Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

O aprimoramento dos serviços de prevenção de incêndios e de combate ao fogo como prioridade efetiva e inadiável dos dirigentes.

Autor
Valmir Amaral (PP - Progressistas/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • O aprimoramento dos serviços de prevenção de incêndios e de combate ao fogo como prioridade efetiva e inadiável dos dirigentes.
Publicação
Publicação no DSF de 30/09/2005 - Página 33538
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • REGISTRO, PREJUIZO, QUEIMADA, DESTRUIÇÃO, FAUNA, FLORA, JARDIM BOTANICO, DISTRITO FEDERAL (DF), RESERVA ECOLOGICA, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), PROPRIEDADE RURAL, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB).
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), DESPREPARO, AUTORIDADE, IMPEDIMENTO, DESASTRE, INCENDIO, SUGESTÃO, ADOÇÃO, MODELO, COMBATE, FOGO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, DISCUSSÃO, PREVENÇÃO, INCENDIO, IMPEDIMENTO, DESTRUIÇÃO, BIODIVERSIDADE, CERRADO.

            o sr. valmir amaral (Pp - df. Sem apanhamento taquigráfico) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na semana passada, o Jardim Botânico de Brasília ficou em evidência e foi alvo de notícias da imprensa e da mídia eletrônica de todo o País. Depois de ficar fechada ao público por três meses, para reformas, a reserva seria reaberta com uma programação festiva, para alegria dos visitantes e dos freqüentadores habituais.

            Infelizmente, a mídia não destacou o reencontro com o público, mas um devastador incêndio que, durante a segunda e a terça-feira, dias 19 e 20, consumiu três quartos da reserva, dizimando numerosas espécies da flora e da fauna. Além de queimar 3.750 dos 5.000 hectares do Jardim Botânico, o fogo devastou ainda 75% dos 1.400 hectares da Reserva Ecológica do IBGE e 25% dos 44.500 hectares da Fazenda Água Limpa, da Universidade de Brasília, reservas contíguas ao Jardim Botânico, e que também integram a Área de Proteção Ambiental Gama-Cabeça de Veado.

            O incêndio começou na segunda-feira, por volta das 10 horas, na área do Jardim Botânico ou nas proximidades. Durante 14 horas, a reserva ardeu, com chamas de até dez metros de altura. O combate ao fogo durou cerca de 14 horas e exigiu a mobilização de 110 bombeiros militares, além dos brigadistas da reserva do IBGE e dos próprios funcionários do Jardim Botânico. Também o Grupamento Aéreo foi acionado, mas o helicóptero transporta apenas 540 litros de água em cada viagem. A espessa cortina de fumaça e a dificuldade de acesso a algumas áreas da reserva dificultaram ainda mais a ação dos bombeiros. O clima do cerrado, nestas épocas de estiagem, favorece a propagação de incêndios. “A seca, os ventos e o calor intenso fazem uma combinação explosiva. Qualquer foco pode sair do controle”, disse à imprensa o coordenador de Prevenção da Divisão de Fogo do Ibama, Guilherme Almeida. Naquele dia, Senhor Presidente, os instrumentos marcaram, no horário de maior calor, 24 graus de umidade do ar e 32,7 graus de temperatura, pouco menos que o recorde registrado em 1963.

            Na terça-feira, a tragédia ecológica iria se agravar com a ocorrência de um novo e devastador incêndio no Jardim Botânico. Segundo explicou ao Correio Braziliense o coronel Epaminondas Figueiredo de Matos, do 4º Batalhão de Incêndio Florestal, o fogo do dia anterior queimou não apenas a vegetação de cobertura e as árvores, mas também a camada de material orgânico que fica logo abaixo da superfície. “Por isso - disse - o incêndio, que aparentemente estava extinto, reapareceu”.

            As labaredas ressurgiram, na terça-feira, com maior intensidade, exigindo a mobilização, agora, de 240 homens do Corpo de Bombeiros e dos funcionários das reservas atingidas. Lembrando que há sete anos o parque não sofria incêndio de tamanhas proporções, a diretora Anajúlia Heringer Salles disse que o fogo atingiu áreas de difícil recuperação e lamentou não ter condições de proteger os animais daquele habitat. Além de devastar mais de 70% da área do Jardim Botânico, o fogo atingiu, no segundo dia, a Fazenda Água Limpa, da UnB, e a reserva do IBGE.

            Na área do IBGE, técnicos e pesquisadores se esforçam para recuperar os dados de pesquisas perdidos no incêndio. “Entre projetos de curta, média e longa duração, graduação, mestrado e doutorado, são 46 temas relacionados com a fauna e a flora do Planalto Central”, revelou o Correio Braziliense. Também na Fazenda Água Limpa, os trabalhos de pesquisa foram prejudicados, em alguns casos de forma irreversível. Mestrandos da UnB, que usavam a reserva há sete anos para pesquisar o efeito da fertilização no ecossistema do cerrado, ficaram desolados: “Foram anos de pesquisa perdidos”, informaram.

            O periódico brasiliense, fazendo um balanço dos estragos, no dia 22, registrou: “As labaredas transformaram em cinza o equivalente a 3.800 campos de futebol”. As três reservas, segundo informou, abrigam um terço da fauna do cerrado, inclusive espécies ameaçadas de extinção. Os relatos dão conta de que os bombeiros presenciaram a agonia de muitos animais, mas só conseguiram salvar alguns deles. O zoólogo Jader Marinho, professor da UnB especialista em mamíferos - relata o periódico - teme pelo futuro da fauna nas três reservas queimadas. Os que sobreviveram devem sofrer com a escassez de alimentos, perdendo peso e se enfraquecendo. Além disso, ficam agora mais ameaçados pelos predadores e correm o risco de atropelamentos ao deixarem a área dizimada.

            O pior, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é que o incêndio, que devastou uma área total de 51 quilômetros quadrados, não é uma novidade para nós. Trata-se, na verdade, de uma tragédia anunciada, pois os focos de incêndio ocorrem em grande número, todos os anos, no período da estiagem. Este ano, com o registro de mais de 4.800 focos até o momento, o índice de queimadas representa quase o dobro do ocorrido no ano passado.

            Se é impossível evitar os focos de incêndio, precisamos, pelo menos, debelá-los com maior eficiência, a fim de poupar tamanhos prejuízos ao nosso ecossistema. Em 1998, todos devem se lembrar, aconteceu no Parque Nacional de Brasília o maior incêndio florestal de nossa história. O parque ardeu durante três dias, ao fim dos quais restou destruída uma área de 86 quilômetros quadrados. Também naquele ano ocorreu o incêndio em Roraima que destruiu 40 mil quilômetros quadrados, numa devastação jamais vista em nossa história recente.

            Os fatos se repetem, Srªs e Srs. Senadores, e, ao que parece, nós continuamos incapazes de proteger nosso ecossistema. Há três anos, o Corpo de Bombeiros inaugurava, no Jardim Botânico, um posto avançado destinado a detectar queimadas e prevenir incêndios. Na verdade, reinaugurava o posto avançado, uma vez que tal equipamento ali já havia sido instalado e, depois de algum tempo, desativado. A reinstalação do posto foi cercada de muito otimismo, mas em que pesem toda a abnegação e todo o heroísmo dos bombeiros militares, o recente incêndio ocorrido naquele parque demonstrou, mais uma vez, que não estamos preparados para proteger o ecossistema.

            A esse propósito, assim se pronunciou o Correio Braziliense no editorial “Tragédia Evitável”, em sua edição do último dia 23:

            “É evidente o despreparo das autoridades brasileiras no combate aos desastres ambientais causados pelo fogo, como demonstra o grave incêndio dos últimos dias no Jardim Botânico de Brasília. Mais de 80% da reserva foram atingidos, incluindo matas ciliares. Dramas similares ocorrem, simultaneamente, nos estados do Centro-Oeste e no sul da Amazônia, e não há nada que os bombeiros possam fazer diante das dimensões do problema. Sobram disposição e coragem para enfrentar as chamas, mas faltam equipamentos eficientes para atuar no cenário florestal. Agindo em locais de difícil acesso, os homens lutam contra a natureza com pás, galhos verdes, bombas de água portáteis e a ajuda ocasional de um helicóptero de pequeno porte, meios insuficientes diante dos imensos desafios encontrados”.

            O editorial cita possíveis soluções para esse grave problema, sendo a principal delas a criação de uma frota de aviões-bombeiros, como ocorre nos Estados Unidos e em diversos países da Europa, lembrando que esses aparelhos poderiam ser utilizados, também, no combate ao fogo em ambientes urbanos de difícil acesso, como as favelas. E conclui: “É importante destacar que o território brasileiro abriga a maior diversidade biológica em ecossistemas, que vão de florestas tropicais úmidas a ambientes semi-áridos. Protegê-la é tarefa do Estado. Perder 80% da superfície da uma reserva ecológica é trágico, principalmente quando existe uma solução viável para o problema”.

            A propósito, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de lembrar que no Estado de Minas Gerais foi montado um esquema que parece dar bons resultados. Os mineiros também enfrentam o problema de incêndios por ocasião da estiagem, bastando dizer que, no ano passado, de acordo com o Instituto Estadual de Florestas, foram queimados 2.800 hectares de matas em unidades especiais de conservação. Diante disso, o Instituto montou, no Município de Curvelo, na região central do Estado, uma base para combater incêndios em parques florestais. A unidade conta com 20 homens, um helicóptero e três aviões equipados com tanques cheios de água que podem se deslocar rapidamente para qualquer parte do Estado para apagar focos de incêndios nos parques florestais. Acredito que o Distrito Federal pode tomar providência idêntica, isoladamente ou em sistema de parceria, a fim de preservar nosso ecossistema para a geração atual e para as gerações futuras.

            O aprimoramento dos serviços de prevenção de incêndios e de combate ao fogo, Senhoras e Senhores Senadores, deve ser uma prioridade efetiva e inadiável de nossos dirigentes e das autoridades ambientais. Do contrário, o cerrado, que reúne nada menos que um terço da biodiversidade nacional, pode sofrer um processo grave de empobrecimento da biota e ficar com sua capacidade de regeneração comprometida.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado!

 

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/09/2005 - Página 33538