Discurso durante a 166ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre as investigações que levam à origem do dinheiro que abasteceu o chamado "valerioduto".

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. ESPORTE.:
  • Considerações sobre as investigações que levam à origem do dinheiro que abasteceu o chamado "valerioduto".
Publicação
Publicação no DSF de 27/09/2005 - Página 33016
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. ESPORTE.
Indexação
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PROTESTO, AUSENCIA, CONCLUSÃO, INVESTIGAÇÃO, ORIGEM, DINHEIRO, PUBLICITARIO, EMPRESTIMO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), SUSPEIÇÃO, DESVIO, APLICAÇÃO FINANCEIRA, FUNDOS, PENSÕES, EXISTENCIA, CONTA BANCARIA, PAIS ESTRANGEIRO.
  • REGISTRO, INDICIO, LIGAÇÃO, PUBLICITARIO, BANQUEIRO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, COMENTARIO, NECESSIDADE, EMPENHO, INVESTIGAÇÃO, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA, TELEFONIA, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • DEFESA, AMPLIAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, EMPRESARIO, JOGO DE AZAR, MEDIAÇÃO, JUIZ, FUTEBOL.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há mais de três meses, estamos cumprindo a tarefa de investigação, principalmente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, na qual temos atuado com mais intensidade, como outros parlamentares desta Casa e que se encontram inclusive no plenário. E temos sido cobrados sistematicamente pela opinião pública e pela imprensa para buscar a origem do dinheiro, a sempre lembrada questão do corruptor: a serviço de quem e sobre qual interesse estava montado o sistema corruptor que envolveu personalidades e agentes públicos? É o famoso debate da origem do dinheiro do “valerioduto”, e já foram relacionadas várias hipóteses, como o dinheiro público, os contratos públicos - que isso abasteceu o “valerioduto”. Ou então se levantou a hipótese de que desvio de aplicações dos fundos de pensão poderia ter abastecido o “valerioduto”. Depois, com o depoimento do Duda Mendonça, a possibilidade de existência de contas no exterior. E, depois de mais de três meses, não foi possível provar nenhuma dessas teses; não temos provas efetivas e concretas da origem do dinheiro que abasteceu o “valerioduto”.

Aliás, O Globo de hoje atribui ao Deputado Gustavo Fruet, subrelator da movimentação financeira, uma frase: “Valerioduto não deixa rastros”. Ou seja, apesar dos três meses de investigação, não se consegue provar a origem do dinheiro, sua vinculação, nem a ligação entre a saída e a entrada de dinheiro. Então, não sou eu quem estou afirmando nada; é o próprio subrelator que, em reportagem bastante extensa, apresenta toda a dificuldade de se chegar efetivamente à origem do dinheiro pelo rastreamento.

A Srª Kátia Rabello prestou depoimento à CPMI dos Correios como presidente do Banco Rural e, na semana passada, prestou depoimento no Conselho de Ética da Câmara, onde levantou uma questão que talvez possa ser uma tese que nos permita entender a lógica do dinheiro. A Srª Kátia Rabello diz: “Valério era um facilitador”, ou seja, era uma pessoa que se apresentava como alguém que poderia intermediar, agendar, agenciar, interceder em favor de, aquilo que conhecemos tradicionalmente como lobista. Ela levanta essa tese na reportagem que peço seja registrada na íntegra, da colunista Tereza Cruvinel, de O Globo, da sexta-feira, que faz este raciocínio de que o Sr. Marcos Valério operava na lógica dos empréstimos. Vejam que ele não fez empréstimo somente para o PT; já em 1998, fez empréstimos para as campanhas de Minas Gerais, do PSDB e PFL, e começam a aparecer hipóteses de novos empréstimos de Marcos Valério já no ano de 2000, também sem garantia real, sem pagamento. Note-se que o empréstimo de 1998, de quase R$10 milhões, não chegou a ser pago. Em 2003, havia um débito de R$14 milhões, e foram pagos tão-somente R$2 milhões para o banco. Então, esta maneira de operar (via empréstimos) - que já é mais antiga, já é a maneira, o modus operandi do Sr. Marcos Valério - poderia ser em troca não de pagamento do empréstimo, mas exatamente do pagamento... Seria a forma de pagar as tais das intermediações do Sr. Marcos Valério.

Então, quero fazer aqui o registro desta nova hipótese, que está sendo levantada, porque, nessa investigação que estamos mergulhados é muito importante trabalharmos com todas as hipóteses, inclusive esta de o Sr. Marcos Valério ser, efetivamente, o intermediador ou alguém que tenta intermediar, até porque, em algumas intervenções, como foi o caso, ele buscou intervir naquela questão da liquidação, no Banco Central, do Banco Mercantil de Pernambuco. E foi barrado! Aquilo não aconteceu. Mas, talvez, aquilo tivesse sido a moeda de troca para os acertos do Sr. Marcos Valério, como já o fez em outras coisas.

Nessa hipótese de lobista, de aproveitador de oportunidades, de oportunista de plantão que é o Sr. Marcos Valério, como aparece em várias colunas, em declarações e em depoimentos, considero que seria muito importante trabalharmos nessa lógica de investigação, até pela categórica afirmação do sub-Relator, Deputado Gustavo Fruet, de que está muito difícil se encontrar naquelas linhas de investigação: recurso público, aplicação dos fundos de pensão, contas no exterior, ou qualquer tipo de procedimento, como vinha sendo investigado e até agora nada se comprovou.

Aliás, no depoimento do Sr. Daniel Dantas, com as ligações diretas e indiretas que tem do Sr. Marcos Valério com o Sr. Daniel Dantas, aparecem fortemente esses indícios de o Marcos Valério ser efetivamente um dos operadores das oportunidades para o Sr. Daniel Dantas. E aí eu volto à colunista Tereza Cruvinel no domingo, quando ela levanta, já fruto do depoimento do Daniel Dantas na CPI tanto dos Correios quanto da Compra de Votos e Mensalão, a necessidade de se aprofundar a investigação da questão da privatização das empresas de telefonia do nosso País. E ela, inclusive, sugere na sua coluna - e é algo que já vem sendo ventilado dentro do Congresso Nacional - que, da mesma forma que foi dado o tratamento à CPI da investigação do IRB, para não se criar mais uma CPI, foi transformada numa sub-Relatoria da CPMI dos Correios, talvez uma das alternativas para que possamos aprofundar toda essa investigação de vinculação Daniel Dantas com o Marcos Valério, como um operador de oportunidades para o Sr. Daniel Dantas, isso oriundo das conseqüências da privatização das empresas de telefonia, que pudéssemos adotar algo assemelhado. Ou seja, transformar a CPI da privatização das empresas de telefonia, que foi encabeçada pelo Deputado Daniel Almeida, do PC do B, numa sub-Relatoria na CPI dos Correios.

Então, estaremos fazendo esse debate ao longo da semana, em decorrência, já, do depoimento da semana passada, juntamente com aquela discussão que busquei focar naquele dia, na quarta-feira, da necessidade, da importância de trabalharmos na lógica de que a melhor contribuição às investigações do papel do Sr. Daniel Dantas, em todos esses processos, ao longo das últimas décadas da sua atuação, é efetivamente, Senador Tião Viana, quebrarmos, definitivamente, o sigilo bancário daquele disco rígido que foi apreendido na investigação da Kroll e que está, por ordem judicial, impossibilitado de ser auditado, como também a quebra do sigilo dos investidores lá do Opportunity Fund, na Ilhas Cayman.

Penso que devemos trabalhar esta discussão ao longo da semana, na reunião administrativa que teremos na CPI dos Correios.

Mas, nos últimos dias, houve mais um escândalo no nosso País, infelizmente mais um, e não poderia deixar de fazer o registro, inclusive fazer um apelo a V. Exª, Senador Tião Viana, que é o titular da CPI dos Bingos, não é?

A novidade dos últimos dias foi exatamente a prisão do empresário de Bingos, Nagib Fayad, envolvido na manipulação de resultado de jogos do campeonato brasileiro, incluindo o campeonato paulista, a Taça Libertadores - não sou muito adepta do futebol, assim, se eu estiver falando alguma bobagem, que me corrijam.

Circulando em Santa Catarina este final de semana, até porque um time de Santa Catarina foi profundamente prejudicado nessa maracutaia dos resultados dos jogos, as pessoas me perguntaram: mas e aí, a CPI dos Bingos não vai investigar esse escândalo? Isso porque a CPI dos Bingos tem investigado coisas que não têm nada a ver com bingo nem com jogo.

E nesse caso, onde está configurada a ligação muito estreita, porque além de ser empresário de bingo, a manipulação dos jogos, a maracutaia se dava em dois sites da Internet - um em São Paulo e outro no Rio - de apostas clandestinas, manipulando resultado dos jogos para beneficiar os apostadores feitos nesses sites clandestinos.

Portanto, entendo que é muito importante que a CPI dos Bingos se manifeste, fazendo a investigação desse que é indiscutivelmente, e infelizmente, mais um dos escândalos que estão aí e que exige da CPI dos Bingos, do meu ponto de vista, a convocação e a investigação, porque está tudo muito claro e interligado.

Há um artigo do Sérgio da Costa Ramos, que é um jornalista do meu Estado, em que ele diz que precisa ser investigado, sim, com profundidade, porque aquele desabafo de todo torcedor quando vai a um jogo e até a forma de desabafar chamando o juiz de ladrão eram hipóteses. Aquele juiz, em um momento de ter de decidir se houve o impedimento ou não, se ocorreu o pênalti ou não, se o gol foi válido ou não, toda aquela decisão momentânea podia ser apenas um discernimento errôneo. No entanto, depois do que aconteceu, das fitas, das gravações de como se operava a manipulação, a atuação dos juízes no sentido de prejudicar e de conformar o resultado, de trabalhar na lógica de o resultado ser aquele conveniente para beneficiar as apostas no site clandestino de jogo, “juiz ladrão” passou a ter outra conotação, porque agora é fato consumado e comprovado.

Assim, esperamos efetivamente que a CPI dos Bingos consiga fazer a investigação, inclusive com a correlação que entendemos ter na sua magnitude pelos procedimentos dessa verdadeira quadrilha que estava atuando na arbitragem, no jogo clandestino e com casas de bingo.

Portanto, Sr. Presidente, eu queria aqui fazer esses registros e pedir que V. Exª, que está atuando com muita sobriedade e responsabilidade na CPI dos Bingos, possa trazer esse assunto à baila. E que não paire nenhuma dúvida, Senador, que estou trazendo esse assunto por conta de entender como relevante e importante pela vinculação com o jogo clandestino e que ninguém me acuse de estar defendendo o Figueirense, que foi garfado - o Figueirense é o time da minha ilha, juntamente com o Avaí. Enfim, que ninguém me acuse de eu estar fazendo isso em defesa do Figueira, porque foi visivelmente garfado - e tenho também aqui as fitas que registram, na íntegra, a conversa do Edílson com o Fayad combinando como iam prejudicar o Figueira no jogo com o Vasco.

Era isso, Sr. Presidente, que queria deixar aqui registrado e agradecer a gentileza da concessão de um tempinho a mais.

Muito obrigada.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE A SRª SENADORA IDELI SALVATTI EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Jogo Sujo: Veja revela o maior escândalo já visto no futebol brasileiro (revista Veja)”;

“Pista para o Valerioduto”, O Globo - Tereza Cruvinel”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/09/2005 - Página 33016