Discurso durante a 163ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o Partido dos Trabalhadores que está completando 25 anos, cuja história atravessa crise profunda e abaladora.

Autor
Roberto Saturnino (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre o Partido dos Trabalhadores que está completando 25 anos, cuja história atravessa crise profunda e abaladora.
Publicação
Publicação no DSF de 22/09/2005 - Página 31584
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, PRIMEIRO TURNO, ELEIÇÕES, COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL, DIRETORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EXPECTATIVA, REALIZAÇÃO, SEGUNDO TURNO, ELOGIO, DEMONSTRAÇÃO, DEMOCRACIA, INTERESSE, NATUREZA POLITICA, MEMBROS, CRITICA, AUSENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VOTAÇÃO, COMENTARIO, RESULTADO, ELEIÇÃO, AFASTAMENTO, PARTICIPANTE, DIREÇÃO, SUSPEIÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, RESPONSABILIDADE, PREJUIZO, HISTORIA, ETICA, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, OPINIÃO PUBLICA.
  • COMENTARIO, EXPERIENCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, CRISE, NATUREZA POLITICA, BENEFICIO, CRESCIMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • PROTESTO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, OBEDIENCIA, EXISTENCIA, MERCADO FINANCEIRO, PODER ECONOMICO, PREJUIZO, REDUÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, PAIS.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, desta tribuna hoje, falar sobre o Partido dos Trabalhadores, o PT, que está fazendo 25 anos e cuja história atravessa, obviamente, uma crise profunda e abaladora, recebendo denúncias e acusações de todos os lados, muitas justas, algumas injustas.

Debaixo desse fogo cruzado arrasador para qualquer instituição, o Partido realiza eleições internas - ocorreram no último domingo -, o que revela uma vitalidade extraordinária. Trezentos mil militantes de todo o País votaram espontaneamente - não tinham a obrigação; não há obrigatoriedade como nas eleições oficiais. Deram essa manifestação de interesse, de cidadania, de consciência política, de vontade de construir a democracia neste País. Realmente, é um feito sem precedentes na nossa história. Não há partido, no Brasil, que tenha feito algo semelhante ou próximo dessas eleições realizadas pelo PT no último domingo e que se desdobrarão em segundo turno no primeiro domingo de outubro.

Isso realmente precisa ser considerado, precisa ser levado em conta não só pelos analistas políticos, mas pelo cidadão comum brasileiro. Afinal de contas, finalmente, o Brasil tem um partido de massa, democrático internamente, que sofre acusações e críticas muito severas até do próprio Presidente da República.

O Presidente Lula critica o PT e não foi votar, numa atitude incompreensível. Parece que Sua Excelência não compreendeu a importância e a grandeza de um Partido que é dele e que ele fundou.

Mas o fato é que, historicamente, essa eleição do PT foi um feito extraordinário e trouxe, no seu bojo, algo que também é importante: se não houve uma alteração radical e profunda na sua direção, houve, sim, uma alteração substancial, quer dizer, houve um equilíbrio de forças internas do Partido, aquela hegemonia, aquela predominância forte do chamado grupo majoritário não se confirmou na intensidade das eleições anteriores. Ainda foi a facção que teve a maior votação, mas não atingiu, nem esteve perto de atingir, a maioria absoluta, como das outras vezes. O que significa que haverá uma alteração, um novo equilíbrio interno de forças. E, no segundo turno, podemos ter até um Presidente eleito que não seja o representante do Campo Majoritário. Isso é perfeitamente, possível, diria até que há uma alta probabilidade que isso aconteça. Ao mesmo tempo, com essa eleição e com esse resultado, afastam-se aquelas pessoas diretamente envolvidas nos escândalos e nas denúncias que fizeram com que esse fogo cruzado tivesse o PT como alvo preferido, e ainda continuando, por meio das manchetes, da mídia de todos os dias e, naturalmente, com muita ênfase, muito oportunismo por parte da Oposição.

Mas essas pessoas tinham que ser afastadas. Essas pessoas prejudicaram enormemente a imagem do Partido, foram dirigentes que estiveram à testa do Partido, que foram até responsáveis por seu êxito eleitoral, mas o fato é que prejudicaram a essência, a bandeira principal do Partido, que era a bandeira da ética. Pensaram, talvez, que ainda prevalecia aquele ambiente de antes, que havia nas chamadas correntes de Esquerda, antes da queda do Muro de Berlim, aquele ambiente que justificava, através de uma moral revolucionária, atos que, na moral comum, a chamada moral burguesa, como eles chamavam, eram atos condenáveis. Essas pessoas imaginaram que pudessem fazer coisas que se faziam no passado e que eram consideradas aprováveis, construtivas e positivas, segundo a chamada moral revolucionária que justificava tudo o que fosse feito em benefício dos carentes, da classe trabalhadora, enfim, dos necessitados de um país ou do mundo.

Essas pessoas erraram profundamente e têm que se explicar. A meu juízo, deviam se explicar mais diretamente, expor mais sua face e mostrar que fizeram isso, sim, pelo menos assumir com certa grandeza a responsabilidade desses atos, ao invés de ficarem se escondendo e procurando negar algo que ficou evidente para toda a opinião pública do País. Mas essas pessoas foram afastadas. Na direção não figurarão mais; e isso é importante porque o PT dá, com essa manifestação de democracia, de vitalidade e de consciência política, também o sinal de amadurecimento, de uma virada de página no sentido de alijar pessoas que tiveram esse comportamento e que tisnaram a imagem do PT que era de um Partido que colocava a ética acima de tudo.

Sr. Presidente, todos esses fatos, esses acontecimentos levam a um estágio de amadurecimento do Partido. Os partidos políticos são organizações de seres humanos e, como seres vivos, têm sua etapa de infância, de juventude e de amadurecimento e até de envelhecimento ao fim algum tempo. Penso que o PT superou a sua fase de juventude e de adolescência e passou para uma fase de amadurecimento, exatamente enfrentando essa crise e mostrando, com essas eleições fantásticas, essas eleições surpreendentes sob o ponto de vista de demonstração de democracia, que o Partido superou aquela fase onde havia uma pretensão. O PT era um partido visto como pretensioso, porque sustentava que tivesse a exclusividade da bandeira ideológica, o que provocava antipatia em muitos brasileiros. Eu mesmo via o PT como um partido arrogante, pretensioso, que não reconhecia o trabalho de luta democrática, de luta pela justiça social que muitos outros partidos de esquerda fizeram, enfrentando dificuldades, enfrentando durezas muito ásperas e que o PT não reconhecia.

Agora, a partir desses fatos, a partir dessa crise profunda que o Partido vive, eis a oportunidade do amadurecimento se dar. E é claro que, sendo um Partido com essa força de militância e com essa vontade política manifestada domingo, vai conseguir superar essa face, enfim, da juvenilidade de um Partido que tinha essa manifestação arrogante.

E, de outro lado, a experiência de governo também é um fator importante de amadurecimento, porque ser um partido de esquerda na oposição é muito fácil, Sr. Presidente, é só criticar, é só apontar, mas ser um partido de esquerda no governo, tendo que se confrontar com essa realidade dura, poderosa, fortíssima que se chama mercado, que se chama sistema financeiro, que são os donos do mundo em termos de economia, que são capazes de sabotar uma economia nacional e derrubar qualquer governo, pela instabilidade, pela desestabilização, esse enfrentamento requer sabedoria, requer um amadurecimento que o PT ainda não tinha e que agora, enfrentando e procurando os caminhos de convivência com esse mercado, vai também, penso, ganhando as suas etapas de amadurecimento...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Eu, Sr. Presidente, tenho criticado e penso que o Governo até não está se saindo bem nesse confronto com o mercado, não; está deixando de aproveitar as margens que existem de avanço; está se submetendo demasiadamente a uma obediência em relação às exigências do mercado e dos poderosos, o poder econômico, que não era necessário. Claro que, num primeiro momento, era necessário, pois, quando o Presidente Lula assumiu, o País estava à beira da desestabilização. Mas, passado esse primeiro momento, faltou até agora, por parte do Governo, e, por conseguinte, do PT, que é o seu Partido, aquela taxa de ousadia possível, viável e necessária num país de desigualdades, de injustiças, como é o quadro social do Brasil de hoje. Mas acredito que até mesmo essa experiência de Governo, com toda evidência as deficiências que acho...

(Interrupção do som.)

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ) - Já encerro, Sr. Presidente.

Mas, com todas as deficiências do Governo, isso produzirá sobre o Partido um efeito de amadurecimento extremamente importante que consolidará a sua posição na história deste País, confirmando esse potencial de formação de cidadania e de democracia que o PT demonstrou domingo último, mostrando, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que é mesmo uma raça muito forte, mostrando aos banqueiros do País e do mundo que o PT é uma raça forte, sim, que enfrenta todo esse fogo cruzado, que trouxe dentro de si uma direção que não soube compreender o momento e que deslizou por condutas absolutamente reprováveis, mas o Partido soube dar a volta por cima e galgou, com esse episódio de amadurecimento, algo inegável, uma posição inconfundível e absolutamente única na história dos partidos políticos do nosso Brasil.

Era o que eu queria dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/09/2005 - Página 31584