Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre as denúncias de corrupção envolvendo integrantes do Partido dos Trabalhadores. (como Líder)

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Considerações sobre as denúncias de corrupção envolvendo integrantes do Partido dos Trabalhadores. (como Líder)
Aparteantes
Ana Júlia Carepa.
Publicação
Publicação no DSF de 21/09/2005 - Página 31496
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), CRITICA, RESOLUÇÃO, DIRETORIO NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ACUSAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO, GOVERNO, RESPONSABILIDADE, CRISE, NATUREZA POLITICA, GOVERNO FEDERAL.
  • APRESENTAÇÃO, RELAÇÃO, IRREGULARIDADE, GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OBJETIVO, COMPARAÇÃO, RESPONSABILIDADE, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, CRISE, NATUREZA POLITICA.
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AUSENCIA, PROVIDENCIA, SOLUÇÃO, IRREGULARIDADE, CONDUTA, MEMBROS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA.
  • APOIO, TRECHO, RESOLUÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, REDUÇÃO, JUROS, AGILIZAÇÃO, EXECUÇÃO ORÇAMENTARIA, AMPLIAÇÃO, DEBATE, ORÇAMENTO.
  • REGISTRO, DISPONIBILIDADE, PARTIDO POLITICO, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AUXILIO, GOVERNO, POLITICA, CRESCIMENTO ECONOMICO, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, EMPREGO, POPULAÇÃO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA.

           O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, felizmente, vou falar sobre o tema com que o Líder, Senador Arthur Virgílio, encerrou sua fala.

           Depois de uma eleição em que fica claro que o PT encontra-se profundamente dividido, a Executiva Nacional resolveu divulgar uma resolução que, entre outras coisas, culpa a Oposição e a mídia pela crise que se abate sobre o País.

           Por unanimidade - e é bom que se ressalte, Sr. Presidente -, o Partido dos Trabalhadores procurou defender a agremiação política e o Governo Lula, acusando a Oposição e os órgãos de imprensa pelo mar de lama que avança sobre o Poder Executivo.

           Segundo a Resolução, existiria um “festival denuncista”, classificado pelo Partido como covarde, porque “usa a mídia para massificar os meios de ataque, que pretendem criminalizar o PT” como organização partidária.

           O jornal Correio Braziliense foi muito feliz quando estampou a manchete, hoje: “Afundado na lama, o PT atira para todos os lados: partido se recusa a admitir que caiu em desgraça por causa da corrupção chefiada por seus próprios dirigentes e aprova resolução em que culpa a oposição, a mídia e a elite”.

           Mesmo quando se defende, o Partido dos Trabalhadores é inconsistente. Acusa terceiros, a Oposição e a mídia, mas nada fez para punir os dirigentes que confessadamente cometeram atos caracterizados como criminosos.

           Não foi a Oposição que indicou o gerente do Ibama em Mato Grosso, Hugo Werle, que acabou preso pela Polícia Federal acusado de liderar a quadrilha que liberava o corte ilegal de madeira em troca de propina, no mês de junho último. O gerente era filiado ao Partido dos Trabalhadores.

           Não foram os Partidos de oposição que denunciaram o esquema do mensalão, envolvendo o então Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu. A denúncia partiu do Presidente de um dos partidos da base aliada do Governo Lula, o Deputado Roberto Jefferson, a quem o Presidente prometia assinar até cheque em branco.

           Não foi o Presidente do PFL ou do PSDB quem assinou empréstimos bancários, avalizados por Marcos Valério, e que, como as CPIs estão demonstrando, eram cortinas de fumaça para grandes negociatas envolvendo empresas estatais e fundos de pensão.

           Não foi um jornalista da “mídia denuncista” quem foi preso carregando R$200 mil e US$100 mil na cueca. O Sr. José Adalberto Silva era assessor parlamentar do líder petista na Assembléia Legislativa do Ceará, José Nobre Guimarães, irmão do então Presidente do PT, José Genoíno.

            Não foi obra da oposição a revelação do nome dos Deputados que sacavam dinheiro das contas de Marcos Valério no Banco Rural. Dos 31 parlamentares envolvidos, 15 eram do Partido dos Trabalhadores.

            Não foi um órgão de imprensa quem investiu R$5 milhões numa firma recém-criada, de propriedade do filho do Presidente Lula. O investidor é concessionário de um serviço público.

            Não foram os partidos de oposição que ofereceram um veículo importado, Land Rover, ao Secretário-Geral do Partido dos Trabalhadores, Sr. Sílvio Pereira, para facilitar as negociações de empreiteiras com a Petrobras.

            Roberto Marques, que retirou R$50 mil das contas de Marcos Valério, nunca trabalhou com qualquer parlamentar da chamada “oposição golpista”.

            Não foram em campanhas para partidos oposicionistas que Duda Mendonça recebeu R$10,5 milhões, sendo obrigado a abrir uma conta no exterior para receber dinheiro proveniente de caixa dois.

            Não foi com o Fundo Partidário do PFL e do PSDB que foram financiadas as passagens de parentes do Presidente Lula e de ministros para a posse de Suas Excelências, em flagrante desrespeito à legislação eleitoral, que regula a utilização do dinheiro público cedido aos partidos.

Não era o irmão do Ministro Pedro Malan ou de qualquer outro ministro do Governo Fernando Henrique quem negociava com a Seguradora Interbrasil contratos milionários com empresas sob a área de influência do Partido dos Trabalhadores em Goiás.

Esses eventos, públicos e notórios, são criações exclusivas do Partido dos Trabalhadores, em que a “ampla maioria da mídia” apenas cumpriu o seu dever de informar a sociedade brasileira do que está acontecendo no Governo Lula e no PT, seu Partido.

Essa tese de golpismo é antiga e já foi tentada antes pelo Deputado José Dirceu no início da crise. Mas, com o agravamento das denúncias e as comprovações das CPIs, tinha sido deixada de lado.

Agora o PT retorna com essa fantasia. O que a população espera são atitudes corretivas do partido do Presidente Lula. Não basta escrever que “começamos a enfrentar nossos erros, buscar a punição dos culpados e debater as correções políticas necessárias à superação da crise” se, de fato, não se vê qualquer medida efetiva que busque uma assepsia partidária.

Nem Delúbio Soares, Sr. Presidente, até agora, foi punido pelo PT. Eu acho que ele vai ser preso primeiro. Faz mais de três meses, 100 dias, que o PT não pune Delúbio Soares, que é colocado como único grande culpado e é réu confesso, porque ele confessou tudo isso que fez.

Os líderes partidários diretamente envolvidos afastaram-se por livre e espontânea vontade. Até o réu confesso, Delúbio Soares, não foi penalizado.

A estratégia do PT é, claramente, evitar a punição de dirigentes, demonstrando que o uso do caixa dois foi incorporado à prática do Partido, e que ele deixou de ser, se é que já foi, o partido do “governo que não rouba e não deixa roubar”, como dizia o ex-Ministro José Dirceu.

Como falar em “postura fascista”, “golpismo mediático”, “massificação totalitária” e “chantagem pública”, se o partido não dá mostra que quer “cortar na própria pele”, como disse certa vez o Presidente Lula.

“Cortar na pele” é algo que o Presidente também nunca fez. Todos os seus ministros e parlamentares se afastaram por vontade própria.

Para concluir, gostaria de concordar com pelo menos um dos trechos da resolução do PT. Segundo o partido, “o Governo (...) deve acelerar a redução das taxas de juros, promover uma ação rápida para acelerar a execução orçamentária e abrir um debate efetivo com os nossos aliados do campo democrático popular sobre o orçamento do próximo ano, para, a partir daí, ampliar a discussão com todos os partidos representados no Congresso. Seu sentido é viabilizar uma lei orçamentária que impulsione ainda mais o crescimento, passe a promover de forma acelerada a distribuição de renda, amplie a criação de empregos formais e promova fortes investimentos públicos, na infra-estrutura do país em políticas sociais estruturantes”.

Isso que o PT está dizendo aqui nessa frase e que eu estou concordando não é o que o Governo está fazendo, é aquilo que o PT gostaria que o Governo fizesse, mas que infelizmente não está fazendo.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - V. Exª me concede um aparte, Senador?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Concedo o aparte à Senadora Ana Júlia Carepa.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Sei que V. Exª já está no final do seu tempo. Quero apenas registrar, Senador, que precisamos apurar, sim, todas as denúncias. O que me deixa espantada é que, agora, qualquer pessoa, pode ser traficante, pode ser condenado pela Justiça, pode ser grileiro de terra, pode ser assassino, pode ser pedófilo, pode ser estuprador, que faça uma denúncia contra alguém do PT, não precisa comprovar nada...

(Interrupção do som.)

A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA) - ...basta que seja alguém do PT para que alguns órgãos divulguem como verdade, mesmo que elas sejam desmentidas daqui a pouco. Mas o desmentido jamais ganha as manchetes e o estardalhaço que foram feitos com mentira, com leviandade. Assim, penso que devemos separar o joio do trigo, para que possamos, sim, passar o Brasil a limpo. Contudo, não só de agora, porque não dá para mostrar para o Brasil, não é possível querer achar que o povo do Brasil pense que isso começou agora Brasil. Um erro não justifica outro jamais, e V. Exª sabe da minha posição em relação a isso. Pedimos, inclusive, o afastamento cautelar de todas as pessoas para que elas tenham direito de defesa, mas que todas sejam exemplarmente punidas de acordo com a responsabilidade de cada uma, mas não apenas as situações atuais. Vamos passar o Brasil a limpo, mas como um todo, inclusive de situações que ocorreram em passado recente, porque senão vamos limpar a sala e deixar o resto da casa sujo. Obrigada.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Vou encerrar, Sr. Presidente. V. Exª me permita mais um minuto.

Concordo com V. Exª no sentido de que tudo deve ser muito bem apurado e que não devemos acusar sem provas.

Agora, há casos como, por exemplo, a morte do Prefeito Celso Daniel, de Santo André, em que o acusador é qualificado. Aliás, são os dois irmãos do Prefeito Celso Daniel que estão fazendo acusações muito sérias ao chefe de gabinete do Presidente, ao Deputado do PT candidato à Presidência da Câmara. Quer dizer, são casos diferentes desses que V. Exª falou.

Infelizmente, desde a denúncia do Deputado Roberto Jefferson, a maior parte do que ele disse se confirmou. Eu diria que, quanto às denúncias contra o PT, a regra é se confirmarem. Houve algumas que não se confirmaram, mas a regra é se confirmarem.

Eu gostaria de dizer, Sr. Presidente, para encerrar, como Líder da Minoria no Senado Federal, que os partidos da Oposição estão dispostos a ajudar o Governo e os partidos aliados em tudo o que for necessário para garantir o crescimento econômico e melhorar a distribuição de renda, a criação de emprego e dos investimentos, desde que tudo se faça com a lisura e a transparência que se exigem dos poderes públicos.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Flexa Ribeiro. PSDB - PA) - Agradeço ao nobre Senador José Jorge.

Passo a palavra ao nobre Senador Rodolpho Tourinho, pela Liderança do PFL.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/09/2005 - Página 31496