Discurso durante a 155ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários a e-mail recebido com críticas ao atual Governo e a S.Exa.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Comentários a e-mail recebido com críticas ao atual Governo e a S.Exa.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2005 - Página 30500
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • COMENTARIO, TROCA, CORRESPONDENCIA, ORADOR, PROFESSOR UNIVERSITARIO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), LEITURA, TRECHO, ANALISE, CRISE, POLITICA NACIONAL, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, SINDICALISTA, METALURGICO, COMBATE, DITADURA, REGIME MILITAR, RESPOSTA, IMPORTANCIA, LUTA, ETICA, DEMOCRACIA, JUSTIÇA SOCIAL, NECESSIDADE, COMPROMISSO, CONGRESSO NACIONAL, ATENDIMENTO, EXPECTATIVA, POPULAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • ELOGIO, TRABALHO, SENADO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, COMPLEMENTAÇÃO, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, ESPECIFICAÇÃO, RODOLPHO TOURINHO, SENADOR.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias que preside esta sessão, Senador Rodolpho Tourinho, Senadores e Senadoras, nesta sexta-feira, faço da tribuna algo que nunca fiz, talvez por estar vivendo esta crise do meu Partido e, conseqüentemente, do Governo do qual faço parte, que é a base de apoio.

Tenho recebido, como já falei algumas vezes aqui, muitos e muitos e-mails, não importa a quantidade, são milhares. E um me chamou a atenção de forma especial, o de um professor universitário do Rio Grande do Sul, geólogo, cujo nome é Paulo, a quem pedi autorização para divulgar seu e-mail.

Sr. Presidente, ele faz críticas duras, muito duras, ao PT, ao Governo, ao Presidente Lula e a este Parlamentar. Ele diz no encerramento do primeiro e-mail que me mandou: “Então, Sr. Senador, tinha que desabafar com aquele a quem eu cheguei a considerar o ‘Lênin sul-americano’, em quem muito me orgulhei em ter dado meu voto e, espero, voltar a dar, quem sabe” no futuro, se tiver em outro Partido com legenda ética.

Senador Alvaro Dias, não estou fazendo nenhum auto-elogio, porque digo a ele que não tem nada a ver me considerar Lênin. Quem sou eu? V. Exª me conhece. Sou um operário, que calco a minha vida aqui no mundo social e conto um pouco da minha história.

Ele faz elogios - e faço questão de dizer - ao P-SOL, ao Senador Eduardo Suplicy e faz críticas a este Parlamentar, ao PT, ao Governo e ao Presidente.

Sr. Presidente, de forma muito carinhosa, como sempre faço, recebi esse e-mail e o respondi na íntegra com muito carinho e respeito, dizendo a ele que entendia a sua revolta, a sua indignação. Fiz ponderações sobre o Governo, sobre a PEC paralela - que ele disse que foi uma enganação que durou quase dois anos. Disse ele que, na PEC paralela, também me enganaram e que eu não reagi e que ele esperava uma posição mais dura daquele que aprendeu a respeitar ao longo da sua vida.

Ele era estudante, e eu já era sindicalista. Pois bem. Respondi, explicando que a PEC paralela foi uma conquista de todos aqueles que discordavam da PEC da Previdência, como V. Exª, Senador Alvaro Dias, e o Senador Rodolpho Tourinho.

Enfim, enviei respostas a ele, em que escrevi umas duas laudas dizendo que devemos atentar para que este momento tão difícil da vida nacional não se torne apenas um período de caça às bruxas. E digo eu na resposta: “É preciso que entenda que há homens de bem em todos os Partidos”. Em todos os Partidos, há homens sérios, homens de bem, e há também aqueles que erram.

Disse ainda que, diante do momento difícil da vida nacional, tenho muita esperança de que tudo vai ser investigado e de que a opinião pública terá a resposta que espera.

Aí, Sr. Presidente, para minha alegria, ele me respondeu. E aqui vou me dar o direito - depois de tê-lo consultado - de ler a sua resposta. Lerei um trecho que conta um pouco uma fase da minha vida e um detalhe do qual não me lembrava mais. Isso para mim é uma demonstração de que existem milhões e milhões de brasileiros que ainda acreditam muito nos políticos e no Congresso Nacional e que querem respostas. É importante que o Congresso Nacional dê a resposta, porque essa é a expectativa criada hoje na população brasileira.

Ele responde da seguinte forma:

Prezado Senador, me emocionou muito a sua resposta. É o que eu esperava de sua pessoa, um cavalheiro e um cidadão, acima de tudo. Mesmo magoado, mesmo não me identificando mais com o Partido, seguirei, com certeza, dando meu voto para S. Sª...

E segue dizendo que entende que sou um homem de bem - estou resumindo o que ele disse aqui.

E segue:

Desculpe-me pelo emocional na hora em que lhe enviei o e-mail anterior. É que, caríssimo Senador, os episódios todos foram e estão sendo piores do que uma punhalada em quem anonimamente tanto se identificou e lutou pelo sonho que o PT representou.

Senador, vou lhe confessar algo que, talvez, só o senhor saiba {e agora, todo o Brasil vai saber e ele me autorizou a dizer}: por diversas vezes, estive muito próximo de S. Sª, mas preferi não cumprimentá-lo, pois acho que o anonimato é a melhor das estratégicas quando se acredita numa pessoa. Acompanho-o desde a grande epopéia que o senhor patrocinou, há muitos anos, em plena ditadura - a Marcha dos Metalúrgicos de Canoas a Porto Alegre {acho que era o primeiro deslocamento de sindicalistas numa distância semelhante àquela, o que se deu ainda em 1981}.

A primeira pessoa que me impressionou naquela marcha foi a sua figura, de dedo em riste, com a barba bastante crescida, de macacão cinza-azulado, em frente ao fórum, conclamando os seus à frente, desafiando a barbárie em que vivíamos {que era a ditadura}. Ali que eu cunhei o termo que sempre lhe apregôo, o de “Lênin sul-americano”.

Segui-o quase que hipnotizado no contorno da Assembléia...

Ali já estavam vinte mil pessoas. Eu tinha saído de Canoas juntamente com cinco mil pessoas, e alguns pediam que se invadisse a Assembléia. O Governador era o Jair Soares. Eu, coordenando aquele ato, dizia que ninguém invadiria a Assembléia.

Continua Paulo Neves:

Segui-o quase que hipnotizado no contorno da Assembléia, até que o senhor teve um mal súbito e desmaiou em frente ao limite Palácio/Catedral. Ajudei a colocarem o senhor na carroceria de um velho caminhão (de cor azul - as imagens permanecem vivas em minha retina) e, quando seus camaradas quiseram que saíssemos da carroceria (inclusive até mesmo com ameaças, o que era normal dado o tumulto havido), não tive dúvidas... disse ser estudante de Medicina, e aí me deixaram ficar ... na realidade era estudante de geologia! Mas acho que dava na mesma, Senador, afinal sua vontade de fazer as coisas e de agir sempre me pareceram pétreas.

Bem, Senador, esse relato a poucas pessoas eu fiz. Eu sabia que, de alguma forma, um dia, eu faria para o senhor. Continuo a acreditar em sua pessoa, que ainda deverá prestar grandes serviços à nossa Pátria.

Um fraternal abraço de quem muito lhe admira.

Atenciosamente,

Paulo Neves.

Respondi a ele, nos seguintes termos:

Caro Paulo César,

Somente quem viveu aquele momento saberia descrever com detalhes aquela caminhada. E você viveu com a gente! Você, eu e muitos outros companheiros estávamos lá. Quando você se refere a mim como o “Lênin sul-americano”, percebo uma generosidade muito além do que sou.

Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, compararia esse gesto dele, faço questão de dizer, à forma como o Senador Mão Santa costuma elogiar V. Exª, o Senador Rodolpho Tourinho e cada um de nós nesta Casa. Então, trata-se de um gesto generoso dele quando viu aquele líder sindical, que era protegido pelos estudantes, liderar aquele ato em 1981.

Continuei:

Suas palavras mexeram com as minhas emoções. Vale a pena lutar quando a causa é justa. Percebo em você a esperança e a verdade que ainda estão fazendo brilhar a mente de milhões de brasileiros. Foi muito bom recordar aquele momento.

Sr. Presidente, logo após essa resposta, diante do fato que estamos aqui relatando, tive o cuidado de remeter, ontem à noite, a esse estudante, que, na época, era anônimo, a pergunta se eu poderia ler esses documentos. E ele disse que fazia questão de que eu lesse e que eu poderia, inclusive, citar o seu nome, pois se considera um daqueles tantos que estão frustrados, magoados e tristes com tudo que está acontecendo em nosso País.

Mas, ao mesmo tempo, ele demonstra, ao longo do texto, que é daqueles que acreditam no processo democrático, porque não há sistema melhor que tenha sido inventado no mundo.

Neste momento tão difícil de crise instalada no País, agravada agora com a denúncia envolvendo o Presidente da Câmara dos Deputados, em que as últimas pesquisas mostram, inclusive, que há uma tendência de renovação do Congresso de mais de 70%, fiz questão de ler aqui esse e-mail do professor universitário Paulo Neves, que me acompanhou quando eu era sindicalista - ele, que na época era estudante, não esqueceu cada momento dessa caminhada -, para tentar demonstrar, Sr. Presidente, que, lá fora, milhões e milhões de brasileiros acreditam muito, muito, muito na democracia, no Congresso Nacional, na história de todos nós. Eles se dão o direito legítimo de comentar e de contar esses fatos. Embora eu nunca tenha conversado com o Paulo, ele acompanha a minha história, como acompanha a história de cada um de nós aqui, como acompanha a história de cada homem público.

Achei o e-mail tão bonito, pela forma como ele conduziu o debate - de uma crítica muito dura no início, caminha para fortalecer o processo democrático -, que resolvi comentá-lo desta tribuna.

Eu gostaria de ouvir o aparte do Senador Rodolpho Tourinho sobre esse diálogo que tive com o Paulo, usando a tribuna do Senado para comentá-lo.

O Sr. Rodolpho Tourinho (PFL - BA) - Creio que é importante esse diálogo, Senador Paim. Ele mostra que, no fundo, discutimos democracia, discutimos posições. Mas não posso concordar com o Paulo César a respeito de um ponto: a PEC paralela, porque isso seria fazer uma grande injustiça a V. Exª e ao trabalho que foi feito pela sua votação. Entendo que, não fosse a sua posição e a de mais uns dois ou três Senadores, dificilmente a matéria teria sido votada. Ela veio minorar exatamente os efeitos mais perversos da reforma da previdência. Esse é um ponto que preciso destacar para fazer justiça a V. Exª. Com isso, contrario frontalmente o Paulo César. E acho mais: que a PEC paralela começa a dar resultados. Eu mesmo já encaminhei um projeto de lei tratando da inclusão previdenciária das donas-de-casa, o que não existia e que foi obtido com a PEC paralela. De forma que quero fazer esse reparo em relação ao que foi exposto pelo Paulo César e fazer justiça ao trabalho de V. Exª no que concerne à PEC paralela.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Senador Rodolpho Tourinho, V. Exª mais do que ninguém conhece a nossa luta, porque V. Exª foi o Relator da PEC paralela no momento mais difícil dos trabalhos. No primeiro momento, foi o Senador Tião Viana. A matéria voltou para a Câmara dos Deputados, retornou ao Senado, e V. Exª assumiu a responsabilidade de aprovar um texto que sabíamos à época que seria difícil aprovar. V. Exª, ouvindo todos os Senadores, construiu uma saída técnica, jurídica e política que deixou muito claro ao País que a PEC paralela havia chegado para ficar e que ela era para valer.

Por isso que, ao mesmo tempo em que V. Exª me elogia, sou obrigado, mesmo que alguém não entenda, a render homenagens a V. Exª. Não quero que alguém pense lá fora que isto é uma rasgação de seda. Não é, porque eu sei quantas e quantas noites V. Exª trabalhou, discutiu e negociou com todos os setores para fazer uma redação que contemplasse centenas e centenas de entidades que queriam a aprovação da PEC paralela e, ao mesmo tempo, buscasse o consenso nesta Casa, onde a matéria foi aprovada por unanimidade.

Então, sinto-me parceiro de V. Exª na construção da referida PEC. A Senadora Iris, que está aqui também, sei que deu a sua contribuição ao longo dessa caminhada; o Senador Alvaro Dias, que preside a sessão, deixou muito claro que cobraria a PEC paralela ao longo da sua vida, se fosse necessário, caso não fosse cumprido o acordo firmado por todos nós.

Então, todos nós a construímos. E creio que o Paulo César entendeu, na essência da minha resposta, que a PEC paralela foi uma conquista principalmente do Senado da República. Sem nenhum demérito à Câmara, foi aqui que ela surgiu, como resultado de uma longa discussão entre nós; foi para a Câmara, que até aperfeiçoou alguns artigos, voltou para cá e a aprovamos, então, por unanimidade, mediante articulação feita principalmente pelo Senador Rodolpho Tourinho.

Concluo, dizendo ao Paulo César, que hoje é professor universitário - no tempo em que eu era sindicalista, ele era estudante, e lembro-me de que, quando cheguei à capital, cerca de 20 mil estudantes abriram espaço para que pudéssemos chegar, e, dos edifícios, jogavam pétalas sobre nós -, que aquele foi um momento muito lindo, muito bonito. Creio que foi o momento mais bonito da minha vida. Falo isso com convicção. E vim à tribuna porque o Paulo César, que, na época, era um estudante que me acompanhava de forma anônima, relata fatos aos quais vincula esse momento tão bonito. Naquele tempo, a luta era pela volta da democracia; agora, não deixa de ser uma luta que o Congresso Nacional está fazendo pela democracia plena, sem corrupção.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.

 

*********************************************************************************

SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR PAULO PAIM.

*********************************************************************************

O SR PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) -

Pronunciamento referente à mensagem recebida por eleitor gaúcho relativo à crise política.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de comentar um bate-papo feito com um companheiro de jornada do Rio Grande do Sul que, embora à distância, impregnou meu coração de emoção. Esta mensagem chegou ao gabinete deste parlamentar e descrevo abaixo nosso diálogo fraternal.

1ª Mensagem enviada pelo Sr. Paulo:

            Prezado Senador, estou decepcionado com o PT e com Vossa Senhoria. Eu sempre votei em sua pessoa desde o primeiro pleito que concorrestes. Sempre estive muito satisfeito com a sua atuação. Entretanto, ultimamente tenho achado Vossa Senhoria muito omisso em relação a nojeira em que transformaram o PT. Achava, inclusive, que o senhor seria um dos expulsos juntamente com aquela gente valente que foi para o PSOL. Mas, aí senti que o senhor, desculpe o termo, se acovardou! Após, na paralela da previdência, brincaram com sua senhoria e, nada. Depois, na CPI achei que o senhor iria dar o bom exemplo e assinar de primeira... e nada, ainda criticou o Senador Suplicy. E, agora, ainda permanece nesta nojeira em que transformaram o PT, parece ainda apoiar nosso patético Presidente da República, se é que patético se aplica ao mesmo; mesmo petista ou talvez ex-petista, tenho sentimento de que ele é o chefe desta gangue que assaltou o partido (raposa com vestes de coelho). Então, Sr. Senador, tinha que dasabafar com aquele a quem eu cheguei a considerar o "Lênin sul-americano", em quem muito me orgulhei em ter dado meu voto e, espero, voltar a dar, quem sabe no PSOL ou outra legenda ética que vier a surgir.

Atenciosamente,

            Paulo Neves

Geólogo - professor Universitário

1ª Resposta encaminhada pelo Senador:

Prezado Sr. Paulo, obrigado por sua mensagem e por sua sinceridade. Respeito suas ponderações mas gostaria de fazer algumas observações quanto ao assunto.

            Saiba que também estou profundamente triste com todas as denúncias que têm sido apresentadas. Quero ver toda a verdade apurada e os culpados punidos. Saliento ainda que não estou omisso, tenho me pronunciado através de Jornais, Rádio, enfim toda vez que sou procurado tenho respondido e colocado minhas posições, muito menos me acovardei como o senhor declara. Votei na Reforma da Previdência, pela PEC Paralela, que, graças à minha pressão no Congresso Nacional, foi votada e se não garante o sonho dos servidores, avança em muito o que foi perdido na Reforma.

            Quanto à questão de novos rumos, gostaria de esclarecer que a hora é de calma, pois não se pode abandonar os nossos companheiros (principalmente os militantes petistas que construíram a história do Partido) num momento de crise como este. Estou alerta e quero a apuração.

Sempre defendi que as apurações de denúncias de corrupção acontecessem da forma mais transparente possível. Passamos por um momento muito difícil em todo o Brasil. A credibilidade da classe política, em qualquer Partido, já tão abalada, está em profunda crise. O que devemos atentar é para que não se torne um período de "caça às bruxas", já que sabemos que existem homens públicos de bem e sei que estou incluso, graças a Deus, nesta lista.

Reafirmo que o importante é estar consciente do compromisso que tenho com a população que me elegeu e fazer a minha parte para que o Brasil se torne um país mais digno e estou com minha consciência tranqüila, pois estou fazendo o possível e a minha parte para que este país cresça com mais justiça social.

Informo ainda, que participei no dia 06 de julho de uma entrevista online (Chat) concedida ao Clic RBS, onde respondi a diversas perguntas sobre temas relevantes da atual conjuntura de nosso país.

Transcrevo abaixo, parte da entrevista, onde respondo a este questionamento que você me fez em sua mensagem. Saliento que você também terá acesso ao texto completo ou o nosso BLOG no portal: www.senado.gov.br/paulopaim ou

Abaixo encaminho notícia publicada no Correio do Povo do dia 14 de agosto de 2005 (domingo) a respeito da crise política.

Cumprimento-o por sua participação cidadã, pois é importante que todos participem do crescimento e desenvolvimento de nosso país seja através de críticas, sugestões, ponderações, colaborando assim para melhorar a vida do nosso povo.

Pergunta de Internauta - José: Por que o senhor não sai desse partido?

Paulo Paim - Essa é a pergunta a que mais tenho recebido ao longo desses últimos dois anos. Mas sabe, José, sou daqueles que não deixa companheiros na estrada. Por isso, lutarei para fazer as mudanças por dentro do PT. Se um dia me convencer que isso não é possível, não tenha dúvidas: seguirei os versos de um poeta espanhol que diz "o caminho se faz caminhando". Nem que tenhamos que recomeçar tudo outra vez.

Deixo com você meu forte abraço,

PAULO PAIM

            Senador PT/RS

Fonte: Correio do Povo

Paim desabafa sua mágoa com o PT

            Diz que não pretende "abandonar o navio na hora difícil", mas não esconde que se considera enganado

Paulo Paim

O senador Paulo Paim, do PT, afirmou neste sábado que foi enganado pelo partido. 'Estou magoado e constrangido. Fomos eleitos em função do discurso da mudança e não alteramos nada', disse. Paim criticou também a base de sustentação formada pelo governo e avaliou que o presidente Lula perdeu inúmeras oportunidades de corrigir os rumos da administração. 'Nunca tinha visto uma relação como a de hoje com os aliados, mas mesmo com tudo isso não consigo abandonar o navio na hora difícil', desabafou.

Paim salientou que não há, no momento, possibilidade de prever o resultado da crise enfrentada pelo Palácio do Planalto e pelo PT, mas acredita que a única salvação para o partido é o retorno às suas raízes e à sua base social. 'O sonho não acabou, mas temos que reconstruir o PT', disse o senador, que na sexta-feira se emocionou ao comentar a situação nacional durante evento na Assembléia Legislativa, em Porto Alegre.

A idealização e a história do PT começaram muito antes do movimento formado no ABC paulista como defendem algumas lideranças, salientou Paim. 'Sempre questionei essa versão e, por isso, nunca fui muito bem visto. Diversos companheiros perderam a liberdade, e alguns até a vida, lutando por nosso ideal, que agora está abandonado', ressaltou. O senador criticou ainda a postura de dono da ética adotada pelo PT em relação aos demais partidos. 'Em todos os lugares existem pessoas boas e ruins. Integrar o PT não significa ser anjo', avaliou. Segundo Paim, é fundamental que o partido enfrente também a disputa entre as correntes internas, identificando a essência dos problemas. 'Nunca participei ou me aproximei de nenhuma das tendências. Sou PT e ponto', acrescentou o senador.

Paim criticou a situação do Congresso Nacional que, segundo ele, parou em função das investigações das CPIs dos Correios e do Mensalão. 'Deputados e senadores não têm o direito de permanecer na inércia que estão atualmente. O número de parlamentares envolvidos nas comissões que apuram as denúncias chega a no máximo cem. Os outros, que são mais de 500, estão fazendo o quê?', questionou. Paim destacou ainda que, se não ocorrerem modificações urgentes, por meio da reforma política, dentro de dois anos será estabelecido o mesmo quadro de corrupção e caixa dois praticado nas campanhas eleitorais.

            Resposta encaminhada pelo Sr. Paulo:

Prezado Senador

            Me emocionou muito sua resposta. É o que eu esperava de sua pessoa. Um cavalheiro e um cidadão, acima de tudo. Mesmo magoado, mesmo não me identificando mais com o Partido, seguirei com certeza dando meu voto para sua Senhoria, pois trata-se de pessoa ilibada e homem público dos mais dignos que esta combalida República já teve.

Desculpe-me pelo emocional na hora em que lhe enviei o "e-mail" anterior. É que, caríssimo Senador, os episódios todos foram e estão sendo, piores do que uma "punhalada" em que anonimamente tanto se identificou e lutou pelo sonho que o PT representou.

Senador, vou lhe confessar algo que, talvez, só o senhor saiba: por diversas vezes estive muito próximo de Sua Senhoria, mas preferi não cumprimentá-lo, pois acho que o anonimato é a melhor das estratégias, quando se acredita numa pessoa. Acompanho-o desde a grande epopéia que o senhor patrocinou há muitos anos, em plena ditadura: " a marcha dos metalúrgicos" de Canoas a Porto Alegre. A primeira pessoa que me impressionou naquela marcha foi a sua figura, de dedo em riste, com a barba bastante crescida, de macacão cinza-azulado, na frente do Forum, conclamando os seus à frente, desafiando a barbárie em que vivíamos. Ali que eu cunhei o termo que sempre lhe apregôo, o de "Lênin sul-americano". Segui-o quase que hipnotizado no contorno da Assembléia, até que o senhor teve um mal súbito e desmaiou em frente ao limite Palácio/Catedral. Ajudei a colocarem o senhor na carroceria de um velho caminhão (de cor azul - as imagens permanecem vivas em minha retina) e, quando seus camaradas quiseram que saíssemos da carroceria (inclusive até mesmo com ameaças - o que era normal dado o tumulto havido), não tive dúvidas ... disse ser estudante de medicina e, aí me deixaram ficar ... na realidade era estudante de geologia! Mas acho que dava na mesma Senador, afinal sua vontade de fazer as coisas e de agir sempre me pareceram pétreas. Bem Senador, este relato a poucas pessoas eu fiz, e sabia que de alguma forma um dia faria para o Senhor. Continuo a creditar em sua valiosa pessoa, que ainda deverá fazer muito por nossa Pátria.

Um fraternal abraço de quem muito lhe admira.

Atenciosamente,

Paulo Neves

            2ª Resposta do Senador, solicitando autorização para citar em Plenário a mensagem enviada

Caro Paulo Cesar,

Somente quem viveu aquele momento saberia descrever com detalhes aquela caminhada. E você viveu com a gente! Você, eu e muitos outros companheiros estávamos lá. Quando você se refere a mim como "Lenin sul-americano" percebo uma generosidade muito além do que sou.

Suas palavras mexeram com as minhas emoções. Vale a pena lutar quando a causa é justa. Percebo em você a esperança, a verdade que ainda estão em milhões de brasileiros. Foi muito bom recordar aquele momento.

Gostaria de perguntar se o Senhor autoriza citar em Plenário trechos das mensagens que enviou. Aguardo resposta para fazer tal citação amanhã (sexta-feira).

Receba meu fraternal abraço, 

PAULO PAIM

Senador-PT/RS

Autorização do Senhor Paulo:

            Prezado Senador

É com orgulho que recebi suas respostas. Sem dúvida, o senhor poderá usar o que lhe escrevi, sinta-se à vontade Senador.

Um fraternal abraço e, siga Senador, com sua atuação coerente, pois o senhor para muitos, em meu meio, já é considerado uma legenda.

Atenciosamente,

Paulo Neves

Geólogo e Professor Universitário

Era o que eu tinha a dizer.

Sala das Sessões, 09 setembro de 2005.

Senador PAULO PAIM (PT-RS)

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2005 - Página 30500