Discurso durante a 160ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A eleição no Partido dos Trabalhadores, a realizar-se no próximo domingo.

Autor
Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • A eleição no Partido dos Trabalhadores, a realizar-se no próximo domingo.
Publicação
Publicação no DSF de 16/09/2005 - Página 31140
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANUNCIO, ELEIÇÃO, COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPORTANCIA, DECISÃO, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO, ETICA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, RECONHECIMENTO, ERRO, PUNIÇÃO, MEMBROS, CORRUPÇÃO, DEFESA, RAUL PONT, CANDIDATO, PRESIDENCIA, REITERAÇÃO, COMPROMISSO, ORADOR, FILIAÇÃO PARTIDARIA.
  • DEFESA, REALIZAÇÃO, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), BENEFICIO, POLITICA SOCIAL, PROTESTO, CONTINUAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, PARALISAÇÃO, OBRA PUBLICA, INFRAESTRUTURA.

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

Hoje, celebramos aqui, nesta Casa, com uma sessão especial no Congresso Nacional, os vinte anos do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Sem dúvida nenhuma, nesses vinte anos, as mulheres contribuíram muito com todos os avanços e conquistas deste País.

Fiz questão de vir aqui falar, no dia de hoje, porque sei que o nosso País vive, sim, um momento dramático na sua história política. Esse não é o primeiro; já houve outros momentos de denúncia, de corrupção, de mau uso do dinheiro público, de tráfico de influência, visando a beneficiar grupos privados - aliás, tem havido muitos, mas muitos mesmo, momentos como este no nosso País. Infelizmente, o nosso Partido também está incluído nesse tipo de denúncia - e digo “infelizmente” do fundo do meu coração. Digo infelizmente porque o meu PT, Sr. Presidente, o nosso PT, deve, sim, explicações ao País, aos nossos milhões de eleitores, a todas e a todos que conosco sonham o sonho da mudança, o sonho da justiça, o sonho da democracia.

Por isso, neste momento, quero pedir licença, sim; pedir licença para falar para os petistas do meu Estado, o Pará, e para os petistas do Brasil.

No domingo, realizaremos um processo de eleição direta, que vai eleger a nova direção do Partido dos Trabalhadores. Esse, na minha opinião, é um momento decisivo para a história do Partido. O PT que os militantes decidirem, que os filiados escolherem, o PT que sairá das urnas neste domingo dirá a si próprio e ao Brasil se estamos prontos, sim, para fazer uma autocrítica interna, como observei, inclusive, na prática o que fez o ex-presidente Genoino, que reconheceu o erro, que fez uma autocrítica na prática, afastando-se, sem vir afrontar ninguém na disputa pela direção do Partido. S. Exª se afastou inclusive de qualquer disputa eleitoral dentro do PT.

O Partido que sair das urnas terá que mostrar que está preparado para fazer essa autocrítica. Todos nós temos que fazê-la - e não estou me eximindo de fazer também uma autocrítica. É claro que quem tem a maioria, quem comanda a direção nacional do Partido tem, sim, mais responsabilidade. Isso o Brasil inteiro está vendo.

Teremos que ter a capacidade de fazer uma autocrítica interna e pública dos nossos erros. O PT que sair dessas urnas vai ter que dizer se terá condições de fazer uma autocrítica interna, uma autocrítica em relação aos nossos erros ou se vai repetir o que tem sido muito citado - cuja posição considero até autista: que houve apenas alguns deslizes e que tudo não passa de articulação da Direita para desmoralizar o nosso projeto partidário.

Quero dizer que é óbvio que há articulação da Direita para desmoralizar o nosso projeto partidário; é claro que há, até porque a Direita não queria sequer que o Presidente Lula chegasse ao poder; gastou muito dinheiro para impedir isso, fez muita maracutaia, assaltou muitos cofres públicos para impedir que o PT chegasse ao poder. Porém, não posso dizer que foi apenas a Direta que fez isso. Ela está inclusive se aproveitando deste momento, de forma oportunista, sim, como é sua característica; mas, infelizmente, alguns também deram motivos - alguns de nós, alguns dos nossos, alguns do nosso lado.

Estou convencida de que o primeiro passo para resgatarmos o nosso PT é termos a lucidez e a coragem de assumir os erros, de punir os culpados e de separar o joio do trigo.

Por isso, quero dizer aos meus amigos e às minhas amigas, às companheiras e aos companheiros de todo o Brasil, em especial do Pará, que, no domingo, votarei em Raul Pont para Presidente do PT, para Presidente do meu Partido, porque não vamos desistir do PT como alguns fizeram, nem queremos o continuísmo. Queremos ter a coragem de mudar.

Votarei em Raul porque tenho o dever de ajudar a resgatar a esperança, ajudar a reconstruir a esperança e a confiança que o PT representou e que ainda representa para milhões de brasileiras e brasileiros. Votarei em Raul Pont por ser um homem preparado e íntegro, que tem experiência administrativa e política, que já foi Prefeito, Vice-Prefeito, Secretário e Deputado Federal, embora não seja em razão dos seus cargos que lhe darei o meu voto, mas pelo que ele representa. Ele é uma pessoa que fará com que o meu PT volte a valorizar a democracia interna e a escutar os nossos filiados nos núcleos de base, que alguns nem sabem mais o que significam. Carminha, nem sabem mais o que é núcleo de base; alguns nunca ouviram falar disso.

Votarei em Raul Pont porque o nosso Partido deve voltar a representar os interesses desses milhões de excluídos que esperam de nós uma oportunidade de ascensão, que ainda acreditam que viver a vida não pode ser sinal de sofrimento, desilusão e desesperança.

Eu sei o quanto tem sido feito pelos excluídos, não tenho a menor dúvida. Sou do Pará, um Estado que nunca recebeu tantos recursos para a reforma agrária, para a agricultura familiar e para o pequeno produtor como no Governo Lula. O Pronaf, no Pará, cresceu mais de 500%.

Eu sei, mas isso não é suficiente.

Votarei em Raul Pont porque temos que mudar a política econômica do nosso Governo. Quando falo isso, não é para fazer alguma aventura, mas para que possamos ter um Governo que garanta um crescimento econômico mais vigoroso ainda, que gere mais emprego do que está fazendo e que distribua mais renda.

            Votarei em Raul Pont para que o nosso Partido dê um sinal claro de que voltaremos a combater o bom combate, lutando pelos direitos dos trabalhadores, dos negros, das mulheres, da juventude.

Votarei em Raul Pont porque nós não surgimos para ser um Partido de costas para o povo, com uma direção que fica encastelada, distante das lutas sociais e a serviço dessa ou daquela corporação, desse ou daquele grupo econômico. Não! Não é esse, com certeza, o nosso Partido.

Diante dessa grave crise, muitos pensam em abandonar tudo. Muitos pretendem, dependendo do resultado deste domingo, ficar ou não no PT. Quero dizer que fico no PT, independentemente do resultado da eleição, porque não vou jogar fora 25 anos da história. Não vou jogar fora, Carminha, a história de tantas e tantos que já até se foram e que ajudaram a construir esse sonho.

Sabemos que ganhar governos é muito diferente de ter poder. Nós ganhamos governos. Infelizmente, não se ganha o poder só porque se ganha governo. Diante dessa grave crise, quando muitos pensam em abandonar, em desistir, nós, que representamos milhares de pessoas, não temos escolha, não temos esse direito. Não temos esse direito, pois precisamos mudar os rumos e isso deve ser feito pela militância.

            Por isso, faço este apelo hoje, desta tribuna, pedindo licença para falar aos petistas, embora minhas palavras não deixem de ser também para o povo brasileiro. Estivemos em todas as casas, em todas as ruas, em todas as cidades construindo o PT, defendendo uma sociedade mais justa, com distribuição de renda, com democracia. Nós construímos uma alternativa socialista para o Brasil. Nós, petistas, vivemos dias decisivos, muito mais do que em qualquer momento do passado. Vivemos dias que decidirão o futuro do nosso grande sonho coletivo de 25 anos, chamado PT. Agora, somos nós que precisamos refazer nosso caminho, refundando nossos valores, limpando nossa bandeira e fazendo brilhar novamente a nossa estrela. E não há prova maior da nossa disposição de retomar os rumos do PT do que eleger Raul Pont. No entanto, independentemente de quem passe para o segundo turno, desse chamado campo que faz oposição à maioria, eu o apoiarei.

Também quero dizer que não abro mão de defender o Presidente Lula e os avanços do seu Governo. Não abro mão de dizer para todos os petistas, inclusive para aqueles milhares que são ligados a um grupo do Partido, que a maioria são pessoas de luta, sérias, que merecem todo o nosso respeito. É para essas pessoas que falo, porque elas estão andando nas ruas, estão indo à padaria, ao supermercado, assim como eu, e sei que ouvem coisas que as deixam indignadas. Este é o momento de refundarmos o PT, independentemente de que tendência se adote. Reflitam, pensem e votem com a vontade de refundar nosso Partido.

Não abro mão de defender os avanços do Governo Lula, o que investimos no Bolsa-Família e num programa como o Luz Para Todos, que tem levado energia para aqueles rincões mais distantes, para pessoas que não sabiam o que era energia elétrica. Não abro mão de defender um programa como o Prouni, que já deu oportunidade a mais de 100 mil jovens - isso não é dar o peixe, mas ensinar a pescar. Não abro mão de todos os avanços que conquistamos na reforma agrária e na educação. Não abro mão da conquista do Fundeb, que, diferentemente do Fundef, tem recursos garantidos. Queremos ampliar mais ainda essa conquista, que vai desde o Ensino Infantil até o Ensino Médio. Não abro mão de defender os avanços do nosso Governo.

Exatamente por isso, não posso concordar que o Governo continue com essa política econômica. Não queremos fazer aventuras, mas não se podem paralisar obras como as eclusas de Tucuruí, que não são importantes somente para o Pará, mas para o Brasil, pois vão restaurar a navegabilidade de um rio. As eclusas precisam ser realizadas para que seja feita a hidrovia Araguaia-Tocantins, por onde nossos produtos serão escoados de forma muito mais barata, o que os tornará mais competitivos.

Não estamos defendendo uma aventura econômica, mas não podemos ser reféns de uma política econômica que prioriza taxas de juros altas, enquanto corta, prende e contingencia recursos de obras e políticas públicas fundamentais para o povo.

Hoje, pedi licença ao Brasil para falar em especial para os petistas: no domingo, aqueles que estão com o coração sangrando vão às urnas e retomem as rédeas desse Partido! Vamos refundar o PT e eleger Raul Pont Presidente!

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/09/2005 - Página 31140