Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Questionamentos à política de juros altos praticada pelo Governo Federal. Divergências quanto a comparações feitas pelo Presidente Lula, entre seu governo e o governo do ex-Presidente Juscelino Kubitschek.

Autor
João Batista Motta (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: João Baptista da Motta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Questionamentos à política de juros altos praticada pelo Governo Federal. Divergências quanto a comparações feitas pelo Presidente Lula, entre seu governo e o governo do ex-Presidente Juscelino Kubitschek.
Publicação
Publicação no DSF de 07/09/2005 - Página 30383
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DENUNCIA, CORRUPÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, EFEITO, CONCENTRAÇÃO DE RENDA, FAVORECIMENTO, GRUPO ECONOMICO, BANCOS, PROTESTO, INJUSTIÇA, SUPERIORIDADE, JUROS.
  • DENUNCIA, CORRUPÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), ISENÇÃO FISCAL, IMPORTAÇÃO, MAQUINARIA, OBJETIVO, EXTRATIVISMO, MINERIO, AUSENCIA, BENEFICIAMENTO, PRODUTO EXPORTADO, CONCLAMAÇÃO, REJEIÇÃO, MATERIA.
  • CRITICA, INEXATIDÃO, DISCURSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, ATUAÇÃO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. JOÃO BATISTA MOTTA (PSDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assomo mais uma vez a esta tribuna para abordar alguns fatos, inicialmente fazendo uma homenagem ao discurso feito aqui pela Senadora Heloísa Helena, que não foi um discurso simples e nem corriqueiro. Foi um tratado. Não sei como S. Exª conseguiu tantas informações sobre a corrupção brasileira, mostrando que ela começou com a carta de Pero Vaz de Caminha e chegou até hoje.

O Senador Heráclito Fortes também fez menção ao momento que estamos atravessando, com essa corrupção desenfreada, com essa vergonha nacional, com esse absurdo, e ao fato de que o povo brasileiro se encontra indignado diante dos acontecimentos.

Senador Mão Santa, Senadora Heloísa Helena, Senador Heráclito Fortes, a corrupção não está só nessa exposta nos últimos Governos ou nos Governos brasileiros, desde Pedro Álvares Cabral. Acredito que a corrupção seja muito mais acentuada quando se trata dos mecanismos implementados, que permitem que grupos inescrupulosos cada vez enriqueçam mais e locupletem-se, cada vez mais, do suor do povo brasileiro, como é o caso dos banqueiros deste País.

Sr. Presidente, não me convencem os juros praticados atualmente neste País. Todos sabemos que não há a menor necessidade. E aí vem a pergunta: por que juros com esses percentuais? Por que este País não tem o direito de crescer praticando juros parecidos com os de outros países? Não há corrupção? Não é interesse de grupos econômicos? Não é a influência dos banqueiros? Não há nenhum brasileiro que não faça essas perguntas, pois todos nós sabemos que há interesses escusos por trás dessa prática de juros altos. Os ricos, seja qual for o juro, não deixam de fazer as suas compras, não deixam de comprar o seu luxo, porque compram à vista. Nós só tolhemos, através de juros altos, as compras dos necessitados, dos mais pobres, daqueles que precisam comprar a crédito, daqueles que não têm dinheiro guardado, que, estes sim, pagam juros, nas taxas de hoje, entregando seus recursos, seus salários aos banqueiros deste País.

Tem mais coisa, Senador Heráclito Fortes. A Medida Provisória nº 252, que vem aí para ser aprovada, que o Governo Federal mandou para a Câmara e que está para chegar ao Senado, traz muita corrupção embutida! Há muita vergonha embutida naquela Medida Provisória.

Considerada como “medida do bem”, não é nada mais nada menos que uma casca de banana que colocaram para o Presidente Lula assinar. Uma casca de banana para que ele escorregue mais uma vez. Quem fez isso? Não sabemos. Como o Presidente Lula, que considero um homem de bem, que sei tratar-se de um homem de bem, permite que coisas assim aconteçam em seu Governo?

Pois bem, a Medida Provisória nº 252, uma vez aprovada, vai permitir que empresas possam importar máquinas de grande porte com a finalidade de ajudar na exportação... Essas máquinas que serão adquiridas no exterior vão entrar no Brasil sem pagar um centavo de tributo. Não se trata de máquinas para fazer sapatos para exportação ou para beneficiamento da soja, porque estas são fabricadas no Brasil. São máquinas enormes, Presidente Mão Santa! Falo daquelas pás carregadeiras fabricadas nos Estados Unidos, daquelas locomotivas que o Brasil, infelizmente, ainda não fabrica. Elas serão importadas sem pagar um centavo de tributo!

Até agora não falei sobre o motivo da corrupção. Este País exportou, no ano passado, 218 milhões de toneladas de minério para somar apenas US$4,5 bilhões em nossa balança, enquanto a soja contribuiu com US$10 bilhões. Senador Presidente Mão Santa, vamos importar máquinas de grande porte sem pagar um centavo de tributo na importação para arrancar nossos minérios do nosso solo e mandar para o mundo beneficiar, mandar lá para fora, para lá ser produzido o emprego, esse emprego que é tão desejado pelo nosso povo, por um povo que é obrigado a passar pelas nossas universidades e depois ir lavar pratos nos Estados Unidos.

Conclamo esta Casa, chamo a atenção da Senadora Heloísa Helena, do Senador Heráclito Fortes, do Senador Mão Santa, dos Senadores Líderes de todos os Partidos da Casa para que não deixemos cometer essa indignidade contra o povo brasileiro.

Mas, Presidente Mão Santa, eu também não podia deixar de falar aqui numa injustiça que está sendo praticada de uma maneira geral, principalmente pela imprensa brasileira. O Presidente Lula se comparou ao ex-Presidente Juscelino Kubitschek. Sua Excelência se disse vítima, como o Presidente Juscelino Kubitschek, e se disse o grande artífice de uma obra que está sendo construída neste País. Não quero aqui entrar no mérito, porque a origem de Lula e de Juscelino é a mesma, o berço pobre, o ideal é o mesmo, o amor à Pátria é o mesmo, mas há uma diferença enorme: Juscelino era um gerente. Juscelino cuidava das coisas deste País com competência. Juscelino cuidava de gerar energia elétrica, construindo Furnas e Três Marias. Juscelino cuidava de dar a este País fábricas de automóveis e de geladeiras. Juscelino criou as nossas termoelétricas e as nossas indústrias de ferro, como a Usiminas, criada no seu Governo, como tantas outras grandes indústrias que vieram beneficiar o nosso País. Juscelino construiu quase todas as estradas que este País tem hoje e que agora não temos capacidade sequer de tapar os seus buracos.

Senador Mão Santa, há uma diferença enorme entre um Presidente que, infelizmente, não encontra o seu caminho e um Presidente que construiu Pampulha e o Lago Paranoá. Talvez Brasília seja a menor obra de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Brasília, hoje apontada como a melhor e maior obra e que todos queremos tornar a capital mais importante do mundo, como é, ainda é uma obra pequena diante da gigantesca obra realizada por Juscelino neste País.

Não há comparação entre o Governo Lula e o Governo de Juscelino Kubitschek!

Senador Mão Santa, outro dia, assistindo ao Programa Ana Maria Braga, fiquei comovido. Ela contou uma história, através do seu pessoal, que levou uma senhora de mais ou menos 60 anos para visitar o local onde ela teria sido criada. Essa senhora teria vivido dos 3 anos de idade até os 15 anos num sanatório. Ao chegar ao local, essa senhora começou a chorar. Perguntada pelo repórter por que aquele choro, ela dizia: “Nesta cama aqui dormia uma branquinha que aparentava ser rica. Nessa outra cama dormia uma outra branquinha que parecia ser pobre. E eu ficava observando as duas. Numa noite, a que parecia ser rica começou a passar mal. A outra branquinha, que parecia ser pobre, levantou, segurou na mão da outra branquinha e falou: ‘vou chamar alguém para te ajudar porque você está passando mal’. E a outra disse: ‘não precisa, me dê só a sua mão’. Uma segurou na mãozinha da outra e ficou muito tempo naquela posição. Depois virou seu corpo. Deitaram as duas na mesma cama e dormiram”.

A senhora que estava fazendo o programa da Ana Maria Braga disse, então, que de manhã ela viu quando chegou a senhora que tomava conta e, vendo as duas deitadas, levantou o lençol. Para sua surpresa, a branquinha que estava passando mal, a que aparentava ser rica, ainda segurava a mão da pobre, no entanto, estava morta. Isso fez chorar o Brasil todo que assistia ao programa da Ana Maria Braga.

O programa terminou, mas dizia aquela senhora que estava sendo entrevistada: “Graças a Deus apareceu a vacina contra a tuberculose - ou seja, a penicilina - e fui salva”. E acabou o programa.

Ninguém lembrou na Globo, ninguém do programa Ana Maria Braga lembrou que um cidadão obstinado, corajoso e inteligente, descobriu a vacina, a penicilina, o antibiótico, e que, dali para cá, ninguém mais morreu de tuberculose. O nome de Fleming, homem que descobriu a penicilina, não foi citado no programa.

É uma injustiça da humanidade, é uma injustiça do povo brasileiro, não fazer valer, não mostrar à nossa população as pessoas que trabalharam, que lutaram pela humanidade.

Entre esses injustiçados, como é o caso do Fleming no programa Ana Maria Braga, Juscelino também foi um injustiçado neste País, porque nada, ninguém, todos juntos, nada se compara a Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/09/2005 - Página 30383