Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comparação do declínio da agricultura brasileira com o crescimento do setor bancário. (como Líder)

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Comparação do declínio da agricultura brasileira com o crescimento do setor bancário. (como Líder)
Aparteantes
Gilberto Goellner, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2005 - Página 31401
Assunto
Outros > BANCOS. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, SUPERIORIDADE, LUCRO, BANCOS, PERIODO, CRISE, COMPARAÇÃO, PERDA, FATURAMENTO, AGROPECUARIA, AGROINDUSTRIA.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, COMBATE, ESPECULAÇÃO, MERCADO FINANCEIRO, REGISTRO, DADOS, DESEMPREGO, JUVENTUDE, PERDA, MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA, NEGLIGENCIA, INCENTIVO, CLASSE PRODUTORA, GARANTIA, LUCRO, INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.

O SR. OSMAR DIAS (PSDB - PDT. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é impressionante a competência dos bancos para ganhar dinheiro. No semestre que passou, foi de R$12,6 bilhões o lucro dos principais bancos do Brasil, o que representa um crescimento de 34,09% sobre o mesmo período do ano passado. Isso significa dizer que, em 2004, os bancos obtiveram R$9,4 bilhões de lucro e esse lucro saltou, apesar de toda essa crise que afeta a economia.

Inclusive, hoje falei com presidentes das cooperativas do meu Estado que estão desesperados com a queda do faturamento em 42%. E não estamos falando só da agricultura, mas do agronegócio; estamos falando da agroindústria, porque foram as cooperativas as principais responsáveis pelo crescimento desse setor em nosso Estado - e elas tiveram essa queda. Comparativamente, o índice de queda das cooperativas é quase o mesmo em que os bancos cresceram: as cooperativas caíram 42%, e os bancos cresceram 34,09%. Só Itaú, Bradesco e Banco do Brasil ficaram com 57% desses R$12,6 bilhões. O Banco do Brasil é um banco oficial e, é claro, deveria estar distribuindo esse dinheiro para irrigar a economia, para realizar novos negócios.

Senador Geraldo Mesquita Júnior, segundo os bancos, o principal fator para explicar esse lucro foi o crédito para a pessoa física.

Consultei, então, uma pesquisa publicada hoje nos jornais, em que se verifica que, mesmo após a queda da taxa de juros em 0,25% - ou seja, metade de 0,5% -, os juros para pessoas físicas, para o crédito pessoal, cresceram.

Os bancos têm uma lógica difícil de entender. Conseguem ter lucro na crise e, depois de longo e interminável período de alta de juros sistemática a cada reunião do Copom - o que derrubou, de forma brutal, o câmbio, e, com ele, houve a queda de faturamento generalizado em nosso País -, no sentido inverso, elevaram a taxa de juros, dizendo: “Mas é pouquinho! Saiu de 5,44% ao mês para 5,46% ao mês, na média. É pouquinho!”

Mas não deveria crescer; deveria diminuir. Quando o Banco Central reduziu a taxa de juros, quis sinalizar, mesmo que timidamente, que, daqui para frente, as taxas de juros deveriam continuar declinando e que os bancos deveriam acompanhar esse movimento.

V. Exªs se lembram do discurso do Presidente Lula, que, quando era candidato, dizia que quem vive num país onde a especulação vale mais que o trabalho não pode considerá-lo progressista ou em desenvolvimento. Ele prometeu que ia acabar com essa festa dos bancos, que continua cada vez maior em nosso País. Com a inflação baixa e o consumo praticamente em declínio, o único segmento da atividade econômica que não reclama são os bancos, que continuam crescendo.

Resultado: apenas 36% dos jovens entre 16 e 24 anos estão empregados, de acordo com a pesquisa de hoje; os outros estão no trabalho informal, sem registro em carteira, sem contar tempo para a aposentadoria, sem assegurar seus direitos trabalhistas, ou desempregados. Eles levam em média 15 meses para encontrar emprego - esse dado também consta da pesquisa publicada hoje pelo Sebrae.

E mais, o Sebrae mostra que as microempresas, que são responsáveis, juntamente com as pequenas e médias empresas, por 65% dos postos de trabalho formais em nosso País, estão com declínio no seu faturamento, E não é pouco: no mês de julho, em comparação com junho, elas tiveram um declínio de 6,1%.

Enquanto isso, o Presidente do Banco Central, o Ministro da Fazenda, o Presidente de República, todas as autoridades econômicas e monetárias do País continuam afirmando que, apesar da crise política, o Brasil continua crescendo. Continua crescendo, sim, o setor dos bancos e muito: 34% de um semestre para o outro, como falei, fazendo uma rápida comparação entre 2005 e 2004. Mais do que isso, estamos vendo os pequenos e microempresários, os trabalhadores, principalmente os que têm entre 16 e 24 anos, os agricultores, todos eles, pagando caro pela crise política e econômica que o País enfrenta.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Osmar Dias, V. Exª me permite um aparte?

O SR. OSMAR DIAS (PTD - PR) - Enquanto isso, Senador Mão Santa, o diesel subiu 12%, e, como conseqüência, a passagem de ônibus e as demais tarifas serão reajustadas. Sobe o lado da coluna vermelha, e desce o lado da coluna azul: com isso, os bancos ficam cada vez mais felizes.

Em 2006 haverá eleição, e a alegria será dos bancos, daqueles que são candidatos e que promoveram essa política econômica atravessada, que dá tanta satisfação a bancos e banqueiros e destrói o setor produtivo do País.

Senador Mão Santa, ouço V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Estava atentamente ouvindo V. Exª, que me fez lembrar o grande Governo do Senador Alvaro Dias na agricultura e Franklin Delano Roosevelt na recessão, que disse: se os campos destruírem as cidades, elas ressurgirão pelo campo. Mas a visão de Franklin Delano Roosevelt tem muito a ver com a de V. Exª. Ele recomendava ao povo americano: procure fazer o melhor; se não der certo, persista, busque outra solução, trabalhe. Não queria ser pessimista, mas, no Brasil, com essa catástrofe que V. Exª está mencionando - juros altos, dificuldade de manter um negócio, falência -, para fechar um negócio e limpar o nome, levam-se 10 anos. Esse é o Estado burocrático e atrasado do PT.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Encerrou meu tempo, Sr. Presidente? Ainda tenho mais dois minutos.

Então, Senador Mão Santa, antes de encerrar, gostaria de dizer que, ao lado desse lucro exorbitante dos bancos, da queda do faturamento das microempresas, do escandaloso e deprimente percurso que vem seguindo a agricultura brasileira no Governo Lula, estamos saindo de uma situação e entrando em outra completamente diferente. Assustados, os agricultores não sabem para onde caminhar, e o Governo comemora a taxa de câmbio baixa, bem como o fato de estarmos ainda exportando. Estamos na banguela; na hora em que sairmos dela, entraremos num processo de encolhimento das exportações, e acabará a festa também para o Governo.

Ouço o Senador do Mato Grosso, com muita satisfação. Tenho ainda 49 segundos, que entrego a V. Exª.

O Sr. Gilberto Goellner (PFL - MT) - Senador Osmar Dias, estamos realmente tratando de um assunto de suma importância para toda a economia agrícola deste País. Em recente audiência que tivemos - o grupo de Senadores da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária desta Casa - com o Ministro Antonio Palocci, mostramos a S. Exª nossa preocupação de que essa queda sinalizada de juros de 0,25% em nada vai contribuir, se continuar na mesma descendência. Falamos da necessidade de hoje a queda dos juros ser, no mínimo, de 5,25% - colocamos o número cinco no lugar do zero dos 0,25% -, senão o dólar realmente não vai descolar de R$2,30, e a agricultura vai falir. A perspectiva para o ano que vem é a de que a produção da Argentina e a dos Estados Unidos ocupem espaços da produção brasileira. Possivelmente, haverá o maior desastre da produção agrícola deste País, com níveis abaixo de 100 milhões de toneladas. Estamos em 120 milhões e poderemos cair para menos de 100 milhões de toneladas, pelo uso de baixa tecnologia, pela não-remuneração condigna dos produtos brasileiros e por não termos uma balança comercial que dê lucro para o produtor. Estamos exportando hoje as commodities de grãos e algodão com prejuízo direto, por causa da defasagem cambial. Então, a queda de juros, como V. Exª citou, é um fator fundamental para o País continuar com um sistema produtivo em ascendência.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Muito obrigado, Senador.

Encerro meu pronunciamento, porque terminou meu tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2005 - Página 31401