Discurso durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro e comentários sobre a publicação da autobiografia completa do jornalista Samuel Weiner. (como Líder)

Autor
Demóstenes Torres (PFL - Partido da Frente Liberal/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Registro e comentários sobre a publicação da autobiografia completa do jornalista Samuel Weiner. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 29/09/2005 - Página 33374
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, REGISTRO, PUBLICAÇÃO, BIOGRAFIA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, LEITURA, ANALISE, ATUALIDADE, CRISE, NATUREZA POLITICA, GOVERNO FEDERAL.
  • PROTESTO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, JOSE DIRCEU, DEPUTADO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,

“Nossa guerra continua, a memória de Samuel Wainer é uma arma do povo”, Jorge Amado.

A editora Planeta publicou recentemente uma obra há muito esperada. Trata-se da autobiografia completa do jornalista Samuel Wainer. Havia saído numa edição em 1987 de Minha Razão de Viver, mas cheia de lacunas, porque Wainer pretendia contar os detalhes da sua trajetória de vida somente 25 anos depois de morrer, quando todos os mencionados já teriam ido embora. A obra é dividida em duas partes. Na primeira, ele narra a sua trajetória de repórter; na segunda, fala da aventura como dono de jornal. Mesmo tendo sido autodidata, confessar que não tinha domínio da língua portuguesa, Wainer era um repórter extraordinário. Dono de furos espetaculares, foi o único brasileiro a cobrir o Tribunal de Nuremberg. Quando o mandato britânico na Palestina desabou, Samuel estava lá. Wainer foi repórter em Buenos Aires, nos Estados Unidos, no México e na Europa. Conheceu Golda Meir, Salvador Allende e Mao Tsé-Tung. Era amigo de Orson Welles, Pablo Neruda e Di Cavalcanti. O repórter também foi notícia e, no auge, chegou a ser matéria da revista Time. Como todo grande jornalista, Samuel Wainer era compenetrado e tinha muita sorte.

A grande matéria da sua vida foi uma entrevista exclusiva com Getúlio Vargas, na qual o então Senador, no exílio da fronteira, garantiu que voltaria. Por intermédio da manchete nos Diários Associados, Samuel Wainer teve a oportunidade de se incluir no centro do poder durante três governos. Ele entrou para a história do jornalismo com a criação do Última Hora, jornal que virou a página da apresentação gráfica e da redação no Brasil. Era realmente muito inovador e veio na hora certa. O País vivia uma democracia vibrante, mas insegura, e possuía uma geração fantástica de jornalistas, que Wainer tratou de reunir. Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Nelson Rodrigues, Stanislaw Ponte-Preta e Paulo Francis foram alguns deles.

Minha Razão de Viver é um livro indispensável à compreensão da democracia brasileira, especialmente pelo fato de muitas das revelações guardarem semelhança com os escândalos atuais. Na sua trajetória de ascensão como repórter, e de glória e desgraça como empresário de comunicação, Samuel Wainer privou da intimidade dos presidentes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Mais do que uma testemunha privilegiada, Wainer narra na autobiografia a participação direta em atividades não-republicanas que resultaram em empréstimos irregulares no Banco do Brasil; na busca de dólares em paraíso fiscal; no favorecimento empresarial por meio de contrato publicitário com o governo; no recolhimento de malas de dinheiro em empreiteiras a título de mensalão; nas fortunas destinadas a comprar parlamentares e nas esplêndidas propinas destinadas a Ministros.

Observem, especialmente V. Exª, Sr. Presidente, que 51 anos depois do suicídio de Vargas e 41 anos após a deposição de Jango, o Governo do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, mantém contemporâneas as mesmas relações corrosivas entre o público e privado que tanto atrasaram o desenvolvimento do Brasil. Por intermédio da organização criminosa, o Governo Lula se conectou com o pior da história e deu vazão para que os tais 500 anos de corrupção a que o presidente aludiu enlameassem as dependências do Palácio do Planalto. O Presidente Lula é mau leitor, como disse V. Exª; portanto, seria debalde recomendar Minha Razão de Viver, mas era um político que tinha uma biografia a zelar até a campanha eleitoral de 2002. Isso para ficar na responsabilidade própria do candidato e do eleito Presidente.

As investigações do caso Celso Daniel, a máfia do lixo no Paraná e em Ribeirão Preto são um mostruário de irregularidades ainda não suficientemente apuradas. Os indícios sugerem que nas administrações municipais o PT operou um ensaio geral dos desvios de finalidade para preparar o grande assalto, quando o partido ocuparia a Presidência da República. Vamos entrar no quinto mês de crise política desde que a revista Veja mostrou o Sr. Maurício Marinho tomando...

(interrupção do som)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Um minuto mais, para que a sua grandiosa inteligência sintetize e conclua.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Peço mais dois ou três minutos, apenas para concluir. Sr.Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - A sua inteligência é extraordinária. Cristo fez o Pai Nosso em um minuto, com 56 palavras.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - E V. Exª, tenho certeza, que, mal me comprando a Cristo, me dará mais algum tempo, apenas para concluir realmente, Sr. Presidente.

Continuando: (...) mostrou o Sr. Maurício Marinho tomando posse do carvão. A situação é angustiante, mas o componente cínico do comportamento petista diante da crise política torna as coisa mais enfadonhas. Como falar em erros, quando se tem a prática comprovada de um rosário de crimes? Podemos até dividir as irregularidades em três quantias: os R$ 29 mil do Sr. Paulo Okamoto seriam uma benemerência miúda, espécie de troco. O investimento de R$5 milhões da Telemar na empresa do filho do Presidente, uma sinecura intermediária, e os R$2 bilhões do Sr. Marcos Valério, o grande prêmio Brasil.

Srªs e Srs. Senadores, o princípio da ampla defesa assegura ao ex-Ministro e Deputado Federal, José Dirceu o aproveitamento de toda palavra e gesto, mas é preciso estar de bem com o razoável. Em depoimento no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, o ex-Ministro da Casa Civil forneceu material suficiente para compor um anedotário. Do mensalão ficou sabendo nos jornais. Com Marcos Valério nenhuma tratativa teve. O Presidente Lula é homem compenetrado no trabalho e se debruça na decisão dos grandes projetos nacionais, como o biodiesel e a transposição do rio São Francisco. O Deputado disse que pegou em armas para defender a liberdade de imprensa e confessou admiração simpática pelo Ministério Público. José Dirceu afirmou que foi positiva ao Governo Lula a sua exoneração da Casa Civil, mas nunca foi chamado de Zé pelo ex-Deputado Roberto Jefferson.

Desconhecia a cobiça do Banco Minas Gerais pelos créditos consignados. Dos empréstimos, é claro, nada sabia. Voltou a argumentar que está sendo julgado por ter construído um projeto para o PT governar o Brasil, mas não tinha conhecimento das negociações com o PL, do ex-Deputado Valdemar Costa Neto. Fundos de pensão, então, não eram com ele. O Deputado José Dirceu sugeriu ser julgado pelas urnas em 2006 e confirmou desconhecer quem era o inspetor-geral do conjunto de falcatruas operadas pelo professor Delúbio Soares. Para resumir a ópera, o Deputado José Dirceu divagou que a crise política não existe no mundo material. É uma ficção criada pela imprensa com a finalidade de perseguir o PT. O tal golpe midiático mencionado pelos petistas na semana passada. Para não dizer que o depoimento do ex-Ministro foi um bis in idem, qualificaria apenas que as suas palavras, naquela ocasião, foram menos telúricas.

Sr. Presidente, ...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Já vou encerrar.

Os dias deveriam ser melancólicos para o Presidente Lula, mas têm sido de razoável regalo. Ontem, enquanto petistas do núcleo de fundação do PT deixavam o Partido, envergonhados pela falta de decência, o Presidente da República vestia um quimono de judoca. É um despropósito sem tamanho buscar o rumo em aparições circenses. O Presidente Lula, nos bons tempos, tinha a fonte de popularidade, hoje precisa do sucesso alheio para não se exaurir. Não desceu ainda ao fundo do poço, mas escada abaixo, está com o pântano nos joelhos. O pior: ninguém no Governo do PT se ruboriza com mais nada. A ordem é administrar a falta de vergonha. Sem o menor pudor, como se nada tivesse acontecido, o estande de aquisição da vitória do Deputado Aldo Rebelo à Presidência da Câmara dos Deputados...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Demóstenes, eu vou lhe conceder mais um minuto. Mas, tenha a certeza, que o Demóstenes, de Goiás, já superou em muito o orador grego, Demóstenes, em quantidade e qualidade de palavras.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

O estande de aquisição da vitória do Deputado Aldo Rebelo à Presidência da Câmara dos Deputados foi montado no Palácio do Planalto. Para o PT só o fisiologismo é capaz de cimentar uma base de governabilidade, porque não há um projeto de administração a ser gerido, mas negócios com o Estado. Os mesmos do tempo de Samuel Wainer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/09/2005 - Página 33374