O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, existem coisas na vida que realmente nos pegam de surpresa e nos deixam intrigados pela maneira como acontecem. Observem que eu tenho procurado, o máximo possível, trazer à tribuna do Senado da República questões do Piauí, seja com reivindicação de obras para o Estado, seja na defesa de recursos, muitas vezes, inclusive, ajudando o próprio Governador Wellington Dias. Mas hoje, pelos jornais, com o release poderoso de quem detém o controle da máquina de comunicação, num comportamento pouco comum e pouco normal do Governador, ele questiona a minha atuação e a do Senador Mão Santa no Senado da República. O Senador Mão Santa não está aqui, mas é maior, vacinado e saberá responder quando retornar na próxima semana, quero crer até que melhor do que eu.

O Sr. Wellington Dias, na coluna Minuta, em que tem grande participação, porque o seu assinante é inclusive militante do PT - serviu ao PT em Brasília, trabalhando em Ministério -, diz que eu pouco trabalho: “O Senador Heráclito Fortes é um político experiente, mas parece estar sem os números das últimas pesquisas”.

O artigo trata de pesquisa. A psicose do PT é essa. A eleição é daqui a um ano, e digo todo dia a ele: fique tranqüilo, pelo amor de Deus, não sou candidato. E ele fica preocupado comigo. Não sei que preocupação é essa do Wellington Dias. Vá caçar votos, Wellington! Se ele quer ser candidato, que vá atrás dos votos dele. Eu já disse que esse é um assunto que só tratarei no ano que vem, porque, numa crise como esta, Sr. Presidente, não se pode antecipar pleito. Já basta São Paulo paralisando o Brasil com a disputa do PT para ver quem vai suceder o atual Governador.

Ele diz que só tenho feito críticas, esquecendo o Estado, Senadora Heloísa Helena. Eu, que até com a ajuda de V. Exª, ano passado, aprovei recursos aqui no Senado para que ele pagasse aos servidores da Educação. E recebi dele os mais rasgados elogios. Uma das suas secretárias inclusive me chamou de estadista. Como esse povo muda o conceito sobre as pessoas de acordo com as suas conveniências!

Hoje, ele fugiu completamente do seu estilo. Ele, que é um pastor protestante, que fala com Deus sempre, às vezes se considera o próprio, e muitas vezes não aceita concorrência, diz que eu não vejo a obra porque vivo nas nuvens - aliás, porque ele não realiza obras nas nuvens. Seria o lugar ideal para ele ver alguma coisa, porque é lá onde vive, nas nuvens.

O Sr. Wellington Dias não tem nenhum compromisso com a realidade do Piauí. Pois, vejam, foi ele que aplaudiu e recebeu como uma grande obra - e protestamos - a construção de uma penitenciária de segurança máxima para abrigar no Piauí os bandidos de periculosidade nacional que o Rio de Janeiro não queria e São Paulo não aceitava. Depois os mandaram para Alagoas, que os colocou para fora. Pois era lá que ele queria! Era o primeiro palácio para guardar bandido do Brasil, com a chancela e o aplauso de S. Exª.

Essa fase da ironia dele, para mim, é novidade. E tenho certeza de que não partiu do Sr. Wellington Dias. E eu aqui a interrogar o porquê. Será que não ficou satisfeito com a vitória que o seu Partido teve na Câmara? No princípio, achei que podia ser. O PT está tão dividido que não sabemos mais quem é quem, quem está com quem. Será que foi porque eu estava no Piauí na semana passada e disse que o PT daquele Estado tinha recebido caixa dois? Isso faz muito tempo.

Essas respostas são feitas geralmente de bate-pronto. Mas, há poucos minutos, eu descobri o porquê. Trata-se de uma maneira inteligente de desviar os fatos. O jornal O Globo de ontem mostra um relatório da CGU, presidida pelo Ministro Waldir Pires, que é do Ministério do Governo Lula e correligionário do Sr. Wellington Dias. Nessa matéria, mostra que, de maneira criminosa, algumas prefeituras usavam o acesso indevido, a chave do Siaf, para liberar recursos de maneira - repito - criminosa.

Quando se lê, quem está lá comandando uma dessas estruturas? O Governador Wellington Dias, para liberar recursos para obras no Estado. Aliás, a matéria não é nova. Há seis meses essa denúncia foi feita. E eu, até para defendê-lo aqui, pedi que o Ministro Waldir Pires esclarecesse os fatos. Agora, a conclusão: o Governo foi beneficiado exatamente com esse esquema. Mas S. Exª, de maneira hábil, sorrateira, para que ninguém comente o fato, age de uma maneira agressiva, que não é o seu estilo, e vem atacar a mim e ao Senador Mão Santa.

Aí ele vai para a sofisticação: diz que, quando Deputado Federal, trabalhou muito pelo Piauí e fez muitas obras. Está na hora de apontá-las. A grande obra do Sr. Wellington Dias no Piauí - e ele fez isso na convicção de que a memória do brasileiro é fraca - foi denunciar, de uma canetada só, por corrupção, 164 prefeitos do Piauí. As denúncias eram as mais variadas. Sobre emendas orçamentárias, Senador Geraldo Mesquita, a atuação foi tão grande que mandou recursos para o Maranhão e para a Bahia, recursos esses que recebe para atender ao Estado do Piauí - para estradas, para empreiteiras -, e nunca justificou isso de maneira clara. “Ah! Foi para atender o Partido”. Hoje, as coisas estão mais claras. À época, pensava-se que era por ideologia. Atualmente, já se sabe que o esquema de caixa dois campeava nas entranhas petistas. Aí, se for verdade, o Governador do Piauí, já como Deputado Federal àquela época, foi um dos pioneiros nesse esquema.

Acho muito esquisita a maneira como ele tenta desqualificar o trabalho que eu e o Senador Mão Santa realizamos. Aliás, desqualificar é uma característica do Partido dos Trabalhadores e que não me impressiona mais.

Percebi, Senador Geraldo Mesquita Júnior - V. Exª era membro da Comissão -, a maneira como eles, durante dois anos, quiseram desqualificar os irmãos de Celso Daniel, dizendo que eram loucos, lobistas, irresponsáveis, mentirosos. Vimos lá algo completamente diferente. Essa técnica de tentar desqualificar as pessoas não existe mais. Isso ocorria na época em que o Partido era o monopolista da verdade e o Dom Quixote das boas intenções.

Quero até louvar o Sr. Wellington Dias, porque teve, em alguns momentos, o desejo de conseguir recursos para o Piauí. Ele recebeu em Teresina, com muita festa, em setembro de 2003, o Sr. Delúbio Soares.

O Governador recebeu, com banda de música, o Sr. Delúbio Soares, que comeu capote, pisou em tapete vermelho e prometeu uma série de obras para o Piauí, como estradas e saneamento. Falei do fato ao Jô Soares quando fui ao seu programa.

Qual era o poder que tinha o Sr. Delúbio e não os Ministros de ir ao Piauí prometer recursos? Em nome de quem? Em nome de empreiteira? Era Ministro? Os jornais noticiaram, ele foi recebido com festa, recebeu uma medalha. Essa visita ocorreu no ano de 2003, quando ele ainda era herói nacional, como dirigente partidário.

Aliás, eu sou da época, Senadora Heloísa Helena, em que, quando víamos os dirigentes partidários, principalmente os tesoureiros, Senador Marco Maciel, dobrávamos a esquina. Sabíamos que, quando eles nos procuravam, era para pedir dinheiro; era uma facada, porque o Partido estava quebrado e precisava pagar a conta de luz.

De repente, isso mudou. Eles passaram a distribuir dinheiro pelo Brasil afora. Pois bem, anunciaram R$ 400 milhões.

Aliás, Senador Fiquene, V. Exª é do Maranhão e deve conviver muito com as histórias do Piauí. Sei que o Maranhão tem folclore, tem entre sua gente umas pessoas de cabeça sã, outras nem tanto, mas que fizeram história e ainda hoje repousam no nosso imaginário.

No Piauí havia um velho que enlouqueceu depois de uma virada de caminhão. Imaginem a tristeza: um caminhão carregado de arame farpado e de cal. Esse velho passou dois dias embaixo dessa carga, levando o peso e o sacrifício do arame farpado e da cal. Ficou louco. E era impressionado com números. Sobre um empresário de Campo Maior, pequeno criador de gado, por quem ele tinha grande afeto, ele dizia que o Sr. Firmino tinha tanto boi que os números do mundo acabariam e os bois dele continuariam passando pela porteira.

Wellington é bem mais novo, não conviveu com isso. Mas, em alguns momentos, ele disse que encara o espírito do Jaime doido com os números que cria. Todo vôo que faz, de Teresina para Brasília, ou vice-versa, anuncia os milhões. A minha assessoria está somando, Senadora Heloísa Helena.

            Hoje, se 10% do que S. Exª anunciou para o Piauí já fossem viabilizados, já teríamos recebido mais recursos do que São Paulo. Quando digo São Paulo, refiro-me à Prefeita Marta Suplicy, que foi a grande beneficiada pelo PT nos dois anos.

Há dinheiro para tudo! Megalomaníaco! Anuncia a construção de um teatro de eventos e anuncia a presença do Sr. Ohtake para fazer o projeto. Sem concorrência, sem licitação, sem nada, o seu chefe de escritório vai lá e anuncia como o melhor centro de convenções do planeta! Mentira tem perna curta!

Fui a uma audiência pública em Florianópolis e soube um pouco da verdade. Um assessor dele estava naquela cidade tentando informações sobre um centro parecido e muito bom de Florianópolis, com os pés no chão, diferentemente do seu sonho original.

Mas, de qualquer maneira, isso não diz respeito aos arquitetos do Piauí e, acima de tudo, à lei de concorrência, porque esse é o tipo de obra para a qual deve haver licitação. Não é capricho de governantes nem de políticos escolher quem vai construir ou não, mas a decisão deve passar por um processo licitatório.

E ele veio me dizer que eu estou nas nuvens e que ele não constrói obra nas nuvens. Estranhei e quero fazer este registro, porque não gosto de trazer para cá esses assuntos, mas não vou aceitar também ser provocado da maneira que fui.

S. Exª foi injusto comigo. Um dos poucos pontos positivos do seu Governo é a construção de estradas com o apoio da Cide, essa decisão fantástica do Senado, limitando e obrigando que o percentual arrecadado do setor de petróleo fosse aplicado na recuperação e construção de estradas brasileiras. Se está fazendo por critério político, sem motivação econômica alguma, é problema dele, mas está fazendo, está fazendo! Mas esse fato não lhe dá o direito de se considerar o grande obreiro do Estado do Piauí. Aliás, daqui a pouco, ele vai querer ser o Juscelino piauiense. O Lula não já quis ser o Juscelino brasileiro?

Esse pessoal perdeu o juízo, Sr. Presidente! O Sr. Wellington Dias se esquece de que estamos em outubro - ele sabe como é o calendário brasileiro -, de que vem Natal, vem Carnaval e vem o período eleitoral, quando os recursos são suspensos por força de lei. S. Exª deveria estar tentando realizar aquilo que prometeu, os bilhões que prometeu - só de barragens, de hidrelétricas, são seis.

Nunca vi, Sr. Presidente, tanta vontade de acertar, mas tão pouca disposição para trabalhar e fazer com que esses sonhos se transformem em realidade.

Finalizando, sobre a questão dos números, estou à inteira disposição do Governador do Piauí. Evidentemente, ele terá que trazer alguém para auxiliá-lo, porque não conhece número, não conhece geografia, não conhece o que está sendo feito no Estado.

Uma vez tive uma discussão com ele sobre gasoduto, uma discussão positiva, e ele culpou o Ibama. O Ibama não tem relação com a história. Falamos sobre a Transnordestina, e ele disse a primeira etapa já foi iniciada, que é a recuperação da estrada Teresina-São Luís. É uma grande obra, e V. Exª sabe, Sr. Presidente, que o poeta maranhense João do Vale inspirou-se nela e fez uma canção que é sucesso no mundo inteiro.

Mas a Transnordestina é outra estrada que vai integrar o Piauí a Pernambuco e ao Ceará, abrindo espaço também para nos ligar com o Maranhão. É outra coisa completamente diferente.

E sou eu que estou nas nuvens.

Acho que é tempo de S. Exª acordar, porque conhecemos muito bem a hierarquia do PT. No comando petista do Piauí, ele hoje é o terceiro, foi o quarto. Com a morte da saudosa Deputada Trindade, ele ascendeu à terceira posição. Quem manda mesmo é o Secretário Antônio José, é a Secretária Regina Souza. Ele agora pode ir para o segundo ou terceiro lugar, porque o Nazareno Fonteles parece que está apeando desse cavalo, que não trota nem pula. É um cavalo imóvel que não realiza o sonho de ninguém. Pode ser que até o final do Governo S. Exª ocupe uma posição melhor.

Eu repetiria o nome de um filme, que fez muito sucesso no Brasil, apenas não usaria o termo final:“Vai trabalhar, Governador!”

Muito obrigado.