Discurso durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao ex-Deputado e ex-Senador Ernani do Amaral Peixoto.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao ex-Deputado e ex-Senador Ernani do Amaral Peixoto.
Publicação
Publicação no DSF de 29/09/2005 - Página 33257
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ERNANI DO AMARAL PEIXOTO, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, NATUREZA POLITICA, HISTORIA, BRASIL.

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é uma grande honra presidir esta sessão de homenagem ao senador Amaral Peixoto, sem dúvida alguma um dos grandes políticos do Brasil no século XX. Amaral entrou na vida pública durante a revolução de 30 e somente deixou a política em 89, quando morreu. Nesse meio tempo, foi presença marcante na construção da modernidade política brasileira, da ascensão de Getúlio Vargas à eleição de Tancredo Neves e José Sarney pelo Colégio Eleitoral.

Político dos mais hábeis, Amaral Peixoto também foi um grande administrador e homem de visão estratégica. Estão indissociavelmente ligados ao seu nome empreendimentos que beneficiaram sobremaneira o Brasil e o Estado do Rio de Janeiro, como a Companhia Siderúrgica Nacional e a Fábrica Nacional de Motores.

Desde o início de sua vida profissional, Ernani do Amaral Peixoto demonstrou uma coragem sem par. Em 1930, já oficial formado na Escola Naval do Rio de Janeiro, deu apoio ao movimento político-militar que levou Getúlio Vargas à presidência da Republica pelo novo regime.

E em 32, quando estourou o Movimento Constitucionalista, voltou imediatamente da Europa, onde se encontrava em atividades profissionais, para lutar como voluntário ao lado das forças legalistas.

Em defesa do Rio, enfrentou com firmeza os militares durante o governo Médici. Lutou, primeiro, contra a fusão com o antigo Estado da Guanabara e, depois, pela maior racionalidade no encaminhamento da criação do novo Estado.

Era o período de seu primeiro mandato no Senado, onde chegou em 1970. Em 74, assumiria a liderança do então MDB nesta Casa. Entre suas maiores demonstrações de bravura, nesse período, deve ser citada a luta contra o fechamento do Congresso e o pacote de Abril, decretado pelo governo Geisel em 77.

Srªs e Srs. Senadores, apesar de sua combatividade, Amaral Peixoto era um político de alto senso pragmático.

Diante da realidade inexorável das novas regras, além de contingências político-partidárias de seu Estado, acabou aceitando um novo mandato de senador, em 78, dessa vez escolhido indiretamente pela bancada de seu partido, majoritária na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.

Foram também disputas dentro do MDB que fizeram Amaral Peixoto ingressar no PDS, alinhado ao governo militar, com a reforma partidária promovida pelo presidente João Figueiredo no final da década de 70.

A flexibilidade e capacidade de adaptação do líder carioca não eram recentes. Em novembro de 37, pouco antes de se instaurar a ditadura do Estado Novo, foi nomeado interventor federal no Rio de Janeiro, Estado que depois governaria pelo voto direto, a partir de 1950.

Homem e político conservador, Amaral Peixoto, era, no entanto, dotado de grande bondade e cavalheirismo. Sua ligação com Getúlio acabaria transbordando para o plano pessoal.

Em julho de 39, casou-se com Alzira Vargas, filha do presidente da República, a maior conselheira do pai e fundadora do Partido Trabalhista Brasileiro.

As qualidades de estrategista de muito lhe valeram, no período em que passou nos Estados Unidos e em que cumpriu, informalmente, o papel de ligação entre Vargas e o presidente norte-americano Franklin Roosevelt. Amaral Peixoto foi quem defendeu, juntamente com o ministro Osvaldo Aranha, a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado das forças aliadas. Acabaria, mais tarde, nomeado embaixador nos Estados Unidos, por JK.

Já deputado federal pelo PSD fluminense, e diante da renúncia do presidente Jânio Quadros, defendeu a solução parlamentarista para a posse do sucessor constitucional de Jânio Quadros, o vice João Goulart, de quem seria mais tarde ministro extraordinário para Assuntos da Reforma Administrativa.

Mais uma vez usando de realismo político, optou pela neutralidade diante do movimento militar que afastou Goulart da presidência. Manteve, inclusive, bom relacionamento com o novo regime até 65, quando foram cassados os direitos políticos do ex-presidente Kubitscheck.

O “comandante” Amaral Peixoto buscava a excelência onde quer que estivesse. Dentro do PDS, já idoso, lutou com todas as energias para que o partido tivesse um candidato de grande estatura na eleição indireta para a Presidência da República, em 84. Viu frustrada sua batalha, com a indicação de Paulo Maluf, que perderia a disputa para Tancredo e Sarney. Absteve-se de votar no colégio eleitoral e ainda recomendou oposição moderada do PDS ao novo governo.

Nos últimos anos, dedicou-se a análises e declarações sobre o quadro político, tendo se manifestado a favor do parlamentarismo e contra as regras que permitiram a criação de um grande número de partidos.

A experiência e a visão política conquistadas em seis décadas de vida pública permitiram que Amaral alertasse para o risco de as primeiras eleições diretas levarem ao poder algum tipo de messias.

O velho comandante morreria em março de 89, depois de uma trajetória notável, sem ver o país inteiramente redemocratizado nem as primeiras eleições diretas depois de 25 anos de regime militar. É um nome que certamente a história política brasileira não esquecerá.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/09/2005 - Página 33257