Discurso durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A questão das agências reguladoras e o desprezo com que são tratadas pelo governo com relação à indicação de seus dirigentes. Exigência de apuração de denúncias sobre evento da ANP. (como Líder)

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.:
  • A questão das agências reguladoras e o desprezo com que são tratadas pelo governo com relação à indicação de seus dirigentes. Exigência de apuração de denúncias sobre evento da ANP. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 29/09/2005 - Página 33335
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
Indexação
  • CRITICA, FALTA, INTERESSE, GOVERNO FEDERAL, NOMEAÇÃO, DIRETOR, PRESIDENTE, AGENCIA NACIONAL DE ENERGIA ELETRICA (ANEEL), AGENCIA NACIONAL DO PETROLEO (ANP).
  • SOLICITAÇÃO, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), MINISTERIO PUBLICO, INVESTIGAÇÃO, GRAVIDADE, DENUNCIA, AGENCIA NACIONAL DO PETROLEO (ANP), PROMOÇÃO, ENCONTRO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ARRECADAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, BENEFICIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), OBTENÇÃO, DOAÇÃO, EMPRESA, PETROLEO, COMBUSTIVEL, UTILIZAÇÃO, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE).
  • PROTESTO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NOMEAÇÃO, DIRETOR, ATENDIMENTO, INTERESSE, BANCADA, APOIO, GOVERNO.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Como Líder. Sem revisão do Senador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, agradeço ao Senador Antonio Carlos Magalhães.

Volto hoje a falar aqui sobre agências reguladoras, tema sobre o qual tenho me pronunciado regularmente, porque fico impressionado, Senador Jefferson Péres, com o desprezo com que o Governo as trata.

Temos as questões das nomeações dos diretores. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), uma das mais importantes, tem cinco diretores. Em maio, encerrou-se o mandato de dois deles e, desde lá, o Governo não os encaminhou ainda para o Senado.

Incluímos um artigo na LDB, proibindo que o Governo retirasse os recursos das agências, ou seja, que os contingenciasse. Foi aprovado aqui pelo Congresso, mas o Presidente vetou. Na realidade, o projeto das agências está tramitando na Câmara e não tem pai nem mãe, pois não há ninguém cuidando dele.

Mas agora apareceu um problema mais grave. Os jornais de hoje dizem o seguinte: a ANP - Agência Nacional de Petróleo - está sem presidente desde janeiro deste ano. Foi encaminhado um nome para o Senado, que foi rejeitado na Comissão de Infra-Estrutura e, até hoje, o Governo não fez a substituição nem trouxe para votar no plenário.

Tivemos uma questão que considero grave na ANP. Primeiro, uma portaria do Diretor-Geral, o ex-Deputado Haroldo Lima, que, por sinal, é meu amigo, foi meu colega na Câmara durante cinco mandatos, do PC do B. Fico até um pouco constrangido em falar do tema, mas, enfim, é a nossa obrigação. A portaria diz que qualquer denúncia anônima que chega à Agência deve ser sumariamente destruída. Quer dizer, se chegar uma denúncia anônima, ninguém pode lê-la, devendo destruí-la de imediato. De fato, a Constituição Federal, no inciso IV do art. 5º, garante a livre manifestação do pensamento vedado, contudo, o anonimato.

Não quero discutir a ordem de destruir documentos anônimos, mas, sim, repercutir sobre o conteúdo das denúncias que atingem, no caso, a ANP. Segundo a cópia da circular que tenho em mão, há referência a “documentos apócrifos que demonstram intimidade com métodos e processos de nossos trabalhos que somente pessoas ligadas a eles poderiam ter”.

De fato, pessoas muito bem informadas divulgaram que a ANP teria convocado empresas petrolíferas a participar de um jantar em benefício do PC do B e que essas empresas teriam sido pressionadas a doar combustíveis a congressistas na União Nacional dos Estudantes. Essa denúncia, Srªs e Srs. Senadores, ainda que anônima, é grave e merece uma apuração rigorosa e não ser simplesmente destruída.

Quem tem um mínimo de experiência em investigação sabe que as grandes denúncias - Senador Tuma não tem o mínimo, tem o máximo - vêm de maneira anônima, em especial quando envolvem atos internos de um órgão público, como é o caso da ANP.

Em que pese ser recente, a denúncia apresenta alguns fatores que sinalizam a sua consistência.

É pública a ligação dos comunistas do Brasil, do PC do B, com a direção da UNE, União Nacional dos Estudantes.

Na declaração em que nega ter pressionado as empresas reguladas e fiscalizadas pela ANP, o diretor-geral deixa margem para que acreditemos que isso realmente tenha acontecido, pois mencionou não ter partido dele a idéia de chamar representantes de empresas de petróleo e afirmou: “Não posso fiscalizar os subordinados. Ninguém foi convidado pela ANP”.

Além disso, num brilhante trabalho investigativo, o jornal conseguiu que uma das empresas petrolíferas confirmasse ter pago R$ 2 mil para participar de um jantar de adesão no restaurante Porcão, no Rio de Janeiro.

O ingresso para o jantar, no dia 8 de setembro, custava de R$ 500 a R$ 5 mil. A arrecadação seria empregada na organização do congresso do PC do B em outubro.

A empresa Ale Combustíveis confirmou ter ido ao jantar após ter recebido telefonema da direção da ANP. Segundo o diretor-superintendente Cláudio Zattar, a empresa participou para ter “a oportunidade de conhecer o Partido que está comandando a ANP”.

E este é, a meu ver, um dos problemas que o Governo Lula tem ao indicar diretores para as agências reguladoras. Sua Excelência indica pessoas para atender aos interesses de Partidos aliados ao PT e não profissionais reconhecidamente competentes.

O Presidente Lula não entende, ou não quer entender, o que é uma agência reguladora, que em sua essência deve ser imparcial e tecnicamente embasada.

Por essa falta de iniciativa do Presidente em indicar os substitutos na direção das agências é que apresentei um projeto de lei, determinando que, decorridos 90 dias da vacância do cargo, a atribuição passa à competência do Senado Federal.

Gostaria também de pedir ao Ministério Público Federal, ao Tribunal de Contas e aos demais órgãos de fiscalização que levem em conta a denúncia que circulou na ANP, ainda que o seu autor não tenha tido condições de assumir sua autoria.

Portanto, Sr. Presidente, em resumo, é isso. A notícia é que a ANP convidou as empresas de petróleo para participarem de um jantar para arrecadar dinheiro para o PC do B. Isso é uma situação muito parecida com aquela que o PT fez aqui, em Brasília, quando queria arrecadar dinheiro e, no caso, foi o Banco do Brasil que vendeu ingresso. Por coincidência, a churrascaria é a mesma; nas duas vezes, a churrascaria foi a Porcão. A ANP convoca para arrumar dinheiro para o PC do B, e o Banco do Brasil convoca para arranjar dinheiro para o PT. Considero isso de extrema gravidade porque, primeiro, agência não é para entrar nesse jogo político; agência não é do Governo, ela é do Estado; em segundo lugar, a ANP fiscaliza as empresas de petróleo. Como posso fiscalizar uma empresa de petróleo e, ao mesmo tempo, pedir dinheiro para Partido político?

Então, Sr. Presidente, trago esta denúncia ao Senado e peço ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público que investiguem para ver se isso é realmente verdadeiro.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador José Jorge, ontem fui procurado por uma comissão especial de funcionários das agências. São os gerentes de fiscalização, desesperados pela falta de atenção e o descaso do Governo com as agências, dando a entender claramente que eles se propõem praticamente à extinção delas.

Era esse o esclarecimento que eu queria prestar.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Agradeço, Sr. Presidente, a V. Exª.

Realmente tenho dito isso aqui. Praticamente todo mês tenho feito um discurso sobre esse tema. E na verdade é um discurso que não chega ao Governo. Não melhorou nada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/09/2005 - Página 33335