Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relaciona a falta de crescimento econômico no país aos baixos investimentos em educação.

Autor
Eduardo Siqueira Campos (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE DESENVOLVIMENTO. EDUCAÇÃO.:
  • Relaciona a falta de crescimento econômico no país aos baixos investimentos em educação.
Aparteantes
Mão Santa, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 07/09/2005 - Página 30340
Assunto
Outros > POLITICA DE DESENVOLVIMENTO. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, CRIAÇÃO, PROJETO, INTEGRAÇÃO, AMBITO NACIONAL, REDUÇÃO, DESIGUALDADE REGIONAL, MELHORIA, APROVEITAMENTO, RECURSOS NATURAIS.
  • DEFESA, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, COMPARAÇÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, COREIA DO SUL, INDIA.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO, ESTADO DO TOCANTINS (TO).

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, Srª Senadora Serys Slhessarenko, integrante da Mesa, meus nobres Pares, Srªs e Srs. Senadores, meu querido Tocantins, que acompanha os trabalhos desta Casa pela TV Senado, pela Rádio Senado FM e também pela Rádio Senado em ondas curtas, quero, em primeiro lugar, registrar as honrosas presenças na tribuna de honra desta Casa do meu querido Vereador Clênio da Rocha, da cidade de Xambioá, e também de Paulo Gomes, o Paulinho do Banco, também representante do povo de Xambioá no Legislativo municipal.

Sr. Presidente, já estive algumas vezes na tribuna desta Casa para dizer que Deus nos abençoou com tudo aquilo que um país poderia pedir em termos de riquezas naturais e de povo. E, quanto à frase que dizia que o Brasil era esse grande gigante que não havia ainda despertado, que o Brasil é o país do amanhã, sempre do amanhã e nunca o Brasil do hoje, sempre defendo a tese - e vejo em debate nos canais de televisão - de que é uma pena que a população brasileira resida tão longe das suas riquezas naturais, minerais e da biodiversidade.

Sr. Presidente, dois terços da população brasileira ainda vivem em um terço do território nacional. É o Sudeste maravilha, que ilude tanto. Com todo o respeito a todas as regiões brasileiras, quando falamos em desigualdades regionais, sem dúvida nenhuma, estamos falando exatamente disso.

Temos uma região extremamente rica em água, em biodiversidade, em minerais, mas o que é que nós fazemos, Sr. Presidente? Não temos um projeto de integração nacional. Talvez o último movimento que o Brasil tenha feito, depois de Juscelino trazer a capital para Brasília, e mudar o eixo do Brasil, foi criar a Belém-Brasília. Em função disso, nasceu o Tocantins. Palmas é o centro geodésico do País.

Ainda falta um projeto de integração nacional, um projeto de aproveitamento das nossas verdadeiras riquezas. E aí nós ficamos diante da seguinte realidade. O mundo já teve o ouro como âncora da sua economia, e o substituiu pelo petróleo. Hoje, sabemos que caminhamos para que a água seja considerada o grande bem da humanidade. Mas, Senadora Heloísa Helena, o que é que prevalece nas negociações das grandes potências internacionais? O mercado financeiro.

Ainda estamos medindo o nosso potencial, e eu fico triste quando ouço falar no risco Brasil, porque não há risco com uma Pátria abençoada como a nossa. Não poderíamos aceitar o jogo de sermos manipulados, tendo o que temos: uma posição estratégica. Onde está a Base de Alcântara? Por que é do interesse nacional lançar foguete na Base de Alcântara? É pela sua posição estratégica, que economiza 30% nos combustíveis sólidos. Qual é o país que não queria ter a água que o Brasil tem? Qual o país que pode ter, na fruticultura, na agricultura, na pecuária, no agronegócio, mais resultados do que o Brasil? Mas vendemos soja in natura, somos os maiores exportadores de minério de ferro - e parece que nos orgulhamos disso -, para, depois, comprarmos tudo isso em subprodutos, sem agregar valores, desperdiçando o que há de melhor da nossa gente.

Então, já tenho dito muito, representando o Tocantins, que espero que haja um movimento pela verdadeira integração nacional, pela ocupação devida do território nacional, e que, um dia, o Brasil deixe de ser o Brasil do amanhã e passe a ser o Brasil do hoje, dos nossos brasileiros, homens e mulheres.

Segundo Chico Buarque disse, um dia: “...seus filhos caminhando tristes, pelas ruas da nossa Nação, construindo imensas catedrais...”

Isso também não deixa de ser, Senadora Heloisa Helena, um pouco daquilo que Augusto dos Anjos colocou em um de seus poemas, “O Lamento das Coisas”: O cantochão dos dínamos profundos,/ que, podendo mover milhões de mundos/ jazem ainda na estática do Nada!

Penso que poderíamos dizer que a inspiração pudesse estar vindo da falta do aproveitamento da verdadeira riqueza nacional.

Agora, sem falar do nosso berço esplêndido, a nossa Pátria amada, dos seus solos, das suas riquezas, da biodiversidade e de tudo isso que não está sendo aproveitado, Senadora Heloisa Helena, quero me referir um pouco às aferições que o mundo financeiro e econômico faz com relação ao Brasil.

Em 1998, fomos considerados a 8ª economia do mundo. Despencamos, anos depois, para a 15ª posição. Apontam-nos novamente como o país do amanhã, elevando-nos ao 12º posto.

Senador Pedro Simon, o que pode estar fazendo a grande diferença, se riqueza nós temos? Quero dar alguns dados que apontam para essa direção. Vamos tomar como referência um país como a Coréia, com 50 milhões a 60 milhões de habitantes. Temos um Brasil com mais de 180 milhões de habitantes. É difícil, é entristecedor dizer qual é o número de brasileiros que, neste exato momento, estão fazendo pesquisa, mestrado e doutorado fora do nosso País. Esse é um investimento que todas as nações fazem nos seus estudantes que têm um verdadeiro potencial para o desenvolvimento tecnológico em todas as áreas. O Brasil tem hoje, Senadora Heloisa Helena, pouco mais de três mil brasileiros fazendo pesquisa, mestrado ou doutorado.

Quantos coreanos estão, neste exato momento, nos diversos centros de pesquisa do mundo adquirindo conhecimento para retornar à Coréia e fazer com que aquele país continue a ser chamado de Tigre Asiático? Quarenta e dois mil coreanos. Ou seja, um país com um terço da nossa população tem mais de 42 mil estudantes fazendo mestrado, doutorado, pesquisa nos melhores centros do mundo. E o Brasil, com 180 milhões de habitantes, tem apenas três mil.

Quero mencionar o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e a Capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que são os braços que ainda conseguem fazer com que esses brasileiros tenham as mínimas condições para o seu aperfeiçoamento.

Mas, no meu entendimento, não dá para deixar de fazer um paralelo entre o que todas as nações fazem em termos de investimento. Aquelas que não têm as terras, a água, os minérios, que não podem competir com o Brasil em nada disso, onde é que fazem o investimento? Na tecnologia, na educação, impulsionando suas economias.

Vou dar outro exemplo, Senador Paulo Paim, que discuti com os estudantes nesse período que alguns imaginam ser de recesso, mas que aproveitamos muito para debater com os centros acadêmicos. Imagine, Senador Paulo Paim, o que é que pode ter transformado a Índia, um país com 1,62 bilhão de habitantes, dos quais 40% nem energia elétrica têm, onde 70% da população está na zona rural, um país que tem as castas, as divisões religiosas, problemas que não quero mencionar, afinal de contas é a terra de Mahatma Gandhi, e a luta daquele povo é um exemplo de luta pela sobrevivência. Mas a Índia se transformou no segundo maior exportador de software do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, onde este mercado está desempregando. Na Índia, esse mercado é o que dá mais emprego, é o maior responsável...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - (...) pelo aumento do PIB indiano. Há ainda 30% de analfabetos naquele País. Mas percebemos que o Brasil, que perdeu essas posições na economia mundial, perdeu para quem investiu na educação e no conhecimento, porque eles não têm como investir em ter mais água, em ter um solo tão abençoado, e vêm aqui, inclusive, na nossa Amazônia, pesquisar, investir e até registrar o domínio sobre frutas como, por exemplo, o cupuaçu, que descobrimos ter sido registrado como propriedade de uma outra nação.

Então, Srª Presidente - e registro que agora estamos sendo presididos pela Senadora Serys Slhessarenko, do Estado vizinho e irmão que é o Mato Grosso, uma nova fronteira agrícola...

(interrupção do som.)

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - (...) cinco minutos depois dos dez. Gostaria de cumprir o Regimento. Agradeço a V. Exª por esses cinco minutos a mais.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Sr. Senador, eu já havia lhe dado um minuto a mais, então V. Exª está com seis.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Muito obrigado, Srª Presidente.

Senador Paulo Paim, fui, junto com o Senador Pedro Simon, membro da CPI dos Bancos. Nós trabalhamos juntos, Senador Pedro Simon. Eu fui sub-relator do sigilo bancário na CPI dos Bancos. V. Exª, como sempre, trouxe o brilho da experiência, da sensatez e tudo o mais o que V. Exª traduz, para a honra de nós, Senadores. Eu poderia escrever um dia na minha história: convivi com Pedro Simon. Bastaria. Seria muito para qualquer brasileiro. Eu recebo, Senador Pedro Simon, muitas perguntas: “Siqueira, porque você não está nesta CPI, aproveitando esse espaço? Eu digo: “Porque há um outro espaço. Sou membro da Mesa. Se sobe um recurso, quem é que o julga?” Os membros da Mesa são impedidos de participar de comissões permanentes, mas não temos impedimentos para participar de CPIs. Estarei em outra CPI um dia? Pode ser. Prefiro que aconteçam todas as CPIs....

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Siqueira Campos, V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Em seguida, Senador Mão Santa.

Mas há que se ter um plenário, em véspera de feriado, com um quórum mínimo. Senador Eduardo Suplicy, Senador Pedro Simon, Senador Paulo Paim, Senador Mão Santa, Senador Demóstenes Torres, Senador João Batista Motta, Senadora Serys Slhessarenko, nós estamos aqui na terça-feira, véspera de feriado, porque o Brasil tem que ser discutido, tem que ser debatido. Nós representamos os Estados. E eu fico me perguntando o que falta na economia brasileira para caírem os juros? Não há mais inflação, não há crise externa, não há mais nada, e o Brasil tem três mil brasileiros estudando no exterior por conta da Capes, do CNPq, depois de uma luta árdua, enquanto a Coréia, com um terço da nossa população, tem 42 mil coreanos fazendo pesquisa, mestrado ou doutorado.

E aí, Sr. Presidente, até quando vamos continuar sendo o Brasil do amanhã? Até quando surgir um novo Juscelino Kubitscheck? Até quando surgir uma grande liderança nacional que tenha a coragem de transformar, que não seja de Esquerda, que não seja de Direita, mas que seja reformadora? Alguém que tenha um projeto, que tenha coragem, como teve Churchill, como teve Roosevelt, como teve Juscelino, cada homem no seu tempo. Citaria também Getúlio Vargas, Senador Pedro Simon, que pode ter sido combatido por muitos, admirado por tantos, mas deixou o seu nome na história com posições corajosas.

Sinto que falta um projeto nacional, para que não fiquemos na mão da ciranda financeira internacional, sendo detentores das maiores riquezas que um país pode ter, inclusive deixando de investir nos nossos filhos, para deixarmos de ser o País apenas do amanhã.

É um desabafo, e vou terminar, para cumprir o meu tempo, concedendo um aparte ao Senador Mão Santa e tendo a honra, Senador Pedro Simon, de também ouvir V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Eduardo Siqueira Campos, temos um bocado de culpa. Primeiro, deixamos o Presidente da República, naquela sua ignorância audaciosa, mandar para a Câmara dos Deputados, por pressão do Poder Judiciário, a maior aberração salarial. Então, vamos ser muito práticos. A compensação do trabalho é o salário. É vil o salário de qualquer professor universitário, de qualquer pesquisador, de qualquer cientista. Qualquer jovem brasileiro, estudioso, inteligente, está buscando se formar em Direito. Neste País só há bons salários para quem está servindo a Justiça. Fomos pressionados lá pelo monstrengo de tal maneira que não há estímulo, não há motivação. Então, o grande déficit aqui é devido à injustiça salarial dos professores, dos engenheiros, dos químicos, dos médicos, dos cientistas. Então, qualquer jovem - e se eu tivesse nos bancos universitários hoje também o faria - vai buscar fazer Direito, porque recebem altos salários e não têm produção. Como V. Exª disse, o País não tem riquezas advindas de ciência e de pesquisas. O País está vendendo a natureza sem beneficiamento que se transforma em riqueza. É por essa grande injustiça salarial que, em parte, temos culpa.

            O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Senador Pedro Simon, vou encerrar o meu pronunciamento ouvindo V. Exª, com grande honra.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Quero felicitar V. Exª pelo pronunciamento. V. Exª é um jovem parlamentar que vem de um Estado recém-criado que está tendo desenvolvimento - inclusive, o seu pai é um grande responsável por isso -, que cresceu que avançou, numa demonstração do que se pode fazer. O discurso de V. Exª tem muito de claro e muito de correto. Por que o Brasil no tempo de Juscelino aumentou realmente cinqüenta anos em cinco e por que depois não? As condições do Brasil, não tem dúvida V. Exª, são as melhores. Pode ter país igual ao nosso, melhor não tem. Se repararmos de Juscelino para cá: tivemos o Jânio Quadros, que foi eleito e governou por sete meses e renunciou; os militares não queriam deixar o Jango assumir, ele assumiu e inventaram o parlamentarismo e aí foram quatro anos de crise, crise e mais crise; vieram os militares e deram o golpe, ficaram por vinte anos; então conseguimos eleger um Presidente, Dr. Tancredo, que morreu; Sarney assumiu, fez o que foi possível - justiça seja feita -, mas não era o homem indicado para a época. O que aconteceu? Elegemos um tal jovem, brilhante, que ficou dois anos e que teve o mandato cassado. Vieram os oito anos de Fernando Henrique Cardoso, um cara espetacular, mas que, em termos de desenvolvimento e crescimento, foi um zero total. Agora, o Lula, que esperávamos seria o ponto inicial de uma transformação, realmente não o foi. Repare V. Exª que o Brasil não está caminhando certo com o seu destino. Não estamos encontrando gente que dê condições de fazer o Brasil crescer e avançar. O Brasil hoje é dez vezes melhor que o Brasil de Juscelino, há mais estradas, mais energia, mais capacidade, mais tecnologia. Se já conseguiu avançar cinqüenta anos em cinco anos, por que agora, como diz V. Exª, estamos parados no tempo?

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Porque, lamentavelmente, a classe política, nós, a elite brasileira, está muito aquém daquilo que o Brasil precisava. Meus cumprimentos a V. Exª.

O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PSDB - TO) - Agradeço o honroso aparte. Agradeço a V. Exª, Srª Presidente, Senadora Serys Slhessarenko.

Farei um último registro: realmente o Tocantins foi um avanço para o País. Palmas tem 200 mil habitantes. Essas pessoas estariam aqui nas cercanias de Brasília ou talvez no Sudeste maravilha. E nós estamos ocupando bem o nosso território nacional.

Por isso, a bem da verdade, Senador Pedro Simon, para o nosso Tocantins, que construiu hidrelétricas, que teve investimentos e que teve várias visitas do Presidente Fernando Henrique Cardoso, não posso deixar de registrar que, para nós, ele voltou seus olhos para o nosso Estado e ajudou no nosso desenvolvimento. Tivemos, sim, a parceria entre Siqueira Campos, meu pai, e o Governo do Presidente do Fernando Henrique Cardoso, a quem devemos muito.

São essas as minhas palavras, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/09/2005 - Página 30340