Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da filiação de cinco novos integrantes ao P-SOL. Considerações a respeito das relações do governo federal com o Congresso Nacional. (como Líder)

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Registro da filiação de cinco novos integrantes ao P-SOL. Considerações a respeito das relações do governo federal com o Congresso Nacional. (como Líder)
Aparteantes
José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 30/09/2005 - Página 33477
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, DEPUTADO FEDERAL, FILIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL).
  • COMENTARIO, CORRUPÇÃO, HISTORIA, PAIS, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, JUSTIFICAÇÃO, IRREGULARIDADE, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PAGAMENTO, MESADA, CONGRESSISTA.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, LIBERAÇÃO, EMENDA, DISTRIBUIÇÃO, CARGO DE CONFIANÇA, CONGRESSISTA, FAVORECIMENTO, VITORIA, CANDIDATO, BANCADA, GOVERNO, DISPUTA, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA, CAMARA DOS DEPUTADOS.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acho que vou muito mais fazer um registro para não pecar pela omissão.

É claro que hoje é um dia muito especial, muito feliz para o P-SOL, porque novos parlamentares a ele se integram para a construção do Partido, como o Deputado João Alfredo, a Deputada Maninha, o Deputado Chico Alencar, o Deputado Fantazzini, o Deputado Ivan Valente, companheiros com os quais tivemos oportunidade de desbravar caminhos na luta pelo socialismo em muitos momentos da nossa história de vida. Então, sem dúvida, é um momento muito especial para o P-SOL este em que recebe esses Deputados Federais.

É claro que nós acolhemos, com generosidade, do mais simples catador de lixo ao mais conhecido parlamentar ou dirigente de outras estruturas partidárias, que nos possibilitam construir o P-SOL, construir um abrigo para a esquerda socialista e democrática, que não se vende para se lambuzar no banquete farto do poder e não se rende diante da verborragia neoliberal.

Mas, Sr. Presidente, eu não poderia deixar de registrar, porque tive oportunidade de observar, a promiscuidade na relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, esse balcão de negócios sujos que foi instalado aqui no Congresso Nacional para viabilizar os interesses do Governo.

Eu sei que não é novidade a corrupção no País, eu já disse umas quinhentas vezes isso, mas tenho que repetir, porque sempre aparece algum, que eu não sei se por boa-fé, má-fé ou se por ser freguês do mensalão, que diz que ficamos criticando o Governo Lula e não criticamos o Governo Fernando Henrique. Se for para criticar a corrupção no País, criticamos até Pero Vaz de Caminha. Eu já disse aqui uma vez que Pero Vaz de Caminha, quando mandou a primeira carta para Dom Manuel, dizendo que estava vendo, pela primeira vez, a beleza da Terra de Vera Cruz, o Brasil, já estava havendo tráfico de influência. Ele tinha um genro que roubava igreja e dava em padre e estava cumprindo pena em São Tomé, na África. Então, Pero Vaz de Caminha estava pedindo: faz um traficozinho de influência aí, tira o meu genro de São Tomé e o põe de volta na Corte portuguesa.

É claro que houve corrupção no Governo Fernando Henrique, não tenho dúvida disso, aliás, quando eu era Líder do PT e da Oposição a Fernando Henrique, estrebuchava aqui, apontando os indícios relevantes de crimes contra a administração pública, e contava, em muitos momentos, com disputas muito interessantes! Havia disputas com alguns que, hoje, são da oposição. À época não estava aqui o Senador Arthur Virgílio, o Líder era o Senador Artur da Távola, com a sua sofisticação, sua delicadeza, porque é um homem brilhante, e todo mundo sabe disso, apesar de defender idéias diferentes das minhas, é claro. Havia também o Senador Geraldo Melo e outros que eram da tropa de choque do Governo Fernando Henrique e eram capazes de colocar a cavalaria para nos esmagar, mas hoje são da tropa de choque do Governo Lula. É uma coisa engraçadíssima de se ver!

Um dia desses, eu estava vendo as notas taquigráficas de uma reunião da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, e o que determinadas lideranças, do PMDB especialmente, mas de outros partidos também, diziam do Lula, do Zé Dirceu, do Mercadante, era uma coisa do outro mundo! E, hoje, estão lá de mala e cuia, juntinhos, enamorados! O amor é lindo! Realmente é superinteressante, impressionante!

Eu não poderia deixar de dizer, Senador José Jorge, Senador José Agripino, que é evidente que sabemos que havia isso, havia compra de voto para reeleição do Fernando Henrique! O cômico é porque o Deputado que estava lá naquela cena, a que os petistas se referem o tempo todo hoje, é o mesmo da base do Lula, amicíssimo do Presidente Lula!

É por isso que o povo odeia político! É por isso que o povo impõe uma generalização perversa! Porque é tanta “gentinha safada” que quem não é safado fica a ponto de enfartar todos os dias ao identificar inclusive o que aconteceu da semana passada para cá. É uma coisa impressionante! Senador José Agripino, estou impressionada! Aquela cena, ontem, da comemoração... E digo isso, porque a posição dos poucos parlamentares do P-Sol, que, hoje, são 7 deputados, era a de que apresentássemos outro nome, mas, infelizmente, como não foi possível chegar a um consenso, optamos pela abstenção, a fim de que não se legitimasse o processo da forma como estava sendo configurado. Mas vou dizer uma coisa: estou impressionada! Impressionada! O que fizeram da semana passada para cá, o balcão de negócios sujos que o Palácio do Planalto instalou aqui no Congresso Nacional, é uma coisa de outro mundo! E a forma cínica e dissimulada como o Governo Federal articulou com o Congresso Nacional, onde havia uma prateleira de mercadoria parlamentar. Cada Parlamentar era etiquetado conforme o preço identificado ou pelas lideranças do Senado e da Câmara, ou pelo Presidente da República e seus Ministros, que escolhiam os parlamentares e davam-lhe preço. Alguns receberam cargo, prestígio, dinheiro, liberação de emenda, portanto, mecanismo para instalar o “propinódromo”, como eles continuam fazendo, e outros receberam a sinalização de que não serão punidos no Conselho de Ética. Estavam lá numa comemoração impressionante. Estavam comemorando todos juntos.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Pois não, Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Por acaso V. Exª ainda acredita que alguém vai ser punido?

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Não. Olha, Senador José Jorge, tenho todos os dias de dizer para mim mesma: Heloísa, tenha fé em Deus e fé na luta do povo. Tenho que dizer isso para mim todos os dias, para agüentar o estado ad nauseam, náusea permanente, que estamos vivenciando aqui.

V. Exª tem razão ao fazer esse questionamento porque quem está participando das Comissões Parlamentares de Inquérito, quem está participando de alguma comissão de fiscalização e controle já identificou isto: foi montado um balcão de negócios sujos, onde se distribuiu cargos, prestígios, liberação de emenda, poder e também se negociou a ausência de medidas disciplinares e de cassação de mandatos. Vejam em que situação estamos. Atualmente um bispo baiano está em greve de fome, pedindo a rediscussão do projeto de transposição do São Francisco. O Governo não tem a menor sensibilidade de reabrir o debate sobre a transposição do São Francisco quando há um bispo em greve de fome, em Cabrobó, em Pernambuco. Ao mesmo tempo, o Governo monta um balcão de negócios sujos com uma sensibilidade sem-vergonha ao estabelecer o balcão das mercadorias parlamentares. Isso é o que foi estabelecido nesses dias.

Se Pero Vaz de Caminha era corrupto, se houve outros governos corruptos, se Fernando Henrique era corrupto, nada disso justifica o que o atual Governo faz. E o pior, Senadores José Agripino e Paulo Paim, é que fico pensando: quantos anos da minha vida dediquei a essa causa! Dos anos da minha vida que dediquei a essa causa não me arrependo, mas repenso, e muito, o que fiz porque não posso pegar de volta os melhores anos da minha vida que dei para construir algo que eu achava que era instrumento de luta a serviço da classe trabalhadora e hoje vejo que é um partido como outro qualquer, que se vende e que compra conforme as conveniências das cúpulas partidárias vendidas.

Então, deixo aqui apenas aquilo que é o “jus esperniandi”, porque sei que não adianta nada, porque, como o melhor dos mundos para quem é vigarista é entrar na política. O político ladrão enriquece, fica bem na vida, depois se qualquer nervosismo acontece, ele vai para a pérgula da piscina, toma seu uísque, vai para a Europa passear e não está nem aí. Alguns de nós, que aqui estamos, é que ficamos neuróticos, nervosos, todos os dias das nossas vidas nos dedicando àquilo que é uma causa interessante, mas não é nada.

Então, a única coisa que eu peço tanto a nós, Parlamentares, que ainda estamos aqui tentando nadar contra a correnteza, quanto ao povo brasileiro é pressão, é controle, é fiscalização, porque a “operação abafa” que aqui está montada começa com o balcão de negócios sujos onde se distribuíram cargos, prestígio e poder, onde se negociou de forma safada - sofisticada, é verdade, mas desprezível e desrespeitosa - com os Parlamentares para que eles não fossem punidos por serem, objetivamente, ladrões ou fregueses do “mensalão”, se alguém assim quiser denominar.

Portanto, fica aqui só o nosso protesto.

Eu vou continuar ensinando aos meus filhos que é proibido roubar, e eu espero que todas as mulheres e homens de bem e de paz continuem ensinando aos seus filhos que é proibido roubar.

Agüentar esse jogo sujo, sórdido, sofisticado, mas vomitável e desprezível, montado nessa relação promíscua Palácio do Planalto-Senado da República-Câmara Federal é algo que realmente nos faz questionar muito o que é, de fato, essa tal democracia representativa brasileira.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/09/2005 - Página 33477