, que apenas 8% dos políticos são acreditados. Sem crença não há confiança, sem confiança não há liderança! Então, o País está difícil.

Atentai bem, vamos agora mensurar, porque está no hino do Piauí: “Piauí, terra querida, Filha do sol do Equador. Na luta, seu filho é o primeiro que chega”. Nós chegamos aqui, contestando isso, esse mar de incompetência, de corrupção, de crimes.

Mas, Senador Arthur Virgílio, esperança, apesar de tudo. E o único artigo que nos dá uma luz é lá do Piauí: João Paulo dos Reis Veloso. Atentai bem, Lula, está aí a sua salvação. Vossa Excelência não tira este Governo, Lula. Votei, trabalhei, acreditei, lutei. Vossa Excelência, Lula, não tira se não buscar seu Richelieu. Sugeri o Senador Cristovam Buarque. Cristovam, V. Exª recebeu o telefonema lhe convidando? Então, Sua Excelência não quer dar outro telefonema para não voltar atrás; palavra de rei não volta atrás. Mas que convide este: João Paulo dos Reis Veloso. Quinze anos sendo a luz do governo revolucionário dos militares. Quinze anos sendo a luz, o desenvolvimento tecnológico. João Paulo dos Reis Veloso, vindo lá do Piauí, filho de carteiro com costureira. Quinze anos! Nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade, nenhuma corrupção. Quinze anos mandando neste País! Isso é virtude de gente do Piauí. Atentai bem!

Pelo amor de Deus, Lula: a esperança, apesar de tudo. E ele é cristão. João Paulo dos Reis Veloso aprendeu com o apóstolo Paulo, que diz que a fé remove montanhas. Esperança e amor. E ele diz: “Esperança, apesar de tudo”. Se não houver reforma logo mais, novas crises virão.

Senador Cristovam Buarque, João Paulo dos Reis Veloso, Coordenador-Geral do Fórum Nacional, na Abertura do Fórum Especial sobre Reforma das Instituições do Estado Brasileiro, em Brasília, no dia 1º de setembro, fez o seguinte pronunciamento:

Diante da atual crise política, uma das mais graves que o País já enfrentou - porque afeta boa parte dos partidos políticos e das instituições do Estado Brasileiro -, gostaria de dizer três coisas.

Primeiro: uma reflexão a respeito das conseqüências da crise sobre a sociedade, as lições que parte das lideranças nacionais estão dando ao povo.

Lições de falta de ética, de descumprimento das leis, de uso da coisa pública em benefício próprio ou de partidos políticos.

Lições de que os fins justificam os meios para alcançar o poder ou a riqueza.

Lições de que a democracia não leva ao ‘bom governo’.

Diante da crise, a sociedade tem direito à indignação, à revolução do cumprimento da lei, da punição dos culpados - sem caça às bruxas.

Direito a pensar em fazer coisas em benefício do velho ‘sonho brasileiro’ - o desenvolvimento.

Desenvolvimento econômico, social, político, institucional, cultural, ético e espiritual.

Segundo: fugindo à tentação de viver com pena de nós mesmos, este fórum especial procura descer às raízes da crise, voltando-se para a reforma das instituições do Estado Brasileiro - Executivo, Legislativo e Judiciário (e partidos políticos).

Porque há algo de errado em parte dessas instituições.

Por isso, se não houver reformas, logo mais novas crises virão. Reformas, numa visão de processo, que, por etapas sucessivas, permita ter, no País, uma ‘década de reformas’.

É a idéia de uma grande alternativa para o País não ficar paralisado, enquanto as CPIs cumprem sua missão.

Nessa agenda, temos: revisão do relacionamento entre os poderes; reforma política (inclusive sistema de partidos e sistema eleitoral); reforma do Judiciário (e do Ministério Público); reestruturação administrativa - com avanço para a ‘administração permanente’; novo regime fiscal; levar o Estado às favelas e periferias urbanas.

Tudo isso dentro da duas idéias básicas [aprenda, Lula]:

transparência no Estado (falo de clareza. O Estado tem que ser transparente);

e, como já disse: “No Brasil, fazer cumprir a lei é revolucionário” (não se cumprem as leis).

Dessa forma, vai-se começar pelo tema político-institucional, passar ao econômico e terminar no social, razão maior da existência das instituições do Estado.

Terceiro: é possível ter esperança.

(...)

A palavra final, portanto, é esperança”.

A esperança é o que queremos trazer com o nosso trabalho. Estamos aqui em vigília.

            Senador Pedro Simon, fui ao Piauí. Os médicos me perguntaram como estava o Brasil, e perguntaram logo: “Como é, vocês não vão cassar esse Severino, não? Quem é o Vice? Ele vai ser Presidente?”. Falo mesmo da classe médica, que tirou o primeiro lugar na pesquisa. A ciência médica é a mais humana das ciências. Senador Alvaro Dias, para explicar, eu disse: meus amigos, o Brasil está como aquele doente difícil de tratar. Ou seja, quando não sabemos mais o que fazer, experimentamos um remédio para ver como é que fica. Estamos tentando. E o remédio, como disse João Paulo dos Reis Velloso, é que não pode faltar esperança.

E a esperança está neste Senado da República, cujos símbolos - Cristo e Rui Barbosa - disseram: só há um caminho para a salvação: a lei e a justiça.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/09/2005 - Página 30147