Discurso durante a 165ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apoio à desqualificação, por parte da Senadora Ideli Salvatti, aos documentos por ela recebidos. Registra o equívoco do Jornalista Ricardo Noblat. Defende a liberdade de imprensa.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. IMPRENSA.:
  • Apoio à desqualificação, por parte da Senadora Ideli Salvatti, aos documentos por ela recebidos. Registra o equívoco do Jornalista Ricardo Noblat. Defende a liberdade de imprensa.
Publicação
Publicação no DSF de 24/09/2005 - Página 31966
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. IMPRENSA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, CONDUTA, IDELI SALVATTI, SENADOR, ALEGAÇÕES, INSUFICIENCIA, PROVA, ACUSAÇÃO, ILICITUDE, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB).
  • REGISTRO, ESCLARECIMENTOS, INEXATIDÃO, JORNALISTA, DIVULGAÇÃO, INTERNET, LOCAL, ENCONTRO, SENADOR, EMPRESARIO.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, IMPRENSA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, DENUNCIA, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PAIS, DEFESA, LIBERDADE DE IMPRENSA.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Para uma explicação pessoal. Com revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Heloísa Helena, Srªs e Srs. Senadores, não quero discutir o mérito se o dossiê existe ou não existe, o que contém o dossiê, o que ele pode revelar e o que não revela. Creio que em função de ter a Senadora Ideli Salvatti desqualificado esse dossiê desobriga-me de qualquer comentário a respeito dele, até porque não tive acesso a essa documentação. Assim, da mesma forma que a Senadora faz, quero desconsiderar esse dossiê até que possa conhecê-lo devidamente. A Senadora me informa que vai entregar o dossiê à Mesa. Os documentos que recebeu, na verdade, não se constituem em dossiê.

No entanto, quero afirmar que o jornalista Ricardo Noblat não precisa ser defendido no plenário do Senado Federal. Não há razões para qualquer tipo de defesa, até porque o seu comportamento, nesse episódio, não merece reparos. Publicou uma informação que recebera. Houve um equívoco relativamente à localidade de um encontro que ocorrera. Com honestidade jornalística, reparou o erro cometido e referiu-se ao encontro havido no gabinete da Senadora, no Senado Federal. Creio que isso revela a verdade e a própria Senadora atesta o fato no seu pronunciamento desta manhã.

Há que se preservar, sim, a liberdade de imprensa, porque o competente jornalismo brasileiro tem sido de importância fundamental para que essas investigações ganhem razoável eficiência, estabelecendo, sobretudo, essa interação necessária do Poder Público que investiga o Poder Legislativo, com a sociedade contribuindo com denúncias, sugestões e críticas. Não fosse, sem dúvida nenhuma, o papel desempenhado pela imprensa brasileira nesse escândalo de corrupção, certamente não teríamos desmontado um modelo espúrio de relação promíscua entre o Executivo, o Legislativo, partidos políticos e setor privado.

Recentemente, o Ministro Celso de Mello*, com parecer notável, ensina-nos com muita categoria o papel da imprensa, num momento de peculiaridade como este que estamos vivendo, de gravidade incomum, já que se trata da maior crise moral e política da história moderna do nosso País. Em um momento como este é preciso que a autoridade pública tenha a capacidade de receber a crítica. A imprensa pode, sim, exercitando a liberdade que é fundamental para que as outras liberdades não sejam também sepultadas, criticar de forma ácida, de forma virulenta, sobretudo, porque a circunstância exige. Até mesmo inevitáveis injustiças devem ser naturalmente admitidas. A injustiça maior seria não denunciar, não criticar, não apontar responsáveis. Estaríamos admitindo uma injustiça contra a instituição pública, contra o processo democrático, contra o futuro do País.

Vivemos um momento onde se exige assepsia geral e, portanto, faz-se necessária a presença de jornalistas com vocação para investigação, com capacidade para denúncia, com preparo para a crítica que pode ser contundente e que pode nos atingir, sim, porque estamos expostos exatamente para isso, sobretudo porque o dever maior que nos incumbe, neste momento, é de investigar para valer, para apurar responsabilidades e, quem sabe, preparar o País para um salto de qualidade política.

É o que imaginamos, Srª Presidente Heloísa Helena. Os nossos respeitos às posições da Senadora Ideli Salvatti, mas, certamente, devo fazer justiça ao jornalista Ricardo Noblat, que procurou cumprir o seu dever. E não poderia ser de outra forma, já que é esse o seu conceito de jornalista capaz, honesto, profissionalmente honesto, e que apenas procura cumprir rigorosamente o seu dever, retratando a realidade dos fatos.

Quero, Srª Presidente Heloisa Helena, dizer que, se formos felizes na conclusão dessa missão de investigar, se tivermos competência para imputar responsabilidades e tivermos a felicidade de ver a autoridade responsável julgando com o rigor da lei, exemplarmente, poderemos, sim, emergir desses escombros provocados pelos escândalos de corrupção para um tempo melhor, com imagem renovada e reconstruída, com caminhos diferentes a percorrer na construção do Brasil que todos merecemos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/09/2005 - Página 31966