Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Posicionamento favorável à ampliação das relações comerciais entre Brasil e Taiwan. Lamenta o cancelamento da visita de delegação chefiada pelo Ministro da Ciência e Tecnologia taiwanês, em razão de seu visto ter sido negado.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. COMERCIO EXTERIOR.:
  • Posicionamento favorável à ampliação das relações comerciais entre Brasil e Taiwan. Lamenta o cancelamento da visita de delegação chefiada pelo Ministro da Ciência e Tecnologia taiwanês, em razão de seu visto ter sido negado.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2005 - Página 31396
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • REGISTRO, IMPEDIMENTO, VISITA, DELEGAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, TAIWAN, PARTICIPAÇÃO, EMPRESARIO, INTERESSE, INVESTIMENTO, SETOR, TELECOMUNICAÇÃO, TECNOLOGIA, BRASIL, MOTIVO, NEGAÇÃO, CONCESSÃO, VISTOS DE ENTRADA, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, GRUPO.
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, CRESCIMENTO, RENDA PER CAPITA, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), EXPORTAÇÃO, HISTORIA, PAIS ESTRANGEIRO, TAIWAN, COMPARAÇÃO, BRASIL, DEMONSTRAÇÃO, RESULTADO, VALORIZAÇÃO, EMPRESA, INICIATIVA PRIVADA, IMPLEMENTAÇÃO, REFORMA AGRARIA.
  • COMENTARIO, DADOS, SUPERIORIDADE, EXPORTAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, TAIWAN, MODELO, EMPRESARIO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, APRESENTAÇÃO, PRODUTO, INTERNET, INCENTIVO, INDUSTRIA, PAIS EXPORTADOR.
  • DEFESA, IMPLEMENTAÇÃO, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, COMERCIO EXTERIOR, PAIS ESTRANGEIRO, TAIWAN, CHINA.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, slogans como “exportar é o que importa”, “exportar ou morrer” ou “temos obsessão por exportar” são nossos conhecidos pelo menos desde os governos militares da década de 70. Essas palavras de ordem contemplam uma necessidade perene da economia brasileira, que é a de obter divisas e a de equilibrar o balanço de pagamentos por meio da venda dos nossos produtos no exterior.

A necessidade de criarmos condições estruturais - tanto em aspectos econômicos quanto em aspectos institucionais - é parte dessa realidade, cuja realização, aliás, é indispensável para nos tornarmos cada vez mais atrativos aos olhos do investidor externo.

Os empresários internacionais estão cada vez mais cautelosos sobre onde investir, sobretudo em uma conjuntura de significativas instabilidades políticas no mundo. Por outro lado, o mundo globalizado acirra significativamente a competitividade entre empresas e países - o campo de atuação passa a ser todo o planeta. Essa é uma premissa da qual o Brasil, o Governo brasileiro e nossos empresários não escapam nem escaparão. É a partir dessa premissa que podemos estabelecer metas e estratégias no comércio mundial.

            Faço essas observações, Sr. Presidente, com um objetivo bem definido: eu gostaria de chamar a atenção dos nobres Colegas de ambas as Casas Legislativas e também do empresariado brasileiro para a importância da visita da delegação de Taiwan, que viria chefiada por seu Ministro da Ciência e Tecnologia, em agosto próximo passado e que, infelizmente, teve o seu visto negado. O Ministro viria acompanhado de empresários interessados em investir em telecomunicações e em tecnologia de ponta no Brasil. Nessa delegação, estariam diretores do parque científico-industrial Hsinchu, área que concentra a eletrônica, a tecnologia da informação e a produção de semicondutores.

Abro, aqui, um breve parêntese para compartilhar com V. Exªs alguns dados que julgo absolutamente notáveis.

Dotada de um tamanho diminuto - cerca de 36 mil km² de área, o que corresponde a espaço pouco maior que o do Estado de Alagoas -, a ilha de Taiwan transformou-se em potência econômica em curtíssimo espaço de tempo.

Em 1961, Taiwan era mais pobre do que o Haiti. A renda per capita do país era de apenas US$152, pouco mais da metade do valor apurado para o Brasil no mesmo ano (US$270).

Em 1970, Taiwan ainda se encontrava atrás do Brasil: US$380 de renda per capita, em face dos US$457 do Brasil.

Pouco mais de 30 anos depois, já no século XXI, a situação se inverteu completamente. Hoje, a renda per capita de Taiwan ultrapassa US$14 mil, enquanto a brasileira oscila ao redor de US$3 mil

O crescimento médio anual do PIB de Taiwan no período de 1962 a 1995 foi de 9%, quase o dobro da taxa de 5% obtida pelo Brasil no mesmo período!

É válido ressaltar, Sr. Presidente, que essa pujança econômica foi obtida em um ambiente de aberta hostilidade com a República Popular da China, em um território cujos recursos naturais e energéticos são escassos - quando não inexistentes.

Qual o segredo de Taiwan? É a pergunta que deve vir à cabeça de muitas pessoas ao serem confrontadas com todos esses dados.

Na verdade, não existe segredo algum; o que há são compromissos muito bem estabelecidos e cumpridos pelo Governo e pela sociedade taiwanesa.

A brutal transformação de Taiwan deve-se a uma série de esforços somados, que vão desde a reforma agrária, passando pela valorização de pequenas e médias empresas, até chegar em um ambiente em que a democracia, o livre mercado e a livre-iniciativa passam a ser os valores centrais da sociedade.

Em Taiwan, pode-se dizer que da necessidade se fez a virtude: como o mercado interno sempre foi muito pequeno, a economia local procurou voltar-se para a exportação.

Os resultados dessa cultura empresarial são verdadeiramente espantosos: o PIB de Taiwan ultrapassa US$280 bilhões, para uma população que não chega a 23 milhões de pessoas - menor que a do Estado do Rio de Janeiro. A ilha exportou, em 2004, cerca de US$174 bilhões, e importou US$168 bilhões.

Impressiona-me, Srªs e Srs. Senadores, o fato de a participação brasileira, nas relações comerciais que Taiwan mantém com o exterior, estar infinitamente aquém de nossas possibilidades.

No ano passado, por exemplo, exportamos para Taiwan US$832 milhões e importamos US$981 milhões. Terminamos com um déficit de US$149 nas transações.

O problema não reside apenas no fato de nosso comércio com Taiwan estar deficitário - em 2005, já acumulamos 275 milhões de déficit até junho deste ano. Aliás, com a exceção de 2003, há seis anos nosso comércio com a ilha tem sido deficitário.

O maior problema que vejo nesse cenário, porém, é o fato de o Brasil participar com 0,52% das trocas comerciais taiwanesas! Sim, respondemos por mísero meio ponto percentual do comércio de Taiwan!

Será que falta interesse de alguma das partes? Ou será que tem faltado conhecimento sobre as possibilidades que ambos os lados possuem?

Um dos canais de diálogo que tem procurado a aproximação entre os dois lados é o Grupo Parlamentar Brasil-Taiwan, que tenho a honra de presidir. Temos levado missões parlamentares a Taipei e também recebido parlamentares taiwaneses no Brasil.

Estou certo, porém, de que devemos intensificar nossos laços com Taiwan e não me refiro apenas ao setor governamental.

Nossos condicionantes diplomáticos que advêm do relacionamento bilateral com a República Popular da China em nada impedem, por exemplo, o incremento das atividades do Escritório Comercial Brasileiro em Taipei.

Aliás, o empresariado brasileiro pode se mirar no exemplo taiwanês para promover nossa diversificadíssima pauta exportadora. O portal de comércio de Taiwan na internet, senhoras e senhores, é nada menos que impressionante.

A língua do portal www.taiwantrade.com.tw é o inglês, como não poderia deixar de ser. Porém, o potencial comprador pode fazer suas pesquisas em 13 outras línguas - fiz questão de contar, Sr. Presidente.

            Navegando pelo portal, abri, por curiosidade, o menu de jóias e trabalhos com ouro e prata - um setor que nem de longe está entre os principais destaques da economia de Taiwan. Pois esse menu está catalogado em nove categorias diferentes, tais como “pedras preciosas”, “pedras sintéticas”, “bijuteria”, etc. Cada uma dessas categorias conta com centenas de itens, devidamente fotografados, catalogados, indexados, prontos para serem vendidos.

Fui a Taiwan que, como eu disse, tem uma população um pouco menor do que a do Estado do Rio de Janeiro e uma área geográfica um pouco maior do que a de Alagoas; um país que, anos atrás, não tinha nada. Quando Chiang Kai-shek fugiu de Mao Tsé-tung, na grande marcha, e chegou a Taiwan, o país não era nada. Em pouco mais de 50 anos, esses lutadores, esses trabalhadores conseguiram, Senador Mão Santa, emprestar US$1,130 trilhão na Ásia e têm no bolso, para investir, cerca de US$200 bilhões - mais do que a dívida brasileira.

Devemos optar entre manter relações diplomáticas com a China ou com Taiwan. É claro que devemos fazê-lo com a China, que tem 1,1 bilhão de habitantes, enquanto Taiwan tem só 23 milhões. No entanto, nem mesmo a China, que é sua adversária, deixou de fazer relações comerciais com Taiwan. Hoje, a China tem US$100 bilhões de Taiwan investidos e aceita o passaporte do país para entrada. Todos os demais países, ou quase todos, também o fazem. No Brasil, os taiwaneses só entram com o laissez-passer, um papel que permitia apenas uma entrada. Além disso, era um Deus nos acuda para consegui-lo de novo.

Nós, com muito esforço, muita luta, conseguimos fazer uma entrada múltipla, mas, infelizmente, toda vez que vem uma delegação há pressões, como ocorreu com essa que vinha trazendo empresários e que não recebeu o visto.

Para um País que quer exportar, que quer aprender qual é o caminho, Taiwan, Sr. Presidente, é o melhor professor. E não precisamos deixar a China de lado. Podemos continuar com os dois. Com um, diplomacia plena, relações diplomáticas completas; com o outro, escritório comercial, como tem sido. Mas, de quando em quando, nós encontramos essa situação: vetam a vinda de pessoas que vêm trazer intercâmbio comercial, quando nós estamos em déficit para com esse país e precisando exportar para lá.

Eu não consigo entender essa lógica! Sinceramente, eu não consigo!

O Brasil inaugurou, faz alguns anos, o portal www.brasiltradenet.gov.br, mas ele funciona muito mais como um informativo genérico sobre o mercado brasileiro do que como uma fonte de informações sobre a indústria nacional.

Essa timidez, essa desarticulação entre a iniciativa privada e o setor público cobra um preço alto que não nos podemos dar ao luxo de pagar. O comprador estrangeiro ainda tem de fazer milagre para ter informações sobre vários produtos brasileiros.

No mundo atual, com as facilidades de comunicação e transporte, se a dificuldade está grande o comprador não hesita: vai para o vizinho ou onde quer que o produto seja bom e a informação esteja clara e precisa.

Sabemos que a indústria brasileira avançou imensamente em competitividade nos últimos anos; o que falta é divulgar com coragem e agressividade esses avanços para o mundo.

Uma excelente oportunidade de nos mobilizarmos, usando a frustração dessa visita que não aconteceu, será lutarmos empenhadamente pela concessão de visto aos taiwaneses - a exemplo do que fazem outros países, como os Estados Unidos, quase toda a Europa e outros continentes -, em lugar do humilhante laissez-passer, que trava uma importante e promissora corrente de transmissão de fluxo de pessoas, mercadorias e riquezas que o Brasil não pode desprezar.

Aliás, empresários brasileiros antenados com as melhores oportunidades de negócios não se deixaram abater e foram a Taiwan atrás das parcerias que o governo brasileiro parece ter desdenhado.

A diplomacia parlamentar do Congresso Nacional, em conjunto com a iniciativa privada, pode reforçar os laços entre as duas economias que só têm a ganhar com uma maior aproximação.

Não podemos - nem devemos - desperdiçar essa oportunidade, tampouco o exemplo de Taiwan, que investiu maciçamente na educação e que conseguiu, em 50 anos, fazer um país com 1 trilhão e 130 bilhões - acredito que até mais, considerando os 100 bilhões que investiu na China -, além dos 200 bilhões no bolso para investir. Taiwan, com apenas 23 milhões de pessoas, nos dá um exemplo. Nós, com 175 milhões de habitantes, não conseguimos fazer o que foi feito naquele país. Acho que temos de ter humildade, calçar - como dizem os gozadores da televisão - as sandálias da humildade e não esnobar países que podem ser, para nós, exemplos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2005 - Página 31396