Discurso durante a 163ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Episódio ocorrido no depoimento do banqueiro Daniel Dantas na reunião das CPIs de hoje.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.:
  • Episódio ocorrido no depoimento do banqueiro Daniel Dantas na reunião das CPIs de hoje.
Publicação
Publicação no DSF de 22/09/2005 - Página 31640
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.
Indexação
  • JUSTIFICAÇÃO, CONDUTA, ORADOR, CRITICA, BANQUEIRO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, OBTENÇÃO, HABEAS CORPUS, CONFIRMAÇÃO, POSIÇÃO, REU, SUSPEITO, AMEAÇA, MINISTRO, PRESIDENTE, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ), CONCESSÃO, LIMINAR, PREJUIZO, INTERESSE, BANCO PARTICULAR, ACUSADO, DIVERSIDADE, CRIME.
  • ESCLARECIMENTOS, DIREITOS, FILHO, AUTORIDADE PUBLICA, EXERCICIO, ATIVIDADE PROFISSIONAL, INICIATIVA PRIVADA.
  • ANUNCIO, PROVIDENCIA, INDENIZAÇÃO, CALUNIA, COMPROVAÇÃO, CONGRESSISTA, PARTICIPAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, ACUSAÇÃO, ORADOR, AUSENCIA, PROVA.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Para uma explicação pessoal. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, temos buscado desempenhar nosso papel nos processos de investigação instalados nesta Casa - e não são poucos, são três CPIs ao mesmo tempo - com absoluta responsabilidade. Já disse isso inúmeras vezes, e não preciso repetir pela “enésima” vez. Mas tenho o direito de relembrar, de requerer e de insistir que a corrupção não é algo novo, não é algo inédito, que temos o compromisso de punir, inclusive dando o exemplo de investigar com firmeza nossos próprios companheiros, de levantar e requerer a investigação de todos. Já disse à exaustão aqui. E volto a afirmar: se há alguém que tem alguma dúvida a esse respeito, é bom deixar de tê-la, pois tenho tido esse tipo de comportamento. Quem tem acompanhado, sabe que tenho sido dura e firme com companheiros de vida, de história, de Partido. Às vezes, sofrendo muito ao fazê-lo, e aqui há testemunhas de sofrimento em situações muito delicadas.

Hoje, no depoimento do Sr. Daniel Dantas, tomei a decisão de não fazer uma única pergunta, porque o Sr. Daniel Dantas requereu ao Supremo Tribunal Federal habeas corpus para vir blindado prestar depoimento. Ele assumiu a condição de réu. Iniciei minha fala relatando trechos da carta aberta do Ministro Edson Vidigal, Presidente do Superior Tribunal de Justiça, ameaçado por esse senhor de ser grampeado, vigiado, execrado por ter concedido uma liminar contrária aos interesses do Opportunity, recentemente.

Eu disse que nem iria perguntar ao Sr. Daniel Dantas se ele havia grampeado o Presidente do Superior Tribunal de Justiça. Eu nem precisaria perguntar isso, porque ele é réu acusado de formação de quadrilha, de investigação ilícita na questão da Kroll. Está lá aberto o processo que diz respeito a ele e aos próximos a ele. Ele responde a dezenas de processos. Ele não somente assumiu a condição de réu quando pediu o habeas corpus para vir depor, como é réu em dezenas de processos na CVM e nas Justiças brasileira, inglesa e americana. A lista de crimes de que ele é acusado ocupa páginas e páginas. Portanto, é réu. Eu disse, na CPMI, que se houvesse agilidade na Justiça, o Sr. Daniel Dantas estaria preso há muito tempo.

Não é à toa que deu o nome de Opportunity ao seu Banco. Ele não perde a oportunidade de estar próximo ao poder, de envolver o poder, de buscar espaços no poder, seja de que forma for, para seu benefício pessoal e de seus interesses econômicos. E citei exemplos de como isso se opera. Entre os exemplos, desde tratativas com empresários de comunicação a relações com pessoas do Governo. Relembrei inclusive situações nas quais existe fita gravada - como no processo de privatização - e do envolvimento do alto escalão do Governo anterior com o processo de privatização.

Mencionei também os procedimentos utilizados por ele, que faz tudo e qualquer coisa para obter benefícios. Aliás, não precisaria nem eu dizer. Uma jornalista altamente conceituada, Miriam Leitão, diz isso em alto e bom som. De cada dez encrencas no País, o Sr. Daniel Dantas está nas dez.

Se houvesse um concurso para o principal corruptor do País, no último período, com certeza, o Sr. Daniel Dantas estaria disputando a pole position. Ele chega até ao ponto de tentar envolver filhos. Citei o exemplo do filho do Presidente Lula; citei o exemplo da filha do Sr. José Serra. E disse depois, quando tive a oportunidade de usar o art. 14, que não tenho qualquer tipo de consideração, crítica ou questionamento, porque, na iniciativa privada, o filho de quem quer que seja tem o direito de fazer sua vida profissional, e não cabe a ninguém questionar isso. Agora utilizei como exemplo o procedimento, e citei não apenas esse, mas também inúmeros outros do Sr. Daniel Dantas, como alguém que faz qualquer coisa para obter sucesso nos negócios.

Ressalto que não abro mão de nada do que disse, nada, e o fiz de forma responsável, como alguém que está no Senado da República, com os mesmos direitos que qualquer outro dos 80 que aqui estão representando a população de seu Estado, defendendo os interesses do País.

De forma muito clara, saliento que não ouvi todos os discursos. Se for verdade o que chegou aos meus ouvidos - e vou ter acesso às notas taquigráficas -, se houve algum tipo de acusação sem provas, tomarei as providências, como o fiz com o Sr. Roberto Jefferson, que levei até o Supremo Tribunal Federal, e que não teve coragem de rebater nada. Estou inclusive tomando providência para obter indenização - o processo já está pronto -, como tomei medidas no meu Estado de investigações sub-reptícias, subliminares, que chegaram ao ponto de ameaçar com arma a minha filha. A minha filha teve arma apontada na cabeça! Eu passei isso tudo por conta do que está acontecendo neste Congresso Nacional! Então, se alguém levantou algo e não tem prova contra mim, vou até as últimas conseqüências porque tenho agido com a responsabilidade daqueles que precisam fazer a limpeza deste País. Mas não a limpeza só de agora! Não a limpeza só de agora! Há pessoas do PT envolvidas na corrupção. Eu quero limpar! Eu quero tirar! E já tenho dito: quero tirar porque quero continuar tendo o direito de falar em público e exigir que todos os corruptos e principalmente todos os corruptores como o Sr. Daniel Dantas sejam punidos!

É isso, Sr. Presidente. Agradeço a gentileza com que V. Exª me brindou, inclusive estendendo o tempo que eu sei que extrapolei. Mas eu não poderia deixar de voltar aqui, depois de tudo que ouvi, pelo telefone, do que estava se passando nesta sessão.

Muito obrigado.

 

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Peço a palavra pela ordem. Eu gostaria inicialmente de repetir o que eu disse da tribuna. A combatividade, a coragem e a determinação da Senadora Ideli Salvatti é uma qualidade e uma identidade própria da vida pública.

Eu disse mais: compartilho com as impressões que S. Exª tem em relação à forma como o Sr. Daniel Dantas conduz os seus interesses e os seus negócios. Eu já fiz algumas representações junto ao Ministério Público, denúncias em relação ao desempenho dessa instituição financeira. E, de fato, em muitas circunstâncias, ele é objeto de uma série de denúncias. A impressão que tenho é que, nos seus negócios, ele sempre desestabiliza as empresas de que participa para comprar barato ou vender caro as suas posições. Esse estilo tem gerado uma série de turbulências e instabilidades empresariais que não é bom para o País, não é bom para as instituições. Cabe, sim, à CPI investigar todos os indícios que envolvem o desempenho dessa instituição bancária. Faz bem investigar e com rigor.

No entanto, da tribuna e agora, com a presença da Senadora Ideli Salvatti - defendi-a e defendi seu pronunciamento no que se refere a esse aspecto -, disse que V. Exª seguramente não tinha usado esse exemplo como forma de tentar prejudicar quem quer que seja.

Em relação aos filhos e às filhas, temos de ter o procedimento de retirá-los do debate da vida pública. Mencionei o caso da Lurian - V. Exª é amiga particular dela e sabe o quanto essa menina sofreu e o que representou aquele momento na vida de uma menina de catorze anos, que estava fazendo seus quinze anos, naquelas circunstâncias, com o País dividido politicamente e ela sendo utilizada como instrumento de ataque político completamente irresponsável. Vim à tribuna recentemente, exatamente para defender o Fábio, filho do Presidente, por acreditar que esse tipo de exemplo e de argumento não cabe na vida pública. Os filhos não têm de explicar a vida pública dos pais. Se há algum ilícito, se há alguma ilegalidade, ele tem de ser tratado como qualquer outro cidadão. Se não há, precisamos ter uma atitude política que algumas culturas, como é o exemplo da cultura francesa, européia, já construíram. Precisaríamos trazer isso como valor da cidadania para o Brasil. Respeitar a família como instituição significa também respeitar a identidade de cada um. Quem está na vida pública tem de responder por todos os seus atos. Seus familiares, se praticaram algum ilícito, estando envolvida a vida pública, aí sim cabe a representação; caso contrário não cabe. Por isso, o exemplo da Verônica Serra, com quem tenho uma relação pessoal e por quem tenho respeito pela relação que construo; ela não deve entrar no debate, como não deve entrar no debate o caso do Fábio. Pronunciei-me várias vezes sobre isso. Não deve entrar filho de quem quer que seja. Não pode atingir o homem público o seu filho. Ele não é responsável pela atitude dos pais. Mas eu disse que tinha certeza, inclusive argumentei que esse exemplo era uma forma de mostrar um padrão de atuação do Sr. Daniel Dantas, que era improcedente e infundado e, por isso mesmo, ele estava ali na CPI sendo investigado.

Foi muito oportuna a forma como a Senadora colocou a questão, retirando qualquer tipo de acusação em relação à filha do prefeito de São Paulo. Este é o melhor caminho, que mantenhamos o debate político, atacando os homens públicos porque é da natureza da vida pública, e cada homem público tem que respeitar, fiscalizando sobretudo as instituições - e os bancos têm muito poder neste País - e combatendo não apenas os corruptos, mas também os corruptores.

É o que temos que fazer em todo processo. Investigar, evidentemente, nesse caso, se há os indícios, as acusações - e a CPI, seguramente, vai aprofundar essa investigação - mas deixar de lado os filhos porque isso não contribui para o debate político.

Reconheço que essa intervenção da Senadora repõe o debate nos devidos termos. Espero que com isso possamos dar prosseguimento à nossa Ordem do Dia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/09/2005 - Página 31640