A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pela Liderança do PT. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradeço a gentileza dos Senadores José Agripino e José Jorge.

O que me traz à tribuna é um fato ocorrido ontem na CPMI da Compra de Votos, do “Mensalão”, com uma pessoa que tem do Congresso Nacional muito respeito e carinho, o que foi manifestado de forma significativa durante todo o período em que esteve prestando depoimento na CPMI.

Refiro-me ao ex-Deputado Federal José Genoino, ex-Presidente do Partido dos Trabalhadores. Ao longo de todo o seu depoimento, inúmeros Parlamentares tiveram oportunidade de manifestar o reconhecimento por sua biografia, pelo trabalho exemplar que ele, durante mais de duas décadas, desenvolveu à frente de seus mandatos de Deputado Federal, como Parlamentar brilhante que sempre foi entre os cabeças do Congresso Nacional, tendo sido sempre destacado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), e pela história de vida que teve no combate à ditadura. Quando jovem, jogou-se de corpo e alma na luta contra a ditadura, tendo sido, inclusive, preso e torturado. É uma pessoa que orgulha os petistas e todos os cidadãos brasileiros.

O Deputado José Genoino prestou esclarecimentos sobre o período em que esteve à frente da Presidência do PT, pelos atos cometidos por membros da direção do Partido. No entanto, houve um episódio que eu não poderia deixar de registrar desta tribuna, pela afronta que representou. Foi quando o Deputado Jair Bolsonaro, cuja prática política e concepção ideológica a que está atrelado e vinculado todos conhecemos, levou, enganando o Presidente da CPMI, o Senador Amir Lando, nada mais, nada menos do que o Coronel que prendeu o José Genoino durante o processo de repressão da ditadura militar, numa afronta ao Presidente da CPMI, por ter sido enganado, e a todos os membros da CPMI, numa tentativa inequívoca de buscar o constrangimento do Deputado José Genoino.

É importante sempre resgatar - porque é exatamente nos momentos de crise que os extremos se apresentam - o caráter mais idôneo, o comportamento mais exemplar, tanto no positivo, quanto o negativo. E, ontem - eu não poderia deixar aqui de registrar -, quem nos alertou a respeito da presença do Coronel que havia efetuado a prisão e que estava ali num ato de constrangimento e de afronta foi, nada mais, nada menos, o Senador Arthur Virgílio. Foi S. Exª quem nos alertou para que pudéssemos, nas conversações feitas com o Relator da CPMI, o Deputado Ibrahim Abi-Ackel, e o Presidente da CPMI, o Senador Amir Lando, tomar as medidas para a retirada daquela afronta, daquele constrangimento, daquele verdadeiro atentado a um espaço democrático conquistado pela sociedade brasileira, que é exatamente o espaço investigatório do Congresso Nacional, uma CPMI.

Então, é exatamente nas épocas de crise que as pessoas mostram o que de mais fundo lhes cabe na alma.

Então, eu não poderia deixar de fazer o registro do comportamento republicano, compromissado com a democracia, do Senador Arthur Virgílio, bem como o do Senador Amir Lando, que prontamente atendeu o pedido, na hora da afronta, quando o Coronel estava, ao sair, exibindo-se para as câmeras de TV, inclusive chegando muito próximo do Deputado Genoino, numa tentativa de constrangimento, a ação muito pronta do Senador Amir Lando, no sentido de expulsá-lo da sala, e o comportamento lamentável de um Parlamentar, como o do Deputado Bolsonaro.

Eu não poderia deixar de registrar que é a segunda vez, em pouco tempo, que esse Parlamentar me causa indignação profunda. A outra foi há pouco tempo, no dia do enterro da minha mãe. Quando chegamos do cemitério, na casa do meu irmão, ligamos a TV, estava acontecendo a sessão em que ocorreu o retorno do Deputado José Dirceu, e o Deputado Bolsonaro, fazendo uma afronta ao Plenário da Câmara dos Deputados, num enfrentamento com a Deputada do PCdoB, Perpétua Almeida, agredia, de forma ostensiva, a democracia do nosso País.

Então, é por isso...

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senadora, V. Exª me concede um aparte?

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Pois não, Senador Sibá.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Preciso apenas registrar mais um fato: além de tudo isso que V. Exª está dizendo, fui informado por terceiros de que a sua ida à Comissão foi calculada, porque ele quer ser candidato a Deputado Federal. E faço, desde já, um pedido aos Partidos políticos: que se livrem de pessoas dessa estirpe. Devemos aproveitar esta oportunidade, já que queremos nos livrar de tantas coisas ruins. Não quero acreditar que nenhum Partido político no Brasil dê guarida eleitoral para esse tipo de comportamento. Então, ele estava lá, Senadora Ideli Salvatti, para também aparecer na mídia e mostrar que será candidato a Deputado Federal.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Já concluo, Sr. Presidente.

Isso foi ostensivo, pois avisou a imprensa que iria fazê-lo. E quero deixar registrado que espero que o Partido dos Trabalhadores na Câmara entre, como me foi anunciado, com representação contra o Deputado Bolsonaro, pelo comportamento afrontoso de quebra ostensiva do decoro parlamentar, afrontando a CPMI, o Presidente da Comissão, que é Senador e que teve um comportamento muito digno, assim como o foi o do Senador Arthur Virgílio.

Nesta crise que estamos vivendo, temos que estar muito atentos a fim de superá-la com salto de qualidade no aprofundamento da democracia em nosso País. Não podemos admitir, em hipótese alguma, que aquilo que representa o que há de mais amargo, de mais sofrido, de mais lamentável na história deste País, que foi exatamente o período da ditadura, da tortura, da prisão arbitrária, venha para o cenário, como aconteceu ontem na afronta cometida pelo Deputado Bolsonaro e pelo Coronel tentando constranger o Deputado José Genoino.

Sr. Presidente, agradeço, mais uma vez, aos Senadores José Agripino e José Jorge pela gentileza de me permitirem falar antecipadamente.

Muito obrigada.