Discurso durante a 156ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Presidente Lula. Greve nos hospitais universitários. Comentários a artigo do Professor Plínio Arruda Sampaio sobre a distribuição de renda no Brasil.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Críticas ao Presidente Lula. Greve nos hospitais universitários. Comentários a artigo do Professor Plínio Arruda Sampaio sobre a distribuição de renda no Brasil.
Aparteantes
Arthur Virgílio.
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2005 - Página 30632
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • CRITICA, INEFICACIA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • PROTESTO, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, GREVE, UNIVERSIDADE, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, FALTA, ATENDIMENTO, HOSPITAL ESCOLA, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB).
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, ECONOMISTA, PROFESSOR, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP), DEMONSTRAÇÃO, PRECARIEDADE, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, BRASIL, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CRITICA, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RESPONSABILIDADE, SITUAÇÃO.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Romeu Tuma, símbolo da Polícia Federal, que não nasceu agora, não. Quem não conhece a história de Romeu Tuma, o “Xerife do Brasil”? A Liderança do PT erra quando toma para si a Polícia Federal como obra de PT. Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação, Senador José Agripino, Cícero, o grande Senador, talvez o maior orador da história, dá um ensinamento: “Nunca fale depois de um grande orador.” Eu vou ter de falar depois desse extraordinário orador que é o Senador José Agripino.

Senador Romeu Tuma, é nossa obrigação, é nosso dever, Senador Gilberto Goellner, ensinar, ensinar, ensinar. A raridade é que agora é nosso dever e obrigação ensinar ao Presidente da República. O Senado Federal nasceu para isso. É essa a sua missão histórica.

Senador Efraim Morais, Moisés, ungido, escolhido por Deus, quis fraquejar em sua missão. Pegou as leis. O povo ia atrás do bezerro de ouro. Quis desistir, e ele ouviu a voz de Deus, em sonho - tinha esse privilégio. Está na Sagrada Escritura: “Procure os mais velhos, os mais experientes e os sábios, e eles o ajudarão a carregar o fardo do povo.” Nasceu a idéia de Senado aí, melhorado na Grécia, na Itália do Renascimento, da Roma de Cícero, na França, na Inglaterra e no Brasil, com Rui Barbosa e conosco.

Senador José Agripino, V. Exª é um extraordinário orador. Orador tem que ter conteúdo na mensagem. Infelizmente, Lula não é bom orador. Quantidade não significa mensagem. Bom orador foi Cristo, Lula! Em um minuto, 56 palavras, Ele fez o Pai-Nosso. Que beleza de mensagem! Lula pensa que falar, falar, falar significa ser bom orador. Lula é mau orador. E aqui quero adverti-lo, porque é nossa obrigação, é a obrigação do Senado. Esta Casa deve ser a dos pais da Pátria. É um Poder Moderador. Lula, atentai bem: Pedro II, culto, que governou este País por 49 anos, quando chegava ao Senado, tirava a coroa e o cetro, porque via os pais da Pátria.

Gostaria apenas de sintetizar Cícero para o Lula meditar e dar um freio na verborragia, na obra que ele está fazendo em seu Governo. O que o maior orador que a História reconhece e diz - sei que outros dizem que é Demóstenes, que é Siciliano, talvez seja até o nosso Pedro Simon, melhor do que todos eles, que é um Senador do nosso Congresso - é o seguinte: “A força romana está nos costumes...” - atentai bem, Senador Francisco Escócio, não distraia nosso Presidente!

Atentai bem, Senador Gilberto Goellner, Cícero nasceu 106 anos antes de Cristo. O que diz o escritor de Cícero sobre a sua oratória: “Com efeito o binômio sabedoria-eloqüência está como fundamento de todo o pensamento e de toda a atividade de Cícero.” Se não tem sabedoria, não é orador. E faz questão de dizer que ele era encantado, não pela retórica ou pelas palavras, mas pela mensagem de sabedoria. E diz mais ainda, Senador Romeu Tuma - e não tem ninguém do PT para aprender - é difícil esse PT! -: “A ignorância é audaciosa e ausente nas coisas do saber.”

Atentai ao que diz Cícero: “Freqüentemente raciocinei comigo mesmo: se mais bem ou mais mal tenham trazido aos Estados a faculdade do dizer e o perfeito estudo da eloqüência...”. Ele que falou tanto, na Roma, diante dos Césares, Senador Rodolpho Tourinho.

Ô Lula, liga essa televisão que o Senado é para isso! A única novidade é que temos que ensinar e educar o Presidente da República:

Freqüentemente, raciocinei comigo mesmo se mais bem ou mais mal tenham trazido aos Estados a faculdade do dizer e o perfeito estudo da eloqüência... E, depois de um longo raciocinar, a mesma lógica me conduz a esta conclusão: que a sabedoria sem a eloqüência pouco adianta [o sujeito saber e não se manifestar, não ensinar, não ter ação] aos Estados; ao passo que a eloqüência sem a sabedoria geralmente prejudica muitíssimo, nunca é útil.

Não adianta, Lula, falar sem sabedoria. Está lá no próprio Livro de Deus: o rei escolhido por Ele é seguido porque pediu a Deus a sabedoria. E assim lemos a Bíblia em busca da inspiração da sabedoria de Salomão para governar.

Então, o grande orador disse:

Ao passo que a eloqüência sem a sabedoria geralmente prejudica muitíssimo, nunca é útil. Pelo que, se alguém, deixados de lado os estudos, verdadeiramente justos [atentai bem, Senador José Agripino. Atentai ao que Cícero diz] verdadeiramente justos e honestos da razão e do dever, consuma toda sua atividade no exercício do falar, este será inútil para si e cidadão pernicioso à pátria.

É, Lula, é Cícero! Não é Mão Santa. Estou buscando para lhe informar, para que devolva o que nós lhe demos: a Presidência, o nosso trabalho e o nosso voto.

Repito:

Este será inútil para si e cidadão pernicioso à pátria; ao invés quem se arma da eloqüência de maneira que possa não já contrastar mas sim defender o bem da pátria, este, segundo o meu parecer, será homem e cidadão respectivamente utilíssimo e amantíssimo de seus interesses e dos interesses públicos.

Se, sobretudo, tiver sabedoria. É o que os gregos chamam Filosofia. Então, essa é a situação do Brasil. Somos do tempo, Senadores Romeu Tuma e Rodolpho Tourinho, em que estudávamos latim. Os professores diziam e nós aprendíamos. E aquele Senador bravo, defendendo a República de Roma, no Senado Romano, o Cônsul Cícero? Fomos obrigados, Senador Romeu Tuma, a decorar muitas vezes “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quam diu etiam furor iste tuus nos eludet?”. Mas o latim passou, é língua morta. “Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência? Por quanto tempo ainda este teu louco furor zombar-se-á de nós?”

A história se repete. Catilina, Cícero não quis matá-lo, não quis prendê-lo, porque achou que ele ficaria em Roma e favoreceu a que ele fugisse, para que seus comparsas, seus bandoleiros, seus seguidores fossem de Roma com ele. E a história se repete: há agora o Zé Maligno Catilina, que continua aí tumultuando.

Quem bom seria se o Zé Catilina do Brasil voltasse a Cuba, às suas raízes, à sua formação totalitária! Nós é que libertamos este País, foi o Senado que o fez, Senador Romeu Tuma, e o Senado tem de continuar assim. O tempora, o mores!

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - O Senado nasceu para ser vigilante. Nós ficamos em vigília nas férias, no recesso. E aí, auscultando o povo, já oferecemos a julgamento dezoito daqueles trezentos picaretas de que o Lula falava. E virão mais bandejas que vamos oferecer.

Este é um Poder vigilante, mas moderado e, ao longo desse 181 anos, simbolizado pelo amor à lei e à Justiça, pelo pluralista Rui Barbosa, que disse: “Só há um caminho e uma salvação, a lei e a Justiça”. E vamos cumprir a lei.

Oh, Lula, Vossa Excelência já leu a Constituição? Sabe Vossa Excelência qual é a lei? Esta aqui é uma casa de artistas, de pais da Pátria, onde o mais bobo sou eu.

São 181 anos! Pelo menos o País é consciente de que evitamos guerra interna. Não houve guerra, porque aqui se resolveu. Já se fez tudo aqui. Enfrentou-se uma ditadura civil - porque Getúlio Vargas era um homem honrado e honesto --, uns militares. Repudiamos o sonho do Zé Catilina Maligno, um sonho de poder, não de governo para o povo brasileiro. Seriam oito anos de Lula, com sua popularidade; então, viria o Zé Maligno Catilina, com a popularidade de Lula e o dinheiro do mundo inteiro roubado. Seriam oito anos, e, depois, viria o outro. Seria uma ditadura.

O povo brasileiro diz até que essa campanha do desarmamento era para que não houvesse reação, mas Deus e o Senado reagiram. Essa é a verdade.

            Então, quero dizer ao Presidente da República o seguinte: que veja a realidade. Primeiro, um mal nunca vem só, conforme dizia Padre Antônio Vieira.

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, quantos minutos ainda tenho? Dois minutos? Mas V. Exª descontou daquele tempo que botei a DNA na Polícia Federal, e V. Exª é um dos pais da Polícia Federal, que não tem nada a ver com o PT.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Estou descontando a importância de Cícero.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - V. Exª é justo.

Padre Antônio Vieira disse que um bem nunca vem só, mas um mal também nunca vem só. Entraram em greve todas as universidades do Brasil, até a minha lá do Piauí. E, como Deus escreve certo por linhas tortas, quis o destino que, hoje, estando com uma bursite, eu telefonasse para um médico do Piauí que é professor. Ele não estava, mas o filho disse que eu fosse ao Hospital da Universidade, e ele me deu uma injeção. Pelo privilégio da amizade, fui atendido.

Vi, in loco, o Hospital da Universidade de Brasília em greve. Fiquei até constrangido, porque consegui ser atendido, porque sou amigo de turma do pai do médico. Além de a mocidade estudiosa, Senador Rodolpho Tourinho, estar parada em busca do saber no Brasil todo, todos os hospitais universitários estão em greve.

Estive lá e vi fila, choro, lamento. Isso é o que Vossa Excelência deve ouvir, Presidente Lula!

Retiraram o Ministro da Educação para se queimar na fogueira da corrupção do PT. E aí?

Atendendo à bondade do Presidente, eu diria o seguinte: Lula...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Mão Santa, permita-me um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois, não, Senador Arthur Virgílio, concedo-lhe um aparte, com a certeza de que o povo brasileiro vai lhe dar os aplausos.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Mão Santa. Eu ouvia o seu pronunciamento e queria lembrar algo que talvez não tenha sido mencionado nesta sessão. Foi no meio de toda essa confusão agressiva à ética, no meio de tudo isso, que não discutimos ainda algo gravíssimo que se passou: o Governo anunciou, num dia, que iria rebaixar a alíquota do Imposto de Renda de Pessoa Física de 27,5% para 25%, conforme é a aspiração da classe média deste País, mas, no dia seguinte, disse que não ia mais fazer isso, porque tinha cometido um grande erro. Então, no mínimo, é um Governo atrapalhado mesmo, e incompetente ao cometer um erro desse, ou perverso, porque acena com algo que depois não vai cumprir. Minha mulher chegou a dizer para mim em casa: “Será que estão fazendo isso para que depois o Lula decida?” E eu disse “Só se forem muito estúpidos”. Seria tão flagrantemente ridículo procederem dessa forma, inclusive contrariando a belíssima matéria que a revista Veja faz, mostrando como neste País, cada vez menos, um Presidente pode atrapalhar...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Vou conceder só mais um minuto para V. Exª terminar.

O Sr. Arthur Virgilio (PSDB - AM) - Cada vez menos, um Presidente pode atrapalhar o rumo da economia neste País. Eu queria ressaltar que, no meio dessa confusão toda, eles prometeram reduzir a alíquota para 25% do Imposto de Renda Pessoa Física e depois disseram que era brincadeirinha. E nem sei se isso não é uma brincadeira de mau gosto para que o Presidente Lula, do jeito mais populista, apareça como o salvador da Pátria. E acho que nem é isso que vai acontecer mesmo, porque teria Sua Excelência que, a partir daí, demitir a sua equipe econômica por incompetência. Eu acho que não fará isso. Quero só registrar que também teve esse gesto de incompetência e de perversidade contra a sociedade brasileira.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, agradecemos a V. Exª. Como só me resta um minuto, acho que vou ter de rezar o Pai-Nosso, porque este Governo está precisando mesmo é de reza, e o Brasil também.

Mas isso foi até melhor para sintetizar. Eu dispunha de vários números, mas um quadro vale por dez mil palavras.

Está aqui uma entrevista de Plínio de Arruda Sampaio Júnior, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, São Paulo. Em homenagem a São Paulo, vou ler parte do que disse o economista da Unicamp, na entrevista publicada na revista Mundo Jovem, de setembro de 2005. Ele diz: “O Brasil tem a segunda pior distribuição de renda do mundo”.

Lula, se manca! Esse negócio de mentira, mentira, mentira... Está aqui: “O Brasil tem a segunda pior distribuição de renda do mundo”. O rico ficou mais rico no Governo do Lula, e o pobre, mais pobre. Só vou resumir. O professor Plínio de Arruda Sampaio Júnior, em setembro de 2005, na revista Mundo Jovem, diz: “O Brasil tem a segunda pior distribuição de renda do mundo, perdendo apenas para Serra Leoa, na África”. Acho que o Lula foi à África para nós tirarmos logo o primeiro lugar, de trás para frente, nos quesitos injustiça social e renda. Ele quis ganhar esse troféu, porque estamos atrás de todos. Só Serra Leoa está pior em distribuição de renda. Estou vendo aqui o professor, que é simpático, parece o Crivella! Estou acreditando no estudo dele.

Já estou terminando. Professor, São Paulo, nem tudo está perdido. De acordo com a pesquisa dele, 1% dos brasileiros mais ricos, 1,7 milhão de pessoas, detém uma renda equivalente à parcela formada pelos 50% mais pobres. Ou seja, 1,7 milhão ou 1% equivale a 86,5 milhões de pessoas.

Esta é a verdade: os ricos ficaram mais ricos, os banqueiros. Não é mais PT. O Partido do Lula é PB: o partido dos banqueiros.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2005 - Página 30632