Fala da Presidência durante a 161ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Deferimento do pedido do Senador Cristovam Buarque para criação de Comissão de Senadores com objetivo de conhecer o trabalho brasileiro no Haiti.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. HOMENAGEM.:
  • Deferimento do pedido do Senador Cristovam Buarque para criação de Comissão de Senadores com objetivo de conhecer o trabalho brasileiro no Haiti.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2005 - Página 31346
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, EXERCITO, BRASIL.
  • DEFERIMENTO, PEDIDO, ENCAMINHAMENTO, REPRESENTAÇÃO, SENADO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, DESIGNAÇÃO, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, PRESIDENTE, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, COORDENADOR, DELEGAÇÃO, CONGRESSISTA.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (S/Partido - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu vim lhe trazer uma sugestão, com base em uma visita que acabo de fazer. Eu cheguei hoje do Haiti. Fui lá, atendendo a um convite do Ministério da Cultura. Mas, sobretudo, eu fui lá querendo testar as conseqüências do voto que eu dei aqui sobre o apoio à decisão do Governo brasileiro de enviar tropas àquele país.

            Eu quero dizer, Sr. Presidente, que eu voltei mais convencido, ainda, de que votei certo ao apoiar a decisão do Governo brasileiro, do Presidente Lula, de enviar tropas àquele país. O que eu vi, acompanhando as tropas brasileiras, é um esforço e um reconhecimento daquele país em relação ao trabalho que está sendo feito. É preciso lembrar que a situação naquele país é uma tragédia raramente vista em qualquer outro país.

O ex-Presidente Aristides aboliu o exército, e os soldados e os oficiais levaram as armas para casa, desempregados. Era absolutamente uma conseqüência óbvia que isso dividiria o país em gangues, cada qual não apenas dona de uma parte do território haitiano, mas cada qual usando as armas que tinham para obter a sobrevivência a partir de atos ilícitos. O país ficou inviável. Como se isso não bastasse, o Presidente Aristides politizou a polícia a tal ponto que nomeou um de seus motoristas como chefe da Polícia, durante algum tempo, e armou os militantes do seu partido, chamado Avalanche, como policiais. Imaginem o caos pelo qual o país passou, além da pobreza gritante de sua população!

A tropa brasileira, em nome das Nações Unidas, chega lá e, apesar de todos os riscos que corre, tem conseguido pôr ordem em algumas áreas daquela cidade. Hoje, há um reconhecimento da população em relação à tropa brasileira, como ficou visível nas conversas que pude ter. Ouvi de algumas pessoas que ninguém quer tropas estrangeiras em seu país, mas que temem ainda mais que essas tropas saiam hoje, antes do tempo.

Temos que estar preparados para as conseqüências graves que poderão ser geradas em função de as tropas estarem lá. Mas não temos o direito, hoje, de abandonar aquele povo, rompendo um acordo das Nações Unidas e saindo de lá antes do tempo.

Há muitos anos, jovem estudante em Recife, fui às ruas protestar contra a intervenção dos Estados Unidos na República Dominicana, país que divide a mesma ilha com o Haiti. Mas é preciso lembrar algumas diferenças. Primeiramente, foi uma intervenção unilateral dos Estados Unidos. Desta vez, o Brasil está fazendo parte de um conjunto de tropas patrocinadas pelas Nações Unidas.

Segundo, naquele momento houve, sim, a destituição de um presidente. Desta vez, o presidente já não estava mais no país. É claro que os países da região lamentaram que os Estados Unidos tivessem interferido para a saída do Presidente Aristide quando ainda tentavam uma alternativa. Quando as Nações Unidas decidiram enviar tropas ao Haiti, o país já estava sem governo, com civis armados espalhados pela cidade e cada grupo dominando uma parte da cidade.

Pude visitar, mas sob a proteção dos soldados brasileiros, tendo de usar capacete, colete à prova de balas, andar uma parte do trecho em Urutu. Mas mesmo assim já se pode ir a esses lugares. Até meses atrás, a prefeita não tinha o direito de entrar naquela região. Foram as tropas brasileiras que conseguiram resgatar essa área. Porque, de todos os países, Senador Garibaldi, o único que tem suas tropas caminhando com infantaria nas ruas é o Brasil. Os outros fazem apenas o que eles chamam de os pontos de cheque nas esquinas ou andam dentro de carros Urutu brasileiros, os carros de combate.

Por isso, Sr. Presidente, vim aqui trazer uma sugestão. Que enviemos um grupo de Senadores brasileiros para ver o que está sendo feito naquele país pelas tropas brasileiras, para ver o que Exército brasileiro está fazendo do ponto de vista de pôr ordem em um país irmão do Brasil, e, ao mesmo tempo, para ver a tropa de engenharia, como está pronta para ajudar aquele país nas obras de estrada, de água, de esgoto com equipamentos, faltando apenas o apoio das Nações Unidas para os insumos de que eles precisam.

Ao mesmo tempo que sugiro essa viagem de um grupo de Senadores, que tenho certeza de que será bem recebido pelo Presidente da República, com quem estive no Haiti, acho que devemos fazer algumas sugestões adicionais ao Governo brasileiro do Presidente Lula. Primeiro que tentemos influenciar as Nações Unidas para que as nossas tropas sejam substituídas no momento preciso, mas que não fiquem lá permanentemente por um período longo.

Ouvi de pessoas que, em menos de dez anos, será impossível ter a situação sob controle. Não podemos ficar dez anos com tropas brasileiras. É preciso haver um esforço para que as nossas tropas sejam substituídas, mas no momento oportuno. Até lá, quero dizer que não me arrependo do voto que dei aqui para autorizar o envio.

Alguns dizem que o Haiti é aqui, que a pobreza é aqui, que precisamos das tropas aqui. É verdade. Mas as tropas do Exército brasileiro não serão usadas para pôr ordem no Brasil. Aqui quem tem que fazer isso é a polícia. E essas tropas estão fazendo no Haiti com a competência que é fato reconhecido hoje das autoridades, lideranças e população haitiana.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2005 - Página 31346