Discurso durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre a Pesquisa CNT-Sensus apontando queda de popularidade do Presidente Lula.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentário sobre a Pesquisa CNT-Sensus apontando queda de popularidade do Presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 15/09/2005 - Página 30966
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, ALTERAÇÃO, RESULTADO, PESQUISA, APROVAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, GOVERNO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUMENTO, DESAPROVAÇÃO, MOTIVO, INEFICACIA, ATUAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, EFEITO, CRISE, GOVERNO FEDERAL, OPINIÃO PUBLICA.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de falar hoje sobre a pesquisa CNT/Sensus, publicada ontem.

A primeira consideração que faço, inclusive como especialista e professor de Estatística, é que mais uma vez temos confirmado o princípio de que a publicidade tem um efeito forte sobre a população, mas na medida em que os fatos reais da Administração Pública vão chegando ao conhecimento popular, há um processo de substituição da “fantasia” criada pela propaganda oficial por uma avaliação efetiva dos fatos reais.

Esse processo de esclarecimento começa nas classes mais informadas, até alcançar os estratos sociais menos favorecidos. E é esse processo que começa a transparecer, quando examinamos os últimos resultados da pesquisa, senão vejamos: perguntada sobre a avaliação do Presidente, a população pronunciou-se, em janeiro de 2003, com sendo positiva para 56,6% e negativa para apenas 2,3%, portanto uma diferença de 54%. Passados praticamente dois terços do mandato, esta diferença despencou para 12%, ou seja, apenas 35,8% ainda a consideram positiva, enquanto 24% a têm por negativa.

Avaliando o desempenho pessoal do Presidente da República, a diferença entre os que aprovam e os que desaprovam, que era de 76,8%, em janeiro de 2003, reduziu-se para 10%, numa evidência clara de que à medida que a população vai tendo acesso aos fatos que conduzem a administração do Governo Lula, cai abruptamente a aprovação de Sua Excelência.

Mas o que a todos preocupa é o impacto do desempenho do Governo Lula sobre a auto-estima do brasileiro. Perguntado sobre a sua satisfação com o País, percebe-se o crescimento de 20% na avaliação negativa, passando de 20% em julho último para 24% em setembro. A satisfação com o País desaba 4,5%, passando de 40,3% para 35,8%.

Além da massiva propaganda que ainda mantém um resto da avaliação positiva do Governo Lula, observa-se que um dos pilares do otimismo oficial começa a dar sinais evidentes de que está prestes a ruir à vista dos cidadãos. Perguntados sobre a confiança na economia, se a política econômica tem sido conduzida de modo adequado, mais da metade, exatos 52,1%, a consideram com uma condução inadequada, contra apenas 34,9% que concordam com a política econômica do País.

Perguntados, ainda, se há confiança no desempenho da economia brasileira nos próximos seis meses, quase metade dos respondentes, exatos 48,6% não demonstraram confiança no futuro da economia neste Governo.

Avaliando a corrupção no Governo Lula, 54,5% consideram que aumentou muito (35,6%) ou aumentou pouco (18,6%).

Para 48,9% da população, a corrupção no País é maior do que no Governo anterior - apenas 16,8% a consideram menor do que a do Governo Fernando Henrique.

Outro dado da pesquisa deve merecer a atenção de todos: trata-se do grau de informação sobre a corrupção reinante no País, o que talvez explique a réstia de apoio de parte da população. De acordo com os dados, 50,7% da população somente ouviu falar das denúncias de corrupção no Governo ou não tem acompanhado o assunto.

Para que não reste qualquer dúvida sobre a origem da corrupção governamental, lembro que 39,1% da população vincula a corrupção ao Partido dos Trabalhadores, e 49,5% acredita que o Presidente Lula tinha conhecimento da corrupção.

E não adianta o Presidente Lula insistir em fazer pronunciamentos públicos, alguns deles travestidos em comícios pré-eleitorais, pois 38,9% da população não acredita em seus discursos, 31% diz acreditar, e 26% acredita apenas em parte.

Ao concluir, destaco o excelente artigo do jurista Miguel Reale, publicado na edição de sábado do jornal O Estado de S. Paulo, intitulado “Variações sobre o Tédio”. A meu ver, a matéria vem ao encontro da análise que faço da última pesquisa de opinião pública, em especial daquelas classes sociais mais bem informadas a respeito do que ocorre na República.

Segundo Miguel Reale, “É nas ‘épocas de nojo’ - como a que estamos vivendo, como conseqüência da clamorosa e criminosa tentativa do PT de apossar-se, como partido único, da totalidade dos quadros administrativos da Nação - que devemos analisar o fenômeno do tédio.

            Há o tédio pessoal ou subjetivo, que ocorre quando algum fato grave vem ferir nossa sensibilidade, dando a impressão de que toda uma fase de nossa vida findou, deixando poucas esperanças de recuperação.

            Coisa bem mais grave acontece, todavia, quando é uma coletividade inteira que, repentinamente, se defronta com acontecimentos que a deixam como que paralisada, sem saber encontrar a razão de sua ruptura com a confiança em si e nos outros. É o tédio coletivo, pelo qual nos achamos envolvidos como náufragos a se debaterem contra a violência das ondas.

Foi, confesso, o que senti num primeiro momento - quando se desencadeou, no cenário social e político do Brasil, a torrente de notícias sobre o ‘mensalão’ e os desvios do ‘caixa 2’, com que o Partido dos Trabalhadores traçou o plano de assenhorear-se do poder, em conluio com seus asseclas, pondo termo ao processo democrático que, após duros vinte anos, estávamos consolidando.

Já temos, agora, provas bastantes dos abusos políticos e financeiros praticados” - diz o jurista Miguel Reale, um dos mais importantes intelectuais do País - “e, se ainda não esclarecemos todas as origens dos recursos desviados, de uma coisa estamos certos: da existência de um plano que somente poderia ter início com o apoio do Presidente da República ou de alguém por ele, à revelia dele. Esse alguém todos percebem quem seja e tem todas as características pessoais adequadas às suas aspirações de desmedido mando e que, agora, pretende fugir da inevitável pena de cassação de mandato, sob a alegação de que, na época inicial, não estava exercendo o mandato de Deputado, mas sim as funções de Ministro...

Que impressionante coincidência! Elimine-se a idéia de plano preconcebido e tudo perde o significado! Pois bem, quando eclodiu a referida crise, a gente brasileira sentiu um tédio global, um nojo, um fastio repentino, ou seja, ‘vergonha de ser brasileiro’ tão assombrosos eram os atos...”

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Já vou encerrar, Sr. Presidente.

“...praticados para destinar a um só partido a riqueza da Nação”.

Evidentemente, o jurista Miguel Reale não citou, mas, na verdade, quer se referir ao Deputado José Dirceu.

Dada a exigüidade de meu tempo, Sr. Presidente, solicito a inclusão do restante do texto do Professor Miguel Reale nos Anais da Casa.

Sr. Presidente, temos que reagir a essa situação. Temos que punir as pessoas que cometeram tais irregularidades.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR JOSÉ JORGE EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno)

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Matéria referida:

“Variações sobre o Tédio”, do jurista Miguel Reale, publicado no jornal O Estado de S. Paulo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/09/2005 - Página 30966